José de Matos-Cruz


IMAGINÁRiO349

· 01 DEZ 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

REVELAÇÕES





Uma experiência ficcional e gráfica, sagrada pela tradição e estilizada por contiguidades heróicas e artísticas, como os anime (desenhos animados), consuma a repercussão da mangà nipónica em todo o mundo, como sucesso editorial ou inspiração de imaginários. Entre nós, tal fenómeno em quadradinhos reincide - sob chancela Asa - com Yu-Gi-Oh! de Kazuki Takahashi, ao sagrar as aventuras de um adolescente que se serve dum jogo de cartas, para enfrentar desafios e adversários… Tudo começou em 1996, através da revista Shonen Jump, sublimando uma expansão sensacional - com trinta e oito volumes, até 2004 - e de repercussões alternativas, no universo dos produtos lúdicos. Tal é a oferta na loja do avô, onde Yugi - um miúdo pacato e curioso, com poucos amigos - descobre o Puzzle do Milénio, que irá transformar a sua vida, de um modo intenso e radical. Prolongando os rituais e as emoções originais, a leitura de Yu-Gi-Oh! faz-se da direita para a esquerda (das últimas para as primeiras páginas), até convocar outros enigmas e fantasias virtuais.

CALENDÁRiO

18JUL1921-23MAR2011 - Richard Leacock: Realizador e director de fotografia britânico, documentarista pioneiro do cinema directo - «Sempre pretendi proporcionar às pessoas a sensação de estarem no local».

28MAR2011 - Eduardo Souto de Moura é distinguido com o Prémio Pritzker, por produzir «um trabalho que é do nosso tempo mas que também carrega os ecos das tradições da arquitectura».
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1938-29MAR2011 - Ângelo de Sousa: Escultor, pintor e pedagogo - «Na minha agenda (que acho que nunca tive) constam hipóteses (muitas) e (poucos) projectos. Mas, isto, são assuntos entre mim e eu, exclusivamente. Claro, existe, sempre, a preocupação de continuar a (tentar) levantar, bem alto, a bandeira dos Artistas do Porto. Não esquecendo, claro, que, afinal, somos todos Portugueses, até os do Porto».
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29MAR-09ABR2011 - Artistas Unidos apresenta, no Instituto Franco-Português, Um Homem Falido de David Lescot; encenação de António Simão, com Ruben Gomes e Sylvie Rocha.

31MAR2011 - Nos encontros mensais Às Quintas Falamos de Bd, na Amadora, Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem/CNBDI apresenta Quim e Manecas 1915-1918 de Stuart Carvalhais, com organização, introdução e glossário de João Paulo de Paiva Boléo, sob chancela das Edições Tinta-da-China.
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01ABR-22MAI2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Gotas, exposição de fotografia de João Paulo Redondo.

08ABR-29MAI2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe X Prémio União Latina, com a participação de Mauro Cerqueira, Pedro Barateiro, Renato Ferrão e Von Calhau.

MEMÓRiA

01DEZ1761-1850 - Marie Grosholtz, aliás Marie Tussaud: Escultora e modelista francesa de figuras de cera, fundou em Londres o Museu Madame Tussaud’s, em 1835.
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1048-04DEZ1131 - Ghiyath Al Din Abul Fateh Omar Ibn Ibrahim Al Khayyam, aliás Omar Khayyam: Matemático, astrónomo, poeta, reformador do Calendário persa - com uma margem de erro de um dia a cada 3770 anos - «Fecha o Corão. Pensa livremente, e olha livremente o céu e a terra».

1756-05DEZ1791 - Wolfgang Amadeus Mozart: «Perante Deus lhe declaro, como homem honesto, que o seu filho é o maior compositor que eu conheço, quer pessoalmente, quer de nomeada» (Franz Joseph Haydn a Leopold Mozart).
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05DEZ1901-1966 - Walt Disney: «Podemos sonhar, criar, desenhar e construir o lugar mais maravilhoso do mundo... Mas é necessário haver pessoas, para que o nosso sonho se transforme em realidade».
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VISTORiA


Na Primavera, sentado na orla de um campo florido
Quando uma donzela me traz um copo de vinho
Não penso na minha salvação.
Se esse fosse o meu cuidado, valia menos que um cão.
Omar Khayyam (Rubaiyat - excerto)

PARLATÓRiO



E assim, depois de muito esperar, num dia como outro qualquer, decidi triunfar...
Decidi não esperar as oportunidades e, sim, eu mesmo procurá-las.
Decidi ver cada problema como uma oportunidade de encontrar uma solução.
Decidi ver cada deserto como uma possibilidade de encontrar um oásis.
Decidi ver cada noite como um mistério a resolver.
Decidi ver cada dia como um ensejo de ser feliz.
Naquele dia, descobri que meu único rival não eram mais que as minhas próprias limitações, e que enfrentá-las era a única e melhor forma de as superar.
Naquele dia, descobri que eu não era o melhor e que talvez eu nunca o tivesse sido.
Deixei de me importar com quem ganha ou perde.
Agora, interessa-me simplesmente saber melhor o que fazer.
Aprendi que o difícil não é chegar lá acima, e sim deixar de subir.
Aprendi que o melhor triunfo é poder chamar amigo a alguém.
Descobri que o amor é mais que um simples estado de enamoramento, o amor é uma filosofia de vida.
Naquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos passados, e comecei a ser uma ténue luz no presente.
Aprendi que de nada serve ser luz, se não iluminar o caminho dos demais.
Naquele dia, decidi alterar tantas coisas...
Naquele dia, percebi que os sonhos existem para se tornarem realidade.
E desde aquele dia já não durmo para descansar... Simplesmente, durmo para sonhar.
Walt Disney






Fiz os meus primeiros filmes com toda a facilidade, não me custou nada interpretar aqueles papéis. Foi só quando entrei em Um Lugar ao Sol / A Place In the Sun (1951) que pensei em representar mesmo a sério, nesses tempos da minha juventude….
Para mim, representar é um acto puramente intuitivo. O que eu tento fazer, quando estou a interpretar, é dar o máximo de efeito emocional com o mínimo de movimento visual.
Elizabeth Taylor (1932-2011)
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ANTIQUÁRiO

02DEZ1811 - Os habitantes de Lisboa são vítimas de um logro colectivo, quando o Santíssimo Milagre é, sorrateiramente, transportado da Ermida da Mitra, no Poço do Bispo, para Santarém, enquanto as pessoas se aglomeram ingenuamente à borda do Rio Tejo, para assistirem a uma pretensa travessia anunciada ao público.

NOTICIÁRiO

Noticia - Hum Official do Exercito Britanico tem apostado 500 Libras Esterlinas, que ha de passar á travessa do Rio Tejo, na Segunda Feira que vem, á uma hora, ou depois do meio dia, em um par de Botas de Cortiça, e principia o seu passeio a Torre de Belem, e que ha de chegar á Torre Velha. Estas botas são de uma construção admiravel, e curiosa, foram inventadas pelo mesmo Official, que faz este passeio.
Lisboa: Na off. de Joaquim Thomaz de Aquino Bulhões. Anno de 1811. Com Licença da Mesa de Desembargo do Paço.

EPISTOLÁRiO




Quer saber como eu componho? Posso dizer-lhe apenas isto: quando me sinto bem disposto, seja na carruagem enquanto viajo, seja durante noite quando durmo, ocorrem-me ideias aos jorros, soberbamente. Como e donde, não sei. As que me agradam, guardo-as como se tivessem sido trazidas por outras pessoas, retenho-as bem na memória e, uma após a outra, tomo delas a parte necessária, para fazer um pastel segundo as regras do contraponto, da harmonia, dos instrumentos... Então, em profundo sossego, sinto que tudo aquilo cresce, cresce para a claridade, de tal forma que a obra, mesmo extensa, se completa na minha cabeça e posso abrangê-la de um só relance, como um belo retrato ou uma bela mulher... Quando chego a este ponto, nada mais esqueço, porque boa memória é o maior dom que Deus me deu.
Wolfgang Amadeus Mozart

ANUÁRiO

2010 - Jorge Silva Melo realiza Ângelo de Sousa - Tudo o Que Sou Capaz, com produção de Artistas Unidos. O artista nos seus espaços - numa exposição, em casa, no atelier. Às vezes, filma-se a ele próprio. Encontros, metragens justapostas, em que se revela e comenta os seus trabalhos, os seus métodos, as suas formas e os seus suportes.

BREVIÁRiO

Cavalo de Ferro edita Uma Biblioteca da Literatura Universal de Hermann Hesse (1877-1962); tradução de Virgílio Tenreiro Viseu.
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Modo de Ler edita Sem Método - Notas Sertanejas de João de Araújo Correia (1899-1985).

Harmonia Mundi edita em CD, Claude Debussy [1862-1918], [Henri] Dutilleux [n. 1916], [Maurice] Ravel [1875-1937]: Quatuors à Cordes por Quarteto Arcanto.
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Ulisseia edita Novelas Exemplares de Miguel de Cervantes (1547-1616); tradução de Hélder Guégués.
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· 24 NOV 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

VIRTUALIDADES




Tal como o culto dos romanescos literários se consolida e transfigura, através de gerações, também o fascínio dos imaginários em quadradinhos persiste e, para além das aventuras primordiais, os seus heróis logram sobreviver aos próprios criadores, enfrentando novos desafios a partir das motivações clássicas… As Aventuras de Blake e Mortimer principiaram em 1946, logo patenteando a arte monumental de Edgar Pierre Jacobs (1904-1987). Em causa, a dualidade do Bem - simbolizada na instituição militar (o Capitão Francis Blake) e no poder da ciência (o Professor Philip Mortimer); contra a perversão do Mal - concentrada num arqui-inimigo (o Coronel Olrik), ou outros eventuais adversários. Um presente de ameaças, cumplicidades e perigos - virtualizado entre o passado e o fantástico, o futuro e a arqueologia. Bob de Moor, Ted Benoît, Yves Sente & André Juillard asseguraram uma continuidade, reposta por Jean Van Hamme em A Maldição dos Trinta Denários - sob chancela das Edições Asa - cujo Tomo 2, com Antoine Aubin, Laurence Croix e Étienne Schréder, culmina um volúvel transe de mistério, ambição e ganância, forjado pelo coração humano há cerca de dois mil anos.
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CALENDÁRiO

1925-03MAR2011 - Aldo Clementi: Compositor italiano, professor de Teoria Musical na Universidade de Bolonha - «Durante um certo período, foi-me possível considerar o estruturalismo, por si só, um processo rígido. Há muitos anos, já, que não trabalho como nessa altura, porque, com o tempo, mudam as maneiras, os modos, os vícios e os tiques».

1920-22MAR2011 - Artur Agostinho: Jornalista, escritor, locutor e actor de rádio, cinema e televisão - «Tinha um sentido de ironia apuradíssimo, o que lhe conferia uma rara capacidade de nunca levar nada a sério, nem a si próprio» (Herman José).

1932-23MAR2011 - Elizabeth Taylor: «Nós estamos no mundo para crescer, e amadurecemos com as experiências, sejam elas boas ou más».
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24MAR-05ABR2011 - Em Lisboa, na Calçada dos Cesteiros, Pickpocket Gallery expõe Espelho de Helena de Castro Esteves e Continuum de João Gaspar, integrando o ciclo Os Suspeitos Na Pickpocket realizado pelo colectivo Os Suspeitos.

26MAR-23ABR2011- No Centro Cultural de Cascais, Cascais Natura - Agência do Ambiente apresenta a Secção Especial da exposição Land Art Cascais 2011 dedicada a Robert Smithson, incluindo desenhos e escultura, e o filme Spiral Jetty.

MEMÓRiA

24NOV1931-2008 - Maria Gabriela Llansol: «Eu sou gratuita. Oiço um desejo intenso de escrever entre o pêlo dos animais, o seu miar doce, o prato de leite».
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28NOV1881-1942 - Stefan Zweig: «A vida não oferece coisa alguma sem retribuição e, sobre cada coisa concedida pelo destino, há secretamente um preço, que cedo ou tarde deverá ser pago».
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1938-29NOV1981 - Natalia Nikolaevna Zakharenko, aliás Natalie Wood: «Comecei a fazer filmes muito nova… Ir para o estúdio logo de manhã, e ficar lá até tarde, era mágico para mim».

1943-29NOV2001 - George Harrison: «Eu pretendia ter sucesso, não ser famoso». IMAG.70

COMENTÁRiO





Símbolo e tradição nipónica, entre anime e mangà, a saga de Dragon Ball surgiu em 1986, pelo engenho de Akira Toriyama. Popular com Dr. Slamp ou Aracles Chan, o ousado criador fundou o Bird Studio, onde desenvolveu a personagem e seu universo lúdico - adaptando a luta do bem contra o mal ao imaginário infantil. Em edição portuguesa sob chancela Asa, Dragon Ball sagra o elã da aventura fantástica, conferindo ao ser humano uma configuração virtual - com pequenos guerreiros adolescentes, e o prodígio das artes marciais. Prolongando os rituais e as emoções originais, a leitura de Dragon Ball faz-se da direita para a esquerda (das últimas para as primeiras páginas).
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VISTORiA



História

Durante milhares e milhares de anos jaz incógnito e anónimo o gigantesco território brasileiro com suas florestas verde-escuras e sussurrantes, suas montanhas e seus rios e seu mar ritmicamente sonoro. À tardinha de 22 de abril de 1500, de repente aparecem no horizonte algumas velas brancas; caravelas bojudas e pesadas, com a vermelha cruz portuguesa em suas velas, aproximam-se da costa, e no dia seguinte chegam à praia desconhecida os primeiros escaleres.
É a frota portuguesa que, sob o comando de Pedro Alvares Cabral, em março de 1500 zarpara da foz do Tejo, a fim de repetir a inolvidável viagem de Vasco da Gama, cantada por Camões nos Lusíadas, aquele «feito nunca feito», em torno do Cabo da Boa Esperança, em demanda das Índias... Ao que se veio a dizer, ventos contrários desviaram os navios da rota de Vasco da Gama, para essa ilha desconhecida - pois primeiramente é denominada ilha de Santa Cruz, essa costa, de cuja extensão ainda não se faz ideia. Desde que não se considerem como descobrimentos as viagens de Alonso Pinzon, que chegou às proximidades da foz do Amazonas, e a duvidosa descoberta de Vespuccio, parece pois que o descobrimento do Brasil teria cabido a Portugal e a Pedro Alvares Cabral, graças apenas a uma singular combinação entre os ventos e as ondas. Os historiadores, porém, há muito que não estão mais propensos a dar crédito a esse acaso pois Cabral levava consigo o piloto de Vasco da Gama, o qual conhecia exactamente o caminho mais próximo, e a fábula dos ventos contrários perde de valor, em face: do testemunho de Pero Vaz de Caminha, que se achava a bordo e afirmou expressamente que eles, «sem haver tempo forte ou contrário», se haviam afastado do Cabo Verde. Como nenhuma tempestade os houvesse desviado tanto para oeste que, em vez de contornarem o cabo de Boa Esperança, subitamente aportassem ao Brasil, uma determinada intenção ou - o que ainda é mais provável - uma ordem secreta de seu rei - fez com que dirigisse Cabral o seu curso para oeste. Isso torna mais provável a hipótese que a Coroa portuguesa, já muito antes do descobrimento oficial, tivesse conhecimento secreto da existência e da situação geográfica do Brasil. Há nesse ponto ainda grande segredo. Os documentos que poderiam desvendá-lo desapareceram para sempre, com a destruição dos arquivos, por ocasião do terremoto de Lisboa, e o mundo provavelmente nunca saberá o nome do primeiro descobridor do Brasil. Parece que, logo após o descobrimento da América por Colombo, um navio português foi enviado para explorar essa nova parte do mundo e, de regresso, levou novas informações, ou, já antes de Colombo obter audiência, tinha a Coroa portuguesa conhecimento mais ou menos certo dessa terra, no oeste longínquo. A favor disso há também certos elementos. Mas o que quer que soubesse, evitava Portugal dá-lo a conhecer ao vizinho invejoso; na época dos descobrimentos a Coroa tratava todas as novidades relativas a explorações náuticas como segredo militar ou comercial de Estado, cuja divulgação a potências estrangeiras era punida com a pena de morte. Mapas, portulanos, roteiros, relatórios de pilotos, do mesmo modo que ouro e pedras preciosas, eram encerradas na Tesouraria de Lisboa, como preciosidades, e, particularmente no caso do Brasil, uma divulgação prematura era inoportuna, pois, de acordo com a bula papal Inter Caetera, legalmente pertenciam aos espanhóis ainda todas as regiões até a distância de cem léguas a oeste do Cabo Verde. Um descobrimento oficial dentro dessa zona, nesse momento, só teria aumentado as posses do vizinho, e não as próprias. Não era, pois, do interesse de Portugal anunciar, antes de tempo, tal descobrimento, se de fato ele se dera. Era preciso estar legalmente garantido que essa nova terra pertencia não à Espanha, mas sim à Coroa portuguesa, e isso Portugal, com manifesta previdência, garantira a si por meio do Tratado de Tordesilhas, que em 7 de junho de 1494, portanto pouco depois do descobrimento da América, ampliara a zona portuguesa, das primitivas cem léguas para trezentas e setenta a oeste do Cabo Verde - justamente, pois, tanto que abrangesse ela a costa do Brasil, ao que se diz, ainda então não descoberta. Se essa ampliação foi uma casualidade, não deixou de ser uma casualidade que concorda admiravelmente com o desvio de Pedro Alvares Cabral, da rota natural, desvio que, por outro modo, é inexplicável.
Stefan Zweig - Brasil, País do Futuro (excerto)

ANUÁRiO

1866-1871 - Emigram de Portugal e Ilhas Adjacentes para o Brasil, dando entrada no porto do Rio de Janeiro, 49.610 pessoas, das quais 9.590 eram menores.

INVENTÁRiO


BOÉMIA E RIVALIDADES

Responsável por um período áureo do cinema português, Arthur Duarte explorou o contraste de classes em O Costa do Castelo (1943), e o culto do microfone com A Menina da Rádio (1944). O Leão da Estrela (1947) foi a sua terceira comédia de sucesso - em que convergem os mesmos autores, técnicos e artistas - abordando o fenómeno do futebol, numa recriação irresistível sobre a clássica rivalidade entre Sporting Clube de Portugal e Futebol Clube do Porto.
Anastácio, entusiasta do Sporting, vai ao Porto assistir a um desafio decisivo, instalando-se com a família em casa dos Barata, que conheceram nas Caldas, e cujo herdeiro, Eduardo, namorisca com a sua filha Jujú. Têm, porém, que representar o papel de ricos, devido a anteriores revelações fantasistas. E o ciclo de mentiras chega a um ponto culminante, quando os Barata anunciam uma próxima visita a Lisboa...
Por outro lado, pairam sons no ar: Artur Agostinho prossegue os projectos como actor, que revelara em Capas Negras (1947 - Armando de Miranda), e o locutor Pedro Moutinho está no seu papel, em lance documental durante o qual simula um relato do desafio em causa. Sobre este, esclareça-se que o jogo é mesmo a sério, no Estádio do Lima, mas as cenas das bancadas foram reconstituídas em estúdio...
Há dois anos na Emissora Nacional, a carreira artística era, para Artur Agostinho, uma variante, em que apreciou a estima e o talento de Laura Alves ou de António Silva. Indefectível sportinguista, «nessa época, o cinema português vivia um período intenso, de feliz comercialização, com histórias populares, directas, e um sentido do espectáculo como entretenimento».

BREVIÁRiO

BIS edita O Falador de Mario Vargas Llosa.
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· 16 NOV 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

INICIAÇÃO


Assistente de Manoel de Oliveira, Arthur Duarte ou António Lopes Ribeiro nos anos 40, Manuel Guimarães lançou-se como realizador em 1951, com Saltimbancos - adaptação do romance Circo de Leão Penedo, que elaborou a sequência. Quando os capitalistas se recusaram a financiar «uma fita sem fados, toiros nem meninas pirosas», segundo o protagonista Artur Semedo, Guimarães - logrando agrupar um núcleo firme de técnicos e actores, oferecendo «trabalho voluntarista, com remuneração incerta» -  produziu, secretariado por Rogério de Freitas. Conta a lenda que Guimarães vendeu o mobiliário de sua casa, a actriz Maria Olguim separou-se das jóias... Segundo o tema, e consubstanciando uma proposta neo-realista, não existem heróis ou figuras estereotipadas, antes gente comum contrastada pela dimensão envolvente. Conflitos, dramas, sentimentos sublinham uma ambiência transferencial, cujo utópico protagonista é o próprio circo. No elenco, destacam-se ainda Helga Liné e José Vítor. Prestigiados escritores prestaram o seu significativo aval - como Alves Redol, que aplaudiu o vínculo entre Penedo e Guimarães, lamentando «as arremetidas ferozes» dos habituais responsáveis pelas transposições. Já numa perspectiva crítica - e para além da falta de coesão, densidade ou equilíbrio - Roberto Nobre saudou «a verdade colhida ao natural».

CALENDÁRiO

1937-27FEV011 - Moacyr Scliar: Médico e escritor brasileiro, autor de O Centauro No Jardim (1980) - Gostaria de ficar conhecido «como alguém que amou as pessoas, amou seu país e sua cultura, amou a  literatura, amou a medicina» (a Wagner Lemos).

21JUN1921-28FEV2011 - Ernestine Jane Geraldine Russell, aliás  Jane Russell: Actriz norte-americana de cinema - «Gosto de homens que não possam correr mais depressa do que eu».
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25OUT1931-28FEV2011 - Annie Girardot: Actriz francesa de teatro e cinema - «Ficará na minha memória como uma das mais belas recordações, enquanto realizador e enquanto homem. Era uma mulher excepcional, à frente e atrás das câmaras» (Claude Lelouch).

1927-04MAR2011 - Charles Jarrott: Realizador britânico de televisão e cinema, distinguido com o Globo de Ouro por Rainha Por Mil Dias (1969). 

1936-07MAR2011 - Cándido Bidó: Artista plástico dominicano - «Eu posso ver as pessoas que me rodeiam e senti-las. Se tentasse tirá-las das minhas obras, não estaria a ser verdadeiro comigo mesmo».

10MAR2011 - Trevi Filmes Audiovisuais estreia E o Tempo Passa de Alberto Seixas Santos; com Sofia Aparício e Isabel Ruth.
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10MAR2011 - ZON Lusomundo estreia As Múmias do Faraó/Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec de Luc Besson; com Louise Bourgoin, sobre a heroína em quadradinhos, concebida por Jacques Tardi (1976).
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11MAR-30ABR2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe À Flor da Pele de Evelina Oliveira.

1920-13MAR2011 - Leo Steinberg: Historiador e crítico de arte, professor da Universidade de Harvard - «…Em 1940, por ocasião da Segunda Guerra Mundial, os crânios entraram seriamente na sua arte. A morte real estava do lado de fora, o medo real ancorado dentro, e, assim, a iconografia de Picasso concentrou seu foco sobre ele» (Os Crânios de Picasso).

MEMÓRiA

17NOV1901-1982 - Lee Strasberg: Actor, encenador, produtor, professor, fundador do Actor’s Studio (Nova Iorque) - «O actor cria com a sua carne e o seu sangue aquilo que todas as outras artes tentam de algum modo descrever».

18NOV1931-2008 - Francis Lacassin: Escritor, editor e historiador, especialista em literatura popular, cinema dos primórdios e banda desenhada - «Pelo final do Século XIX, um apaixonado suíço referia ter encontrado o Hotel des Balances, em Genebra, no qual Henriette e Casanova se amaram e separaram pela primeira vez. Ainda se lia num vidro: Um dia, hás-de esquecer Henriette. Uma descoberta tão comovedora e tão suspeita como a de um pedaço da verdadeira Cruz».
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1777-21NOV1811 - Heinrich von Kleist: Poeta, romancista, dramaturgo e ensaísta alemão - «O arrependimento é a inocência dos pecadores».
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1802-21NOV1861 - Henri-Dominique Lacordaire: «Nada é mais cruel do que o dever em concorrência com a afeição, porque é indispensável que o dever vença».

PARLATÓRiO

Porque desisti de fazer filmes? Porque estava a ficar velha. Naquele tempo, uma actriz não conseguia continuar a representar, depois dos trinta anos.
Jane Russell

Adèle Blanc-Sec é uma personagem feminina de época… É totalmente irreverente, fuma no banho e fala com múmias com toda a naturalidade. Nada a impressiona! Ao mesmo tempo, é tenaz e feminina…
Luc Besson

EPISTOLÁRiO


21 de Novembro de 1811
Para a Menina Ulrike von Kleist,
Hochwohlgeb,
em Frankfurt an der Oder

Eu não posso morrer sem ter me reconciliado, contente e jubilosamente como estou, com toda a gente, e, assim, também, antes de todos os outros, consigo, minha caríssima Ulrike. Se me permitir, a austera nota que está incluída na carta aos Kleist, dar-me-á a oportunidade de um retorno; realmente, você impressionou-me, não digo que com as forças de uma irmã, mas com as forças de um ser humano, para me resgatar: a verdade é que não havia ensejo para eu ser salvo na Terra. E, então, provavelmente viverei; se o Céu lhe reservar a morte, aceite-a de imediato, com alguma satisfação e inexprimível alegria: este é o mais afável e carinhoso desejo que por si acalento.
Próximo de Potsdam,
na manhã da minha morte,
seu Heinrich von Kleist

ANUÁRiO

1871 - Este ano, exportam-se de Lisboa 222.835.000 pares de calçado, cujo valor segundo a estatística é de 149.800$590 réis. Em 1870, a mesma exportação foi de 240.034.000 pares.

COMENTÁRiO





Um pouco como o cesteiro que entrelaça dezenas de fios de vime e daí faz uma cesta, também quis cruzar várias linhas narrativas, vários tons - momentos burlescos, dramáticos ou trágicos - passando ora por transição ora por corte franco de umas para outras, esperando que aos poucos o espectador comece a navegar - sem colete salva-vidas - pelas cenas que vão combinando ficção e vida até não saber em que território está. De qualquer modo estando no cinema estamos de certeza no espaço fascinante da ilusão em que todos nos deixamos enredar.
Alberto Seixas Santos

BREVIÁRiO

Costa do Castelo edita em DVD, Caixa Coleccionador Manuel Guimarães (1915-1975); inclui Saltimbancos (1951), Nazaré (1952), Vidas Sem Rumo (1956), A Costureirinha da Sé (1958), O Trigo e o Joio (1965) e as curtas Artes Gráficas (1967), O Ensino das Belas-Artes (1967), Viagem do TER - Expressos Lisboa-Madrid (1969), Carta a Mestre Dórdio Gomes (1971), Areia Mar - Mar Areia (1973).
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Alfaguara edita Quando Fui Outro de Fernando Pessoa; antologia de Luiz Ruffato. IMAG...182-187-196-207-211-236-264-323-326-330-333-343

Sony Music edita em CD, sob chancela Columbia, The Original Mono Recordings por Bob Dylan.
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Oficina do Livro edita O Império dos Espiões - A Espionagem Em Portugal e Nas Colónias de Rui Araújo.

ABC Cine-Clube de Lisboa edita Alberto Seixas Santos; coordenação de Manuel Neves e Alberto Seixas Santos.

¨Círculo de Leitores / Temas e Debates edita O Livro da Consciência - A Construção do Cérebro Consciente de António Damásio.
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Universal edita em CD, sob chancela Concord, Rare Genius: The Undiscovered Masters por Ray Charles.
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Lello Editores lança A Lágrima de Guerra Junqueiro (1850-1923).
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RELATÓRiO





No auge da guerra, de volta a seu atelier de Paris e já avançados os 63 anos, Picasso começou a trabalhar no bronze de uma Caveira em escala maior que a natural. Amigos leais mantiveram um fluxo clandestino de sucata de metal para o seu atelier, e Picasso temeu pelo destino de seus bronzes quando os oficiais alemães o visitaram. «Eles não servirão para construir as vossas armas enormes», disse nervosamente. «Não», replicou um deles, «mas permitiriam fazer armas pequenas.»
Leo Steinberg - Os Crânios de Picasso (excerto)


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· 08 NOV 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

EXTRAVAGÂNCIAS



«O que há de melhor em ter a minha idade, é saber o que posso esperar da vida» - comentava, em 2006, Scott Adams, distinguido em 1997 com o Prémio Reuben para o Desenhador do Ano. Actualmente com 53 anos, o inefável autor do irresistível Dilbert reincide - sob chancela das Edições Asa - com Atitude Positiva, agora a cores como se impunha e, pelas vivências pessoais / profissionais, comprovando que «existe uma grande diferença entre optimismo e loucura». Originalmente, Dilbert ganhou fama e proveito nas tiras diárias em The New York Times, distribuindo-se depois por uns 1.950 outros jornais, como o nosso Diário de Notícias. Dilbert é um engenheiro informático, com cerca de 30 anos, cínico e inútil, considerando o seu chefe «um idiota de cabelo espetado». Scott Adams colheu inspiração como engenheiro de sistemas na Pacific Bell - permanecendo nesta companhia dos telefones durante anos…. Para não perder o contacto com sua matéria-prima, «e esperando que do trabalho surja algo de bom»!  
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CALENDÁRiO

04MAR2011 - Em Guimarães, Escola Superior Artística do Porto-Guimarães expõe, no Centro de Artes e Espectáculos - São Mamede, Desenho de Figura Humana - Trabalhos Curriculares de Alunos das Licenciaturas em Artes/BD/Ilustração, Artes/Desenho e Artes/Grafismo Multimédia.

MEMÓRiA

854-10NOV1891 - Arthur Rimbaud: «O poeta faz-se, vendo através de um longo, imenso e sensato desregramento de todos os sentidos».
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1770-14NOV1831 - Georg Wilhelm Friedrich Hegel: «A necessidade geral da arte é a necessidade racional que leva o homem a tomar consciência do mundo interior e exterior, e a conceber um objecto no qual se reconheça a si próprio… A filosofia vem sempre demasiado tarde. Enquanto pensamento do mundo, só aparece quando a realidade conformou e concluiu o seu processo de formação».

15NOV1841-1908 - Alberto Sampaio: «Um dia, sem sabermos bem porquê, vemo-nos impelidos por uma corrente que determina o nosso percurso».
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EPISTOLÁRiO

A Luís Magalhães, Recusando o Cargo de Deputado

Céptico, excêntrico, cada vez mais separado do mundo, nada tenho que fazer em Lisboa, como representante de quaisquer eleitores.
Alberto Sampaio (1892)

COMENTÁRiO

Alberto Sampaio foi um historiador completo. Escreveu a História com arte e imaginação.
Luís Chaves

ANTIQUÁRiO

NOV1921 - Em Lisboa, Louis Feuillade dirige Parisette (1924), uma produção da Gaumont baseada no romanesco literário de Paul Cartoux. Contracenando com Sandra Milowanoff, Gaston Michel foi vítima de uma pneumonia fatal, aos sessenta e cinco anos, permanecendo o corpo no Cemitério do Alto de São João, até ser trasladado para França.
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VISTORiA


No Cabaré-Verde
às Cinco Horas da Tarde

Depois de oito dias, larguei as botinas
Pelo caminho. Eu entrei em Charleroi.
– No Cabaré-Verde: pedi torradas finas,
Manteiga e presunto, que é frio o lugar.

Feliz, estiquei as pernas sob a mesa
Verde: e contemplei os toscos motivos
Da tapeçaria. – E foi uma beleza
Quando a vi, enormes tetas, olhos vivos,

É ela! Não é um beijo que a apavora!
Risonha, trouxe a refeição na hora,
O presunto tostado, num belo prato,

O presunto róseo e branco perfumado
Pelo alho – e encheu-me o copo ávido
De espuma brilhante como um raio de sol.

Arthur Rimbaud - OUT1870 (Tradução de Cláudio Daniel)

VISTORiA




Castelo de Guimarães

Consta das Inquirições (pág. 736 e 737) que Afonso Henriques deu aos moradores «intus castelli», frase que empregam sempre, certos privilégios, confirmados por Sancho I. E aí o rei, além de açougues, de um forno e terreno não edificado, tinha a sua própria habitação; - «et aliud casale quod tenet Petrus Gomecii qui moratur in Castello Vimarañ non dat ullam derecturam. Interrogatus quare, dixit quod propter quod habet varrere ipsas domos castelli Domini Regis et curare illas et revolvere in quolibet anno» (Inq., pág. 723, 1.ª col.). A estas domos chama com propriedade o conde D. Henrique nosso Paço Real na doação, feita por ele e pela rainha D. Teresa a Amberto Tibaldi, de certo campo «quem habemus in Villa de Vimaranis et jacet juxta Palatium nostrum Regale, et ex alia parte sicut dividiteum clausis Ecclesiae Sanctae Mariae, deinde sicut intestat cum atrio ejusdem Ecclesiae» (Souza, Provas, tom. I pág. 3; cf. Herc., Hist. de Port., III, pág. 214, 2.ª ed ). As Inquirições distinguem o lugar Sancti Michaelis Castelli Vimarañ da Ville Vimarañ (pág. 736 e 727) No primeiro ficava o palácio e pegado com ele o campo já na Villa Vimarañ, o qual vinha desde cima entestar com o adro da igreja de Santa Maria. O palácio estava porventura no mesmo sítio, onde por doação do pai, o primeiro duque de Bragança levantou a vivenda monumental (hoje quartel militar), visto que as doações régias recaíam sempre em imóveis de plena propriedade da coroa. Perto pois da fortaleza iniciada no século X e abrigada por ela, existiu uma povoação antes da monarquia portuguesa, onde pousariam os reis de Leon, quando vinham à província, e de ordinário os condes que a administravam. Estabelecendo aí a sua residência o conde D. Henrique o D. Teresa, não admira que por tal motivo o povo lhe chamasse logo villa em virtude das prerrogativas da sede do governo e por isso velha em relação ao povoado em baixo, sem elas, junto do mosteiro.
Quanto ao castelo existente, concerteza não pode ser na totalidade o primitivo nem talvez o do tempo de Afonso III. A torre de menagem tem, é facto, a porta em arco e as ameias são de duas peças, posto que do tipo das outras: mas depois da ogiva que se vê nos torreões da muralha envolvente, o que apareceu em França do século XII por diante, construiu-se com as duas formas e com padieira direita (cf. de Caumont). A mesma porta referida está nivelada com a muralha, de modo a receber ingresso dela pela ponte levadiça. Em geral o edifício deixa-nos a impressão de um plano uniforme, parecendo ser o sistema de construção idêntico em todo. As muralhas que circundaram os dois povoados urbanos, foram edificadas por D. Diniz e por D. Fernando; por D. João I as torres das portas, infelizmente hoje demolidas, das quais apenas subsiste um pequeno resto da de S. Paio. Em qualquer destes reinados, talvez no primeiro, o castelo foi reedificado na forma actual se não no todo, pelo menos na maior parte.
Alberto Sampaio (1903)

NOTICIÁRiO

Na sua casa de Boamense, freguesia de Cabeçudos, Famalicão, faleceu no dia 1 do corrente o ilustre vimaranense e notável publicista, snr. Dr. Alberto Sampaio, irmão do falecido Dr. José Sampaio, que foi notável advogado nesta cidade e tio do actual juiz de direito na comarca de Esposende, snr. Dr. António Vicente Leal Sampaio.
É uma morte que nos enluta a todos os que prezamos a honra da nossa terra.
Alberto Sampaio fez parte duma plêiade distinta de poetas e publicistas, figurando em destaque ao lado dos mais exímios cultores da moderna literatura portuguesa.
A sua colaboração em diferentes revistas científicas, especialmente na Portugalia, a brilhante publicação de Ricardo Severo, e na Revida, da Sociedade Martins Sarmento; o seu valioso estudo acerca das vilas do norte de Portugal, ultimamente publicado em volume, revelam uma cerebração privilegiada, um talento superior, um trabalhador infatigável.
O único cargo que exerceu foi o de guarda-livros do Banco de Guimarães, onde todos o respeitavam pela bondade do seu coração, pela limpidez do seu carácter e pelo seu profundo saber.
Sempre modesto e recolhido, ele só sahiu para a rua a trabalhar com um afã verdadeiramente benemérito, quando Guimarães resolveu realizar a sua exposição industrial em 1884, cuja importância lhe veio, quase toda, do saber e da actividade de Alberto Sampaio.
E a terra onde este homem era menos conhecido era talvez a terra onde nasceu – Guimarães – que ele ilustrou e honrou com um nome que o país declina com veneração e respeito!...
A câmara exarou na acta da última sessão um voto de sentimento pela morte do ilustre vimaranense. Cumpriu o seu dever e interpretou o sentir dos que admiraram o talento do dr. Alberto Sampaio.
O Regenerador consigna também o seu pesar pela irreparável perda deste homem que, depois de Sarmento, foi a mais lídima glória da nossa terra nas lutas da pena e da cultura da ciência.
Os funerais do Dr. Alberto Sampaio realizaram-se ontem, em Cabeçudos, indo daqui assistir alguns cavalheiros.
À família enlutada, e, especialmente, ao snr. Dr. Leal Sampaio, apresentamos os cumprimentos do nosso profundo pesar.

04DEZ1908 - O Regenerador (Guimarães)





Portugal É Visitado Por Uma Troupe de Artistas

Enfim, Portugal já vai merecendo, ainda que morosamente, um pouco mais de atenção aos olhos do estrangeiro, pelo menos no que respeita ao ponto de vista do turismo. E Paul Cartoux, o autor de Parisette, que já conhecia algumas das belezas panorâmicas do nosso país, pois já nos visitara há alguns anos, compreendendo que elas poderiam ser utilizadas para adornar a película extraída do romance de sua autoria, fez sentir o desejo de uma vinda a Portugal, a Louis Feuillade, metteur-en-scène de reconhecido valor, de há muitos anos exercendo este cargo na Gaumont, e que, com o esforço do seu trabalho, tem contribuído muito para o acolhimento que todos os públicos estão dando às películas daquela casa, sobretudo às de série, que sem dúvida alguma, são as de melhor aceitação em todos os países.
1921 - Porto Cinematográfico (excerto)

RELATÓRiO

1871 - Este ano, são enterradas em Lisboa 5.645 pessoas, sendo 3.361 no Cemitério Oriental, 2.240 no Ocidental, 13 no Alemão, 5 no Israelita e 26 no Inglês.  


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· 01 NOV 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

INTERVENÇÃO



Ensaísta, dramaturgo, romancista, poeta - as diversas facetas da criatividade literária, por Júlio Conrado, distinguem um autor versátil mas de coerente testemunho, aliando o manifesto intelectual ao sarcasmo do observador, reflectindo o escritor motivado e sensível no discurso alusivo ou contundente… A narração subtil, o jogo da memória, a pontuação crítica, a inerência actual, expõem-se em Tragédia Grega - que principia: «De lágrima gritante contida / lábios semi-cerrados / cortados por finíssimo gume de ironia / (há sorrisos que valem por mil palavras) / incompatível com a solenidade da visita, / doem as cores antigas / ao misterioso forasteiro. // Pisa o chão venerado / qual esfíngico ser / incumbido de concretizar um crime / em tudo condizente com o que lhe vai no coração / (porque o cruel assassino a soldo / tem, imagine-se, coração).» Uma edição com a chancela de Apenas Livros, na colecção Naturarte - sob direcção de Maria Estela Guedes - tendo em vista, «ao hibridar as Artes com a Natureza», convocar «estudos sobre o Naturalismo, na sua ambiguidade e fusão com a filosofia, a religião, a estética, o esoterismo e a ciência».
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CALENDÁRiO

FEV-MAI2011 - Na Amadora, Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem/CNBDI apresenta os encontros mensais Às Quintas Falamos de Bd.

1920-23FEV2011 - Jean Pierre Lucien Osty, aliás Jean Lartéguy: Escritor francês, autor de Os Centuriões (1963) - «Conheci muito bem os centuriões das guerras da Indochina e da Argélia. Durante algum tempo, fiz parte deles, depois, jornalista, tornei-me sua testemunha, por vezes seu confidente. / Sentir-me-ei para sempre ligado a estes homens, mesmo que um dia deixe de estar de acordo com eles quanto ao caminho que seguirem, mas não me sinto de forma alguma obrigado a deles dar uma imagem convencional e embelezada. / Este livro é acima de tudo um romance, cujas personagens são imaginárias. Elas poderão, acidentalmente, por qualquer feição ou qualquer aventura, recordar este ou aquele dos meus antigos camaradas tornado célebre ou morto incógnito. Mas não há nenhuma destas personagens à qual se pudesse, sem logro, dar um nome. Em contrapartida, os factos, as situações, os cenários são quase todos extraídos da realidade e fiz o possível por me cingir às datas verdadeiras. / Dedico este livro à memória de todos os centuriões que pereceram para que Roma sobreviva.» (Introdução).

1926-26FEV2011 - Arnost Lustig: Escritor checo - «Tudo o que aprendi de importante sobre o homem, aprendi-o durante a guerra».

MEMÓRiA

1360-01NOV1431 - D. Nun’Álvares Pereira: Conde de Arraiolos, de Barcelos e de Ourém, Beato Nuno de Santa Maria, o Santo Condestável - em 23JAN1918, beatificado pelo Papa Bento XV.
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03NOV1801-1835 - Vincenzo Bellini: Compositor italiano, autor das óperas La Straniera (1829) e Norma (1831).
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01NOV1871-1900 - Stephen Crane: «A filosofia deveria perceber que a indiferença é uma postura militante» (Impressões de Londres).

03NOV1901-1976 - André Malraux: «A verdade de um homem é, em primeiro lugar, aquilo que ele esconde».

1938-05NOV1981 - Jean Eustache: Cineasta francês - «Desejei tantas vezes acordar como se renascesse, sentir tudo de novo, alegrias, dores, tudo, tudo».
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EPISTOLÁRiO




Carta de Gomes Leal

A propósito de uma agressão «injusta e brutal» no Theatro do Gymnasio

Os que me conhecem, sabem que acho indigno de mim ser provocador e espadachim, e que não faço profissão de jogar o soco pelas vielas nocturnas, mas sabem também que sou de génio pouco paciente, capaz de repelir uma afronta e aplicar um correctivo a tempo…
Um dos três, espadaúdo e agigantado, desafiou-me para a frisa onde estavam, e eu, cometendo a temeridade de me arrogar contra eles onde se encontravam, fui ali agredido por um com uma bengala de cana da Índia.
22NOV1881 - Diário de Notícias

INVENTÁRiO

60 ANOS DE IMPRENSA
CINEMATOGRÁFICA
EM PORTUGAL

 Entre sucessos e vicissitudes, a imprensa cinematográfica em Portugal iniciou-se cedo e tem mantido uma existência constante e diversificada, embora irregular. O primeiro título conhecido, Cine-Revista data de 1912 e - sendo responsável Lopes Teixeira - esteve ligada à primitiva Invicta Film, no Porto. Assim, não nos atrasámos demasiado, em relação às mais expressivas iniciativas editoriais, que se iam manifestando pelo mundo: La Rivista Fono-Cinenatografica (1907) em Itália, Arte y Cinematografia (1908) em Espanha, Motion Picture (1911) nos Estados Unidos, Picture Show (1918) em Inglaterra, Cinéma Pour Tous (1919) em França - após uma primeira experiência corporativa, Le Courier Cinématographique (1913). No entanto, a nossa primeira publicação especializada, digna desta referência, foi Cine Revista (1917), mensal e sob direcção de Fernando Mendes. Em 1919, é importante registar o Porto Cinematográfico, graças ao pioneiro jornalista Alberto Armando Pereira. A partir de 1923, todos os anos surgiram várias revistas - com uma existência mais ou menos efémera ou prestigiante. Neste caso, está a famosa Invicta Cine (1923) de Roberto de Magalhães Lino, que se prolongaria até 1936. Excepcional é 1928, em que se publicaram nove títulos - como Ar Livre por Chianca de Garcia ou, no Porto, Arte Muda de Rino Lupo; notáveis são, porém, o Cinéfilo por Avelino de Almeida, editado por O Século (até 1939), e a Imagem por João Botto de Carvalho, apenas com cinco números mas arrojada e influente. Em 1930, o Diário de Lisboa lançou Kino por António Lopes Ribeiro, em defesa do sonoro; tal como Imagem em II Série (até 1935), que Chianca dirigiu. Outros dois títulos se destacam em 1933: Animatógrafo de Lopes Ribeiro e, no Porto, Movimento por Armando Vieira Pinto. Em 1935, um prestigiado Fernando Fragoso coordenou Cine-Jornal para Bertrand Irmãos. Cinco anos depois, o Animatógrafo voltou em II Série, com Lopes Ribeiro. Durante a década de ‘40, sobressaíram: Filmagem (1941) por Mota da Costa, e Cinema de Amadores (1946). Em 1950, Baptista Rosa dirigia Imagem (com III Série em 1954), vindo a substituir Luís Miranda na popular Plateia, criada em 1951 (na II Série de 1958). Ainda em 1951, surgiu o Boletim Cinematográfico do Secretariado do Cinema e da Rádio (até 1998, sendo director Francisco Perestrello). Outros títulos significativos dos anos ‘50: Estúdio (1953) por Domingos de Mascarenhas, Visor (1953) e Celulóide (1957, até 1986) de Fernando Duarte (em Rio Maior), Boletim da União de Grémios dos Espectáculos (1953), e o influente Filme (1959) por Luís de Pina. Nos anos ‘60, ressaltam as publicações especializadas: Boletim Informativo dos Cine-Clubes (1960), o NCI (1969) dedicado ao cinema independente. O Cinéfilo ressuscitou em 1973, com uma proposta cultural e direcção de Fernando Lopes. Com a abolição da Censura, o pós-Revolução de 1974 implicaria outros desafios e desaires…

VISTORiA

Os homens mais novos não entendem o... como é que vocês dizem?... o erotismo.
- Até aos quarenta, caímos sempre no mesmo erro, não sabemos libertar-nos do amor; um homem que, em vez de pensar numa mulher como complemento de um sexo, pensa no sexo como complemento de uma mulher, está pronto para o amor: tanto pior para ele. Mas há pior; a época em que a obsessão do sexo, a obsessão da adolescência, regressa, mais forte ainda alimentando-se de toda a espécie de recordações...
Claude, ao sentir o cheiro do pó, a cânhamo e a cotão entranhado na sua roupa, tornou a ver a cortina de sacas ligeiramente repuxada atrás da qual um braço estendido lhe tinha mostrado, havia pouco, uma adolescente negra, nua, com uma ofuscante mancha de sol no seio direito espetado; e a prega das pálpebras grossas que tão bem exprimia o erotismo, o desejo maníaco, «o desejo de trazer os nervos à flor da pele», dizia Perken... E este continuava:
- Vão-se transformando as recordações... A imaginação é uma coisa extraordinária! Em si mesma, estranha a si mesma... A imaginação... compensa sempre...
- O que quer dizer com isso, ao certo?
- Você há-de compreender por si, mais tarde ou mais cedo... os bordéis somalis estão cheios de surpresas...
Claude conhecia bem aquela ironia rancorosa que um homem raramente emprega, a não ser contra si ou contra o seu destino.
André Malraux - A Estrada Real (excerto)

BREVIÁRiO

Tinta da China edita A Viagem dos Inocentes de Mark Twain (1835-1910); tradução de Margarida Vale de Gato.
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Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Celebración por Los Angeles Philharmonic, sob a direcção de Gustavo Dudamel, com o tenor Juan Diego Flórez. IMAG.261-271

Afrontamento edita Antologia poética de Fernando Echevarria.

A Esfera dos Livros edita Corsários e Piratas Portugueses - Aventureiros Nos Mares da Ásia de Alexandre Pelúcia.

VGM edita em CD, sob chancela Arcana, Fra’Diavolo - La Musica Nelle Strade del Regno di Napoli por Accordone, Marco Beasley e Pino de Vittorio, sob a direcção de Guido Moroni.

Assírio & Alvim edita As Mil e Uma Noites de Robert Louis Stevenson (1850-1894); tradução de José Domingos Morais.  
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Relógio d’Água edita A Família Golovliov de Saltykov-Shchedrin (1826-1889); tradução de Manuel de Seabra, introdução de James Wood.

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, ¡México! pelo tenor Rolando Villazcon com Bolívar Soloits, líder Efrain Oscher.
Dom Quixote edita Poesia de Cristovam Pavia (1933-1968). IMAG.165


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· 24 OUT 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

CONVULSÕES



Autor de fértil engenho - cuja notoriedade como argumentista de banda desenhada se firmou, durante a década de ’90, em La Vache ou I.R.$. - Stephen Desberg regressa com o perturbante sortilégio de O Escorpião, após A Marca Demoníaca, O Segredo do Papa, A Cruz de Pedro, O Demónio do Vaticano e O Vale Sagrado. A sofisticada ilustração de Enrico Marini - um nóvel artista suíço, revelado com Gipsy e Rapaces - evoca a mangà nipónica, pelas atmosferas duma saga imaginária e transgressora, que agora culmina, entre a realidade e a mistificação, ao desvendar-se O Tesouro do Templo, sob chancela das Edições Asa. Desberg & Marini - galardoados com o Prémio Betty Boop - ambientam a acção em Roma, durante o Século XVIII, com um mercado obscuro de relíquias dos santos da Antiguidade e da Idade Média, assumindo o Escorpião - gerado pelo fogo - um desafio mórbido, fatídico, impetuoso, inebriante, em especial para leitores ávidos de peripécias empolgantes e de emoções fortes.
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CALENDÁRiO

1919-14FEV2011 - George Shearing: Compositor inglês e pianista de jazz, autor de Lullaby of Birdland (1952).

1927-15FEV2011 - François Nourissier: Romancista francês, jornalista e crítico literário, membro da Académie Goncourt (1977) - «Fui um jovem escritor que se viu emaranhado na política dos prémios, das candidaturas, das pequenas glórias» (2008).

25FEV-23ABR2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Pintura de Carlos Dugos.

MEMÓRiA

1546-24OUT1601 - Tycho Brahe: «Ne frustra vixisse videar! /Não deixe que a minha vida pareça ter sido em vão!» (a Johannes Kepler).
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25OUT1881-1973 - Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santísima Trinidad Martyr Patricio Clito Ruíz y Picasso, aliás Pablo Picasso: «A minha mãe dizia-me: “Se queres ser um soldado, chegarás a general. Se queres ser um monge, acabarás por ser Papa.” Então, eu quis ser um pintor, e agora sou Picasso».
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c1700-25OUT1791 - Giovanni Battista Ferrandini: Compositor italiano aos estilos barroco e clássico, autor da ópera Catone In Utica (1753).
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1847-29OUT1911 - Joseph Pulitzer: Emigrante húngaro nos EUA, repórter - «um defensor ao lado das pessoas, um porta-voz da democracia» - e proprietário de The World (1883), definiu as regras de um jornalismo rigoroso e confiou parte da sua fortuna à Universidade de Columbia, Nova Iorque, a partir da qual foi instituído o Prémio Pulitzer (1917), com o objectivo de «encorajar e distinguir a excelência».

29OUT1931-2010 - Gilbert Gascard, aliás Tibet: Artista da banda desenhada franco-belga, criador de Chick Bill (1953) ou Ric Hochet (1958), autor de caricaturas de personalidades célebres na revista Tintin.
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30OUT1871-1945 - Paul Valéry: «É cómodo cortar ou coroar uma cabeça, mas, pensando bem, torna-se ridículo. Isso é acreditarmos que essa cabeça encerra, em si, uma causa primeira».

14SET1851-31OUT1931 - Octave Uzanne: «Não conheço gente mais honesta que os bibliotecários: jamais tocam o tesouro que lhes foi confiado».

VISTORiA


As Romãs

Duras romãs entreabertas
Pelo excesso dos grãos de ouro,
Eu vejo reis, todo um tesouro
Nascer de suas descobertas!

Se os sóis de onde ressurgis,
Ó romãs de entrevista tez,
Vos fazem, prenhes de altivez,
Romper os claustros de rubis,

E se o ouro sece cede enfim
Ante a demanda ainda mais dura
E explode em gemas de carmim,

Essa luminosa ruptura
Faz sonhar uma alma que há em mim
De sua secreta arquitetura.

Paul Valéry (Tradução de Augusto de Campos)

HISTÓRiA


RIC HOCHET

Popular herói da escola europeia, e o décimo nono a ser homenageado com um selo próprio pelos Correios belgas, Ric Hochet participa - em Outubro de 2000 - numa emissão televisiva em directo, quando é contactado ao telefone por uma jovem vidente. Convicta de que ele cometeu um erro durante a sua última investigação, vinda a público em Bd Meurtres, a amável feiticeira tenta convencê-lo a procurá-la nas Ardenas, onde reside. Seria uma questão de vida ou de morte - pois, segundo lhe revela, já em privado, o presumível culpado então detido ainda fará correr muita tinta! Ora, de facto, alguns dias mais tarde, o estranho indivíduo em causa evade-se da prisão, onde estava detido. No mundo restrito dos fanáticos de quadradinhos, o pânico alastra. E com razão - pois, enquanto na região se celebra o sabbat des macrales, uma tradição folclórica que serviria para ressuscitar os magos de outrora, um deles é brutalmente agredido. E Ric Hochet vê-se, sem querer, envolvido nessa aparente confusão sobrenatural: será que o suposto assassino, ávido de vingança, voltou às suas nefandas proezas, disfarçado de macrale? Ou tudo não passará de um golpe de publicidade, forjado pela insinuante interlocutora de Ric Hochet, aproveitando uma tal mascarada ritual? Com argumento de A.P. Duchateau, para ilustração de Tibet, eis La Sorcière... Mal Aimée - álbum 63 de Ric Hochet, sob chancela Le Lombard. Pela mesma altura, Tibet é a vedeta de uma grande exposição no Centre Belge de la Bd, em Bruxelas, a qual inclui mais de 150.000 originais - pranchas, desenhos, capas, caricaturas - sobre Ric Hochet e, claro, o inevitável Chick Bill.

BREVIÁRiO

Palimpsesto edita O Fim dos Livros (1895) de Octave Uzanne; tradução de Jacinta Gomes.

Megamúsica edita em CD e DVD, sob chancela Alia Vox, Dinastia Borgia - Chiesa e Potere Nel Rinascimento por Montserrat Figueras com La Capella Reial de Catalunya, e Hespérion XXI, sob a direcção de Jordi Savall.

Quetzal edita Bibliotecas Cheias de Fantasmas de Jacques Bonnet; tradução de José Mário Silva.








VGM edita em CD, sob chancela Alpha, Robert Schumann [1810-1856]: Klavierwerke & Kammermisik - X pelo pianista Eric Le Sage, com Gordan Nikolitch e Daishin Kashimoto (violinos), Lise Berthaud (viola) e François Salque (violoncelo).
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NOTICIÁRiO


Suspeita de Crime
Cria Investigação Histórica

As autoridades checas deram autorização a investigadores dinamarqueses para a exumação do corpo do astrónomo renascentista Tycho Brahe, uma das figuras mais influentes na história da astronomia. Em causa, está a suspeita de assassínio do cientista, que, na altura da sua morte, em 1601, tinha 56 anos. Os arqueólogos da Universidade de Aarhus procuram restos de mercúrio.
Brahe nasceu na Dinamarca e perdeu parte do nariz num duelo de juventude. Existe a hipótese de ter sido assassinado devido a uma intriga na Dinamarca e a mando do rei Kristian IV. Até agora, admitia-se como causa de morte infecção urinária, com base no relato do assistente de Brahe, Johannes Kepler: o astrónomo da corte não saiu de um banquete para urinar, pois não queria ofender o seu patrono, o imperador Rodolfo II. Acabou por desfalecer e morreu dias depois. Kepler usou as observações de Brahe para formular as suas famosas três leis sobre o movimento dos planetas, base do heliocentrismo. Brahe fez observações da Lua (tem uma cratera com o seu nome) e detectou a explosão da supernova SN 1572.
07FEV2010 - Diário de Notícias

COMENTÁRiO



Polícia Brasileira
Recupera Gravura de Picasso

A gravura Minotauro, Bebedor e Mulher, de Pablo Picasso, que tinha sido roubada em 12 de Junho último da Pinacoteca de São Paulo com outras três obras de arte, foi recuperada pela polícia, informaram fontes oficiais.
A gravura foi encontrada abandonada sexta-feira à noite à beira de uma estrada na zona oeste de São Paulo, a maior cidade brasileira, na sequência de uma operação levada a cabo pela polícia numa favela próxima, indicou um porta-voz da secretaria regional de Segurança Pública. A recuperação apenas foi confirmada segunda-feira, quando os peritos da Pinacoteca verificaram tratar-se da obra original roubada, esclareceu a fonte. Minotauro, Bebedor e Mulher, de 1933, era a única das quatro obras roubadas da Pinacoteca que continuava por encontrar.
19AGO2008 - Portugal Diário

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS
Folhetim Aperiódico

A PENA DURA
EM PEITO MOLE - 4

 Qualquer coisa serve para dar sensação, mesmo com repugnância, favorecendo um esmolar pela sobrevivência. E a aberração pode, mesmo, transformar-se num orgulho para o estafermo em causa. Num negócio com proventos, quanto à mandriagem e à lanzeirice.

Cecília sabia disso, e estava à cata de rendimentos próprios. Tudo era melhor que fraquejar, que ir-se abaixo, numa daquelas maluqueiras caóticas de alienação funesta ou monomania suicídica, que se haviam tornado moda e modo numa Lisboa gasta, irreversível.

- Estou-me a arreganhar, daqui a pouco até às tripas... - gracejou Cecília Sulpício para si mesma, com aquela petulância bárbara dos malquistos. Falava alto, mas as palavras entarameladas engalfinhavam-se por ela dentro, com um bramido aterrador e atordoante.

Continua


  

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· 16 OUT 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

AVENTURAS




Transfigurando uma paisagem de névoa e angústia - território volúvel, cujas marcas lhe são obsessivas, opressivas, através da sofisticação urbana, ou do resguardo realista, que não esbate a densidade das relações ou a tragédia existencial, pelo conflito das luzes e das trevas - o cineasta italiano Michelangelo Antonioni (1912-2007) desafia, sobretudo, a vertigem dos limites, o abismo dos desencantos, por uma virtual incursão pelos estímulos / mistérios da intimidade feminina, nas margens vulneráveis do fantástico - logo, tendo Monica Vitti por musa e ícone. Clássico, vanguardista - em ternos narrativos, em tensão dramática - eis um prodígio de rigor e sensibilidade, entre a síntese casuística e a dilatação emocional... Com o abandono e a tragédia, a solidão e a fantasia, a vitimação e o vazio, o desespero e a precariedade, vislumbra-se - para além da crispada travessia pelos infernos sociais - uma outra dimensão afectiva e solidária, a qual constitui a matéria transitória, sublimatória, do imaginário em transe.

MEMÓRiA

13FEV2011 - Radiotelevisão Portuguesa/RTP2 emite Orlando Ribeiro - Itinerâncias de Um Geógrafo de António João Saraiva e Manuel Carvalho Gomes. Quando nasceu, ninguém diria que o filho do Senhor António da Drogaria estaria, nos anos ‘30, a fundar as bases científicas da Geografia Nacional. Humanista, amante das artes, erudito explorador do mundo, Orlando Ribeiro (1911-1997) tornou-se na figura ímpar desta ciência tão menosprezada até então. Os seus cadernos de campo, as fotos da sua inseparável Leica, os testemunhos de quem partilhou a sua vida pessoal e profissional. A Arrábida... a Beira Baixa... os Capelinhos... a Ilha do Fogo - alguns dos locais onde voltamos, procurando transportar para o Século XXI a memória deste geógrafo português e a sua obra de incontornável valor ecuménico. Testemunhos de Ilídio do Amaral, Jorge Gaspar, Raquel Soeiro de Brito, José Mattoso, António Barreto, António Ribeiro, João Ribeiro e Suzzane Daveau.

16FEV1911-1997 - Orlando Ribeiro: Cientista, geógrafo, historiador, escritor, fotógrafo - «Todo o pensamento científico se alimenta tanto da recolecção objectiva da realidade - a observação em Geografia - como da conceptualização teórica que permite os processos lógicos de descrever e interpretar» (Reflexões Conclusivas - 1983).

01MAI1881-1955 - Pierre Teilhard de Chardin: Jesuíta, teólogo, filósofo e paleontólogo francês - «A única religião daqui por diante possível para o Homem é aquela que lhe ensinará, primeiro, a reconhecer, amar e servir apaixonadamente o Universo de que faz parte».
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1844-17OUT1891 - Sarah Winnemucca: Nativa americana - «Eu colocaria todos os índios do Nevada em navios no nosso porto, levava-os para Nova Iorque e depois desembarcava-os como emigrantes. Talvez, assim, eles fossem recebidos de braços abertos».

1847-18OUT1931 - Thomas Alva Edison: «A nossa maior fraqueza reside em que temos tendência a desistir. A maneira mais segura de atingir os objectivos é, sempre, tentar uma vez mais».
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1860-18OUT1941 - Manuel Teixeira Gomes: Sétimo Presidente da República Portuguesa (1923-1925), escritor - «Pudera eu traçar-lhe o perfil que fosse digno da sua personalidade requintada, sóbria, simples como a de um grego do século de Péricles, magnânimo e brilhante como a de um príncipe florentino da Renascença» (Norberto Lopes - O Exilado de Bougie - Prefácio).
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1862-21OUT1931 - Arthur Schnitzler: «Tenho a impressão que você aprendeu através da intuição tudo aquilo que eu fui adquirindo a partir de um árduo trabalho sobre as outras pessoas» (Sigmund Freud).
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CALENDÁRiO

1930-09FEV2011 - Félix Molinari: Ilustrador e autor francês de banda desenhada, criador de Garry (1948) e Super Heros (1985) - «O diálogo e a permuta com os meus leitores em festivais, e o encontro com artistas mais jovens, de quem me tornei amigo, deram-me tanta alegria que até me esqueci de envelhecer!».

17FEV2011 - No Alvaláxia e Colombo, Castello Lopes Multimédia estreia Budapeste de Walter Carvalho; com Giovanna Antonelli, Leonardo Medeiros.

21OUT2011-08JAN2012 - Museu da Fundação Calouste Gulbenkian expõe A Perspectiva das Coisas. A Natureza-Morta Na Europa; a pintura em 1840-1955, sendo comissário Neil Cox.

VISTORiA



Vénus Momentânea

Vento mareiro fresco, encapelando levemente a água em ondas verdes, floridas de espuma efémera. Aragem que sacia os pulmões…
À sombra de um leixão, deitado na areia seca e fina, eu lia versos, respirando o ar iodado, ou corria com a vista a curva do vasto horizonte, embalado pela canção cristalina do mar.
Perto da praia, o casco todo negro, pesado e sem graça, de um vapor, com uma grande bandeira vermelha desfraldada à popa, e logo o contraste: um iate cinzento-claro, que se balouça com elegância.
De todos os pontos do horizonte surgem a cada instante as velas dos batéis de pesca, velas agudas, que se cruzam como asas simbólicas, que se perseguem, que se reviram e param, que prosseguem dispersas, precipitadas, numa desordem de fuga, ou caminham regaladamente em grupos de conversa, e tudo vai direito à barra, cuja entrada estreita um rochedo esconde.
Outro batel, com a vela toda panda, sai, sozinho, a barra e entra no mar saltando sobre as ondas de vidro verde, franjadas de espuma, como cavalo fogoso que atravessa um prado cheio de erva.
O céu, de um azul intensíssimo, está como que esponjado de pequenas nuvens; a Ponta do Altar perfila-se com o seu recorte siracusano, e pouco a pouco, ao declinar do sol, acende-se em oiro.
Vai vazando a maré, alargando-se a mais e mais a faixa de areia molhada onde o céu se reflecte como num infinito espelho…
Era a hora da tarde em que os banhos recomeçam, e, como de costume, naquela raia cheia de recortados leixões, os banhistas despiam-se junto ás rochas, pendurando nelas o seu fato.
Em volta do leixão, a cuja sombra eu me acolhera, havia roupas de mulheres, que sem duvida pertenciam ao grupo de serranas que ali próximo, de mãos dadas e soltando gritos selvagens, tomavam à babugem da agua um desses infindáveis banhos aconselhados pelos preceitos da higiene sertaneja. Pareceu-me reconhecer nelas umas criaturas sem interesse, com quem amiúde me cruzara pelos caminhos, entre as quais sobressaía certa moça forte, feia e espadaúda, que andava sempre de olhos baixos, exibindo um pudor que ninguém certamente desejaria ofender.
Naturalmente, a minha vista não se distraía do encanto da paisagem ou da intimidade do livro, para seguir no banho as evoluções mais ou menos grotescas daquelas sereias, quanto a mim muito pouco ou nada voluptuárias, e foi assim que elas saíram do mar, e vieram para o leixão onde estava a sua roupa, e ao qual voltava costas, sem eu dar por tal.
De repente senti que alguém tossia, fazendo-o para chamar a minha atenção. Voltei-me instintivamente: era a serrana pudenda que se limpava, acocorada, numa anfractuosidade da rocha que formava nicho.
Tão depressa verificou que se encontrava em foco, ergueu-se, abriu os braços e soltou o lençol.
Prodígio de elegância, perfeição e graça escultural, se me patenteou então o seu corpo enrijecido pela frialdade da agua, cujas gotas ainda lhe escorriam pela carne marmórea. O peso da água afeiçoara-lhe na cabeça hirsuta um toucado de estatua antiga, e os seios disparavam como duas pombas que vão voar…
Impassível, sem um sorriso, e lentamente - tal uma estátua em pedestal móvel - ela rodou sobre si mesma, franqueando à minha vista sôfrega as mais secretas maravilhas do seu corpo.
Terminada a volta, agachou-se, meteu-se no lençol, e chamou por outra mulher que a veio limpar.
Daí a nada passava por mim já vestida - entrouxada nas suas vestimentas de serrana lorpa - arrastando os sapatos de bezerro, estúpida, a boca mole e inexpressiva, os olhos baixos…
Espreitei-a depois, no banho, vezes sem conto, a ver se a cena se repetia, mas inutilmente.
Outras tentativas, de natureza mais prática, foram igualmente infrutíferas…
Concluí que assistira, por acaso, à passagem pelo seu corpo de uma alma de nereida encontrada dentro de água e enganada pelo aspecto helénico daquela praia…
Manuel Teixeira Gomes - Inventário de Junho (1918)

BREVIÁRiO

Costa do Castelo edita em DVD, A Aventura / L’Avventura de Michelangelo Antonioni; com Mónica Vitti e Lea Massari.
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Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Song of the Night - [Karol] Szymanowski (1882-1937) por Christian Tetzlaff com Wiener Philharmoniker, sob a direcção de Pierre Boulez.

Centro Atlântico edita Mensagem de Fernando Pessoa; introdução de Auxilia Ramos e Zaida Braga.
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NOTICIÁRiO

O Kinetographone

Na Avenida da Liberdade, 87, está em exposição um curioso aparelho com o nome que encima esta notícia e que consiste n’uma engenhosa combinação do cinematographo e do phonographo. Kinetoscopio foi o nome que Edison deu ao aparelho que reproduz a fotografia animada, e phonographo é a disposição especial já conhecida que permite a reprodução do som. É pois o kinetographone a combinação destes dois aparelhos.
21MAR1897 - Diário de Notícias


Gaphophone
Exposição dos Raios X – Visão através dos corpos opacos – das 4 às 10 da noite. Animatographo de Edison – com gestos e com fala. Avenida, 87.
05JUL1897 - Diário de Notícias

EPISTOLÁRiO



Assoma às grades e, desenvolto, as transpõe, indo bater à porta da sacristia, um forte rapaz dos seus dezoito anos, muito elegante no trajo de chulo que lhe realçava a ambígua plástica apolínea, escandalosamente. É, nas feições, o tipo dos arcanjos que os grandes pintores sevilhanos puseram nos quadros da Anunciação: imberbe, tez mate, cabelo negro e anelado, grandes olhos aveludados, de lânguida expressão amorosa.
O rapaz atravessa a capela sem nenhuma hesitação, lançando-me, na passagem, um incitante olhar profissional, e desaparece.
Manuel Teixeira Gomes - Cartas Sem Moral Nenhuma (1903)


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· 08 OUT 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

RETRATOS



Com os seus rostos e vultos estilizados sagram o universo em quadradinhos, assumindo sagas prodigiosas que preenchem o imaginário gráfico de todos os nossos cultos e fascínios. Logo reconhecidos pelos leitores em geral, identificados por uma carismática configuração humana, com um visual emblemático ou agindo sob caprichosos modos de comportamento e códigos de intervenção, tais protagonistas e antagonistas celebram uma galeria tácita, implícita - que, afinal, se distingue e consagra quanto a um dos mais amados e famosos universos da banda desenhada, a partir de uma típica aldeia gaulesa… Pela inspiração primordial de René Gosciny & Albert Uderzo, eis Astérix & Companhia - sob chancela das Edições Asa - coligidos em retratos irresistíveis, sensacionais, desvendando ainda a «relação privilegiada» que cada um estabelece «com o seu objecto de eleição»... Um percurso aventuroso, de humor e emoção, que corresponde aos primeiros 33 álbuns clássicos, envolvendo ainda «romanos, piratas e outros fenícios» favoritos, caricaturados, entre a recriação histórica e a fidelidade mítica.
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CALENDÁRiO

13ABR1941-28JAN2011 - Margaret Price: Cantora lírica inglesa - «Uma das maiores sopranos do mundo» (BBC News).

1916-29JAN2011 - Milton Babbitt: Compositor, teórico e professor, pioneiro da música electrónica - «A noção de tempo sempre colocou problemas à música contemporânea - daí que deixasse de ser tocada, ou que o fosse de um modo insatisfatório… Eis o que me motivou».

30JAN2011 - O artista norte-americano Art Spiegelman, autor de Maus, é distinguido com o Grande Prémio do Festival de Banda Desenhada de Angoulême, em França.
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1933-30JAN2011 - John Barry: Músico inglês, compositor de bandas sonoras para filmes, distinguido com cinco Oscars - «Tenho uma forte atracção por temas que lidem com a perda».

01FEV2011 - Valentim de Carvalho/VC Multimédia estreia As Cobaias de Pedro Gil de Vasconcelos.

1952-03FEV2011 - Maria Schneider: Actriz francesa, protagonista de O Último Tango Em Paris (1972) - «Eu tinha, então, vinte anos. Não queria ser uma estrela, muito menos uma actriz escandalosa - apenas pretendia fazer cinema. Mais tarde, apercebi-me de que tinha sido manipulada por [Bernardo] Bertolucci e por [Marlon] Brando».

10FEV-12JUN2011 - Em Cascais, Casa das Histórias Paula Rego expõe My Choyce - Obras Seleccionadas Por Paula Rego Na Colecção British Council.
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11FEV-27MAR2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Pintura de Teotónio Agostinho.

1925-12FEV2011 - Gérard Castello Lopes: Fotógrafo, crítico e distribuidor de cinema - «…Um dos nossos mais importantes cronistas. Desde o início do seu interesse pela fotografia, tomou como sua a tarefa de mostrar, através das suas imagens, um país, frágil e belo, dramático no seu isolamento. Com um olhar elegante e requintado, transporta consigo a culpa de, irremediavelmente, esteticizar a nossa memória, agora já colectiva, do Portugal cinzento e triste do final do salazarismo» (Delfim Sardo - 2004).

19FEV-03ABR2011 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I expõe Pintura de Mário Rita.

MEMÓRiA

10OUT1901-1966 - Alberto Giacometti: Escultor e pintor suíço - «As suas obras provocam emoções muito próximas do terror, e idêntico fascínio» (Jean Genet).

11OUT1891-1946 - Armando Augusto Freire, aliás Armandinho: Guitarrista e compositor do fado, «foi o maior de todos… e terá sempre um lugar de destaque. Criou uma escola onde se inscrevem nomes como Raul Nery, Carvalhinho, Jaime Santos, José Nunes e Fontes Rocha» (José Pracana).

15OUT1901-1952 - E. Jardiel Poncela: «Quem pede a mão de uma mulher, o que realmente deseja é o resto do seu corpo».

ANTIQUÁRiO

15OUT1921 - Inicia-se a publicação da revista Seara Nova, fundada por Teixeira de Vasconcelos, Raul Proença, Jaime Cortesão, Augusto Casimiro, Aquilino Ribeiro, Raul Brandão e Câmara Reis, entre outros; em 1982, suspendeu-se uma edição regular.
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VISTORiA

Cartas à Mocidade   




Que valem para a glória da França e da humanidade os seus guerreiros, os seus monarcas e potentados, se os compararmos com os nomes de Pasteur, Lavoisier ou Descartes? No cortejo do coroamento de Jaime I de Inglaterra, Shakespeare figurava entre os mais pobres, com o seu manto oferecido, de seis shillings. Hoje poucas pessoas conhecerão o nome dum só dos faustosos dignitários que seguiam o rei, enquanto o génio de Shakespeare exalta cada vez mais o coração dos homens em todo o mundo. Os papas sucedem-se há séculos e nenhum deles teve sobre a humanidade a influência de São Francisco de Assis, com o facto, na aparência tão simples, de falar ao sol, aos pobres, às aves e às feras, como a seres irmãos.

Jaime Cortesão - Seara Nova - Nº 3
(1921, excerto)

TRAJECTÓRiA

ENRIQUE JARDIEL PONCELA



Um dos maiores e mais populares humoristas espanhóis, criador de uma obra vasta e singular, que inclui vários romances, contos e peças de teatro. Nasceu em Madrid, de pai jornalista e mãe pintora. Na biografia sintética que prefacia o romance Amor Escreve-se Sem Agá, escreve: «Cresci, o pouco que cresci, rodeado de livros, revistas, jornais, quadros e esculturas; vi trabalhar as rotativas antes de ver trabalhar os abre-latas; dominei a Mitologia antes da História Sagrada, e tive noções do que era o Socialismo, antes de ter noções do que era o futebol». Aos vinte anos, inicia a sua actividade como jornalista, na redacção de La Correspondencia de España, e colabora na revista Buen Humor. Em 1923, desiste do jornalismo para se dedicar por inteiro à escrita, começando a publicar. O autor do famoso Mas... Terá Alguma Vez Havido Onze Mil Virgens? teve, no final da vida, vários anos maus, de desilusão e falta de êxito nas comédias, que muito o amarguraram. Morreu esquecido, seguido de perto pelo seu cão Boby, que lhe sobreviveu apenas quinze dias.

NOTICIÁRiO

Enlace

Está justo o consórcio do ilustre escritor Eça de Queiroz com a senhora D. Emilia de Castro Pamplona (Rezende).

04OUT1885 - Diário de Notícias

A Regência da Rainha

O Diário do Governo publica o seguinte diploma: «Tendo-se ausentado hoje para fora de Portugal, como lhe permite o artigo 8º da Lei de 24 de Julho de 1885, Sua Majestade El-Rei, o meu muito amado e prezado esposo, assumo eu a regência, na conformidade com as leis do Reino, e invocando a divina providência, em cujo auxílio me confio».

04OUT1895 - Diário de Notícias

El-Rei

Sua majestade el-rei, que veio ontem de Cascais para as Necessidades, no rápido das 11 horas da manhã, a fim de dar assinatura aos seus ministros, regressou àquela vila no comboio das 5 horas e 10 minutos da tarde, entrando na estação de Alcântara [Ramal de Cascais].

05OUT1899 - Diário de Notícias

BREVIÁRiO

Assírio & Alvim / FNAC edita Subway Life de António Jorge Gonçalves.
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Dom Quixote edita Diário - Volumes I-VIII de Miguel Torga.
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Harmonia Mundi edita em CD, Wolfgang Amadeus Mozart [1756-1791]: Die Zauberflöte por Daniel Schmutzhard, Sunhae Im e Kurt Azesberger, com Akademie Für Alte Musik Berlin, sob a direcção de René Jacobs.
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Guerra & Paz edita Escritos Pornográficos de Boris Vian (1920-1959); tradução de Rita Sousa Lopes, revisão de Carlos Magalhães.
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Quetzal edita O Sonho do Celta de Mario Vargas Llosa; tradução de Cristina Rodriguez. IMAG.229-244-327

Numérica edita em CD, Fernando Lopes-Graça [1906-1994] - Obra Coral a Capella - Volume 1 por Lisboa Cantat, sob a direcção de Jorge Carvalho Alves.
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Dom Quixote edita Um Traidor dos Nossos de John Le Carré; tradução de J. Teixeira de Aguilar. IMAG.167-232

Dom Quixote edita Como Fazer Um Filme de Claude Chabrol (1930-2010).
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EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS
Folhetim Aperiódico

A PENA DURA
EM PEITO MOLE - 3

 Cada um tem que encontrar os seus estímulos de prazer e esgar. Para quem é miserável, só vale um investimento de borla. Golpes com vidros de garrafas, facas deslizando por uma mão fechada, caneladas em rodas de caleches, pés descalços a raspar num braseiro ao rubro.

  Continua     


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· 01 OUT 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

REVELAÇÕES



Há dez anos afastado do cinema, dedicados ao teatro em Nova Iorque, Mike Nichols - um dos mais peculiares e escrupulosos realizadores americanos - partiu, em Reacção Em Cadeia / Silkwood (1983), do caso trágico e verídico de Karen Silkwood… Operária de uma central nuclear e vítima de radiações, que viria a falecer num suspeitoso acidente de viação, pouco antes de prestar declarações à imprensa. Perturbante, sobretudo, é a personificação que lhe confere Meryl Streep, paralelamente ao retrato feminino e à trama de vivências afectivas, tecidas pelo subtil argumento de duas mulheres - Nora Ephron e Alice Arlen. Evitando a especulação melodramática, o controverso sensacionalismo, através de narrativa sólida e sóbria, Reacção Em Cadeia desvenda a densidade psicológica e as incidências de um quotidiano cuja aparente trivialidade, e frívolo relacionamento, camuflam a insegurança laboral e a angústia duma corrupção vital. Nessa acuidade existencial, da representação vibrátil à mutação cénica, sobressai o cunho realista - pressuposto como reportagem do quotidiano, sagrando a intimidade e a confidência, a extroversão e a vulnerabilidade.

CALENDÁRiO

1939-15JAN2011 - Susannah York: Actriz britânica de teatro, cinema e televisão - «Gosto de acreditar que os actores são pessoas bastante interessadas. Faz parte da profissão. Tudo começa com a curiosidade sobre os outros seres humanos. Os melhores intérpretes são aqueles que observam as várias pessoas e as suas vivências».

1934-16JAN2011 - Augusto Algueró: Compositor espanhol e director de orquestra, autor de Penélope (por Juan Manuel Serrat) - «A música é a linguagem mais universal que existe, e a ela dediquei toda a minha vida».

1920-18JAN2011 - Jean Doutourd: Escritor francês - «Estamos, sem sombra de dúvida, mais estúpidos hoje do que há cem anos».

1930-18JAN2011 - Marcel Marlier: Artista belga, ilustrador de Martine / Anita (1954 - Gilbert Delahaye) - «Tenho muito carinho por este país, porque nunca mais me esqueço de que a primeira carta que recebi de uma fã, chegada do estrangeiro, veio daqui» (em Portugal, 2006).
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1933-20JAN2011 - Reynolds Price: Poeta, novelista, dramaturgo e ensaísta norte-americano - «…O melhor jovem escritor que este país alguma vez teve» (Allan Gurganus - The New York Times).

1938-22JAN2011 - Dennis Oppenheim: Pintor e escultor norte-americano - «Soube sempre fazer a sua própria vanguarda e inovação, embora por vezes não o tenham compreendido… Na década de 1960, explorou o terreno da videoarte conceptual, muito antes de esta ter a transcendência que alcançou mais tarde» (Juan Manuel Gabarrón).

27JAN2010 - New Líneo Cinemas/NLC estreia Com Que Voz de Nicholas Oulman; a ligação criativa entre Alain Oulman (1928-1990) e Amália Rodrigues (1920-1999). IMAG...239-245-270-276-279-283-326

µ27JAN-30ABR2011 - Em Lisboa, Fundação Arpad Szènes-Vieira da Silva expõe Retratos de Mulheres, com fotografias de Man Ray (1890-1976), Julião Sarmento e Jorge Martins. IMAG.33-102-333

11FEV-09ABR2011 - No Estoril, Espaço Memória dos Exílios apresenta o ciclo de cinema Imagem e Memória; organização da Câmara Municipal de Cascais e da Memoshoá - Associação Memória e Ensino do Holocausto, propondo uma reflexão sobre um dos momentos mais marcantes do Século XX, pela projecção de uma série de filmes ficcionais e documentais que (re)tratam a II Guerra Mundial, com especial ênfase no holocausto.

MEMÓRiA

1902-01OUT1981 - Malcolm de Chazal: «A melhor forma de ser escutado, é fazer de cada ser um auditório completo e, do auditório inteiro, um único ser».

02OUT1851-1929 - Ferdinand Foch: «As batalhas são ganhas ou perdidas por generais, não por oficiais ou soldados».

1878-03OUT1911 - Carolina Beatriz Ângelo: Médica, republicana, membro da Maçonaria Feminina, sufragista e fundadora da Associação de Propaganda Feminista - «Só me restará a consolação de ter vivido muito em pouco tempo».

ANTIQUÁRiO

04OUT1931 - Sob chancela do Chicago Tribune Syndicate, aparece na imprensa norte-americana Dick Tracy, símbolo da aventura urbana e criminal em quadradinhos, sendo criador e ilustrador Chester Gould.
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VISTORiA


As formas

Do
Seu corpo
Eram
O seu
Catecismo. 

O sublime
Actor
É
A criança.
Ela desempenha
O seu
Próprio papel.

Toda
A pedra
No
Muro
Se
Sente
Enterrada
Viva.

A simetria
Absoluta
Não importa
O lugar
Pararia
O universo.

O olho
Dorme
Quando
A boca
Fala
Em demasia.

Os
Ecos
Telefonavam-se.

Malcolm de Chazal

EPISTOLÁRiO


Ex.mo sr. presidente da comissão recenseadora do 2º bairro de Lisboa

Carolina Beatriz Ângelo, abaixo assinada, de trinta e dois anos de idade, natural da cidade da Guarda, freguesia de S. Vicente, viúva, médica residente em Lisboa, rua António Pedro, S. D., 1º andar, freguesia de S. Jorge de Arroios, 2º bairro, como cidadão português, nos termos dos artigos 18º e 20º do Código Civil, não excluída dos seus direitos públicos de eleitor por qualquer dos impedimentos taxativamente enumerados no artigo 6º do decreto com força de lei de 14 de março de 1911, e estando antes, compreendida em ambas as categorias de eleitoridade dos n.º 1º e 2º do artigo 5º do decreto referido, por quanto não só sabe ler e escrever, mas é chefe de família, vivendo nessa qualidade com uma filha menor, a cujo sustento e educação prevê com o seu trabalho profissional, bem como aos demais encargos domésticos - pretende em tempo e para todos os efeitos legais que o seu nome seja incluído no novo recenseamento eleitoral a que tem de proceder-se, por virtude dos artigos  15º e 16º  e outros do decreto citado de 14 de março de 1911.

Para tanto o requer a v. exª, tendo em vista o disposto nos artigos 17º e 18º do mesmo decreto com força de lei.

Lisboa, 1de abril de 1911. (Junta-se a certidão de idade).
Carolina Beatriz Ângelo

INVENTÁRiO

SWAMP THING

Durante uma experiência química em projecto governamental secreto (desenvolvendo células vegetais com núcleos animais, que dotarão aquelas com a agressividade destes, em determinados climas), um acidente vitima o doutor Alec Holland, que se transforma num mutante. Afasta-se dos outros seres humanos, até aos pântanos onde arrastará, entre o lodo, o seu destino monstruoso e solitário. Sob tal maldição, em vingança contra a sociedade pela qual se considera alienado, Swamp Thing - um clássico de horror em quadradinhos, por Len Wein & Berni Wrightson - foi cotado entre a melhor produção gráfica dos anos ’70. Entre os continuadores, Rick Veitch, Nancy A. Collins ou Alan Moore (argumento), e Scott Eaton e Alfredo Alcala (ilustração) forjaram uma herança de culto.
Em 1981, Wes Craven concebeu e dirigiu Perigo No Pântano para o grande ecrã - em que Holland (Ray Wise) acaba por defrontar, como Swamp Thing (Dick Durock), o doutor Anton Arcane (Louis Jourdan) - um terrível maníaco que, tendo roubado a fórmula em questão, prepara uma fatídica mistura que contaminaria Holland; a correspondência feminina é assumida por Alice Cable (Adrienne Barbeau), uma agente federal. Oito anos depois, Jim Wynorski realizou O Segredo do Pântano - prolongando o antagonismo de Swamp Thing (Durock) contra Arcane (Jourdan), agora em busca de um composto que lhe permita a imortalidade, para tal combinando genes da sua espécie com irracionais; descobrindo que a própria enteada Abigail (Heather Lockhlear) tem uma relação com Swamp Thing.

ANUÁRiO


1871 - Este ano, registam-se em Nova Iorque 146 assassinatos.

BREVIÁRiO

Cine Digital edita em DVD, Reacção em Cadeia / Silkwood (1983) de Mike Nichols; com Meryl Streep e Kurt Russell.
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Câmara Municipal da Guarda edita Carolina Beatriz Ângelo - Guarda(Dora) da Liberdade (1878-1911) de Maria Antonieta Garcia.

ONC edita em CD, Franz Peter Schubert [1797-1828]/ [Robert] Schumann [1810-1856] por Pedro Burmester.
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Temas e Debates re-edita, com Círculo de Leitores, O Cinema Sob o Olhar de Salazar; coordenação de Luís Reis Torgal.

Universal edita em CD, sob chancela Decca, Robert Schumann [1810-1856]: Fantasie, Davidsbündlertänze por Mitsuko Uchida.
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Guimarães edita Ternos Guerreiros de Agustina Bessa-Luís.
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Iplay edita em CD, sob chancela Valentim de Carvalho, Com Que Voz por Amália Rodrigues.



IMAGINÁRiO340

· 24 SET 2011 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VIII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

PERSPECTIVAS



Um dos nossos mais aliciantes autores actuais de banda desenhada - pintor de formação, inspirado pela fotografia - Ricardo Cabral regressa com o álbum NewBorn - 10 Dias No Kosovo,  sob chancela das Edições Asa, após Everest e Israel SketchBook, tendo ainda ilustrado Malsão e Benquisto em O Infante Portugal e a Íntima Capitulação por José de Matos-Cruz. Nascido de um projecto entretanto abandonado, NewBorn resulta em diário de viagem, durante o mês de Agosto de 2009, narrada na primeira pessoa, sobre impressões e apontamentos, figurações e transparências cujos registo gráfico e recorte realista resultam numa textura estilizada ou calorosa, sombria ou colorida, formatando as virtualidades do testemunho / imaginário - intranquilo e deslumbrante, apaixonado e inquietador… Assim também, visitamos / sentimos / conhecemos um país que, tendo na memória as suas recentes cicatrizes e diferenças históricas, também protagoniza «uma vida que, apesar de ser difícil, dura, conturbada e precária, não deixa de ser linda» - como em introdução salienta Agron Bajrami, director do jornal Koha Ditore e privilegiado interlocutor de Ricardo Cabral, cujo olhar múltiplo assim reveste a mais estimulante dimensão artística e humanista.
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MEMÓRiA

25SET1901-1999 - Robert Bresson: «O cinematógrafo é uma escrita com imagens e movimentos e sons, e umas e outros só têm valor pelas suas posições e relações... É um novo modo de escrever, logo de sentir».
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25SET1921-2010 - Jacques Martin: Artista de banda desenhada, criador de Lefranc (1952) - «Experimentei muitos estilos, antes de perceber que uma história é uma sucessão de imagens onde o texto, a cor, a narrativa, a qualidade do argumento e do desenho devem ser o menos complicados possível, e ao mesmo tempo muito realistas».
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1919-28SET1891 - Herman Melville: «A educada presteza com que alguém recebe dinheiro é realmente maravilhosa, considerando que tão gravemente acreditamos que o dinheiro é a raiz de todos os males terrenos e que em hipótese nenhuma um homem endinheirado entrará no paraíso. Ah! Com que alegria nos despachamos para a perdição!» (Moby Dick).
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1926-28SET1991 - Miles Davis: «A boa música é isso, boa, independentemente do género… Quanto a um artista de jazz, o que há a considerar, é: quais os seus projectos?, e as suas ideias? Para o meu ego, apenas necessito de uma apropriada secção rítmica».
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30SET1921-2007 - Deborah Kerr: «Se formos suficientemente espertos, há sempre uma forma de dar a volta a qualquer situação embaraçosa».
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CALENDÁRiO

17DEZ2010-24ABR2011 - No Porto, Museu Nacional de Soares dos Reis expõe Artur Loureiro (1853-1932), sendo comissária Elisa Soares.

13JAN2011 - Valentim de Carvalho/VC Multimédia estreia Complexo: Universo Paralelo de Mário Patrocínio e Pedro Patrocínio.

VISTORiA


Shiloh

Flutuando levemente, descrevendo círculos,
Pairam as andorinhas
Sobre o campo em dias nublados,
O campo da floresta em Shiloh -
Sobre o campo onde a chuva de Abril
Confortou corpos ressequidos em sofrimento
Ao longo da pausa da noite
Após o combate de domingo
Em torno da igreja de Shiloh -
A igreja solitária, de troncos feita,
Que para tantos ecoou lamentos de despedida
E sinceras preces
De adversários moribundos ali se confundiram -
Adversários ao amanhecer, amigos ao crepúsculo -
Fama ou país pouco lhes importa:
(Tal como uma bala pode enganar!)
Mas agora no solo jazem
Enquanto as andorinhas sobre eles flutuam,
E o silêncio se instala em Shiloh.

Herman Melville
(Abril de 1862 - Tradução de Mário Avelar)

INVENTÁRiO

ROBERT BRESSON


Pintor de formação, realizador de longas metragens desde 1943, Robert Bresson dirigiu algumas obras-primas do cinema francês: Diário dum Pároco de Aldeia (1950), Fugiu Um Condenado à Morte (1956), O Carteirista (1959), Peregrinação Exemplar (1965), Amor e Morte (1967), Uma Mulher Meiga (1969), Quatro Noites de Um Sonhador (1971)...
Considerando que «o cinematógrafo é o poder de trazer o passado ao presente», Bresson - galardoado com o Grande Prémio de Criação no Festival de Cannes, em 1983 - é um visionário da liberdade. Fugiu Um Condenado à Morte põe em causa as instituições repressivas; O Carteirista julga a sociedade; O Processo de Joana d’Arc (1963) organiza o tribunal da História.
Os dilemas da fé, pela vocação cristã, perturbam em Peregrinação Exemplar - sobre o itinerário de um burro hostilizado, cujo destino é a iluminação. Outro tema fulcral nos labirintos de Bresson, a vitimação feminina domina Amor e Morte ou Uma Mulher Meiga, persistindo pelas Quatro Noites de um Sonhador, na mácula dum amor puro e inocente.

ANTIQUÁRiO



10JAN1911 - Em Decreto publicado no Diário do Governo, determina o Governo Provisório - «por razões fisiológicas, morais e sociais» - que «é reconhecido a todo o assalariado o direito a um descanso semanal de vinte e quatro horas seguidas. Pela índole especial do seu mister ficam exceptuados os que trabalham nos teatros, cinematógrafos, circos, exposições e quaisquer casas de espectáculos públicos». E ainda que «o descanso semanal será, em regra, ao domingo», excepção feita aos hospitais, casas de saúde, farmácias, restaurantes e outros sectores de actividade com especificidades próprias ao nível do funcionamento. As infracções serão penalizadas com multas e «prisão correccional até três meses», revertendo o produto das coimas para os cofres da assistência pública. Assinam o diploma Joaquim Theofilo Braga, António José de Almeida, Affonso Costa, José Relvas, António Xavier Correia Barreto, Amaro de Azevedo Gomes, Bernardino Machado e Manuel de Brito Camacho.









21SET1761 - No Rossio, em Lisboa, é garrotado e queimado Gabriel Malagrida, - jesuíta italiano, missionário no Brasil e pregador em Portugal - num auto-de-fé sob denúncia de herege, falso profeta e impostor por Sebastião José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e futuro Marquês de Pombal, em associação ao Processo dos Távora.
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VISTORiA



Quando a consistência do governo da maior parte das cortes da Europa se acha enervada e enfraquecida, ou com discórdias e divisões intestinas, como está sucedendo em França e Inglaterra, ou com sedições clandestinas e cinzânias brotadas pelas venenosas raízes jesuíticas, que não puderam arrancar até agora, como está sucedendo em Espanha, Sabóia, Roma e grande parte de Itália e Alemanha, depois de terem visto os estrangeiros, pelo contrário, que em todo o Portugal e seus domínios não soam outras razões que não sejam as que baixam do real trono de S.M., que lhe são ouvidos com suma reverência, por se acharem vassalos do mesmo senhor constituídos na finíssima fé de que ele só resolve e determina o que é mais útil aos seus vassalos e de que a todos os ama e ampara como a filhos, e não como a súbditos...

Marquês de Pombal - Cartas e Outras Obras Selectas (excerto)

BREVIÁRiO

Amadora/Sintra edita Afonso Henriques - Nascido e Educado no Douro de Altino Moreira Cardoso.

Harmonia Mundi edita em CD, Jean-Philippe Rameau [1682-1764], Johann Sebastian Bach [1685-1750], François Couperin (1668-1733) pelo pianista Alexandre Tharaud. L IMAG...220-240-248-267-268-269-280-284-305-308-332-334

A Esfera dos Livros edita A Sociedade Medieval Portuguesa de A.H. Oliveira Marques (1933-2007).
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Bertrand edita Santuário de William Faulkner (1897-1962); tradução de Ana Maria Chaves.
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Assembleia Municipal de Loures edita A República Em Loures - 4 de Outubro de António Valdemar; prefácio de Mário Soares.
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EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS
Folhetim Aperiódico

A PENA DURA
EM PEITO MOLE - 2

 Não que para tal fêmea imunda - que fora uma reles criança exposta na rua, e crescera nauseabunda pelas sarjetas, entre porcarias e dejectos - a aparência ou a higiene tivessem qualquer importância. Porém, havia aquele pormenor da comichão, que irritava mas lhe trazia um gozo bestial.

 Continua   

 


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