José de Matos-Cruz
 

IMAGINÁRiO20
01 JAN 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

ULTRAMAN
- AVENTURA RADICAL

 

Em 1992, quando o Mundo tremeu com a morte de Superman às mãos de Doomsday, a Civilização Oriental sentia-se protegida sob o signo de Ultraman. Neste Terceiro Milénio, tal escudo justiceiro estendeu-se, a nível planetário, pela assunção de Tiga - enfrentando, sem descanso, as mais terríveis e abomináveis ameaças. Até que, imprevistamente, tão abnegado guerreiro desapareceu em combate, e a Humanidade enfrenta mais um risco de ameaça. Para piorar a situação, os mais altos responsáveis governamentais do Japão foram afectados por um vírus alienígena, o que leva ao desmantelamento da Global Unlimited Task Squad. Até que, em Hong-Kong, se revelam os primeiros sinais de esperança... Sob chancela Dark Horse, eis Ultraman Tiga - por Tony Wong & Khoo Fuk Lung - avassalando o universo dos hiper-heróis, estilizado pelo fenómeno mangà. Para exorcismo de uma violência radical, em transposição fantástica e ritualização bélica.

RELATÓRiO

OS NOVOS X-MEN
- GERAÇÕES EM CRISE

 

Da transcendência humana à emulação prodigiosa, a saga dos X-Men persiste entre a vitimação solitária e a sobrevivência virtual, com Novos X-Men - sob chancela Devir - por Grant Morrison (argumento), Leinil Francis Yu, Igor Kordey & Ethan Van Sciver (ilustração). Os X-Men surgiram em 1963, por Stan Lee & Jack Kirby, como uma equipa de seres mutantes, protegidos e treinados pelo Professor Charles Xavier - com espantosos dons telepáticos, mas que se tornaria um paraplégico - no Instituto de Sobredotados, em Nova Iorque, visando controlar os seus poderes e, em colectivo, usá-los apenas para o bem comum. Cabe lembrar que, há uns quarenta anos, o presidente John F. Kennedy foi assassinado em Dallas, e Martin Luther King mobilizou a Marcha Sobre Washington. Lee & Kirby mantiveram-se à frente de X-Men apenas até 1967. Numa explícita alegoria aos preconceitos do racismo, as autoridades federais logo consideraram esses paranormais uma ameaça latente, e seriam perseguidos pelas forças policiais, enfrentando ainda os mais execráveis adversários ou atraindo a demagogia de personalidades públicas, ambiciosas e reaccionárias. Agora, com o Professor X em coma, e uma multidão em fúria contra o Instituto Xavier, o futuro é um assombro imprevisível, para além do confronto inexorável à criminalidade e à corrupção.

CALENDÁRiO

 13NOV2004-22JAN2005 - Teatro Nacional de D. Maria II apresenta, na Sala Garrett, Os Lusíadas Rumo ao Oriente com direcção artística de António Lagarto; espectáculo juvenil inspirado no clássico de Luís de Camões.

02DEZ2004-06FEV2005 - Na Galeria do Teatro Taborda, Artistas Unidos apresenta Lâmina, exposição de desenhos e duas telas por Álvaro Lapa.

30DEZ2004 - Castelo Lopes estreia À Procura da Terra do Nunca de Marc Forster; Johnny Depp assume Sir James M. Barrie (1860-1937), imaginando como se inspirou para criar Peter Pan.

JAN2005 - No Porto, Casa de Serralves expõe O Conceito de Diva por Francesco Vezzoli; inclui a interpretação de Amália Rodrigues, por Sônia Braga.

07JAN-06FEV2005 - No Centro Cultural de Cascais, a Fundação D. Luís I apresenta Exposição de Arte Popular Chinesa, em organização com o Centro de Estudos Chineses do ISCSP-UTL e a Embaixada da República Popular da China.

31JAN2005 - Termina o prazo para apresentação de candidaturas ao Prémio D. Dinis 2004; instituído por Agostinho da Silva e administrado pelo Montepio Geral, nas áreas de Agronomia, Ciências da Educação e Filosofia.

02DEZ2004-13FEV2005 - Museu da Cidade (Lisboa) expõe, no Pavilhão Preto, Mário Cesariny, Grande Prémio EDP 2002.

28FEV2005 - Na Biblioteca Nacional, encerra a Exposição Livro Científico dos Séculos XV e XVI, assinalando 2005 como Ano Internacional da Física: entre outras obras originais, o Tratado da Esfera (1537) de Pedro Nunes.

TRAJECTÓRiA

ELVIS PRESLEY
- O ACTOR CANTOR

 

Um dos expoentes da iconolatria musical da América, no Século XX, Elvis Presley (1935-77) destacou-se como estrela de cinema, em 33 longas metragens que renderam mais de 150 milhões de dólares. E o próprio rei do rock’n’roll foi alvo de várias fitas, como personagem ou em testemunho: desde o primeiro disco (1953) ao regresso a Las Vegas (1969), em Elvis Show (1970 - Denis Sanders), ou Elvis On Tour (1972 - Pierre Adidge & Robert Abel); numa estilização a cargo de Kurt Russell, em Elvis (1979 - John Carpenter); Elvis, o Ídolo Imortal (1981 - Malcolm Leo & Andrew Solt) combina documentários e recriação; Dale Midkif participou em Elvis e Eu (1988 - Larry Peerce), partindo de uma biografia da mulher Priscilla; Val Kilmer assumiu Amor à Queima-Roupa (1993 - Tony Scott). A carreira Elvis como actor começou por ser orientada para rendibilizar, na tela, o fenómeno de popularidade como cantor, sobretudo em comédias românticas.

Entretanto, o êxito cinematográfico motivou a escolha de argumentos com um maior realismo, atribuindo ainda densidade às suas figurações. Por outro lado, passaram a ser escolhidos realizadores e intérpretes com prestígio, além de assegurar-se o contributo de compositores que revertessem o sucesso musical de Elvis Presley. Os filmes da sua época áurea foram produzidos pela Paramount, destacando-se: Balada Sangrenta (1958 - Michael Curtiz), Café Europa (1960 - Norman Taurog), Hawai Azul (1961 - Norman Taurog) ou Romance no Luna Park (1964 - John Rich).

OBSERVATÓRiO

 

O DECÁLOGO VIII - Com O Decálogo (2001), pelas Edições Asa, o escritor Frank Giroud propõe-nos uma versão alternativa à designação atribuída aos Dez Mandamentos, transmitidos por Deus a Moisés, no Mundo Sinai. Pela VIII vez, Nahik de Giroud & Lucien Rollin decorre em França, 1813, após a derrota do exército imperial. Distintas perspectivas, outras tantas propostas criativas.

KILL BILL 2 - A VINGANÇA - Um David Carradine dissipado e a sensual Uma Thurman voltam para acertar as contas derradeiras, em Kill Bill 2 - A Vingança com argumento e realização de Quentin Tarantino, editado em DVD/VHS por Lusomundo. Nesta obra intensa, fracturada pelos distintos contrastes psicológicos e recortes de acção, em tragédia irreversível, sagra-se uma intriga paroxísmica, inexorável, que sonda os labirintos da violência e os códigos da criminalidade, inspirada pelos clássicos negros sob o signo de Hollywood, e estilizada pelo radical western spaghetti.

MARSUPILAMI - Entre ousadias e outras peripécias irresistíveis, a saga do Marsupilami - um animal dócil mas irreverente, capaz de fascinar os que o conhecem, para logo deixar todos de cabeça perdida - continua, pelas Edições Asa, sob a referência essencial de André Franquin (1987): com Greg & Batem e O Bebé do Fim do Mundo, um panda; com Yann & Batem contra O Marsupilami Negro.

HELLBOY - Nascido em quadradinhos há um decénio, pela inspiração perversa de Mike Mignola, com vários Prémios Eisner, e convertido em agente principal da Sociedade Britânica do Paranormal, Hellboy transfigurou-se em grande ecrã sendo protagonista Ron Perlman, numa realização sofisticada por Guillermo Del Toro, lançada em DVD/VHS sob chancela Lusomundo. Abaixo da terra que os homens dominam, à vista do céu onde os deuses prevalecem, há um mundo de lavas e trevas do qual brotam seres extraordinários. E, uma vez mais, é o destino deste mundo que está em causa...

MEMÓRiA

1291-07JAN1325 - Rei D. Dinis: «E, pois mi Deus este parecer deu, / non é sen guisa de por mi morrer /quem mui ben vir este meu parecer».

1905 - Em Lisboa, António Pinheiro dirige o Teatro Livre, tendo ensaiado vários autos e encenado diversas peças.

1925 - Arthur Duarte parte para Paris, assumindo uma longa carreira no cinema, em que exerceu múltiplas funções técnicas e artísticas - logo, em Berlim e em Viena.

08JAN1935-1977 - Elvis Presley: «Não sou santo, mas sempre tentei não fazer nada que magoasse a minha família ou ofendesse a Deus».

1955 - A peça Gata em Telhado de Zinco Quente de Tenessee Williams é galardoada com o Prémio Pulitzer.


 

IMAGINÁRiO19
ESPECIAL FIM DE ANO
31 DEZ 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

ASSIM NA TERRA...
LIGUE-ME AO CÉU

 

Publicado pela revista Spirou a partir de 1990, Ligue-me ao Céu - por Janry (argumento) & Stuf (ilustração) - logo conquistou leitores devotos das irresistíveis peripécias que estarrecem até as barbas de São Pedro, partilhadas por uma corte de impenitentes com residência no Paraíso. Escapando à vigilância da Brigada Anti-Blasfémia, e deixando o próprio Diabo esquentado com a Danação, o lançamento do primeiro álbum, dez anos depois, aumentou a popularidade deste épico sobre o Além, consagrado ao estilo do humor de Franquin, numa caricatura irónica quanto aos pecados, vícios e virtudes, próprios da condição humana. Agora sob chancela das Edições Asa, Ligue-me ao Céu - no culto privilegiado da escola franco-belga - começa por anunciar O Próximo! entre o Homem das Cavernas e o Astronauta Lunar, numa antologia histórica e histriónica que, afinal, satiriza aqui na Terra as grandezas e as misérias da sociedade actual.

VISTORiA

SABER, OLHAR

 

Todas as coisas que percebemos, ou as percebemos pelos sentidos do corpo ou pela mente. Denominamos as primeiras sensoriais; as segundas, inteligíveis; ou, para falar à maneira dos nossos autores, denominamos carnais as primeiras; espirituais, as segundas. Interrogados sobre as primeiras, damos resposta, se estão diante de nós essas coisas que sensoriamos; por exemplo, quando nos perguntam, estando nós a observar a lua nova [lunam novam], qual é ou onde se encontra. Neste caso, se aquele que pergunta o não vê, acredita nas palavras, e muitas vezes não acredita; aprender, de modo nenhum aprende, a não ser que também ele veja o que se lhe diz. Ora, acerca de todas as coisas que inteleccionamos, não consultamos alguém que fala e produz um som fora de nós, mas a Verdade que preside interiormente à nossa mente, sendo talvez incitados pelas palavras a consultá-la. E aquele que é consultado, ensina: é Cristo, de quem se disse que habita no «homem interior» [Efésios, 3, 16-17], e é «o poder incomutável de Deus e a sempiterna Sabedoria». A esta, de facto, toda a alma racional a consulta; ela porém manifesta-se-lhe na medida em que cada um é capaz de a receber, em razão da própria vontade, boa ou má. Se a alma alguma vez se engana, não é por defeito da Verdade consultada, do mesmo modo que não é por defeito desta luz exterior que os olhos corporais por vezes se enganam. É manifesto que para nos certificarmos acerca das coisas visíveis recorremos a esta luz para ela no-las mostrar, na medida em que somos capazes de ver.
Santo Agostinho (354 - 430) - De Magistro

CALENDÁRiO

22NOV-31DEZ2004 - Na Biblioteca-Museu República e Resistência (Espaço Cidade Universitária) está patente a Exposição XVI Desenhos + Desenhos da Prisão & Outros Inéditos de Júlio Pomar.

29NOV2004 - Na Pinacoteca do Estado de São Paulo (Brasil), inaugura a exposição Laboratório do Mundo, Ideias e Saberes do Século XVIII, iniciativa do Ministério da Cultura e da Universidade de Coimbra.

23DEZ2004 - Lusomundo estreia Tiro no Escuro de Leonel Vieira; com Joaquim de Almeida e Margarida Marinho.

PARLATÓRiO

Uma parte significativa dos autores e candidatos a autor de banda desenhada em Portugal vive como gatas borralheiras que lamentam a sua vida e sonham, sentados, com uma fada madrinha que os leve ao baile onde encontrarão o seu príncipe encantado. Muitos são desenhadores que insistem em fugir a um cruzamento de trabalho com argumentistas, reduzindo assim a expressão da sua obra a malabarismos gráficos. Por outro lado, têm uma visão especializada - mas restrita - da bd como arte, o que lhes dificulta o relacionamento com as outras manifestações artísticas, condição que considero imprescindível para qualquer forma de criação contemporânea.
António Jorge Gonçalves

TRAJECTÓRiA

J.R.R. TOLKIEN
- SORTILÉGIO IMAGINÁRIO

 

O elã entre a realidade e a imaginação, é a liberdade. A liberdade estimula a fantasia, que se funda na realidade para transfigurar o imaginário... Eis uma fórmula simples que, ao longo dos tempos, e modelada pelo talento dos autores, se materializou em distintas obras-primas. Consagradas através de sucessivas gerações, ao nível dos clássicos da literatura, tais obras-primas convertem-se, afinal, em património da humanidade.
Durante o Século XX, a trilogia O Senhor dos Anéis culminaria numa dessas referências consensuais para a cultura universal. Transcendendo a própria história do escritor J.R.R. Tolkien, cuja fecunda erudição motivou uma complexa mas peculiar arquitectura ficcional. A sua visionária inspiração pessoal era, assim, idealizada nos transes e prodígios duma saga heróica, porém virtualizada pela memória colectiva.
John Ronald Reuel Tolkien nasceu em Bloemfontein, actual África do Sul, a 3 de Janeiro de 1892, de pais ingleses. Após a morte de Arthur, em 1896, a mãe, de raízes germânicas, levou-o com o irmão Hilary para Sarehole Hill, Birmingham. Falecida Mabel em 1904, recolheu-os a tia Beatrice. Onze anos depois, Tolkien, tendo estudado nas King Edward’s e St. Philip’s Grammar Schools, concluiu com distinção o curso em Oxford.
Casado com Edith Mary Bratt em 1916, Tolkien combateu nas trincheiras francesas durante a I Guerra Mundial. Regressou do Somme doente e afectado com a morte de companheiros, começando a escrever The Book of Lost Tales em 1917. Apenas foi publicado em 1977, como The Silmarillion, pelo terceiro dos seus filhos, Christopher, nascido em 1924. Os outros eram John (1917), Michael (1920) e Priscilla (1929).
Nessa altura, Tolkien leccionava Anglo-Saxon em Oxford, onde a família se radicou em 1925. Entretanto, fora leitor (1920) e docente em Leeds, redigindo Sir Gawain and the Green Knight com E.V. Gordon. No início da década de ’30, principiou The Hobbit - editado em 1937 e prelúdio a The Lord of the Rings, então iniciado. Em 1945, tornou-se professor do Old e Middle English. Em 1949, lançou Farmer Giles of Ham.
Pela época, Tolkien concluíra a sua obra mestra, cujos primeiros volumes - The Fellowship of the Ring e The Two Towers - apareceram em 1954, sob chancela Allen & Unwin. Em 1952, a editora Collins rejeitara o original. Três anos depois, era dado à estampa The Return of the King, consumando um fenómeno excepcional. Até aos nossos dias, a par com The Hobbit, venderam-se mais de 160 milhões de exemplares.
Reformado da carreira universitária em 1959, Tolkien assinou ainda The Adventures of Tom Bombadil (1962), Tree and Leef (1964) ou Smith of Wooton Major (1967). O culto a que era já votado, graças a The Lord of the Rings, chocava-o, porque «inadequado à minha pequena importância». Continuava a fumar cachimbo. Em 1969, instalou-se em Bournemouth, falecendo em Oxford, a 2 de Setembro de 1973.

 O culto de J.R.R. Tolkien como escritor, ou fascinante demiurgo, não atenua, antes explicita a sua existência sóbria e discreta, a sua paixão pelos lendários nórdico e céltico, a sua carreira como respeitado académico, filólogo e especialista em literaturas medieval e anglo-saxónica. Se é implícito que O Senhor dos Anéis não se passa neste nosso Mundo, urge também o simbolismo utópico que o criador atribui à Terra do Meio.
Entre o mistério ancestral e o sortilégio futurista, o poder - ou melhor, a posse - do Anel corresponde a um desígnio de jornada essencial/existencial, em que está imbuído o eterno/volúvel conflito entre o Bem e o Mal, além do predomínio ou do conhecimento. Eis a supremacia das forças naturais, um estigma primitivo de conquista, as tensões primordiais e os fantasmas arcaicos, que fundamentam a nossa própria civilização.
Tal urdidura épica, com conotações mágicas, consubstanciar-se-ia no género romanesco de Espada e Feitiçaria, do qual Tolkien - católico-romano por devoção materna, e que se considerava «um hobbit em tudo, menos no tamanho» - é, no mínimo, um mentor venerando. Em seu apelo vibrante à aventura em estado puro, à exaltação poética. Simultaneamente, legando-nos uma arrebatadora vivência de emoções e desafios.

BREVIÁRiO

 LNK lança a Edição Especial em DVD da trilogia O Senhor dos Anéis (A Irmandade do Anel - 2001, As Duas Torres - 2002, O Regresso do Rei - 2003) de Peter Jackson.

Parceria Editores lança O Passado Na Minha Frente de Luiz Francisco Rebello.

Costa do Castelo edita em DVD, Alfred Hitchcock, incluindo Downhill (1927), Os 4 Espiões (1936), O Sr. e a Srª Smith (1941) e Sob o Signo do Capricórnio (1949).

Editorial Notícias lança Crónicas de Bons Costumes, uma ficção por Guilherme de Melo.

Lucerna edita O Livro dos Reis Magos de João de Hildesheim (Século XIV); tradução de Leonor Lucena Sibertin-Blanc.

Prefácio edita O Mito do Marquês de Pombal de José Eduardo Franco e Annabela Rita.

Dinalivro edita 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer de Steven Jay Schneider.

Meribérica/Liber edita A Ilha do Futuro de José Ruy.

Principia-Publicações Universitárias e Científicas lança As Farpas de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão, com coordenação de Maria Filomena Mónica.

José Vilhena é distinguido com o Prémio Bocage, por O Inimigo Público.

Atalanta Filmes edita, em DVD, Nick’s Movie - Um Acto de Amor de Nicholas Ray & Wim Wenders.

Assírio & Alvim edita Cadernos (1919) de Nijinski: «Sou Deus no Homem».

¨Livros Horizonte edita Dragonolândia - O Mais Completo Livro Sobre Dragões atribuído a Sir Ernest Drake (Século XIX).

Assírio & Alvim edita Erzsébet Báthory, a Condessa Sanguinária de Valentine Penrose.

Plátano edita Telescópios de Guilherme de Almeida, Professor de Física; tudo sobre os instrumentos de observação do céu.

Correio da Manhã lança em DVD, Crónica dos Bons Malandros (1984) de Fernando Lopes.

Assírio & Alvim edita Pena Capital de Mário Cesariny: «Ama como a estrada começa».

Editorial Caminho relança Luuanda (1964) de Luandino Vieira; em 1965, Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores.


IMAGINÁRiO18
20 DEZ 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

ESCOLA DE ROCK
- MÚSICA NO CORAÇÂO

 

Segundo a tradição, o futuro das crianças passa pela instrução. Mas, quando os alunos são meninos bem comportados, querem mesmo aprender, e o professor substituto é um guitarrista falhado, sob falsa identidade, então estamos na... Escola de Rock (2003) de Richard Linklater. Um sucesso renovado da comédia ao estilo musical - editado em DVD, sob chancela Paramount/Lusomundo - irreverente, irresistível, sagrando ainda, com nostálgica ironia, uma homenagem ao fenómeno do rock’n’roll, das suas implicações artísticas até à herança aculturada entre os fanáticos e os conformistas. À narrativa linear, contrastada por cumplicidades e referências sobre distintas gerações, corresponde um desafio colectivo, em que se superam as fragilidades e as limitações individuais. Tudo passa pelo talento exuberante, extravagante, do protagonista Jack Black - que remete para a memória cáustica de John Belushi, simbolizando a virtualidade de Hollywood em mitificar os seus astros amados ou rebeldes, como uma lição de vida que é a arte do cinema.

RELATÓRiO

SKY CAPTAIN
NO MUNDO VIRTUAL

 

Serão outras as expectativas, haverá parâmetros distintos - no imaginário virtual? Espaço, tempo. Talvez estas coordenadas percam, mesmo, sentido - perante uma recorrência mais vibrante e visionária, reflexo prodigioso de uma tecnologia que nos transcende, e que mitifica a história da civilização que conhecemos, enquanto tal. Eis a perspectiva fascinante, a extroversão manipuladora de Sky Captain e o Mundo de Amanhã (2004) de Kerry Conran - o novo espectáculo de Hollywood, no qual convergem uma acção em vertigem e uma estética exacerbada, em conflitos estilizados pelo humor ao paroxismo; com uma encenação fantástica, sob o signo épico da realidade transfigurada. Também autor do argumento, Conran aperfeiçoou, durante seis anos, o software necessário a recriar uma dimensão retrofuturista, eivada por referências do passado e por intemporais implicações épicas, que o cinema consagraria. Sem cenários reais, a rodagem decorreu com os actores intervindo ante um fundo azul, e tudo o resto - paisagens, objectos - foi gerado em computador, por processos digitais. Jude Law, Gwyneth Paltrow, Angelina Jolie e... Laurence Olivier protagonizam um universo mágico, alternativo, de fusões e vivências, de interferências e exposições. Em prováveis Anos 30 do Século XX, Nova Iorque é atacada por gigantescos robôs voadores, comandados pelo pérfido Dr. Totenkopf, que pretende apoderar-se de toda a energia planetária. A par com o desaparecimento de prestigiados cientistas, a azougada repórter Polly Perkins alia-se ao ousado piloto Joe Sky Captain, dispostos a esclarecer tal mistério e resgatar o nosso mundo! Uma aventura nostálgica e feérica, qual substância onírica em que se materializam as mais catárticas emoções do espectáculo, os desafios totalitaristas à própria sobrevivência humana.

CALENDÁRiO

10NOV2004 - No âmbito do Bd Amadora 2004, ilustradores, cartoonistas e artistas da nona arte decidem constituir uma Associação Portuguesa de Autores de Banda Desenhada.

11NOV2004 - Teatro da Cornucópia estreia, no Teatro do Bairro Alto, Esopaida ou Vida de Esopo, com encenação de Luís Miguel Cintra.

15NOV2004 - No Oceanário de Lisboa, é inaugurada uma Exposição de Poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen, paralela ao lançamento da antologia Mar com a chancela da Editorial Caminho.

MEMÓRiA

19DEZ1924-1986 - Alexandre O’Neill: «Os meus poemas começam por ser satíricos, mas adoço-os no fim. Fica sempre alguma coisa de pé».

REPOSITÓRiO

 

O romanesco de Peter Pan está de novo em causa - com um concurso internacional, para dar continuidade ao imaginário maravilhoso concebido por Sir James M. Barrie (1860 - 1937). A iniciativa é do Hospital Pediátrico de Great Ormond Street (Londres) - desde 1929, a instituição proprietária dos direitos de autor, que caem no domínio público em 2007. A peça original estreou num teatro de Londres em 1924, ano de que data também a primeira versão fílmica. Em 1953, Walt Disney transfigurou este clássico inglês para crianças, com Peter Pan sob a direcção insuperável de Hamilton Luske, Clyde Geronimi & Wilfred Jackson. Steven Spielberg lograria uma recriação insólita, com Hook (1992), pelos artifícios de uma composição realista. Em 2002, a chancela Disney reanimou Peter Pan Em a Terra do Nunca de Robin Budd, mantendo embora uma ilustração exemplar sobre os lendários da cultura popular. Em 2003, P.J. Hogan reinvestiu no primordial fascínio literário. Já em 2004, Marc Foster traz de volta Neverland.

De um modo subtil, em suas implicações alegóricas e nostálgicas, eis a história de um rapaz rebelde, que se recusa a crescer, introduzindo um elemento perturbador – ou pathos - na própria ambiguidade etária dos heróis adolescentes, como intemporal matriz do sonho e matéria da fantasia. Mas o espírito infantil, sempre latente ou subvertendo o mito da eterna juventude, acaba por contrastar-se - na cumplicidade mínima mas excepcional da fada Sininho, símbolo feminino e mágico; ou expondo-se paralelamente às provocações espalhafatosas do malvado Capitão Gancho, pelo domínio sobre os Meninos Perdidos e o controlo da Terra do Nunca... Há, depois, o estímulo da pirataria, o signo da liberdade, a sagração familiar, o resgate da inocência encarnado nos filhos do casal Darling. Uma ténue fronteira entre o que é autêntico e o apelo onírico, pela vertigem fabulosa de voar e irromper no reino sobrenatural.

VISTORiA

 

A matéria que se determina segundo as suas leis mais gerais produz por um processo natural ou, se assim se quiser designar, através de uma mecânica cega, consequências convenientes que parecem ser o projecto de uma sabedoria suprema. Ar, água, calor, engendram, se os considerarmos abandonados a eles próprios, os ventos e as nuvens, a chuva, os rios que irrigam as terras, e todas as consequências úteis sem as quais a natureza deveria permanecer triste, deserta e estéril. Porém, não se produzem estas consequências por uma pura contingência ou por um acaso que poderia também ter-se mostrado desfavorável, mas vê-se que foram constrangidas pelas suas leis a não agir de nenhuma outra maneira que não essa. Que pensar desta concordância? Como seria possível que coisas de natureza diferente devessem tender a produzir em ligação umas com as outras concordâncias e belezas tão perfeitas; e, isso mesmo, em função de coisas que, em certa medida, se situam para além do que diz respeito à matéria inerte, a saber ao serviço dos homens e dos animais, se elas não conhecessem uma origem comum, isto é um entendimento infinito no qual a constituição essencial de todas as coisas foi projectada? Se as suas naturezas fossem necessárias por elas mesmas, e de forma independente, que acaso espantoso, ou melhor ainda, que impossibilidade não constituiria o facto de elas se articularem entre si, com as suas tendências naturais, tão precisamente como se uma escolha inteligente e reflectida tivesse podido pô-las de acordo.
Emmanuel Kant (1724 - 1804) - História Geral da Natureza e Teoria do Céu

INVENTÁRiO

 

O mais inexorável guerreiro contra a delinquência, ele-próprio com um passado traumático e um cadastro impressionante, Punisher está de volta - do grande ecrã, pelos cenários radicais da América - à banda desenhada. Sendo argumentista e realizador Jonathan Hensleigh, Thomas Jane sucedeu, em cinema, a Dolph Lundgren - que em 1988, dirigido por Mark Goldblatt, fora já o Justiceiro em Fúria Silenciosa. Garth Ennis, Steve Dillon & Jimmy Palmiotti apadrinham, sob chancela Devir, O Regresso do Justiceiro em quadradinhos. Às origens de Frank Castle - um ex-agente do FBI actuando na clandestinidade, e afectado pela tragédia familiar. Ou pior, às ruas da grande metrópole, e para fazer o que sabe melhor: exterminar os facínoras, sem tréguas numa luta pessoal. Tão insolidária missão contempla assaltantes, traficantes de drogas ou todos os que gostam de prevaricar. Lançado em 1985 pelos Marvel Comics, na órbita exuberante de Spider-Man/Homem-Aranha, sob concepção de Stan Lee, Punisher converter-se-ia num excepcional fenómeno de culto - graças a guionistas como Steven Grant, Carl Potts, Jo Duffy ou Mike Baron; destacando-se, entre os ilustradores, Mike Zeck, Russ Heath, Mike Vosburg e Jim Lee. Ente crepuscular, adverso às engrenagens corruptas e arrogantes da sociedade em crise: em que impera a perversão, os ricos permanecem inimputáveis, vivendo os miseráveis entre guetos e abismos. Segundo Ennis, Punisher «é um executor a sangue-frio, que detesta os criminosos pelo simples facto de estarem vivos. Não pretende redimir-se, limita-se a actuar, sem qualquer código de ética. Liquida os malvados, sem folgas nem feriados. E, nos intervalos, aproveita para eliminar mais alguns!»


IMAGINÁRiO17
10 DEZ 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

O ESCORPIÃO
VOLTA A ATACAR

 

Autor de fértil engenho cuja notoriedade como argumentista se firmou, durante a década de ’90, em La Vache ou I.R.$., Stephen Desberg regressa com o perturbante sortilégio de O Escorpião, sob chancela das Edições Asa, após A Marca Demoníaca, O Segredo do Papa  e A Cruz de Pedro. A sofisticada ilustração de Enrico Marini - um nóvel artista suíço, revelado com Gipsy e Rapaces - evoca a mangà nipónica, pelas atmosferas duma saga imaginária e transgressora, em que agora se desvenda O Demónio do Vaticano. Desberg & Marini - galardoados com o Prémio Betty Boop - ambientam a acção em Roma, durante o Século XVIII, com um mercado obscuro de relíquias dos santos da Antiguidade e da Idade Média, assumindo o Escorpião - gerado pelo fogo - um desafio mórbido, fatídico, em especial para leitores ávidos de emoções fortes.

RELATÓRiO

SHERLOCK HOLMES
E O FASCÍNIO ELEMENTAR

 

Através da novela, de relatos curtos ou do folhetim, o imaginário concebido por Sir Arthur Conan Doyle (1859-1930) e protagonizado por Sherlock Holmes, com o inevitável Doutor John Watson, impôs-se nas vertentes clássica e popular do género criminal, sobre a sociedade victoriana em finais do Século XIX. A partir daí e de então, sucederam-se as versões apócrifas, as adaptações à literatura de cordel, ao teatro, à banda desenhada, à rádio, aos audiovisuais - como um fenómeno fecundo e sempre revitalizado. O cinema concedeu-lhe uma decisiva exploração, desde a fidelidade das transposições à recriação mais subvertora. Hoje em dia, caberia perguntarmos se, perante os exemplares melhores da tradição, é ainda possível revisitar a genuinidade original, logrando simultaneamente uma abordagem vigorosa, aliciante. A resposta positiva coube, virtualizada, à série da Granada Television, com Jeremy Brett (1936-95) como intérprete excepcional de Sherlock Holmes, cabendo o desempenho do Doutor Watson a Edward Hardwicke e David Burke. A edição em DVD das diversas facetas desta notável produção - fidedigna em atmosferas e implicações, segundo a conexão idealizada por Conan Doyle - tem chancela da Prisvídeo, assinalando-se a recente edição dos Episódios Duplos, constituída por três discos. Curiosamente, o primeiro contacto de Brett com Sherlock Holmes... foi no papel de Doutor Watson, numa peça de teatro montada em Los Angeles, por 1981. Para o actor, tal manancial literário tornou-se uma obsessão. Quase tão maníaca como o próprio desempenho, quando o convidaram a entrar no pequeno ecrã - como o maior detective do mundo e de sempre! - pelo número 221B de Baker Street. Para Brett, «Holmes é a mais complexa e isolada das criaturas - um egocêntrico, um homem solitário». Ou, como referia Sherlock Holmes/Conan Doyle, em A Ciência da Dedução, «o meu cérebro revolta-se contra a estagnação».

CALENDÁRiO

1929-4NOV2004 - Jacinto Ramos: «Já não sou capaz de medir o tempo. Mas, para mim, nunca teve importância».

02DEZ2004 - Atalanta Filmes estreia Autografia (2004) de Miguel Mendes; com Mário Cesariny de Vasconcellos, Miguel Gonçalves Mendes.

09DEZ2004 - Lusomundo estreia Sorte Nula (2004) de Fernando Fragata; com Hélder Mendes, Adelaide Sousa.

BREVIÁRiO

 Gradiva edita O Gato do Chapéu do Dr. Seuss; aliás, Theodor Seuss Geisel (1904-1991).

Bertrand Editora lança Super-Heróis da História de Portugal de António Gomes de Almeida e Artur Correia.

Museu Nacional do Teatro edita O Teatro em Lisboa no Tempo do Marquês de Pombal de Vanda Anastácio e Maria Alexandra Trindade Gago da Câmara, e O Teatro em Lisboa no Tempo da Primeira República de Glória Bastos e Ana Isabel Teixeira de Vasconcelos.

INVENTÁRiO

AMADORA,
CAPITAL DA BD

 

Amadora confirma-se a capital da banda desenhada, celebrada em Festival Internacional - através do Bd Amadora, que em 2004 celebrou a 15ª edição; ou em iniciativas instaladas - graças ao Centro Nacional de Banda Desenhada e Imagem/CNBDI.  Além das importantes manifestações periódicas, ou de um espólio já vasto e representativo, sobressai a variedade de edições monográficas e de publicações alusivas, registando-se entre as mais recentes:

Catálogo do FIBDA 2004 - Coordenado por Pedro Mota, inventaria o tema fulcral 100 Bd’s do Século XX e regista em cronologia a história do certame, cujo imagem teve assinatura de André Carrilho.

Neil Gaiman - Sonhos, Palavras e Imagens - A propósito da Exposição no CNBDI, comissariada por João Miguel Lameiras e Pedro Mota, sobre um mestre prodigioso do imaginário em quadradinhos, com a Devir.

Seis Jovens Autores em Diálogo - Carlos Pessoa e Vítor Quelhas entrevistam Alice Geirinhas, Ana Cortesão, Filipe Abranches, João Fazenda, Miguel Rocha e Pedro Brito, em Entre Nós (nº 3 - CNBDI).

Catálogo de Autores de Banda Desenhada Portuguesa - Anuário do CNBDI por Nelson Dona e Cristina Gouveia, divulgando informação pessoal e profissional de referência, em 70 entradas nominais.

BD’/  - Boletim D’informação do CNBDI, com menção da Câmara Municipal da Amadora, apoia eventos representativos, sendo o nº 3 de Outubro 2004, a propósito do FIBDA. Contacto:
bd.amadora@mail.telepac.pt

VISTORiA

Por me temer que particularizando todas estas cousas que vimos nesta cidade, a grandeza estranha delas possa fazer dúvida aos que as lerem e também por não dar matéria a murmuradores e gente praguenta que querem julgar das cousas conforme ao pouco que eles viram e que seus curtos e rasteiros entendimento alcançam, de lançarem juízos sobre as verdades que eu vi por meus olhos, deixarei de contar muitas cousas... Por outra parte não porei também muita culpa a quem me não der muito crédito ou duvidar do que eu digo, porque realmente afirmo, que eu mesmo que vi tudo por meus olhos, fico muitas vezes confuso quando imagino...
Fernão Mendes Pinto (1510 - 1583) - Peregrinação (em Pequim)

TRAJECTÓRiA

 

A morte de Sam Peckinpah, em finais de 1984, de um ataque cardíaco, representou uma ironia e uma catástrofe. Logo, porque se tornara, nas duas últimas décadas, um dos raros cineastas cujos filmes o grande público ia ver pelo nome do realizador, como motivação imediata. Criando um estilo, sagrando um tipo de espectáculo, Peckinpah obcecou-se pela violência alucinante e quase fatalista, assumida como um desígnio redentor. Tal violência poderia simbolizar um fim em si mesma - não entrando, pois, na concepção da narrativa como um reforço formal; outras vezes, o seu impacto ritual era exorcizado, para denunciar o racismo, a brutalidade, o ódio ou a opressão. O próprio Peckinpah confessava: «Não me interessa o mito; só a verdade...» E continuava: «A base da arte é a transformação; era assim - já - na tragédia grega, e chamava-se então catarse...» Filmes como Major Dundee (1964), A Quadrilha Selvagem (1969), A Balada do Deserto (1970), Cães de Palha (1971), Tiro de Escape (1972), Duelo na Poeira (1972), Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia (1974), Assassinos de Elite (1975), A Grande Batalha ou O Comboio dos Duros (1978) converteram-se em marcos da aventura. Uma aventura, por vezes, sobre o aviltamento e a exploração humana; outras, em radical confrontação.
Mas Peckinpah não foi um mero apóstolo da violência. Revoltado ou proscrito - ao declarar «criminosos» os grandes produtores de Hollywood, acrescentando: «Sei que me hão-de destruir, mas não sem que eu derrame um pouco de sangue» - tornou-se, também ele, um justiceiro irredutível, ou um moralizador esfíngico, condenado à incongruência da sua pessoal marginalização. Nascido David Samuel Peckinpah, numa reserva de índios em Nadera (EUA), por 1925, era filho de um chefe. Estudou arte dramática na Universidade; durante a II Guerra Mundial, foi fuzileiro. Chegado a Hollywood em 1949, tornou-se argumentista de televisão e, a partir de 1975, assistente de Don Siegel. Em 1961 dirigiu o primeiro filme, Companheiros da Morte. Após Os Pistoleiros da Noite (1962), a lenda tendeu a ultrapassar uma carreira marcada, também, por crises e decepções - como afinal remataria O Fim-de-Semana de Osterman (1983). Com Sam Peckinpah estamos, porém, numa dimensão artística em que os fenómenos públicos tendem a transformar-se em mitos. Principalmente, quando - embora partindo de uma realidade hostil, provocatória - os símbolos se convertem, afinal, à eternidade dos fantasmas.

MEMÓRiA

1614 - É publicada a Peregrinação de Fernão Mendes Pinto, 31 anos após a sua morte.

08DEZ1894-1930 - Florbela Espanca: «Sou aquela que passa e ninguém vê...».

OBSERVATÓRiO

 A LOUCURA - Tão eficaz e prestigiosa como o historial dos quadradinhos, a tradição do cartoon intervém nas páginas dos jornais, convoca a estima dos leitores, exibe-se ao apreço público. Sob chancela Booktreee, a melhor tradição americana é revelada na série A Loucura... - Das Dietas e Do Amor por Randy Glasbergen, Do Escritório e Dos Computadores por Ted Goff. A crítica ao estilo do humor.


IMAGINÁRiO16
01 DEZ 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

 DIVINO, HUMANO
A PAIXÃO DE CRISTO

 

Um olhar expectante sobre a actualidade, esmaltado por visões recorrentes entre a história e o imaginário, tal é o fenómeno especular de certos filmes, que se consumam no impacto subjugado dos seus símbolos e desígnios. Nesta aurora do terceiro milénio, Hollywood retoma o original confronto ritual entre as luzes e as trevas, o bem e o mal volúveis, pela consumação do elo místico sobre Jesus Cristo, em resgate virtual. Êxtase, dúvida, vitimação, agonia, assunção transcendente. Assim, pela encarnação tão perturbante de Jim Caviezel, Mel Gibson desafia, com A Paixão de Cristo (2004) - editado em DVD, sob chancela Lusomundo - uma emocionante complementaridade para o sacrifício do filho de Deus na Terra, inexorável e pungente. À plenitude de uma exaltação lendária ou exemplar, no ritual mais sangrento e expiatório, Gibson privilegia uma ilustração minuciosa, realista, sobre as últimas doze horas na vida do Redentor, contrastando a evidência convencional, elegíaca e romântica, em paralelo com a sagração humanista duma época de crise e crença. Um testemunho controverso, um épico excepcional.

RELATÓRiO

 LASSIE
AOS 50 ANOS

A CBS está a comemorar os 50 anos de aparição da Lassie em pequeno ecrã, pelo Outono de 1954, onze anos após a primeira intervenção da intrépida cadela no cinema. Símbolo da coragem, da abnegação, entre o espírito familiar, pela relação humanos/animais, como vedeta/heroina que assinou com a sua pata o Passeio das Estrelas, em Hollywood, curiosamente Lassie foi sempre protagonizada, em televisão, por cães do sexo masculino. A partir de 1943, participou em cerca de dez filmes, o último dos quais (1994) dirigido por Daniel Petrie. Lassie surgiu numa história curta (1938) de Eric Night, expandindo-se em romance (1940). Em banda desenhada, destacou-se após 1951, com realce para o artista John Lehti. Como série tv, teve um longo reinado (1954-71), em mais de 600 episódios - sob distintas situações, como dedicada companheira de vários miúdos. Treinada por pai/filho Rudd & Robert Weaterwax, a actual Lassie é a oitava descendente de uma linhagem, cuja pureza e características são mantidas, seleccionando-se uma/um de cada ninhada.

CALENDÁRiO

- 18OUT2004 - Na cidade japonesa de Tokushima, é inaugurada uma estátua a Wenceslau de Moraes (1854 - 1929).

- 30OUT2004 - No 15º Festival de Banda Desenhada da Amadora, A Vida Numa Colher - Beterraba (2003) de Miguel Rocha conquista os Prémios de Melhor Desenho e Melhor Álbum Português.

- 25NOV2004 - Atalanta Filmes estreia A Costa dos Murmúrios (2004) de Margarida Cardoso, sobre o romance de Lídia Jorge; com Beatriz Batarda e Adriano Luz.

- 26NOV2004-02JAN2005 - No Centro Cultural de Cascais, a Fundação D. Luís I apresenta, em colaboração com a Fundación Bancaja, as exposições El Museo del Prado Visto por 12 Artistas Contemporáneos e 9 Gravadores Interpretan Ausiàs March (poeta valenciano do Século XIV).

 PARLATÓRiO

 Entre Gir e Moebius, há uma partilha equitativa nos modos de me exprimir. O que pretendo é ter a possibilidade de passar entre eles, sem que cada um sofra a presença do outro. Tento que se manifestem em alternância - como na política, quanto à esquerda e à direita; ou em nós mesmos, os lados masculino e feminino. Penso que um homem que rejeita o seu lado feminino, não é um homem total. O ideal é ter o homem e a mulher em permanência - mas, se não é possível, devem evidenciar-se rotativamente... Procuro, afinal, um exercício delicado, de equilíbrio.
Jean Giraud

OBSERVATÓRiO

 

COLD MOUNTAIN - Um épico sobre a Guerra Civil americana, baseado no romanesco literário de Charles Frazier, Cold Mountain narra a aventura solitária de Inman, em 1860, porfiando num regresso à terra natal, Carolina do Norte, para junto da mulher amada. Fascinante realização de Anthony Minghella, galvanizando Jude Law, Nicole Kidman e Renée Zelwegger, galardoada com um Oscar à Melhor Actriz Secundária.

 CRIANÇAS - Após Déogratias, a revelação de Jean-Philippe Stassen, argumentista e ilustrador belga, distinguido com o Prémio René Goscinny, prossegue sob chancela das Edições Asa, com Crianças (2003) - órfãos da violência, vítimas da sociedade. Ainda as trágicas consequências da guerra no Ruanda, a partir de 1994. A banda desenhada para adultos, estilizando o documento histórico. 

O HOMEM ARANHA 2 - Reactivando as emoções fortes no original fascínio dos fanáticos, Devir edita Homem-Aranha 2 - Adaptação Oficial do Filme - dirigido por Sam Raimi, sendo protagonista Tobey Maguire - em banda desenhada de Roberto Sacasa, Staz Johnson, Rin Lim & Pat Oliffe. Nesta teia, inimigo principal é o tentactular Dr. Otto Octavius, pelo actor Alfred Molina.

VISTORiA

Vários autores têm mal compreendido ou objectado ao termo Selecção Natural. Alguns têm mesmo imaginado que a selecção natural induz a variabilidade, quando implica apenas a preservação daquelas variações surgidas e que são benéficas ao ser, face às suas condições de vida. Ninguém objecta aos agricultores quando falam dos potentes efeitos da selecção pelo homem; e, nesse caso, as diferenças individuais dadas pela natureza, as quais o homem selecciona com algum objectivo, devem, necessariamente, primeiro ocorrer. Outros têm objectado que o termo selecção implica escolha consciente nos animais que se tornam modificados; e tem sido fortemente lembrado que, como as plantas não têm volição, a selecção natural a elas não é aplicável! No sentido literal do termo, sem dúvida, selecção natural é um termo falso; mas quem, alguma vez, objectou aos químicos o seu falar das afinidades electivas dos vários elementos? - e, apesar disso, não se pode estritamente dizer que um ácido elege a base com a qual preferentemente se combina.

 Tem sido dito que a selecção natural age como um poder activo ou Divindade; mas quem objecta a um autor pelo seu falar da atracção da gravidade como regulando os movimentos dos planetas? Todos sabem qual o significado e o que é implicado por tais expressões metafóricas; e elas são quase necessárias por brevidade. Então, novamente, é difícil evitar de personificar a palavra Natureza; mas, por natureza, tenho em mente apenas a acção agregada e o produto de muitas leis naturais e, por leis, a sequência de eventos como estabelecidos por nós. Com um pouco de familiaridade, tais objecções superficiais serão esquecidas.
Charles Darwin - A Origem das Espécies (1859)

BREVIÁRiO

Alexandria edita Autobiografia de Charles Darwin (1809 - 1882).

A Associação de Imagem Portuguesa/AIP lança mais um número da revista Imagem Cinematográfica, com distribuição por CineGuia Portugal. 

Autor edita O Tamanho Redondo das Circunferências de Francisco José Craveiro de Carvalho, com desenhos de Bárbara Assis Pacheco.

Âncora Editora lança Aristides de Sousa Mendes - Herói do Holocausto de José Ruy.

Editorial Caminho lança Rosa, Minha Irmã Rosa (1979) de Alice Vieira, em edição comemorativa dos 25 anos.

Assírio & Alvim edita Uma Coisa em Forma de Assim (1985) de Alexandre O’Neill.

VitaminaBd Edições lança Lovecraft de Hans Rodionoff, Keith Giffen & Enrique Breccia; biografia do mestre da literatura fantástica.

Imprensa Nacional/Casa da Moeda edita Razão e Ciência em António Sérgio de João Príncipe.

Meribérica/Liber lança Lo Zio de Jean-Paul Dethorey & Frank Giroud, na série Luís Má-Sorte.

Gradiva edita Puro Disparate de Steve Martin; refinando o humor de Hollywood.

Edições Inapa lança Cinemas de Portugal por José Manuel Fernandes; história e arquitectura.

LNK lança, em DVD, Lost in Translation de Sofia Coppola; com Scarlett Johansson e Bill Murray.

Edições Asa lança Crónicas no Fio do Horizonte de Eduardo Prado Coelho; coleccionando memórias do Público.

Epitaph Records lança Real Gone, vigésimo álbum de Tom Waits e o primeiro em que dispensa o piano.

Taschen edita Leonardo da Vinci de Frank Zöllner; Obra Completa de Pintura e Desenho.

VitaminaBd Edições lança Lá em Cima, no Céu, terceira parte de Kingdom Come de Alex Ross & Mark Waide.


IMAGINÁRiO15
20 NOV 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

ALIEN VS. PREDATOR
- GUERREIROS DO UNIVERSO

 De um modo aliciante, o fantástico é um dos géneros que melhor reflectem as virtualidades do imaginário, sob os auspícios da ficção científica: em quadradinhos, pelo talento e engenho artístico; no cinema, graças ao prodígio dos efeitos especiais. Verificam-se, assim, sucessivas transposições - através de um cruzamento entre estes dois modos artísticos, de criatividade e entretenimento. Pela concepção original de Dan O’Bannon, Ridley Scott transfigurou em Alien, o 8º Passageiro (1978) os fundamentos duma saga com distintas implicações bélicas e de terror. Da mente tortuosa de Jim Thomas, Predador (1987) precipitou sobre a Terra a sua encarnação selvática ou subtil, sob o signo da devastação e de um antagonismo irreversível. Em 1992, tão abomináveis guerreiros cósmicos estarreciam em banda desenhada, por Randy Stradford & Chris Warner - Alien Vs. Predator, com uma especulação caótica e futurista, de implicações visionárias. Finalmente, tal desafio original, inexorável, consuma-se em pleno ecrã - Alien Vs. Predador (2004) de Paul W.S. Anderson. Tudo principia durante uma exploração arqueológica na Antárctica - estigmatizando primitivas, futuristas alusões à própria história da evolução humana, entre esplendores e crepúsculos, pelo confronto de civilizações.

RELATÓRiO

CISCO KID,
O COW-BOY CAVALHEIRO

 Em 1867, os invasores franceses dominam o México. Em posto avançado no deserto, Francisco Aguilar Suárez - contrabandista de armas, bandoleiro e mulherengo, conhecido por Cisco - vai ser executado. Com ele, um hábil Pancho Rivera, suposto padre e seu companheiro de cela. Ante o pelotão de fuzilamento, o edifício militar é atacado por guerrilheiros. No caos, o arrojado Cisco e o ardiloso Pancho logram fugir, e vão fazer história, contra a opressão e em prol da justiça... Eis a saga de Cisco Kid - tal como foi tratada num filme de Luis Valdez em 1994, a partir do romanesco original de O. Henry. A vigésima-quarta adaptação, desde o período mudo! Misto heróico de Dom Quixote, Robin dos Bosques e Don Juan, Cisco Kid foi explorado em folhetins radiofónicos, nos grande e pequeno ecrãs, além de um culto excepcional em quadradinhos. Para cinema, Duncan Renaldo reassumiu Cisco Kid em 1949, celebrando-se ao lado de Leo Carrillo em Pancho. Ambos passaram à televisão, com longa sequência em 1950-55 - um clássico relançado em 2004, com o sortilégio do restauro, nos suportes VHS e DVD. Aliás, foi nesta dupla que José Luis Salinas se inspirou para Cisco Kid em banda desenhada (1951-68). Um épico empolgante, romântico e fantasista, em tira diária - transfigurando a sagração do Oeste, com guiões de Rod Reed numa imaginativa e virtual expansão do clássico literário de O. Henry (aliás, William S. Porter), The Caballero’s Way (1907). Em comic-book, existiu ainda uma versão anónima em 1950-58. Em Portugal, o autêntico Cisco Kid - rebaptizado Cisco o Mexicano - foi revelado pelo Mundo de Aventuras em Abril de 1951, sagrando um sortilégio fascinado através de gerações - graças ao estilo gracioso e vibrátil de Salinas - ao imortalizar o cavaleiro andante, imbatível com a pistola, galanteador e aventureiro, elegante personificação dos ideais do bem e da liberdade.

CALENDÁRiO

1935-13OUT2004 - Maria Rosa Colaço: - «Nunca morremos. E todos os dias somos outra coisa diferente porque todos os dias sonhamos».

Radiotelevisão Portuguesa e Tobis Portuguesa assinam um Protocolo para concluir, até final de 2007, o processo de transcrição para novos suportes de gravação e de preservação de conteúdos audiovisuais do Arquivo Histórico da RTP.

22NOV2004 - No Fórum da Maia, principia o VI Festival Internacional do Filme de Divulgação Científica.

25NOV2004 - Na FNAC Chiado, a revista Cais lança Margens com a Editora Padrões, colectânea de alusivos contos por vários autores.

19-27NOV2004 - No Auditório da Universidade de Évora, decorre o 4º Festival Internacional de Curtas Metragens.

INVENTÁRiO

DESAPARECIDAS

Ligado à essência original da saga americana num elã de conquista, de vitória, entre a competição e combatividade, o western ritual subsiste, sob o signo de Hollywood, em esporádicas visões com sugestiva ou simbólica actualidade, quanto aos dilemas íntimos, aos contrastes naturais, aos confrontos intensos. Assim sobressai em Desaparecidas (2003) de Ron Howard, sendo argumentista Ken Kaufman, baseado no romance The Last Ride de Thomas Eidson. Cate Blanchet e Tommy Lee Jones protagonizam esta produção de Brian Grazer, com lançamento em DVD sob chancela Lusomundo. A acção decorre num desolado território de fronteira, estilizando a aventura de suspense - em emoções partilhadas, ameaças imprevisíveis, perigos sobrenaturais - através das selváticas e esplendorosas paisagens do Novo México. Uma jovem mulher solitária, Maggie, curandeira branca, é sobressaltada pelo sequestro de uma das suas jovens filhas, por um bando de índios, desertores do exército, e seu líder com poderes místicos. Para resgatar Lily, Maggie terá o inesperado auxílio do seu pai, o que implica conciliar um misto de memórias dolorosas e de trágica sobrevivência, partilhadas pela menina mais nova. Ambição e integridade, perversidade e expiação, insinuam-se num desafio ambíguo, abalando a pulsão familiar sob os pactos de sangue, quanto à expiação do mal e ao triunfo da justiça.

 LUCKY LUKE

Fazendo calmamente o seu cigarro, Lucky Luke aguarda a chegada do Professor Von Himbeergeist à estação de comboios em Nothing Gulch, no Texas, onde o controverso mas persuasivo cientista tentará fazer a cabeça em água a quatro fraternos criminosos... Em vão. A influência perniciosa de Mã Dalton (1970) por Morris & Goscinny continua a manifestar-se, ao fim de um quarto de século! E, cinco anos após Os Dalton e o Psicólogo (1995) também de Morris & Goscinny, o cowboy que dispara mais rápido que sua própria sombra, sempre montado em Jolly Jumper e já de raminho ao canto da boca, volta a levar os terríveis Joe, William, Jack e Averell para o infernal presídio onde, além do tão simpático quão imbecil cão Rantanplan, se tornam íntimos do lunático pregador Dunkle... Entre o fascínio dos clássicos como Dalton City (1969) e Canyon Apache (1971) de Morris & Goscinny, e a revelação de inéditos como O Profeta (2000) de Morris & Patrick Nordmann, as Edições Asa prosseguem divulgação da mais extraordinária e irresistível saga do Oeste em quadradinhos. As aventuras de Lucky Luke principiaram em 1948. Por meados da década seguinte, o criador Morris - aliás, Maurice de Bevère - aliava-se a René Goscinny, que conhecera na América, onde viveu seis anos. Como argumentista, Goscinny agregaria os famigerados Dalton e o improvável Rantanplan. Quanto a Morris - um homem amável mas misterioso, um artista discreto mas entusiasta - ironizava a história e iludia a verdade: «Chego a inserir datas falsas, quanto a personagens célebres. Mas, se elas existem, e são famosas, para quê inventar outras?»

VISTORiA

Às primeiras chicotadas do flagelo, o povo via claramente nessa desgraça o castigo das maldades do ano anterior, quando o governo, para acudir à invasão de moeda falsa de cobre que os ingleses nos mandavam nos barris de farinha e nas pipas de pregos, levando de cá todo o ouro e toda a prata, ordenou a redução do valor do cobre a um terço: o patacão de dez reis a três, a moeda de cinco reis a real e meio, a de três reis a um, a de real a meio. Fez-se isto em quarta-feira de trevas, e os pobres, vendo-se perdidos, arrancavam as barbas de desespero. Muitos enforcaram-se. O gentio rico folgava, triplicando os trocos. A impressão foi tal e tanta, que desde logo se vaticinaram as maiores desgraças, e o ano de 1568 decorreu funebremente num terror.

Em 1569 anunciava-se que no interlúnio de Julho, a 10, se havia de subverter a cidade: o Castelo juntar-se-ia ao Carmo e a Almada. Já os casos de peste bubónica principiavam a repetir-se. E se os montes da cidade não caíram nesse dia em que ela se despovoou com medo, caía fulminada a gente na rua, conversando, ao topar com um amigo. O ar envenenava. O flagelo seguia, crescendo em fúria. Chegaram a morrer de quinhentas a setecentas pessoas por dia. Atulhados os adros das igrejas, era mister abrir fossos para enterrar os cadáveres aos trinta e quarenta, porque Lisboa estava «cheia de mortos que caíam aos bandos», e à falta de coveiros indultavam-se os galés. «Tudo nela era fogo e mortandade, choros e gemidos». Os montes não se tinham subvertido, mas essa profecia simbólica realizava-se, porque se subvertia toda a gente viva. «Lisboa ia acabar-se». Oliveira Martins (1845 - 1894) - Camões, os Lusíadas e a Renascença em Portugal

MEMÓRiA

 1891-15OUT1964 - Cole Porter: «As aves fazem-no. E as abelhas. Até as moscas amestradas. Vamos também nós, vamos apaixonar-nos».

20OUT1854-1891 - Arthur Rimbaud: «Não falarei, não pensarei; mas o amor infinito subir-me-á à alma».

16NOV1904-1975 - Armando de Miranda: «Apenas tenho pretensão a fazer filmes com competência e dignidade».

1906-27NOV1994 - Fernando Lopes-Graça: «Aquilo em que aposto é na liberdade da criação, na possibilidade infinita de renovação da música».

BREVIÁRiO

Edições Asa lança Vinte Anos e Um Dia, de Jorge Semprún; o Século XX, entre realidades e imaginários.

Difusão Verbo edita Tintim e a Alph-Art, obra inacabada de Hergé.


IMAGINÁRiO14
10 NOV 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

REAPRENDER A VIDA
SOB O SOL DA TOSCANA

 

Numa sugestiva homenagem às relações tradicionais entre o cinema americano e a Itália, Hollywood virtualiza a inspiração romântica entre cenários e imaginários, Sob o Sol da Toscana (2003) - pelo signo convencional da comédia romântica, e tomando por base um livro autobiográfico de Frances Mayes. Esta é protagonizada por Diane Lane, irradiante numa escritora de trinta e cinco anos, vivendo em São Francisco, em crise pessoal e profissional pelo divórcio recente. Uma viagem de dez dias à belíssima Toscânia, onde fica fascinada com uma casa rural em ruínas, fá-la prescindir de tudo e radicar-se, pondo em causa as suas referências e afinidades. Restaurar a harmonia interior, a identidade e a coexistência essencial, corresponde à constante, plena abordagem perante os hábitos, os valores, os rituais ou as tradições das gentes de onde se refugiou... Com chancela entre nós pela Lusomundo, no lançamento em DVD, Sob o Sol da Toscana privilegia uma recorrência lírica, através da qual a realizadora e argumentista Audrey Wells contrapõe a natureza física e sensual, a um elã entre emoções e cumplicidades transfiguradas.

RELATÓRiO

OS 40 ANOS
DA PANTERA COR-DE-ROSA

 

Em Dezembro de 1964, surgia a primeira animação curta protagonizada pela Pantera Cor-de-Rosa, pouco antes em revelação como artista convidada no genérico de The Pink Panther (1964) com realização de Blake Edwards - primeira aventura longa de uma popular série de humor policial, que imortalizou Peter Sellers na personagem catastrófica e irresistível do Inspector Jacques Clouseau. Concebida por Friz Freleng & David DePatie, a destemida e irreverente Pantera Cor-de-Rosa, coreografada com sensualidade pelo tema musical de Henry Mancini, comemora assim quarenta anos de idade e de sucesso. Em Abril de 1964, era capa da revista Time. Neste ano, dá a cara em selo dos correios na América. Em 1965, um Oscar distinguia The Pink Phink (1964) de Mirisch Geoffrey. Em 2004, a Academia de Hollywood atribuiu um Prémio de Carreira a Edwards. Em 1969, The Pink Panther expandia-se em série televisiva. Recentemente, a MGM lançou uma edição especial em DVD com as várias proezas de Edwards & Sellers em imagem real. Em 1971, The Pink Panther era titular em quadradinhos, sob chancela Gold Key. Já em 2005, renascerá The Pink Panther com realização de Shawn Levy & Ivan Reitman, cabendo a Steve Martin personificar o destravado e lastimável Inspector Clouseau.

CALENDÁRiO

1923-01OUT2004 - Richard Avedon: «Tenho um fundo branco, tenho a pessoa que me interessa e aquilo que se passa entre nós».

1935-2OUT2004 - Fialho Gouveia: «Estou muito crítico em relação aos gostos do público».

1927-03OUT2004 - Janet Leigh: «Em Psico, ela não deveria usar aquele soutien. Mas, eu sou um abstencionista» (Alfred Hitchcock).

07OUT2004 - Em Estocolmo, a Academia Sueca atribui o Prémio Nobel da Literatura à escritora austríaca Elfriede Jelinek.

1930-08OUT2004 - Jacques Derrida: «Tive sempre objecções ideológicas em relação à fotografia convencional de autor».

1952-10OUT2004 - Christopher Reeve: «Nunca consegui escapar-me da capa de Superman»

11OUT-06NOV2004 - Biblioteca Nacional expõe Manuscritos de «A Correspondência de Fradique Mendes» de Eça de Queirós.

15OUT-28NOV2004 - Artistas Unidos n’A Capital expõe Miguel Ribeiro > Fotografias, na Galeria do Teatro Taborda.

02NOV-30NOV2004 – No Centro Cultural de Belém, decorre o curso 150 Anos de Teatro – De Richard Wagner a Bob Wilson, certificado pelo Ministério da Cultura.

04NOV2004 - Lusomundo estreia Kiss Me (2004) de António da Cunha Telles; com Marisa Cruz e Manuel Wiborg.

04NOV2004 - Na Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, principia a exposição Vieira da Silva nas Colecções Internacionais (1934-91).

VISTORiA 

Em Nome de Deus Todo-Poderoso, Padre, Filho e Espíríto Santo, três pessoas realmente distintas e apartadas e uma só essência divina. Manifesto e notório seja a todos quantos este público instrumento virem, como na vila de Tordesilhas, a sete dias do mês de Junho, ano do nascimento de Nosso Senhor Jesus Cristo de Mil Quatrocentos e noventa e quatro anos... o mui alto e mui excelente senhor o senhor D. João, pela graça de Deus rei de Portugal e dos Algarves daquém e dalém-mar em África e senhor de Guiné... e D. Fernando e D. Isabel, pela graça de Deus rei e rainha de Castela, de Leão, de Aragão, de Sicília, de Granada, de Toledo, de Valência, de Galiza, de Mailhorca de Sevilha, de Cerdenha, de Córdova, de Córsega, de Murcia, de Jahem, do Algarve, de Algezira, de Gibraltar, das ilhas de Canárea, conde e condessa de Barcelona e senhores de Biscaia e de Molina, duques de Atenas e de Neopátria, Condes de Roselhão e de Cerdónia, marqueses de Oristão e de Goçiano... a suas altezas praz, e os ditos seus procuradores em seu nome e por virtude dos ditos seus poderes outorgaram e consentiram que se faça e assine pelo dito mar oceano uma raia ou linha direita de pólo a pólo, a saber do pólo árctico ao pólo antárctico, que é de norte a sul. A qual raia ou linha se haja de dar e dê direita, como dito é, a trezentas e setenta léguas das ilhas do Cabo Verde para a parte do ponente, por graus ou por outra maneira como melhor e mais prestes se possa dar de maneira que não sejam mais. E que tudo o que até aqui é achado e descoberto, e daqui adiante se achar e descobrir por o dito senhor rei de Portugal e por seus navios, assim ilhas como terra firme, des’ a dita raia e linha dada na forma suso dita, indo pela dita parte do levante dentro da dita raia à parte do levante ou do norte ou do sul dela, tanto que não seja atravessando a dita raia; que isto seja e fique e pertença ao dito senhor rei de Portugal e a seus sucessores pera sempre jamais. E que todo o outro, assim ilhas como terra firme achadas e por achar, descobertas e por descobrir, que são ou forem achadas pelos ditos senhores rei e rainha de Castela e de Aragão... e por seus navios, des’ a dita raia dada na forma suso dita, indo por a dita parte do ponente depois de passada a dita raia para o ponente ou ao norte ou sul dela, que tudo seja e fique e pertença aos ditos senhores rei e rainha de Castela e de Leão... e a seus sucessores para sempre jamais.

O Tratado de Tordesilhas (1494) - entre D. João II rei de Portugal, e Isabel de Castela e Fernando de Aragão reis de Espanha

NOTICIÁRiO

SARAH BERNHARDT
EM LISBOA

 

A célebre actriz chega amanhã, dia 8, a Lisboa, e dá a primeira récita dois dias depois, segunda-feira, com A Dama das Camélias. A assinatura no Theatro de D. Maria II é muito grande, e com muita dificuldade se alcançará ingresso nos esplêndidos espectáculos que vai ter o nosso primeiro teatro dramático. Vem no Sud Express, às três horas. Fica no Hotel Universal. Uma das toilettes com que representará está avaliada em 30.000 francos. Na Tosca, tenciona exibir outras custosas. Parte da decoração pertence ao teatro da Porte Saint-Martin de Paris. A eminente artista estreou-se perante um auditório selecto, e das premières de São Carlos. No camarote real estavam a Princesa D. Amélia e o senhor Infante D. Affonso. O desempenho da parte de Margarida Gautier foi surpreendente, deixando no público vivíssima impressão que só os grandes talentos têm o condão de produzir. «Quero ser freira, salvo se eu puder ser actriz» - diz Francisco Sarcey que a Sarah Bernhardt declarou, quando lhe perguntaram que profissão desejaria ter. E foi actriz, tão grande como aí a vemos, e foi música, autora, pintora, escultora, que sei eu? Este singular talento é, na verdade, indecifrável, caprichoso, mas por isso mesmo transcendendo um pouco o limite humano. É o seu bustosinho, franzino e delicado como as asas de morcego, e posto em forma de Sphynge, com um livro e uma caveira. Despede-se hoje do público de Lisboa a famosa actriz. A récita é extraordinária, representando, entre outros, L’Aveu, original da beneficiada, de mérito literário inferior ao seu talento dramático. Sarah Bernhardt foi extremamente obsequiada na sua festa artística. Aplausos delirantes e grande número de ofertas, bouquets e corbeilles formosísimos, entre eles da Rainha. No intervalo, foi ao camarote real, dispensando-lhe Sua Majestade palavras de muita amabilidade. Hoje, parte para Madrid, com a sua troupe.

07-18ABR1888 - Diário de Notícias

MEMÓRiA

08JAN1824-1909 - Francisco Alves da Silva Taborda: o actor Taborda, «que se entusiasmava e se enternecia até às lágrimas» (Camilo Castelo Branco).

21MAI1844-1910 - Henri Rousseau: «Somos os maiores pintores do nosso tempo: tu, ao modo egípcio; eu, ao estilo moderno» (Pablo Picasso).

22OUT1844-1923 - Sarah Bernhardt: «Quem sabe quando estou a mentir ou quando falo verdade».

16OUT1854-1900 - Oscar Wilde: «Os homens tornam-se velhos, mas nunca se tornam bons».


IMAGINÁRiO13
01 NOV 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

NOMAD
MENTES DO FUTURO

 

Cada vez mais influente e alternativa, a multifacetada indústria de conteúdos lúdicos acabaria por impor o primado tecnológico - que se delimita entre a evasão ritualista e os jogos de computador. Em suas amplas conexões, tal articulação dinâmica, interactiva, representa uma síntese embrionária mas versátil, de transferência da tradição artística e épica para os imaginários futuristas. Subvertendo a realidade, eis o parâmetro criativo de Jean-David Morvan - formatado aos quadradinhos em Nomad, por Sylvian Savoia & Philippe Bouchet, e revelado entre nós pelas Edições Asa. Em causa está Arrouan, um ente dotado com o poder de penetrar nos mais sofisticados circuitos electrónicos, a cargo dos serviços secretos americanos. Porém, tudo se complica sob os labirínticos desígnios do poder, em inversão ritualista e primitiva, quanto aos estigmas de sobrevivência do povo Tuaregue... Um envolvimento inquietante e virtual, quanto ao factor memória, de volúvel acção, fenómenos perigosos e subversão libertadora. Além das referências colectivas ou sociopolíticas, sobressai uma sofisticação gráfica, segundo implicações cibernéticas - em que a dialéctica do bem e do mal se repercute nos caprichos singulares e desaires colectivos, sob um intenso signo de heroísmo trágico. Uma derivação ilusória, fatídica. Em conjugação com as vivências actuais, a intranquilidade sobre o que nos espera.

RELATÓRiO

BOB DYLAN,
MEMÓRIAS & PALAVRAS

 

Em Outubro de 2004, Bob Dylan lançou Chronicles: Volume One - sob chancela Simon and Shuster e abordando, na primeira pessoa, aspectos significativos de uma carreira lendária, como trovador e compositor. Nascido Robert Zimmerman no Mennesota, em 1941, vinte anos depois fixava-se em Greenwich Village, Nova Iorque, iniciando pouco depois os seus recitais públicos. Conviveu e foi influenciado pelos escritores da beat generation - entre os quais Allen Ginsberg, com quem contracenou em Dont Look Back (1967 - D.A. Pennebaker). Aliás, tal faceta cinéfila - e mais visível que em Portugal, durante o concerto recente - persistiria até Masked and Anonymous (2003 - Larry Charles), ao lado de Penélope Cruz. Insolente, versátil, insubmisso, profético, enigmático, o autor visionário de Blowin’ in the Wind - que também assinalou The Times They Are A-Changin’ - escolheu nome artístico em homenagem ao poeta britânico Dylan M. Thomas. Tal como este, e desafiando a América à rendição, With God on Our Side, Bob Dylan iluminou ainda a mais sombria alma humana, suas melancolias e precaridades. Voltando aos papéis, agora foi também reeditado Lyrics: 1962-2001, colectando quase todo o seu testemunho cantado. Traduzindo, de A Hard Rain’s a Gonna Fall: «Regresso antes que as estrelas comecem a cair, / caminharei até ao fundo do negro bosque mais profundo, / onde as pessoas são muitas e estão de mãos vazias».

BREVIÁRiO

Em homenagem, Biblioteca Nacional expõe Maria Keil, até 20 de Novembro.

Câmara Municipal de Sintra edita Roberto Nobre. Palavra & Imagem por José de Matos-Cruz em Vária Escrita, Cadernos de Estudos Arquivísticos, Históricos e Documentais.

Meribérica/Liber lança A Metamorfose de Lucius de Milo Manara, inspirado em O Asno de Ouro de Apuleio.

Cavalo de Ferro lança, com Enitharmon Editions (Londres), Jane Eyre - com excertos do romance de Charlotte Brontë, e litografias alusivas por Paula Rego.

FNAC prossegue a edição em vídeo de 4 Curtas Portuguesas, com FBF Filmes, projecto apoiado pelo Ministério da Cultura através do ICAM; títulos do actual lançamento: Dia de Feira (2003) de Marta Pessoa, Fala Comigo (2003) de Francisco Bravo Ferreira, O Número Que Marcou Não Se Encontra Atribuído (2001) e Tomás e a Alma (2003) de António Duarte.

Random House Mondadori lança Memorias de Mis Putas Tristes de Gabriel Garcia Marquez, com tiragem mundial de um milhão de exemplares.

VISTORiA                                          

Eu muitas vezes, nestas sufocadas noites de estio, viajo até à minha janela para ver uma nesguita de Tejo que está no fim da rua, e me enganar com uns verdes de árvores que ali vegetam a sua laboriosa infância nos entulhos do Cais do Sodré. E nunca escrevi estas minhas viagens nem as suas impressões pois tinham muito que ver! Foi sempre ambiciosa a minha pena: pobre e soberba, quer assunto mais largo. Pois hei-de dar-lho. Vou nada menos que a Santarém: e protesto que de quanto vir e ouvir, de quanto eu pensar e sentir se há-de fazer crónica.
Era uma ideia vaga; mais desejo que tenção, que eu tinha há muito de ir conhecer as ricas várzeas desse Ribatejo, e saudar em seu alto cume a mais histórica e monumental das nossas vilas. Abalam-me as instâncias de um amigo, decidem-me as tonteiras de um jornal, que por mexeriquice quis encabeçar em desígnio político determinado a minha visita.
Pois por isso mesmo vou: pronunciei-me.
Almeida Garrett (1799 - 1854)
- Viagens na Minha Terra

 NOTICIÁRIO 

Carta de Gomes Leal - [a propósito de uma agressão «injusta e brutal» no Theatro do Gymnasio] «Os que me conhecem, sabem que acho indigno de mim ser provocador e espadachim, e que não faço profissão de jogar o soco pelas vielas nocturnas, mas sabem também que sou de génio pouco paciente, capaz de repelir uma afronta e aplicar um correctivo a tempo».
22NOV1881 - Diário de Notícias 

TRAJECTÓRiA

FRANÇOISE SAGAN:
BONJOUR, TRISTESSE

 

 Retrato de uma geração estilizado por temas pessoais, a tratar em contraste com a própria evolução social, Bonjour Tristesse - «Adieu tristesse / Bonjour tristesse», no poema de Paul Éluard - foi editado pela Julliard, em França, há meio século. A autora, Françoise Sagan - nome artístico colhido da Princesse de Sagan, de Marcel Proust - tinha então dezanove anos. Menos dois que a protagonista reflectida, Cécile. Uma jovem ciosa e ferida, órfã de mãe, que se sente ameaçada e posta em causa a sua liberdade familiar por Anne, a amante do pai. E, quando esta morre num acidente de automóvel, Cécile considera que foi suicídio e culpa-se, pois desejava mal a Anne, embora nada de fatal... Logo convertido em best-seller (850.000 exemplares), consagrado com o Prix des Critiques (Georges Bataille estava no júri), Bonjour Tristesse teve adaptação ao cinema por Otto Preminger em 1958, sendo protagonista a irradiante Jean Seberg.

 Emoções recalcadas, solidão e citações, amorais transferências de matriz burguesa, estão patentes sob uma textura intimista e plástica, subjacente à confessional inspiração literária: «Seulement quand je suis dans mon lit, à l’aube, avec le seul bruit des voitures dans Paris, ma mémoire parfois me trahit: l’été revient et tous mês souvenirs. Anne, Anne! Je répète ce nom très bas e très longtemps dans le noir. Quelque chose monte alors en moi que j’accueille par son nom, les yeux fermés: Bonjour Tristesse». Rebeldia, sensualidade, cinismo, frivolidade vão persistir numa criatividade singular, mutante, que Sagan provocaria com Un Certain Sourire (1956), Dans Un Mois, Dans Un An (1957)... Além do tempo, da melancolia. Efémera, inconstante, eis a própria vida, expressa e pendular: «Escrever significa procurar um certo ritmo». Até ao fim. Françoise Quoirez, aliás Sagan (1935-2004).

CALENDÁRiO

30SET2004 - Lusomundo estreia Balas e Bolinhos - O Regresso (2004) de Luís Miguel Ismael.

21OUT2004 - Atalanta Filmes estreia Noite Escura (2004) de João Canijo. FBF Filmes estreia Querença (2004) e O Guardador de Rebanhos (1999) de Edgar Feldman. Lusomundo estreia I’ll See You In My Dreams (2003) de Miguel Angel Vivas.

03-13NOV2004 - Número Festival organiza o 5º Festival Internacional de Multimédia, Filme e Música de Lisboa.


IMAGINÁRiO12
20 OUT 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

REIMAGINAR,
DO FUNDO DO CORAÇÃO

 

Tudo é imaginário, nostalgia, sensualidade, revolução, prazer... Do Fundo do Coração (1982), Francis Ford Coppola arranca para a posteridade do cinema com a magia dos primitivos - sondando novas técnicas, rompendo com todas as estruturas narrativas, todos os códigos de linguagem, todas as premissas estéticas. Virtualmente, a acção decorre em Las Vegas, entre casais que se perdem e reencontram - mas Las Vegas, a fábula feérica, a metrópole circense, não chega para a ilusão febril do cineasta, que a reinventa em novos artifícios, luz e cor, erotismo, efervescência. Despontando uma intriga romântica, Coppola desmonta o seu fundo convencional, fazendo ressaltar - em paralelo com as motivações e as movimentações das personagens - um fenómeno subjacente à música e às canções, ao bailado e ao complexo visual, à concentração ou ao desdobramento de espaços cénicos... Alheio ao seu passado, vanguardista e visionário, Coppola sagra-se Do Fundo do Coração - com lançamento em DVD, sob chancela Lusomundo - como um cineasta temível e genial. Ou, como em qualquer desafio, a seguir e sempre sem preconceitos e com emoção.

RELATÓRiO

BLUEBERRY,
A RESSURREIÇÃO

 

Exploradas durante mais de três décadas, as façanhas de Mike Steve - aliás Tenente Blueberry -, enquadradas por Forte Navajo, atingiram um ponto culminante por 1969, quando na Europa se registava um fenómeno apócrifo de recriação do western, com bizarro e prolífico culto em distintos meios - do cinema ao romance popular, passando pela banda desenhada. Quanto ao universo gráfico, o excepcional talento de Jean-Michel Charlier & Jean Giraud/Gir - aliás, Moebius - revirtualizar-se-ia em segunda fase, ou evocando A Juventude de Blueberry, continuada por François Corteggiani & Colin Wilson; além de Marshall Blueberry, por Gir & William Vance. Entretanto, coube a Jan Kounen ousar uma transposição ao cinema de Blueberry - L’Expérience Secrète (2004), sendo protagonista Vincent Cassel, ao lado de Juliette Lewis e Michael Madsen. Aí se relata como Mike Blueberry, iniciado pelos índios e marshal em Palomito, tenta um precário equilíbrio entre duas civilizações, enquanto enfrenta Wally Blount, um misterioso e fantomático assassino… Aliando a densidade e o empolgamento de acção, eivada com drama ou emoção, a saga de Blueberry evolui - no sortilégio dos quadradinhos, sobre múltiplas recorrências, míticas e carismáticas - pelos transes, os contrastes românticos, a trágica sobrevivência, a bravura ou abominação de personagens. Segundo Gir, «tenho uma biblioteca bem fornecida - quanto a referências sobre o Oeste, os cavalos, a paisagem, as armas; e, também, razoavelmente organizada sobre a banda desenhada nesta matéria, ou os meus autores preferidos. Tudo isso combina com o meu humor de momento, a capacidade que sinto para começar um trabalho...».

          CALENDÁRiO

- 15SET-15NOV2004 – No Espaço 39 Degraus da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, está patente a Exposição 35 mm de Histórias.

- 1922-18SET2004 - Russ Meyer: «Vai sair um bom filme… Já contratei noventa pares de mamas!»

- 09OUT-07NOV2004 Na Galeria Municipal da Cordoaria Nacional, está patente a sexta edição de Ilustração Portuguesa, organizada pela Bedeteca de Lisboa.

- 22OUT-01NOV2004 - Em Cascais, a Simetria - Associação Portuguesa de Ficção Científica e Fantástico - organiza as Jornadas Fantásticas na Periferia do Império.

- 22OUT-07NOV2004 - Na nave comercial da Estação de Metro da Falagueira (Amadora-Este), decorre o 15º Amadora Bd - Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.

- 22OUT-14NOV2004 - No Centro Cultural de Cascais, a Fundação D. Luís I apresenta uma Exposição Jorge Marcel, constituída por trinta desenhos, assinados «com a impressão dactiloscópica».

INVENTÁRiO

STAR WARS:
REVENGE OF THE SITH

Em San Diego, na Califórnia, durante a Convenção Internacional de Ficção Científica - Comic-Con, em Julho de 2004, a Lucasfilm anunciou que a terceira e última parte da segunda trilogia sobre a Guerra das Estrelas se intitulará Revenge of the Sith. A estreia está prevista para Maio de 2005, revelando como Anakin Skywalker se transformou no pérfido Darth Vader. Este segmento da saga estabelecerá a ligação para A Guerra das Estrelas (1977). Voltando às origens. Na transição entre as décadas de ‘70 e ’80 do século XX, tudo o que se conhecia sobre o confronto universal entre tiranos e libertadores, sob o signo de Hollywood, era transfigurado pelo épico de George Lucas.

 Vivia-se então o fascínio das viagens no espaço, e o que o Homem não lograva ainda concretizar, além de um salto na Lua, seria coreografado pela imaginação artística, graças ao sortilégio dos efeitos especiais. Quinze anos depois, Lucas regressou ao passado desse futuro, estilizando pelo fenómeno mediático, sinfónico, uma fantástica galáxia de artifícios. Indo por partes. A Guerra das Estrelas principia quando o jovem Luke Skywalker adquire dois andróides, C-3PO e R2-D2, chegados ao planeta Tatooine após uma confrontação. Intercepta, então, uma mensagem-apelo de Leia Organa, prisioneira do Império e seu perverso líder Darth Vader. Mais tarde, Leia e Luke juntam-se ao errante Han Solo, e ao felpudo Chewbacca. Seguiram-se O Império Contra-Ataca (1979) e O Regresso de Jedi (1983). Em 1999, A Ameaça Fantasma recua quarenta anos, até à geração precedente. Em revelação, o passado de Darth Vader - aos nove anos, o auspicioso menino Anakin. O Ataque dos Clones (2002) determinou o seu trágico destino, rendido ao Império do Mal...

GALERiA

 WILD BILL HICKOCK
- HERÓI DA FRONTEIRA

Um dos pioneiros gloriosos da epopeia do Oeste, Wild Bill Hickok nasceu James Butler Hickok, em Troy Grove (Ilinóis) em 1837, e faleceu em Deadwood (actual Dakota do Sul) em 1876. Guia, jogador, um homem da fronteira, a sua reputação converteu-o numa lenda, tendo visto a sua vida mitificada. Durante a infância, trabalhou na quinta paterna, até - pelos dezanove anos - partir para o Kansas, onde aderiu ao movimento contra a escravatura. Em 1861, logrou fama, ao liquidar Dave McCanles em Rock Creek (Nebrasca). Em plena Guerra Civil, trabalhou para a União, como guia e espião. Depois, foi nomeado marshal dos Estados Unidos, e tornou-se batedor do Exército. A sua popularidade cresceu como sheriff de Hays City e marshal de Abilene, pacificando e impondo a lei, nessas duas tumultuosas cidades do Kansas. Em 1872-74, Hickok foi uma das vedetas do Bufallo Bill’s Wild West Show, triunfando em Nova Iorque. Em 1876, casou com Agnés Lake, uma actriz viúva, a quem deixou pouco depois em Cincinnati. Atraído pelas jazidas auríferas do Dakota, jogava póquer no saloon Number Ten de Deadwood, quando foi abatido por um forasteiro embriegado. Ficaram por esclarecer as reais motivações de Jack McCall, enforcado em 1877. A saga de Wild Bill Hickok foi amplamente explorada em grande ecrã, com distintas motivações e artifícios, logo a partir do cinema mudo. Primordial é, no entanto, The Great Adventures of Wild Bill Hickok (1938, Mack V. Wright, Sam Nelson), um serial da Columbia, em quinze capítulos, privilegiando o marshal de Abilene, e protagonizado por Gordon Elliott. Este teve tal sucesso, que se tornou conhecido como Bill Elliott, e regressou como Campeão da Aventura (The Return of Wild Bill, 1940), uma longa metragem de Joseph H. Lewis, sobre as origens do herói. No ano seguinte, Alfred E. Green dirigiu Terras Malditas (The Badlands of Dakota, 1941), que atraem Hickok (Richard Dix), Calamity Jane e o General Custer. Em 1942, Ray Enright realizou Wild Bill Hickok Rides, apresentando Bruce Cabot como um corajoso pistoleiro, em defesa dos colonos. Inevitavelmente, Wild Bill (Howard Keel) junta-se às Diabruras de Jane (Calamity Jane, 1953, David Butler), um western musical. Ainda em 1953, Jan Sterling deu vida a Hickok - que, por 1860, presta auxílio a Buffalo Bill, o Indomável  (Pony Express, Jerry Hopper), para manter a Califórnia na União. Já em 1977, Charles Bronson assumiu Hickok contra A Carga do Búfalo Branco (The White Buffalo/Hunt To Kill, J. Lee Thompson), que simboliza a obsessão da morte. Assombrado, afinal, por um epílogo fatídico, Wild Bill (1995, Walter Will) resiste na perturbante composição de Jeff Bridges, como espectro da imortalidade.

BREVIÁRiO

- LNK lança em DVD Star Wars Trilogy de George Lucas e Wild Bill de Walter Hill.

- Câmara Municipal de Lisboa lança Conversas Sobre Animação Portuguesa por Ilda Castro, edição/cinema com direcção de António Cunha.

- Pantheon Books lança In the Shadow of No Towers de Art Spiegelman, sobre a tragédia do 11 de Setembro de 2001 em Nova Iorque.

- Caminho lança As Furtivas Pegadas da Serpente, romance por António de Macedo, em O Campo da Palavra.

- Columbia Records lança Dear Heather, décimo-primeiro álbum de Leonard Cohen gravado em estúdio.


IMAGINÁRiO11
10 OUT 2004 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

 LABAREDAS DA HISTÓRIA,
UMA MULHER EM CAUSA

 

As volúveis fronteiras entre passado e futuro, ameaça e maldição, vacilam num presente perigoso, precário, em que se estabelece L’Ordre Impair de Paul Teng, Cristina Cuadra & Rudi Miel, sob chancela Le Lombard. Anvers 1585 é o título do primeiro de cinco estranhos tomos, mas tudo principia cerca de três séculos antes, no Norte de França, pelo ano de 1297. Uma jovem mística, Mechthilde d’Arras é morta. O seu manuscrito Visio Veritatis escapa às chamas dos inquisidores. Antuérpia, 1585. Nove anos após o cerco pelas tropas de Filipe II, Rei de Espanha, a adolescente Leonora, inconsolável pela morte da mãe, manda imprimir um estranho documento que ela lhe legou, Visio Veritatis. Paris, na actualidade. Um escritor de romances históricos, Patrick Prada conclui um livro sobre o fim trágico de Mechthilde. A sua mulher procura um presente especial, para lhe oferecer. Num alfarrabista, Virginia encontra uma edição rara do Século XVI: Visio Veritatis, de Mechthilde d’Arras... Mistério? Coincidência? Eis as virtualidades, em banda desenhada.

RELATÓRiO

MAFALDA,
A CONTESTATÁRIA

Fenómeno de popularidade, Mafalda foi criada em 1964, por Quino (aliás, Joaquin Salvador Lavado) em quadradinhos. Até 1973, tornou se ponto alto numa carreira que agora se celebra, com a exposição Quino, 50 Anos no Palácio do Gelo, em Buenos Aires. Entretanto, a irreverente e precoce miudinha protótipo duma geração contestatária cedo atravessou as fronteiras da sociedade argentina, com uma acutilância que ultrapassaria os próprios Peanuts de Charles Monröe Schulz. Levada ao cinema em animação por Carlos Márquez em 1981, Mafalda apresenta se rodeada pelos amigos ou no convívio familiar, preparando se para a escola primária. Intervêm todos os elementos que a tornaram famosa: filosofia do humor, mordacidade e propensão para analisar, argutamente, situações domésticas ou problemas ao mais alto nível. Aparentemente, o universo vivencial de Mafalda corresponde ao de qualquer outro agregado humano. Segundo Quino cujos progenitores emigraram da Andaluzia em 1919, e naturalizado espanhol em 1990 quando os pais não sabem explicar melhor, há sempre uma cegonha a justificar tudo, na história de Mafalda. Se ela tivesse nascido numa época anterior e menos complicada, desenvolver se ia de uma forma diferente. Poderia ter brincado com bonecas, atormentado rapazes e outras coisas no género. Mas é uma criança do seu tempo. Não pode evitar perguntas, escutar, ver e falar sobre todos os assuntos. Mafalda e os amigos Manolito, Miguelito, Felipe e Susana consagraram se em jornais e revistas de trinta países e em oito idiomas, além de milhões de álbuns vendidos em todo o mundo.

CALENDÁRiO

1917 09SET2004 Maria Paula: «É muito difícil ser actor. Mas gosto da vida, gosto de tudo quanto é bonito, de tudo quanto é bom».

09SET2004 No Rio de Janeiro, o Prémio Camões é entregue a Agustina Bessa Luís por Gilberto Gil, Ministro da Cultura do Brasil.

10SET2004 Em Veneza, Manoel de Oliveira recebe o Leão de Ouro à Carreira, atribuído pela Direcção da 61ª Mostra Internacional de Cinema.

15OUT 14NOV2004 No Centro Cultural de Cascais, a Fundação D. Luís I apresenta uma Exposição José Rodrigues, constituída por desenhos (1960 2004) e esculturas (tema Jardins).

15OUT 05JAN2005 Museu Serralves (Porto) expõe Selecção de Obras Recentes de Paula Rego (1996 2004).

19OUT2004 Na FNAC Colombo, Prime Books lança Fadas Laureas, com as imagens de Luís Louro inspirando textos de autores convidados.

22OUT2004 Termina o prazo para participar no 12º Concurso Bd & Cartoon, sob o tema A Lenda da Moura Salúquia, aquando do certame Moura 2004.

OBSERVATÓRiO

TITEUF N’É NADA JUSTO Tendo iniciado... publicação em 1992, Titeuf é um dos jovens heróis da escola europeia que continuam a cumprir o velho sonho de Hergé, protagonizado pela glória de Tintin, atraindo aos quadradinhos todos os leitores, entre os 7 e os 77 anos. Os mais maduros evocarão, com nostalgia, os seus tempos de rebeldia e afirmação. Os mais novos hão de identificar se com este miúdo traquinas, irreverente, muitas vezes mesmo incómodo, que tudo põe em causa, mas acaba por assumir com lealdade as cúmplices lições da vida. Um autêntico fenómeno em língua francesa, Titeuf tem apresentação, entre nós, sob chancela das Edições Asa desabafando N’É Nada Justo..., após descobrir que O Amor É Bué da Estranho. Concebido e ilustrado por Zep, aliás Philippe Chappuis, um suíço nascido em 1967, Titeuf é camarada da terrível Mafalda, embora possa armar se ao estilo de Calvin.

 O SORRISO DE MONA LISA Na perspectiva de Hollywood, se um sucesso não se fabrica, suscita a experiência dos seus modelos e processos, que estimularam a afeição do público. Em geral, este privilegia o espectáculo como entretenimento, numa transferência ritual; ou histórias com as quais se identifique, pelo testemunho da realidade. Assim propõe O Sorriso de Mona Lisa (1998) de Mike Newell, sobre argumento de Lawrence Konner & Mark Rosenthal. A acção decorre em 1953, quando uma jovem professora da História de Arte vai desafiar as regras do conservador Wellesley College, para meninas intransigentes... Aprender, ensinar. Há, no olhar expectante de Roberts, um perturbante efeito cénico e íntimo, com que Newell explora os labirintos próprios de confronto e subversão. Em tal desafio que define ou sobrepõe territórios privados, O Sorriso de Mona Lisa em DVD, sob chancela Lusomundo enquadraria um esboço social, que a emoção desenha ao nosso olhar.

INVENTÁRiO

IMMORTEL (AD VITAM)

 

Prestigiado artista europeu da banda desenhada, Enki Bilal volta até nós com a mais sublimadora experiência fílmica Immortel (Ad Vitam) (2004), após ter dirigido Tykho Moon (1996) e Bunker Palace Hotel (1989). Esta nova realização, sobre argumento co escrito por Serge Lehman, baseia se nas suas obras La Foire aux Immortels e La Femme Piège, sendo protagonistas Linda Hardy, Charlotte Rampling e Jean Louis Trintignant. A acção decorre em Nova Iorque, 2095, durante uma campanha eleitoral, envolvendo seres mutantes, extra terrestres e humanos, naturais ou sintéticos. Uma estranha pirâmide flutua sobre Manhattan, e ali convergem os destinos de Horus, Jill e Nikopol através das imagens fragmentárias, sobre a realidade algures perdida e presente, entre o sortilégio do passado e os dilemas do futuro. Desígnio e fantástico, símbolos e ideais, armadilhas e perversões reflectiriam, em sua conexão temporal, a própria corrupção ou vulnerabilidade da história, como volúvel memória da existência virtual. Bilal reincide o seu talento perturbador, inquieto mas emocionante como criador, transcendendo uma arquitectura onírica, ancestral elegia entre a liberdade e a opressão, nas vivências épico dramáticas do imaginário. Segundo Bilal, «a banda desenhada é uma narração dinâmica, de acção, por vezes com funções primárias. Transmitir psicologia, fazer passar através dela sentimentos torna se, pois, difícil. Para mim, trata se de artesanato com ela, posso fazer o que quiser, servindo me da minha imaginação.».

 BLADE TRINITY

Pouco abaixo de realidade que todos conhecemos, existe um submundo o reino de terror dos vampiros, vitimando a humanidade com a sua insaciável sede de sangue. Esta cruel sociedade está sob o domínio de doze vampiros senhoriais, cujo líder é Gaetano Dragonetti. Mas Deacon Frost, um arrogante subchefe, usurpa o poder a Dragonetti, e proclama se soberano. Frost prepara o despertar de The Sleeper, qua comandará uma investida gloriosa contra séculos de supremacia pela humanidade. Apenas uma criatura se mantém à margem. Blade. Nas suas veias corre um sangue maldito, meio vampiro e meio humano, resultado do ataque de um morcego contra a sua mãe, pouco antes de ele nascer. Assim foi gerado um ser superior às duas espécies, vampiromem cujas características, graças a um soro, se mantêm estáveis. Tal permite lhe reconhecer os verdadeiros inimigos e caminhar à luz do dia. Um guerreiro omnipotente, mas desalmado. Deacon Frost anseia possuir a prodigiosa essência de Blade, e aplicá la nos seus desígnios abomináveis. Mas a eficácia da fórmula degrada se. Cada dia que passa, Blade fica mais vulnerável, e cada vez resiste menos ao apelo das trevas. Para ele, também, torna se irresistível a atracção do sangue… Inspirado num épico sobrenatural em quadradinhos, por Mark Andreyko & Bart Sears, sob chancela Marvel, Blade um surpreendente cruzamento entre a saga fantástica e as artes marciais foi levado ao grande ecrã em 1998, por Steve Norrington, sobre argumento de David S. Goyer. Este é, agora, o realizador de Blade: Trinity (2004), regressando Wesley Snipes como assombrado protagonista, para salvar a nossa raça de um pavoroso Armagedão, com o regresso de Drake/Drácula! Entretanto, a Marvel reactivou Blade, por Don McGregor & Brian Hagan.


IMAGINÁRiO Números de 1 a 10


Se deseja receber o IMAGINÁRIO por email escreva para: kafre@mail.telepac.pt