José de Matos-Cruz


IMAGINÁRiO43
16 JUL 2005 · Edição Kafre ·imaginario@imaginarios.org

PRONTUÁRiO

PARA SEMPRE, E.T. COELHO

 

A partir de uma estadia em Portugal - durante o Amadora Bd ’98, que permitiu realiciar o culto dos fanáticos de sempre ou o fascínio dos jovens leitores - o mais prestigiado dos nossos artistas de quadradinhos, Eduardo Teixeira Coelho (1919-2005) voltou a ter o seu labor divulgado ou  publicado, em revistas e outras edições da especialidade. Na primeira modalidade, é fundamental apreciar ET Coelho - A Arte e a Vida, sob chancela Época de Ouro. Anos ’40, imaginário emblemático de O Mosquito. Em 1946, A Caminho do Oriente. Pós 1954 - Espanha, Inglaterra, França. Yves, Le Loup (1960). Década de ’70, Itália… Ao grafismo harmonioso e inimitável, ao estilo dinâmico e gracioso, conferiu Teixeira Coelho - galardoado com o troféu Yellow Kid para o Melhor Desenhador Estrangeiro no Festival de Lucca em 1973, e com o Grande Prémio do Festival da Amadora em 1997 - o sortilégio, a iluminação, a nostalgia e a modernidade que distinguem os criadores primordiais.

REPOSITÓRiO

MODESTO E POMPOM

 

Um dos géneros mais populares e característicos da banda desenhada franco-belga, o humor define estilos criativos, referencia propostas editoriais, testemunha períodos sociais, numa sugestiva recorrência entre a expressão artística e o envolvimento histórico. Concebida e ilustrada por André Franquin (1924-97), a série Modesto e Pompom é um exemplo característico de tais virtualidades - lançada finalmente entre nós em álbum, sob chancela das Edições Asa, após uma apresentação memorável nas páginas de TimTim. Foi na revista original que, a convite das Éditions du Lombard, Franquin investiu as aventuras ou as desventuras deste jovem e simpático par - a discreta  Pompom, o enrascado Modeste - em 1955-59, ao longo de 190 pranchas, às quais o próprio autor conferiu ordem e selecção para uma colectânea em 1996. Em apreço panorâmico, um clássico sempre amável, irresistível, obra-prima que Franquin desenvolveu com talento, minúcia e engenho para TinTin, a partir duma rotura pontual com Charles Dupuis, quanto à sua colaboração em Spirou. Inevitavelmente, estão implícitas em Modeste et Ponpon muitas das hilariantes potencialidades consumadas por Gaston Lagaffe - mas, cinquenta anos volvidos, eis a retrospectiva em quadradinhos duma época em transformação, determinante, sagrando os anseios e os devaneios da emblemática geração, contrastada entre os 7 e os 77 anos.

MEMÓRiA

1837-15JUL1885 - Rosalia de Castro: «De improviso los ángeles / desde sus altos nichos / de mármol, me miraron tristemente».

1359-19JUL1415 - D. Filipa de Lencastre, Rainha de Portugal: Filha do Duque de Lencastre, em 1387, casa com D. João I, fortalecendo por laços familiares os acordos do Tratado de Aliança Luso-Britânica, que perdura até hoje.

1868-20JUL1955 - Calouste Gulbenkian: «Eu defino-me a mim próprio como um arquitecto dos negócios».

21JUL1895-1973 - Ken Maynard: «Além de actor e perito em rodeos, foi o primeiro cowboy cantor da América» (John Bush).

CALENDÁRiO

MAI2005 - Privilegiando artistas em fase emergente, a Fundação D. Luís I de Cascais promove, com a Solbi/Sociedade LusoBritânica de Informática, o V Prémio de Escultura City Desk 2005; regulamentos patentes em www.citydesk.pt

1936-25MAI2005 - Ismail Merchant:: «Nos filmes que produzo com James Ivory, para ele realizar, deve haver sempre uma boa história, falar-se sobre um tempo e um lugar que são permanentes».

01JUN2005 - Em Oviedo, o Instituto Camões é distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias de Comunicação e Humanidades 2005.

02JUN2005 - Na Cordoaria Nacional, o Presidente da República Jorge Sampaio inaugura a exposição Diário de Notícias  - 140 Anos de História, a Mostrar as Notícias Como Elas São.

04JUL-30SET2005 - Fundação Calouste Gulbenkian organiza, com The London Film School, um Curso de Realização de Cinema, integrado no Programa Gulbenkian Criatividade e Criação Artística.

TRAJECTÓRiA

KEN MAYNARD
E A BALADA DO OESTE

 

No firmamento de Hollywood, a partir de meados dos anos ’20, Ken Maynard distinguiu-se como um dos mais populares e genuínos actores/cowboys. A sua ascensão foi lenta mas progressiva, até se converter numa das vedetas mais prestigiadas da saga Western, sobretudo entre o público mais jovem - a quem encantava com as suas proezas atléticas, tendo como parceiro inigualável o famosíssimo cavalo Tarzan. Com o advento do sonoro, Maynard e Tarzan prosseguiram uma carreira ascendente, consagrando-se especialmente entre os aficionados da aventura musical. Segundo a lenda, Maynard sentia uma certa dificuldade em debitar longos diálogos, preferindo - aliás - interromper a acção para interpretar, ele próprio, uma canção, muitas vezes acompanhado pelos companheiros de aventura. Assim, nos anais de Hollywood, o nome de Maynard está registado como um dos pioneiros na introdução das baladas nas fitas de cowboys, vários anos antes de triunfar aquele que se consagraria como cavaleiro/cantor, Gene Autry - o qual, significativamente, se estreou num dos seus filmes.

Ken Maynard nasceu em Vevay (Indiana), em 1895; ou, segundo elementos da sua biografia artística, em Mission (Texas); era um irmão mais velho do actor Kermit Tex Maynard - que começou como seu duplo, e se especializaria em papéis de bandido. Antes de ser tentado pelo cinema, Ken Maynard conquistou experiência e glória como cavaleiro acrobático em companhias de espectáculos dedicadas ao Wild West, com destaque para as de Buffalo Bil e dos Ringling Brothers. Em seguida, distinguiu-se como campeão de rodeos (1920). Em 1923, lançou-se finalmente no grande ecrã, em The Man Who Won, seguido de Janice Meredith (1924) como Paul Revere. A partir de 1926, para a First National, Maynard tornou-se um dos nomes mais sólidos e credenciados, participando nos melhores Westerns de acção, superando frequentemente os padrões e a qualidade média da Série B. Títulos como Señor Daredevil (1926) ou The Red Raiders (1927) comprovam, não apenas as suas espectaculares habilidades, tirando o máximo partido do close-up, como um actor com naturais capacidades dramáticas.

Na transição entre os anos ’20 e ’30, Ken Maynard foi também produtor executivo em vários dos seus filmes como protagonista - entre os quais The Wagonmaster (1929) e Song of the Caballero (1930); por esta altura, tentou ainda a realização (The Fiddlin’ Buckaroo - 1933). Tendo protagonizado o serial Mistery Mountain em 1934, a estrela de Maynard empalideceu a partir de In Old Santa Fe (1934) e Phantom Ranger (1938). Voltou então às digressões e exibições em rodeos, com uma esporádica reincidência em 1943-45, para interpretar várias fitas de baixo orçamento - como Arizona Whirlwind (1944). Acabou por desistir, regressando aos rodeos e às feiras estaduais, até um crepúsculo total. Esquecido, alcoólico e à beira da pobreza, Maynard foi ainda afectado pela morte da esposa, outrora uma artista de circo. Solitário, passou a viver numa roulotte, sendo uma sombra de si próprio quando interveio em Bigfoot (1970). Faleceu, enfim, aos 77 anos, entre outros padecimentos por má nutrição.

PARLATÓRiO

 

 A banda desenhada sempre existiu, com outros nomes ou manifestações, desde um passado bastante remoto. Os novos processos mediáticos permitem uma difusão maior. A base da sua actual expressão está, primordialmente, no alemão Albert Dürer (1471-1528) - que, em gravura, ilustrou duas peças do teatro romano. Entre muitas coisas, esse foi o labor essencial. Realmente, com características semelhantes ao que conhecemos hoje, a bd começa no século passado. Mas os actuais atalhos técnicos atingem extraordinários resultados. Os muitos autores que se dedicam à bd também contribuíram para sucessivas melhorias.

É preciso ser meio louco, para dedicar uma vida a fazer banda desenhada. Dá imenso trabalho, cada obra é infernal em pesquisa, para ter veracidade. O autor de bd deve estar preparado para ilustrar tudo o que se relaciona com o tema em foco - e isso é completamente diverso de um pintor subjectivo, ou que se especializa em retratos, em paisagens, só necessitando depois do seu talento. Nós temos que desenhar animais, pessoas vestidas ou despidas, em todas as posições, ambientar outras épocas... Em suma, precisamos de uma grande bagagem. Uns são melhores, outros piores, mas o esforço é igual para todos.

Em banda desenhada, cuidar do lado estético e plástico é muito difícil, e ainda pior analisá-lo. Eu não tenho nenhuma mania artística, não me sinto incomodado por tais preocupações. Cabe-me, simplesmente, executar um determinado tipo de trabalho, e é isso que eu tento fazer, o melhor que posso e sei. Esta foi sempre a minha postura, desde que comecei a dedicar-me à banda desenhada e à ilustração. Fornecendo, a quem lê ou olha o que eu faço, um produto agradável, que cumpra o maior número possível de requisitos e exigências.
Eduardo Teixeira Coelho (1998)

VISTORiA

A través del follaje perenne
que oír deja rumores extraños,
y entre un mar de ondulante verdura,
amorosa mansión de los pájaros,
desde mis ventanas veo
el templo que quise tanto.

El templo que tanto quise...,
pues no sé decir ya si le quiero,
que en el rudo vaivén que sin tregua
se agitan mis pensamientos,
dudo si el rencor adusto
vive unido al amor en mi pecho.

Rosalia de Castro - A Orillas del Sar

 

BREVIÁRiO

Frenesi edita Álbum de Caricaturas - Frases e Anexins da Língua Portuguesa de Rafael Bordalo Pinheiro; prefácio de Júlio César Machado IMAGINÁRiO27.


IMAGINÁRiO42
08 JUL 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

TORMENTO E REDENÇÃO

 

Por tradição, ele foi um guerreiro moderno, um influente homem de negócios. Até que, em súbito e fatídico desaire, a existência do mestre de artes marciais, conhecido por Iron Fist, pareceu estilhaçar-se, e sem esperança. Emergindo entre as brumas ancestrais, uma lenda sinistra, K’un Lun ganha presença neste mundo mortal... Sob chancela Marvel, eis Iron Fist - por Jim Mullaney & Kevin Lau - um justiceiro em crise, quanto aos desígnios do futuro. A tragédia pessoal impeliu Danny Rand a renunciar ao signo de Iron Fist e a prescindir da coexistência em Nova Iorque, isolando-se numa cabana das Colorado Rockies. Porém, continua abalado por terríveis pesadelos, entre os quais a visão de uma menina que apela ao seu auxílio. Como um íntimo desafio, de resgate para toda a humanidade.

REPOSITÓRiO

ÁFRICA MINHA
- PALAVRAS IMAGINADAS

 

Fabulosa e fascinante no que transparece, à beira do abismo ou no êxtase limite, Meryl Streep conjuga na impressão esquiva, no mistério sensual, na intensidade voluntariosa, na pungente fragilidade, o apelo absoluto entre a sagração erótica e o fatal constrangimento... Em sublime reflexo (do) interior, eis a assunção de África Minha (1985) - segundo a evocação latente de Isak Dinesen, pela narração fragmentada ou a emoção furtiva. Apoiando-se em Out of Africa e outras obras da escritora, além da biografia Isak Dinesen: Life of a Storyteller por Judith Thurman, o argumentista Kurt Luedtke suscita ao realizador Sydney Pollack a recriação de um imaginário mágico e poético, virtual e nostálgico, enquadrado pelo enigma/dualidade que envolve o próprio testemunho de Dinesen, um pseudónimo de Karen Blixen (1885-1962) investida em narradora do filme. Aí se projecta como mulher dividida entre a fidelidade ao real e a tragédia do destino, vacilando simultaneamente por uma dupla ausência - física, com a morte do seu amante; espacial, quanto à distância de África. Amargurada pela separação, como em exílio com o regresso à Dinamarca natal, Blixen/Dinesen afirma-se na complexa identidade do isolamento e solidão, que lhe instila a criatividade - exorcismo literário em que a perda do indizível se verbaliza na paixão resgatadora... E afinal, optando por uma formulação clássica em África Minha, também ela revisão e reconstituição, Pollack estilhaça as precárias aparência entra uma história sentimental e o sentimento da história.

MEMÓRiA

1621-1695 - Jean de La Fontaine: «A morte nunca surpreende um homem sábio, pois ele está sempre preparado para partir».

1885-1962 - Karen Blixen, aliás Isak Dinesen: «Se uma pessoa branca vive algum tempo sozinha, entre os nativos, habitua-se a dizer o que pensa».

1985 – Sydney Pollack dirige África Minha, sobre a obra de Isak Dinesen, aliás Karen Blixen.

CALENDÁRiO

MAI2005 - Vasco Graça Moura é galardoado com o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores/APE, relativo a 2004, e distinguindo Por Detrás da Magnólia em edição da Quetzal.

1921-13MAI2005 - Eddie Barclay: editor discográfico, descobriu Johnny Hallyday, Eddy Mitchell ou Henri Salvador.

18MAI-21AGO2005 - No Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, está patente a retrospectiva Joshua Benoliel - Repórter Fotográfico (1873-1932); integrada na II Edição da Bienal LisboaPhoto, organizada pelo Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa IMAGINÁRiO38.

23MAI2005 - Nikias Skapinakis é distinguido com o Grande Prémio Amadeo de Souza-Cardoso, atribuído pela Câmara Municipal de Amarante e pelo Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em reconhecimento da sua carreira.

26MAI2005 - Atalanta Filmes estreia Adriana de Margarida Gil; com Ana Moreira e Bruno Bravo.

MAI-27JUL2005 - Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva expõe À Sombra de Lourdes Castro, Prémio de Consagração CELPA/Vieira da Silva - Artes Plásticas em 2004.

14JUN2005 - Manoel de Oliveira é distinguido com a Medalha de Ouro do Círculo de Belas Artes de Madrid IMAGINÁRiO2.

VISTORiA

 

A CIGARRA E A FORMIGA

Tendo a Cigarra em cantigas
Folgado todo o Verão,
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.

Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da Formiga,
Que morava perto dela.

Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Té voltar o aceso Estio.

«Amiga» - diz a Cigarra -
«Prometo, à fé d’animal,
Pagar-vos, antes d’Agosto,
Os juros e o principal.»

A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
«No Verão, em que lidavas?»,
À pedinte ela pergunta.

Responde a outra: «Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.»
«Oh! bravo!» - torna a Formiga -
«Cantavas? Pois dança agora!»
Jean de La Fontaine - Fábulas (tradução de Bocage)

TRAJECTÓRiA

 JEAN DE LA FONTAINE
- A MORAL DA HISTÓRIA

 

Jean de La Fontaine nasceu em Château-Thierry, Champagne, a 8 de Julho de 1621, no seio de uma abastada família burguesa. Na adolescência, lia Rabelais. Foi para Paris estudar Medicina e Teologia - mas em 1642, atraído pela religião, entrou para a Oratoire, congregação que deixou no ano seguinte. Seguiram-se estudos de Direito, partilhados pela leitura e a cumplicidade com amigos boémios. Em 1647, casou com Marie Héricart, de catorze anos e rica, separando-se em 1658. Em 1652, conseguira o cargo de Maître des Eaux et Forêts, que lhe permitia passeios pelo campo e pelas margens do Rio Marne. Logrando uma pensão de Fouquet, Superintendente das Finanças, em 1658 dedicou-lhe o poema heróico Adonis, convivendo com Madames de La Fayette e de Sévigné, com Molière e La Rochefoucauld. A prisão do mecenas em 1661, inspirou-lhe Ode au Roi (1663), passando a gentil-homem da Duquesa de Orléans no Luxemburgo. A glória chegou com Contes et Nouvelles en Vers (1665) e Fables Choisies Mises en Vers (1668), mas a morte da protectora deixou-o de novo sem recursos. Em 1673, tornou-se hóspede da Marquesa de La Sablière e privilegiado de Madame de Montespan, favorita de Louis XIV, o que não impediu a proibição de venda dos Nouveaux Contes em 1674.
Graças ao rei, em 1683 foi eleito para a Académie Française - da qual recebeu uma delegação em 1692, perante quem repudiou os Contes, já gravemente doente. Recebido como hóspede pelo financeiro D’Hervart, no seu requintado palacete em Paris, aí faleceu a 13 de Abril de 1695.

JOSHUA BENOLIEL
- O REI DOS FOTÓGRAFOS

 

Nasceu em Lisboa, a 13 de Janeiro de 1873, descendente de uma abastada família hebraica, oriunda de Gibraltar e  enraizada em Cabo Verde. Funcionário das Alfândegas e monárquico convicto, em 1898 colaborou, como fotógrafo amador, no jornal O Tiro Civil. Além de impressionar cenas do quotidiano urbano ou rural, fez a cobertura dos grandes eventos sociais e políticos no País ou com reflexo lá fora, cabendo destacar: viagens ao estrangeiro dos Reis D. Carlos I e D. Manuel II, Revolução Republicana de 1910, Revoltas Monárquicas, Exército português na Flandres (I Guerra Mundial). Em 1906-18, trabalhou para o diário O Século e para a revista Ilustração Portuguesa, reincidindo em 1924-32; e colaborou em O Ocidente, Brasil-Portugal ou Panorama, sendo ainda correspondente de L’Illustration (Paris) e ABC (Madrid). Considerado o introdutor da reportagem fotográfica em Portugal, caracterizou-se na sua arte pelo instinto do flagrante e o registo humanista. Autor de Arquivo Gráfico da Vida Portuguesa (1903-18), faleceu em Lisboa, a 3 de Fevereiro de 1932.

ANTIQUÁRiO

1865 - No Funchal, Vicente Gomes da Silva adquire um imóvel à Rua dos Pintos, actual Rua da Carreira, onde fixa residência e constrói, nos jardins, o seu atelier fotográfico; paralelamente, desenvolve outras actividades como encadernação, gravação, marcenaria, tipografia e fundição. Em 1901, durante a visita de D. Carlos I e da Rainha D. Amélia à Ilha da Madeira, o seu filho Vicente Gomes da Silva Júnior foi agraciado com o título de Photographo da Casa Real Portuguesa, conforme carta régia de 1903. Em 2001, a Photographia - Museu “Vicentes” reabriu ao público, após obras de remodelação e restauro.

BREVIÁRiO

Caixotim edita Obra Completa de Bocage (1765-1805); coordenação de Daniel Pires.

EXTRAORDINÁRiO 

O INFANTE PORTUGAL
- Folhetim aperiódico 

Capítulo Um -
CONTRA AS FORÇAS DO DEMO - 4 

Ao ouvido de Rui Ruivo soou, enfim, o antipático som metálico duma gargalhada sinistra, rematada pelas seguintes palavras:

– Porquê, Infante?... Estás a perder qualidades? Acaso não desvendas, como dantes, os teus excelentíssimos adversários?

Como assim?! Alguém que conhecia o seu vínculo anónimo, enquanto justiceiro público? Que ousadia! Ou melhor - embora confinado a uma conversa restrita, quem seria aquele sinistro denunciante? Para saber, nada como prestar-lhe confiança...

Continua


IMAGINÁRiO41
01 JUL 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

 

O MÉDICO E O MONSTRO

 

Referência clássica na literatura de ficção científica e fantástica, Dr. Jekyll and Mr. Hyde (1885) de Robert Louis Stevenson tem inspirado imaginários múltiplos - como a banda desenhada e o cinema, segundo imprevisíveis versões e derivações. Em causa original, a ambiguidade das vicissitudes para um homem mutante, na sociedade inglesa do Século XIX. Estamos em Londres, em casa do prestigiado mas enfermo Dr. Henry Jekyll - que se dedica a experiências humanas, no seu laboratório impenetrável... Transfigurando uma trama virtual, degenerada, R.L. Stevenson logra em O Médico e o Monstro uma atmosfera mórbida, soturna mas subjugadora, nos cambiantes abomináveis entre o horror e o deslumbramento. Ao que compele o vínculo de Doutor Jekyll para o monstruoso Mister Edward Hyde, numa sobreposição lenta, latente, através de «substância tão poderosa que penetra os próprios fundamentos da identidade». Uma aberração que assim nasce carnal, de dentro para fora!

REPOSITÓRiO

 CLOUDBURST
- DILÚVIO MORTAL

 

Os escritores e os ilustradores em quadradinhos sempre deram livre curso à imaginação, quando se trata de explorar um futuro próximo ou distante. Mesmo se o tempo acabou por provar que tais histórias eram demasiado optimistas ou pessimistas, lograram proporcionar-nos momentos inesquecíveis de entretenimento ou inquietação, de angústia ou evasão. Das virtualidades clássicas às manifestações de vanguarda, expande-se CloudBurst - Dilúvio Mortal, um original Image com chancela Devir, revestindo-se de especiais aliciantes para os leitores portugueses. A partir de um instante imponderável em 25 anos antes/depois, do primitivo apocalíptico à incursão cósmica, regista-se a sucessão entre os ilustradores Christopher Shy e Eliseu Gouveia - assinalando mais que uma transmissão artística, do traço sujo evocativo à linha clara irradiante, pela referência épica/cronológica. De facto, trata-se da prestação de estreia do português Zeu Gouveia nos comics americanos, a partir de um contacto em Lisboa, durante o Bd Forum em 2003, com o argumentista Jimmy Palmiotti - que, em Dilúvio Mortal, reincide num desígnio visionário de sobrevivência da raça humana, graças à colonização planetária. Só que, para além do elã geracional e científico, simbolizado na jovem Lauren Moore, a bordo da nave CloudBurst, evolui uma missão expansionista, de extermínio, e o único homem capaz de suster a tragédia pode, afinal, não passar de um mito libertário...

MEMÓRiA

1478-6JUL1535 - Thomas More: «Um homem tal que, em muitos séculos, o sol não viu outro mais leal, mais franco, mais devoto, mais sábio» (Desiderius Erasmus).

1885 - É editado Dr. Jekyll and Mr. Hyde/O Médico e o Monstro de Robert Louis Stevenson.

23MAI1905 - Num antigo picadeiro, em Lisboa, a Rainha D. Amélia de Orléans inaugura o Museu dos Coches-Reaes, fundado por sua iniciativa e actual Museu Nacional dos Coches, que guarda uma das melhores colecções do Mundo de coches, berlindas e carruagens dos Séculos XVII a XIX.

1945 – No Porto, é criado o Clube Português de Cinematografia, aliás Cineclube do Porto, sendo Director Hipólito Duarte.

01JUL2004 – Kafre publica o IMAGINÁRiO1, ainda apenas em versão newsletter.

 CALENDÁRiO

1913-20MAI2005 - Paul Ricoeur: «Há verdade noutro lugar que não em nós próprios».

1919-31MAI2005 - Eduardo Teixeira Coelho: «Pessoalmente, não me considero um artista, e sim - apenas - um operário que fabrica histórias aos quadradinhos» IMAGINÁRiO28.

01JUN2005 - Em Seide, Famalicão, é inaugurado o Centro de Estudos da Casa-Museu de Camilo Castelo Branco, com projecto do arquitecto Siza Vieira; a par com o 2º Congresso Internacional de Estudos Camilianos IMAGINÁRiO27.

03JUN2005 - Manoel de Oliveira é distinguido como Comendador da Legião de Honra pela República Francesa.

TRAJECTÓRiA

THOMAS MORE
E O ROSTO DA HISTÓRIA

 

Thomas More nasceu em Londres, a 7 de Fevereiro de 1478, filho do juiz Sir John More. Aluno da St. Anthony School e da Oxford University, em Literaturas latina e grega, escreveu várias comédias. Em 1494, estudou Direito em New Inn, entrando em 1496 para a sociedade de advogados Lincoln’s Inn em Londres. Em 1499, tornou-se amigo de Desiderius Erasmus, de visita a Inglaterra. Em 1501, estreou-se na barra dos tribunais. Paralelamente, aprimorou uma vivência espiritual, tendo aspirado à condição monástica. Em 1504, foi eleito para o Parlamento. Em 1505, casou-se com Jane Colte, falecida seis anos depois e de quem teve quatro filhos. Logo, contraiu matrimónio com Dame Alice Middleton. Em 1510, iniciou em Londres uma conceituada carreira como juiz. Por essa altura, foi publicada a sua tradução do latim da Biografia de Pico della Mirandola. Entretanto, dedicou-se à literatura e à filosofia. Em 1516, publicou Utopia em latim, com tradução em língua inglesa, já prestigiada obra-prima, em 1551. Entrando como secretário pessoal ao serviço de Henry VIII, durante dez anos o monarca confiou-lhe diversas tarefas administrativas e diplomáticas. Em 1529-32, exerceu o cargo de Chanceler, tendo resignado quando Henry VIII e Cromwell manipularam o Parlamento, de modo a retirar à Igreja a liberdade legalmente consagrada, desde a Magna Carta. Em 1533, recusou-se a assistir à coroação de Anne Boleyn. Encarcerado na Torre de Londres em 1534, More rejeitou o apelo de familiares e amigos, para prestar um juramento formal, reconhecendo Henry VIII como Chefe Supremo da Igreja em Inglaterra. Ao longo de quinze meses, escreveu vários testemunhos apologéticos, como The Sadness of Christ. Condenado por alta traição e decapitado a 6 de Julho de 1535, já Sir Thomas More era reconhecido, em toda a Europa, como humanista e homem de leis, além de excepcional erudito. Em 1886, foi beatificado e, em 1935, canonizado como mártir da fé católica. Utopia corresponde a um dos mais notáveis diálogos socráticos de todos os tempos.

DOCUMENTÁRiO

 PRÍNCIPE VALENTE
NO TEMPO DO REI ARTUR

 Na Inglaterra medieval, entre a lenda e a História, um jovem Príncipe combate pelo ideal do Rei Artur, simbolizado em Camelot. Chama-se Valente, e será armado Cavaleiro da Távola Redonda...

 Enquadramento épico: perseguido por inexoráveis inimigos, o Rei de Thule é forçado a refugiar-se, em companhia da mulher e do jovem Príncipe Valente, na costa da Bretanha, acabando por lograr exílio numa ilha longínqua, no meio dos pântanos. Mais tarde, a rogo e sedução da esbelta Ilene, o adolescente Val liberta-lhe o pai, Thane o Senhor de Branwyn, dum sinistro usurpador, estando ferido o valoroso Sir Gawain de Orkney; e salvaguarda este das manhas e enleios da feiticeira Morgana La Fey, aliado ao honorável sábio Merlin, mago e conselheiro do Rei Artur. Já escudeiro de Gawain, Val resgata a bela filha de Ord, sagrando amizade com o Príncipe Arn, que lhe oferece a Espada Cantante; trava depois um implacável confronto com os predadores viquingues, que assolam a costa ao mando de Thagnar. Audacioso, enfrenta Tristain, no Parque dos Campeões; reencontra o progenitor, e envolve-se em sangrenta batalha contra os invasores saxónicos, no termo da qual Val é armado, por Artur, Cavaleiro da Távola Redonda... Obra-prima da banda desenhada norte-americana, Príncipe Valente No Tempo do Rei Artur é o testemunho de Harold Randolph Foster (1892-1982) - um talento completo (argumento e grafismo) explorado em pranchas dominicais até 1971, quando confiou a ilustração a John Cullen Murphy. Em 1954, Príncipe Valente - da King Features - chegou ao cinema, numa realização por Henry Hathaway, da qual foi protagonista Robert Wagner. Já em 1993, surgiu a série de animação A Lenda do Príncipe Valente sob chancela de Bruno René Huchez/Hearst. Em 1995, Prince Valiant voltou em quadradinhos da Marvel, por Charles Vess & John Ridgway. Já em 1997, Anthony Hickox dirigiu Stephen Moyer como O Príncipe Valente, para Constantin Film. Revitalizando o fascínio duma época de bravura e idealismo, em que bastava um coração puro para enfrentar todas as adversidades.

BREVIÁRiO

Livros de Papel edita Príncipe Valente (1943-44) de Harold R. Foster; coordenação de Manuel Caldas.

Sete Caminhos edita Parque Mayer - 1922/1952 de Jorge Trigo e Luciano Reis.

Mensagem edita José de Castro - Fotobiografia de Fernando Dacosta.

Warner edita em DVD a Martin Scorsese Colecção, incluindo Quem Bate à Minha Porta? (1968), Alice Já Não Mora Aqui (1974), Nova Iorque Fora de Horas (1985) e Tudo Bons Rapazes (1990); também realizados por Scorsese, LNK edita em DVD, Uma Mulher da Rua (1972), seguindo-se Nova Iorque, Nova Iorque (1977).

Caminho edita No Antigamente, Na Vida de José Luandino Vieira.

Teorema edita As Origens do Mal - Uma História do Pecado Original de Georges Minois.

Sony/BMG lança Devils & Dust de Bruce Springsteen, sobre «histórias individuais de pessoas em luta contra os seus demónios»; inclui DVD alusivo.

Publicações Dom Quixote edita Palavra Mágica de Rui Zink.

ANTIQUÁRiO

 ¨1515 - Em Inglaterra, Thomas More escreve Utopia - cujo narrador, Raphael Hythloday, descreve a realidade ideal, em perspectiva crítica sobre a sociedade imperfeita numa Europa contemporânea.


IMAGINÁRiO40
24 JUN 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

 ETERNA JUVENTUDE

 

Em 1961, François Truffaut escolheu Jeanne Moreau para interpretar Jules e Jim, porque ela tinha «um sorriso como o do nosso melhor amigo, quando, pela primeira vez, nos apaixonamos por uma mulher». Especulando a ambiguidade de uma relação a três, quanto à musa intrusa entre dois homens inseparáveis, Truffaut inspirou-se em romance de Henri-Pierre Roché, para celebrar uma das obras-primas da nouvelle vague, de que são co-protagonistas Oscar Werner e Henri Serre. Assim persiste o sortilégio de uma eterna juventude, frívola, premonitória, fascinante, precária, em que se cumplicia o mistério da existência - porquanto, segundo Moreau, «estamos sós, no nascimento e na morte».

REPOSITÓRiO

DEMOLIDOR & ELEKTRA
- PROTAGONISTAS ANTAGONISTAS

 

Exposto a isótopo radioactivo, ao salvar um invisual prestes a ser atropelado, o estudante Matthew Murdock ficou cego mas desenvolveria as demais faculdades sensoriais - olfacto, audição, tacto, paladar - além de extraordinárias capacidades atléticas, que lhe permitem voar entre os arranha-céus, com um bastão de multi-usos, como arpão. O pai era um antigo pugilista assassinado e, para vingá-lo, nasceu o assombroso Daredevil. Uma missão que se estenderá a outras causas, sendo Murdock um prestigiado acusador do Departamento de Justiça em Nova Iorque. Assim brotou a fama de Demolidor, aliás o Homem Sem Medo. A gestação de Daredevil remonta a 1964, na Marvel, pelo talento de Stan Lee (argumento) & Bill Everett (ilustração). Wallace Wood, Jack Kirby, Steve Dikto, Gil Kane, Joe Orlando, Frank Giacoia, Alan Weiss e Barry Smith estão entre os artistas que o definiram, graficamente. Gene Colan transcendeu essa estilização, sucedendo-lhe Don Heck e muitos mais. Quanto aos autores, sobressaem Roy Thomas e Gerry Conway. Porém, a transformação radical, e tão dramática, ocorreu com Frank Miller - que favoreceu uma afeição adversa de Murdock, através do seu alte-ego atormentado, com Elektra... Mais um lance do Universo Ultimate Marvel, sob chancela das Edições Asa, Demolidor & Elektra - por Greg Rucka & Salvador Larroca - transfigura a bela e misteriosa ninja aos desafios do Século XXI, ante o fascínio complexo de Murdock/Daredevil. Virtuais prenúncios duma saga trágica, insolidária! LIMAGINÁRiO27

MEMÓRiA

05MAI1835 - Por decreto, é criado o Conservatório Nacional, sendo primeiro Director João Domingos Bomtempo, que se manteve no cargo até à morte, em 1842.

27JUN1885-1950 - Guilhermina Suggia: «Nunca me contaminei com o mal da inveja ou da vaidade. Mas confesso que sinto orgulho em mim».

1733-30JUN1805 - Pina Manique: Intendente-Geral da Polícia, fundador da Casa Pia de Lisboa.

1965 - Na revista Linus, surge Valentina de Guido Crepax.

1940-30JUN1995 - Jorge Peixinho: «O partir de uma garrafa pode ser o exemplo de um corpo sonoro legítimo no acto da criação».

CALENDÁRiO

11MAI2005 – Radiotelevisão Portuguesa e Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia celebram um Protocolo de Apoio ao Cinema Português, mediante o qual a RTP atribui ao ICAM 1,5 milhões de Euros anuais, ficando com direitos de emissão dos filmes contemplados também para os canais internacionais.

13MAI2005 – A escritora brasileira Lygia Fagundes Telles é distinguida com o Prémio Camões.

15MAI2005 - O Presidente da República, Jorge Sampaio, impõe as insígnias da Ordem da Liberdade ao Centro Nacional de Cultura/CNC, fundado a 13 de Maio de 1945.

18MAI2005 - Em Cascais, é aberta ao público a Casa de Santa Maria, como espaço de memória consagrado à vida e à obra de Raul Lino (1879-1974) e a outros arquitectos seus contemporâneos; e inaugurada a exposição Raul Lino em Cascais, patente até ao final do ano.

19MAI2005 - Castello Lopes estreia Star Wars - Episódio III - A Vingança dos Sith de George Lucas; com Ewan MacGregor e Hayden Christensen IMAGINÁRiO12.

TRAJECTÓRiA

GUILHERMINA SUGGIA
- A MÚSICA ETERNA

 

Guilhermina Suggia nasceu no Porto, em 27 de Junho de 1885, numa família da classe alta. O pai, Augusto Suggia, professor de violoncelo, foi o seu primeiro mestre, a partir dos cinco anos. Aos sete, Guilhermina - que possuía um espírito alegre, algo rebelde, e apreciava a música em geral - deu o seu primeiro concerto como violoncelista. Aos doze anos, tornou-se a principal executante no Orpheon Portuense, actuando em 1901 com o Quarteto de Bernardo Moreira de Sá, e no Conservatório de Lisboa. Em 1902, com o patrocínio da Rainha D. Amélia, foi estudar para o Conservatório de Leipzig com Julius Klengel, graduando-se aos dezoito anos. Ali, foi solista da Gewandhaus Orchestra, e reencontrou Pablo Casals - que conhecera no Porto, em 1898, e com quem estudou, actuou e teve uma intensa relação, vivendo em Paris, em 1906-12. Em 1914, fixou residência em Londres, onde passou a ensinar e dar concertos - designadamente, em Queen’s Hall e com a BBC Symphony Orchestra. Em 1927, casou com o editor parisiense Leon Pinchon, interrompendo a sua carreira. Em meados da década de ’40, Suggia - que possuía violoncelos Stradivarius e Montagnana - retirou-se para Portugal, fazendo uma última apresentação no Festival de Edimburgo de 1949 e falecendo no ano seguinte. Em Inglaterra, o Prémio Suggia é um dos mais prestigiados, contemplando jovens violoncelistas.

OBSERVATÓRiO

OS SUPER-HERÓIS

Ciclicamente, o Mundo está em crise, quando algum génio mais perverso ambiciona o domínio absoluto, pondo em risco a própria sobrevivência da Humanidade. Felizmente, há Os Super-Heróis - sempre dispostos a assumirem os maiores desafios, a enfrentarem as piores ameaças. Porém, o Governo americano submeteu os paladinos mascarados, após uma série de processos judiciais movidos por cidadãos comuns, a uma existência incógnita, entediante. Assim vivem os Parr, como qualquer família vulgar, inibindo os seus extraordinários poderes - Mr. Incredible possui força sobre-humana, ElasticGirl tem o dom da flexibilidade, a filha Violet torna-se invisível, o filho Dash é rapidíssimo... Até que o malvado Syndrome faz reactivar The Incredibles - sob direcção de Brad Bird, em DVD com chancela Lusomundo - atraídos a uma ilha remota em missão secreta, plena de proezas e prodígios, sob o signo da animação estilizada, trepidante, que culmina uma aliança de sucesso entre a Disney e a Pixar. Uma alegoria sobre os dilemas sociais da normalidade e da diferença, em aventura irresistível com inspiração original nas sagas dos quadradinhos.

BREVIÁRiO

Costa do Castelo edita em DVD, Jules e Jim (1961) de François Truffaut.

Dutton reedita Guilhermina Suggia, tocando obras de Haydn, Bruch, Lalo e Smmartini.

DOCUMENTÁRiO

VALENTINA

 

Jovem repórter e fotógrafa de moda, Valentina Rosseli apareceu, secundária, na revista Linus de 1965, em La Curva di Lesme, sendo protagonista o companheiro Neutron - um justiceiro com poderes supranormais e electrónicos - com a identidade secreta de Philip Rembrandt, prestigiado crítico de arte. Conheceram-se durante uma estada em Milão, onde ele apreciava os primitivos italianos. Esta matriz sofisticada e cultural recorda - aliás - a sua época de gestação (entre os Beatles e Umberto Eco) e os estímulos do criador Guido Crepax (1933-2003, arquitecto e ilustrador). Dez anos depois, com Proposito de Valentina, é a maturidade e a glória, no universo dos quadradinhos.
Segundo os fanáticos, Valentina - fisionomicamente inspirada na actriz Louise Brooks - representa o ideal feminino, que culmina uma humanidade imperfeita. Porventura motivada por Barbarella, suplantaria outras sensuais ou fantásticas heroinas, de Jodelle a Phoebe Zeit-Geist. E, embora Crepax reconhecesse que, «no fundo, as mulheres atemorizam-me», sagrá-la-ia em oníricas aventuras eróticas, com o parceiro dilecto, e por outras desinibidas ligações sexuais - ao cineasta hippie Arno Treves, sendo Rembrandt um liberal ou, após o desaparecimento deste, à órfã Effi, pela pulsão dramática além da componente lésbica, pois os pais de ambas faleceram de acidente. Reclamando contra a atracção de certo público por estes «falsos artifícios depravados», a verdade é que tal componente sobressai, estética e estilística, em distintas figuras de fascinação que Crepax recriou - como Belinda, Bianca e Anita, ou numa singular interpretação de L´Histoire d’O por Pauline Réage. Melhor se explicará, recordando que o artista reivindicava a influência «dos iluministas, os intelectuais da Revolução Francesa. E mesmo Sade». Ele próprio autor de animação, assim viu Valentina exibida em Freud a Fumetti (1970) - curta metragem dirigida por Corrado Farina, um cineasta publicitário formado no seu culto. Em 1973, Farina reincidiu com história longa, em imagem real: Baba Yaga, the Devil Witch - de que também escreveu o argumento, sendo Valentina interpretada por Isabelle de Funés. E a modelo Demetra Hampton protagonizou Valentina (1988-89) - uma série televisiva, concebida por Gianfranco Manfredi,  para realização de Giancarlo Giani & Gian Domenico Curi. Sempre, Valentina - um misto de sensualidade, coragem e inteligência.

ANTIQUÁRiO

1935 - Tendo um orçamento estimado em 600.000 dólares, Chapéu Alto de Mark Sandrich - uma das grandes comédias musicais de Hollywood, com Ginger Rogers e Fred Astaire - renderá mais de três milhões em todo o Mundo.


IMAGINÁRiO39
16 JUN 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

 A MEMÓRIA DO MUNDO

Maria Helena Vieira da Silva (1908-92) - uma mulher que atravessou o tempo e ainda vive, treze anos volvidos após a sua morte, na pintura que deixou e no que outros continuam a dizer sobre ela - eis o motivo de um documentário realizado por Alexandre Reina para BeBop, com outras perspectiva e prospectiva quanto à abordagem de José Álvaro Morais em Ma Femme Chamada Bicho (1976). Em Vieira da Silva - A Memória do Mundo, Alexandre Reina privilegiou «o seu carácter, a sua presença, a sua postura». A mulher por detrás da obra. Em foco, um universo inesgotável, uma existência fascinante - partilhada com o marido e companheiro de artes Arpad Szenes. Em causa, o país onde nasceu - Portugal, tendo escolhido mudar-se para Paris, após dezoito anos em Lisboa. Reflexos da estadia no Brasil. Raízes profundas, olhares sentidos, estigmas estéticos. O testemunho dos amigos, a opinião dos críticos.

REPOSITÓRiO

SPIDER-MAN
- VOOS DUM LANÇA-TEIAS

 

Quem é capaz de imaginar uma saga de culto e que, em permanente popularidade, renasce mês a mês, através de uma acção empolgante, ao longo de quarenta anos? Enfim, os responsáveis e os leitores vinculados ao Marvel Universe estão habituados ao fenómeno. E, embora os fanáticos rejubilem com os vigilantes poderosos, de carácter complexo, expostos a uma aventura ininterrupta, as gerações mais jovens têm, por vezes, dificuldade em entendê-los e admirá-los. Por isso, os Marvel Comics vêm desenvolvendo - no âmbito da House of Ideas - uma nova vaga de publicações, em que os heróis primordiais se envolvem em proezas iniciáticas. Assim, Ultimate regressa ao princípio das várias linhagens épicas, preservando porém o carácter de cada um dos seus protagonistas. Um dos implicados nesta re-criação, Brian Michael Bendi comenta a propósito de Ultimate Homem-Aranha: «Temos em atenção que foi mordido por uma aranha radioactiva, mas aparece agora com um aspecto mais atlético. É o arquétipo de Peter Parker, um adolescente comum, inteligente e prático!». Entretanto, o trepa-paredes continua a lançar a teia noutras edições sob chancela Devir, reclamando os mais talentosos argumentistas e ilustradores - logo quanto à revista titular Homem-Aranha, num apelo à imaginação e ao talento para recriarem as máscaras de um paladino vulnerável aos desafios da selva urbana. Noutra vertente, O Pulsar da Cidade - por Brian Michael Bendis, Mark Bagley & Scott Hanna - reporta as proezas do Homem-Aranha e outros parceiros corporativos, sob a perspectiva radical de Jessica Jones, uma jornalista do Clarim Diário especializada em bizarros justiceiros...

MEMÓRiA

1800-18JUN1875 - António Feliciano de Castilho: «Os penetrais mais sagrados do ânimo, donde se conversa em êxtases com Deus e com a Natureza, com o pai omnipotente…»

21JUN1885-1952 - Manuel Luís Vieira: «O meu objectivo é tornar o cinema, como indústria e como arte, acessível a todos».

21JUN1905-1980 - Jean-Paul Sartre: «Tudo o que tiver acontecido no passado encontrará o seu espaço e o seu verdadeiro sentido».

CALENDÁRiO

1924-22ABR2005 - Eduardo Paolozzi: Em 1986, foi declarado «Her Majesty’s Sculptor in Ordinary for Scotland» pela Rainha Isabel II.

1917-26ABR2005 - Augusto Roa Bastos: «Quero nas palavras que escreves algo que me pertença».

1926-26ABR2005 - Maria Schell: «A morte pode ter sido a salvação para ela. Não para mim» (Maximilian Schell).

MAR-31JUL2005 - Galeria de Exposições Temporárias do Museu Gulbenkian exibe Espelhos do Paraíso: Tapeles do Mundo Islâmico, sendo corservadora Maria Fernanda Passos Leite.

03JUN2005 – No antigo edifício da Guarda Fiscal, é inaugurado o Museu do Cinema de Melgaço, sendo fundador e director Jean-Loup Passek.

23JUN2005 - Columbia & Warner estreia Batman - O Início; com Christian Bale LIMAGINÁRiO2.

15JUL2005 - Termina o prazo para apresentação de candidaturas ao Prémio de Composição Óscar da Silva e ao Prémio de Estudos Musicais Manuel Dias da Fonseca, iniciativas da Câmara Municipal de Matosinhos; regulamentos patentes em www.cm-matosinhos.pt

ANTIQUÁRiO

HIS MASTER’S VOICE
- PUBLICIDADE & ANIMAÇÃO

 

Uma das facetas menos conhecidas e mais aliciantes, nos primórdios do cinema português, concerne às invenções: o modo como o engenho e a argúcia, o talento ou a necessidade levaram a que se concebessem, nalguns casos a que se fabricassem mesmo, novos aparelhos e processos que habilitariam, ou dessem expressão, aos apaixonados pela realização fílmica. Num país onde um tal projecto teve, sempre, precárias possibilidades de concretização, conhecem-se vários esforços originais, para tentar levá-lo por diante, parte dos quais não passaram de teoria, virtualmente exposta em papel, outros chegando porém à construção ou adaptação técnica. Naturalmente, todos são hoje relevantes, segundo uma perspectiva arqueológica. Uma das áreas mais enfatizadas pelas referências de época, no entanto imprecisas ou especulativas, exigindo toda a precaução do investigador ao interpretá-las, respeita ao desenho animado - suscitando inúmeras dúvidas, até para o mero estabelecimento duma cronologia coerente, sobre as manifestações que se presumem logradas. De qualquer forma, e ao longo dos tempos, muito foi possível recuar nessa volúvel inventariação - o que é um progresso significativo, sob uma óptica da história. Assim, logo em 1920 se teria feito, entre nós, «o primeiro filme publicitário internacional», através da animação.

Tratar-se-ia de uma curta metragem produzida por Nunes & Quintão, sobre o cãozinho da His Master’s Voice. Numa entrevista ao semanário Independente, em Novembro de 1988, Luís Nunes creditou tal experiência, reforçando que tinha então treze anos, e ela fora impressionada pelo operador Manuel Luís Vieira. Destinada aos cinemas de Lisboa, renderia uma «vultuosa quantia» a Nunes, que a vendeu em Inglaterra e «acabei por perder o quinto ano do liceu. Fui para a China, fui para a Rússia, para toda a parte. Enquanto durou o dinheiro, nunca mais voltei a Portugal». Além de se desconhecer qualquer existência de His Master’s Voice, é no contraste de datas que pode reputar-se mais tarde a respectiva circunscrição. Embora fotógrafo de profissão, nascido no Funchal em 1885, as primeiras informações seguras sobre a actividade de Manuel Luís Vieira, na animatografia, remontam a 1922, tendo fundado a Madeira Filme e em 1925, sempre na Madeira, a Empresa Cinegráfica Atlântida. Só em 1928 viria a radicar-se no Continente e, sendo assim, apenas uma deslocação, ou incumbência esporádica, daria viabilidade ao testemunho em causa. Eis uma hipótese cuja admissibilidade continua, no entanto, em aberto…

VISTORiA

 

Tem a solidão isto de comum com o silêncio e a escuridade: o pleito de existências imprevistas e apropriadas. Que admira? A solidão medita, e a meditação cria. Os sentidos pastam só no que lhes oferecem a natureza, a fortuna, o acaso: a divindade interior, a alma, tem comércios inefáveis com o íntimo e ignorado. São João, entre os nevoeiros de Patmos, divisa uma Jerusalém celeste; nas cogitações de Sócrates, aparece o Omnipotente; nos êxtases de Platão, reflexos da Trindade; nos cálculos taciturnos de Galileu, firma-se o céu, volteiam os planetas; Colombo faz surgir do fundo dos mares a América; Leverrier, mais globos no espaço; Fulton, o hipógrafo, Pégaso do vapor, magia, poesia, potência escrava do Homem e dominadora, primeiro dos oceanos, depois dos continentes e amanhã, talvez, dos ares; a solidão cismadora dá a Eneida a Virgílio, mostra a Lineu os amores e o sono das plantas, a Dante o Inferno, a Fourier o paraíso terrestre, a Newton e a Laplace o código dos astros, a Daguerre os talentos artísticos do Sol, ao Gama o caminho do Oriente, ao soldado Camões o da imortalidade, põe na mão de Gutembergue a chave do cofre das ciências, na de Vicente de Paula a da caridade, na de Say a da riqueza pública, na de Pestalozzi e Froebel a da escola séria e fecunda.
António Feliciano de Castilho - A Chave do Enigma

Que poderíamos nós acrescentar depois do que acaba de ler-se escrito por Castilho? Absolutamente nada. Aí têm o recitadores um guia seguro para os dirigir no tocante a velocidade ou andamento da voz.
A posição do recitador não é coisa indiferente para o bom efeito da recitação.
Deve ela ser o mais natural possível. O recitador deve estar de pé, deve apoiar levemente a mão esquerda sobre as costas de uma cadeira, sobre uma mesa ou sobre uma secretária, - isto para que o braço esquerdo não fique caído desgraciosamente ao longo do corpo, quando não tiver de accionar.
Se é pouco natural e pouco agradável que o recitador se conserve firme e estático no mesmo lugar, não o é menos o mudar a cada instante de lugar, com uma inquietação e desassossego, que nenhuma razão justifica nem autoriza.
Quanto à gesticulação e ao accionado, têm (verdade é) na recitação mais latitude que na leitura em voz alta. Mas note o recitador que uma sala não é um teatro, e que mesmo aí o recitador cairá em merecida censura, se ultrapassar os limites da naturalidade; este deve ser o seu guia em tudo e para tudo.
David Corazzi - Leitura e Recitação (1885)

BREVIÁRiO

Frenesi edita As Prisões da Junqueira de D. João de Almeida Portugal; com primeira edição em 1857, ocorreram «durante o Ministério do Marquês de Pombal escritas ali mesmo pelo Marquês de Alorna, uma das suas vítimas».

 EXTRAORDINÁRiO

O INFANTE PORTUGAL
- Folhetim aperiódico -

 - Capítulo Um -

CONTRA AS FORÇAS DO DEMO - 3

 Então, seguindo um aprimorado sexto sentido pessoal, o telemóvel Magma, último modelo, estremeceu em toque silencioso. Com um gesto brando, Rui Ruivo ligou o sofisticado sistema para registo de comunicações, e atendeu com voz circunstancial. Do outro lado, ninguém correspondeu à sua saudação expectante. Porém, ouviam-se de lá estranhos ruídos, como se compenetrassem uma tempestade magnética.
á com todo o prodigioso arsenal de percepções suspeitosas em tensão, Rui Ruivo insistiu, colocando um tom neutro de voz:
– Está... Pode repetir quem fala?
- Continua -


IMAGINÁRiO38
08 JUN 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

REINOS MÁGICOS

 

Irresistíveis, perigosas, as actuais heroinas dos quadradinhos norte-americanos causam mais estragos, entre os antagonistas e os leitores, do que qualquer justiceiro que se preze dos seus superpoderes. De facto, além da acção, elas são mestras na sedução - como sugestivamente Aria testemunha n’Os Rituais de Encantamento - provinda do Avalon Studio, sob chancela Image Comics, e relançada pela Devir, após A Magia de Aria e O Mercado das Almas. Tudo acontece quando Lady Kildare, princesa das fadas, está exilada na cidade de Nova Iorque, um mundo mais fabuloso e mais surpreendente do que os seus domínios originais, que deixou há novecentos anos. Entretanto, recebe um estranho convite para visitar um Reino Encantado, algures nas montanhas Catskills... Concebida pelo veterano Brian Holguin (lembrar Spawn: Dark Ages), no seio das Heavenly Creatures (com Brian Haberlin), esta jornada extraordinária assinala a sensual alquimia lograda pela ilustração de Lan Medina (Fables). Além de evidenciar o estilo e a subtileza de uma expressão notável, em etérea fusão gráfica e plástica, Aria desvenda, ainda, uma singular feição evolutiva entre artesanato e tecnologia, transfigurando o oculto e o real. Eis «um universo no qual o perigo e o prodígio podem ser encontrados a qualquer momento, se os soubermos procurar...»

REPOSITÓRiO

FRITZ LANG
E O FASCÍNIO ORIENTAL

 

Consagradas pela vibrante qualidade artística, pelo intemporal fascínio que suscitam no público, muitas obras-primas do cinema persistem nas virtualidades dos clássicos e na memória, crítica ou nostálgica, das páginas de história da sétima arte. Eis o fenómeno de O Túmulo Índio e O Tigre de Eschnapur (1959), um díptico dirigido por Fritz Lang - com base em novela de Richard Eichberg, transposta por Thea Von Harbow nos distantes anos ‘20. A rodagem decorreu na Alemanha Federal, em 1958-59, sendo os exteriores filmados na Índia. Eichberg tinha concretizado a sua própria versão em 1937, havendo outra de Joe May (1921) ainda no período mudo. Radicado nos Estados Unidos há mais de vinte e cinco anos, Lang regressou ao país natal, a convite de Artur Brauner, para uma super-produção afinal estimada em quatro milhões de marcos. Sagrando um longo e esplendoroso fresco, em que o celebrado realizador submeteu o estilo pessoal à magia do espectáculo, a opção de um formato em duas jornadas foi suscitada por motivos de distribuição comercial. Em causa está Harald Berger, arquitecto germânico, convidado a reformular a urbanização da capital indiana. Durante a viagem, conhece Seetha, uma escultural bailarina, a quem resgata das garras de um tigre. Apaixonam-se, despertando os ciúmes de Chandra, o Marajá de Eschnapur, que manda os seus soldados persegui-los. Os amantes escapam, graças ao apoio de populares, porém Chandra coloca as suas cabeças a prémio. Logrando capturar Seetha nas montanhas, Berger em luta é dado como morto... O fulgor épico, a pulsão erótica, o contraste de costumes, o exotismo de ritos e paisagens, a sensualidade e o romantismo, os dilemas sentimentais e os conflitos de poder avassalam o destino humano, num imaginário deslumbrante.

BREVIÁRiO

Cinemateca Portuguesa edita Kenji Mizoguchi, em As Folhas da Cinemateca.

Prisvídeo edita em DVD, O Tigre de Eschnapur e O Túmulo Índio (1959) de Fritz Lang.

Caminho edita Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido de José Saramago; tradução de Mário Vieira de Carvalho.

Columbia TriStar lança em DVD, Tudo Isto É Fado (2004) de Luís Galvão Teles  (IMAGINÁRiO34).

Publicações Dom Quixote edita Dom Quixote de la Mancha de Miguel Cervantes, com ilustrações de Salvador Dali, tradução e notas de Miguel Serras Pereira; e O Meu Primeiro Dom Quixote, traduzido por Alice Vieira e ilustrado por Mingote.

¨Teorema edita Uma História do Corpo na Idade Média de Jacques Le Goff & Nicholas Truong; tradução de Telma Costa.

¨Relógio D’Água edita Fascinação seguido de A Dama Pé-de-Cabra de Hélia Correia e Alexandre Herculano.

TRAJECTÓRIA

INÊS DE CASTRO
- MÍSERA E MESQUINHA

 

Bisneta de D. Sancho IV de Espanha, e filha bastarda de Pedro Fernández de Castro, nascida em 1320, Inês Pires de Castro fazia parte do séquito como aia de D. Constança de Castela, quando esta veio para Portugal, em 1336, a fim de contrair matrimónio com o Infante D. Pedro, filho de D. Afonso IV. El-Rei nunca aceitou que o herdeiro ao trono se apaixonasse pela dama galega, e com ela mantivesse relações amorosas, das quais nasceram três filhos. Após a morte inesperada de Constança em 1349, e um provável casamento secreto com Pedro, a nobreza lusitana, inquietando-se com a influência que Inês e os irmãos exerceriam sobre a política do reino, podendo suscitar um envolvimento na guerra civil de Castela, em 1354, convenceu o monarca ao seu assassinato em Coimbra, no ano de 1355, degolada por Álvaro Gonçalves, Pero Coelho e Diogo Lopes Pacheco. Então, Pedro pegou em armas contra o pai, cercando o Porto, mas a intervenção do Bispo de Braga apaziguou tal desavença. Falecido Afonso IV em 1357, Pedro assumiu a governação, levando a cabo uma trágica vingança. Do rei D. Pedro de Castela, logrou que lhe fossem entregues dois matadores, a quem executou, tendo o terceiro escapado para Aragão e França. No Mosteiro de Alcobaça, D. Pedro I forçou os cortesãos a beijarem a mão de Inês, cujo cadáver coroado fez sentar no trono, em 1361.

ANTIQUÁRiO

1375 - Atribuído a um iluminista judeu de Maiorca, é executado o Atlas Catalão onde, pela primeira vez, se assinala a localização do Paraíso Terrestre. Trata-se de um vale mítico, situado entre duas montanhas que um pássaro sobrevoa, segurando no bico um pedaço de carne cravejado de pedras, enquanto a foz de um rio fervilha com serpentes, guardiãs do seu leito. Em primeiro plano, duas figuras humanas cortam carne: «Estes homens foram buscar diamantes mas, como não conseguem chegar às montanhas onde eles estão, atiram com presteza  pedaços de carne. As pedras agarradas à carne acabam por escapar às aves, e então podem ser apanhadas. Assim viu Alexandre» - descreve o documento, actualmente na Biblioteca Nacional de França - Departamento de Manuscritos Ocidentais, em Paris.

VISTORiA

Estavas, linda Inês, posta em sossego,
Dos teus anos colhendo doce fruto,
Naquele engano da alma, ledo e cego,
Que a fortuna não deixa durar muito,
Nos saudosos campos do Mondego,
De teus formosos olhos nunca enxuto,
Aos montes ensinando e às ervinhas
O nome que no peito escrito tinhas.
Luís Vaz de Camões - Os Lusíadas - Canto III - Episódio Inês de Castro

MEMÓRiA

1320-1355 - Inês de Castro: «O caso triste, e digno da memória / Que do sepulcro os homens desenterra / Aconteceu da mísera e mesquinha / Que depois de ser morta foi Rainha» (Luís Vaz de Camões - Os Lusíadas).

13MAI1905-1994 - Joseph Cotten: «Na verdade, nunca me importei muito com os filmes. Era alto. Sabia falar. Nada mais fácil de fazer».

05MAR1925-1991 - Lindley Cintra: «O problema não está na ausência de bom material para ler, mas no pouco tempo que se dedica à leitura e na acessibilidade económica do livro em Portugal».

OBSERVATÓRiO

O CANDIDATO DA VERDADE

Em 1962, John Frankenheimer realizou O Candidato da Manchúria, apresentado como uma «corajosa denúncia dos sistemas de intimidação». Voltando ao romance original de Richard Condon, sobre a lavagem ao cérebro e os assassinatos políticos, em plena guerra fria, Jonathan Demme desvenda com O Candidato da Verdade - em DVD sob chancela Lusomundo - uma intriga conspirativa, alucinatória, expondo implicações tecnológicas e científicas, numa actualidade que, a nível internacional, se contrasta pelos perigos ou paradoxos da globalização, sempre à escala norte-americana. Reincidindo «no denso véu que envolve alguns dos mais inexplicáveis e dramáticos acontecimentos dos nossos dias», cuja referência transitou da Guerra da Coreia para a Guerra do Kweit, forjando a exploração de um falso herói que se converte em candidato à vice-presidência dos Estados Unidos, eis primordialmente em causa a manipulação suprema das instituições, sob os mais perversos ou pérfidos desígnios pessoais. Denzel Washington e Meryl Streep protagonizam esta trama intensa, avassaladora, que confronta os símbolos da democracia sob a impunidade absoluta.

CALENDÁRiO

1941-19ABR2005 - George Pan Cosmatos: «Fez filmes de todos os géneros em muitos países, e falava fluentemente seis línguas» (Sandra Brennan).

MAI-AGO2005 - Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa organiza a bienal LisboaPhoto 2005, sendo comissário Sérgio Mah.

06-30JUN2005 - Palacete dos Viscondes de Balsemão, no Porto, expõe Sanjoaninas - Angra 2001, fotografias de Lucia Vasconcelos; integrada no programa das Festas da Cidade 2005.

09JUN2005 - LNK estreia Sin City - A Cidade do Pecado de Robert Rodriguez, Frank Miller e Quentin Tarantino; com Bruce Willis e Mickey Rourke LIMAGINÁRiO24.

18JUN-16JUL2005 - Teatro Municipal de São Luiz apresenta A Casa de Bernarda Alba de Federico Garcia Lorca, em versão Teatro com encenação de Diogo Infante e Ana Luísa Guimarães, e em versão Dança pelo Lisboa Ballet Contemporâneo com coreografia de Benvindo Fonseca.


IMAGINÁRiO37
01 JUN 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

 AMAR A BOMBA

 

Equipados com ogivas nucleares, os gigantescos B-52 americanos invadem a espaço aéreo russo, para destruírem instalações militares nevrálgicas. Tudo, pela obsessão maníaca de Jack D. Ripper, um general de arrojos prussianos, que vê o comunismo como um malefício à própria manutenção do organismo humano. Afinal, o sistema soviético de contra-ofensiva disporia de uma arma infernal, capaz de provocar a impermanência à superfície terrestre, durante noventa e oito anos. Antigo servidor da depravação nazi, o cientista Dr. Strangelove augura, então, um eufórico regresso às estratégias do seu Führer... Transpondo uma novela de Peter George (Red Alert), Dr. Estranhoamor (1964), subtitulado Como Deixei de Me Preocupar e Passei a Amar a Bomba, é um clássico assombrador, sobre a hipótese de um afrontamento atómico entre as duas superpotências, EUA e URSS, quando a devastação está acessível a espíritos dementes. Sátira trágica, com implicações grotescas e psicóticas, tornou-se um marco na carreira de Peter Sellers, em três complexas personagens. Com argumento de George, Terry Southern e Stanley Kubrick, este assina uma sóbria realização, estigmatizada pelo sarcasmo crepuscular.

OBSERVATÓRiO

 

ASTÉRIX - 45 ANOS - As aventuras de Astérix, o Gaulês continuam em apresentação monumental sob chancela das Edições Asa, ao comemorarem-se os 45 anos dos heróis de Albert Uderzo & René Goscinny. Cada álbum é numerado e certificado com selo branco, registando-se entre os títulos mais recentes: Astérix o Gaulês (1961), A Foice de Ouro (1962), Astérix e os Godos (1963), Astérix Gladiador (1964), Astérix nos Jogos Olímpicos (1969), A Rosa e o Gládio (1991). Assinalando as origens, e como sempre, estamos numa aldeia da Gália, ainda não dominada pelos romanos, quanto ocorre o que os nativos tanto temiam, mas que até os fanáticos nunca esperavam...

CONSTANTINE - HELLBLAZER - De Londres a Los Angeles, numa jornada fantasmagórica, que estiliza a grotesca dimensão entre a realidade humana e o inferno urbano, John Constantine investe Todo o Seu Engenho - por Mike Carey & Leonardo Manco, sob chancela Devir - em missão inexorável, ilusiva, para resgatar a alma de uma menina, entre as vítimas avassaladas do mais insaciável monstro da abominação sangrenta e alucinatória... Já em 2005, o improvável (anti)herói, com o vício de fumar, concebido em 1985 por Alan Moore, transfere-se errático, precário, para grande ecrã como Constantine de Francis Lawrence, sob a aparência de Keanu Reeves.

MEMÓRiA

1905 - Após uma intensa actividade como ilustrador e caricaturista, Émile Cohl (1857-1938) entra nos estúdios da Gaumont (França), como argumentista e humorista; a partir de 1908, com Fantasmagorie, realizará uma longa série de fitas animadas (desenhos, bonecos, objectos), que o vão consagrar entre o público e a crítica.

1975 - Os restos mortais do escritor Ferreira de Castro (1898-1974) são trasladados para a Serra de Sintra.

1995 - A Academia de Hollywood atribui a Clint Eastwood o Prémio Irving Thalberg, «pelas suas produções de grande qualidade, e pela sua criatividade».

BREVIÁRiO

Columbia TriStar edita em DVD, Dr. EstranhoAmor (1964) de Stanley Kubrick.

Assírio & Alvim edita Imagens do Pensamento e Origem do Drama Trágico Alemão (1928) de Walter Benjamin; tradução de João Barrento.

Lusomundo lança em DVD, Tarzan (1999) de Chris Buck & Kevin Lima; Edição Especial de 2 discos.

Centro de Investigação para Tecnologias Interactivas/CITI da Universidade Nova de Lisboa desenvolve uma colecção de livros de banda desenhada em suporte CD-Rom; uma enciclopédia com 72 livros em 12 edições, sendo protagonistas um mocho e um papagaio.

Imprensa Nacional assume, associada ao Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa, um projecto de tradução e edição das Obras Completas de Aristóteles (384 aC-322 aC); direcção de António Pedro Mesquita.

Lusomundo edita em DVD, Kiss Me (2004) de António da Cunha Telles; com Marisa Cruz e Nicolau Breyner.

Fundação Mário Soares e Creatix editam Os Murais de Abril, em CD-Rom com o apoio do Jornal de Notícias.

REPOSITÓRiO

 O REI DOS MACACOS
NA SELVA ANIMADA

 Um fenómeno complexo, mas muito aliciante, envolve Tarzan (1999) de Chris Buck & Kevin Lima, a 37ª longa metragem de animação produzida sob a chancela Walt Disney. E tudo, ao irradiar uma personagem romanesca - concebida por Edgar Rice Burroughs - das mais populares num imaginário mítico e lendário. Talvez, mesmo, aquela que maior recriação artística ou lúdica suscitou, aos níveis iconográfico e realista, através de múltiplas vertentes - a literatura, a ilustração, os quadradinhos, a rádio, o teatro, o cinema ou a televisão.
Logo em grande ecrã, e numa perspectiva clássica, o Homem-Macaco tornar-se-ia indissociável de uma assunção, atlética e carismática, como a que lhe proporcionou Johnny Weissmüller, pelos anos ’30-40. Porém, o declínio das subsequentes transposições, com outros intérpretes e sob o signo de Hollywood, motivou, por parte dos herdeiros, uma cada vez mais restringida adaptação, no que foi ponderado como uma estratégia estabilizadora: «fechar o cofre» para uma revitalização do fascínio, e à espera de melhores dias para a inerente reactivação.

Poucas foram as transigências, com destaque para Tarzan, o Homem-Macaco (1981 - John Derek) - sobressaindo a exposição erótica de Jane, aliás Bo Derek; e Greystoke, a Lenda de Tarzan, o Rei da Selva (1984 - Hugh Hudson) - em que Christopher Lambert assume uma genuína inspiração, pelo contraste de civilizações. Aliás, a mesma opção foi tomada na banda desenhada - onde a exploração clássica de Harold R. Foster ou Burne Hogarth tem correpondência no fulgor de Mark Weathley (1992), Neven Anticevic (1999) ou Lee Weeks (2000).

À excepção de Tarzan permanecer em seus domínios, a visão animatográfica do Rei da Selva corresponde à versão de Greystoke. Até no porte físico, estilizado - com um recorte fisionómico no actor que lhe cedeu voz, Tony Goldwin. E não se trata de homenagem, pois os técnicos da Disney invocam uma coadunação fisiológica. Por outro lado, em termos romanescos, pretendeu-se consagrar uma referência mais nítida e profunda ao passado do Homem-Macaco - ou seja, para a produtora Bonnie Arnold, estava em causa um nome, uma personagem e uma história.

O resto foi o desafio duma reinvenção, vertiginosa e exaltante. A iconografia tradicional virtualizou-se à estampa de um herói moderno, ágil e juvenil - configurado para um novo milénio, sem atenuar o estímulo primitivo como humanimal. Assim ressalta um leque essencial de supervisores - Brian Pimental (ficção), Dan St Pierre (cenários), Doug Ball (fundos), Peter Demund (efeitos); e, sobretudo, Glen Keane - que configurou Tarzan dos simples esboços à animatrónica. Envolvendo 150 técnicos nos estúdios de Paris, para os chamados trabalhos de suporte.

Paralelamente, os directors intervinham logisticamente em Burbank. Aí, Eric Daniels coordenava o sofisticado processamento em CGI, sob qualitativos efeitos tridimensionais de textura, detalhe, luz e cor. Ao todo, o genérico regista a participação de umas 1.100 pessoas só na execução de Tarzan - espalhadas ainda por Los Angeles e Orlando, e comparando ou trocando labor, sistematicamente, por via satélite.

Tudo, para um espectáculo trepidante e deslumbrador - capaz de surpreender os fanáticos, pelo elã plástico, épico ou telúrico; e logrando cativar o público de todas as idades, fidelizado entre O Livro da Selva (1967 - Wolfgang Reitherman) e O Rei Leão (1994 - Roger Allers & Ron Minkoff). Eis uma expressiva (con)sagração de Tarzan - tal como era apresentado na revista The All-Story em 1912, ao transfigurar «o encontro dos fantasmas próprios do Século XX, com os mitos originários» da civilização.

ANTIQUÁRiO

07JUN1905 - Em Dresden, é assinado o Acordo Fundacional do Grupo de Artistas Die Brücke; constituído por Ernst Ludwig Kirchner, Fritz Bleyl, Erich Heckel e Karl Schmidt-Rottluff; considerado o primeiro movimento expressionista alemão, influenciado pela virtualidade filosófica de Friedrich Nietzsche, transformou-se pouco depois em Associação, incluindo membros activos e sócios passivos.

NOTICIÁRiO

 

O Estudante Hilário - A Lisboa, chegou de Coimbra, no comboio das onze horas da noite, para tomar parte num sarau promovido no Real Colyseu, pelo Atheneu Commercial, o aluno da Faculdade de Medicina, Augusto Hilário, acompanhado do colega Arthur Leitão. Recebido por mais de cem pessoas, o simpático guitarrista e alegre cantor deu um Viva a Portugal, exprimindo-se como homem, estudante universitário e boémio. Durante o espectáculo, provocou um entusiasmo por vezes delirante.
02JUN1895 - Diário de Notícias

CALENDÁRiO

18ABR2005 - Nos XII Caminhos do Cinema Português em Coimbra, António da Cunha Telles é distinguido com o Prémio Ardenter Imagine.

EXTRAORDINÁRiO

 O INFANTE PORTUGAL
Folhetim aperiódico

 Capítulo Um
CONTRA AS FORÇAS DO DEMO - 2

 No entanto, entre as contingências da sua identidade secreta e os compromissos de figura pública, Rui Ruivo debatia-se, intimamente, quanto à transcendência dos desafios da justiça - sondando o abismo social como advogado de sucesso, ou apenas contrafeito no hipnótico elã dum paladino paradoxal.

Sem horas para si mesmo, nessa dualidade, Rui Ruivo era pois um indivíduo complexo, incompleto, que arrostava a sua sombria expiação entre as luzes e as trevas. Quase sempre insone, ou então com pesadelos, os meios como causídico ou os termos de um clímax, enquanto Infante Portugal, significavam sempre, para ele, a horrível angústia em repouso do guerreiro…

Continua


IMAGINÁRiO36
24 MAI 2005 · Edição Kafre · kafre@mail.telepac.pt

PRONTUÁRiO

HERÓIS & HUMORES

 

Uma das vertentes mais sugestivas da sétima arte, o humor entrou em declínio no último quartel do século passado. Motivos principais, o abandono de comediantes que fizeram história; e o desvio para outros modos ou modelos de um filão consagrado. Entre tais contrastes e parâmetros, Javier Fesser reactivou Mortadela e Salamão - desde as origens nas histórias em quadradinhos, um fenómeno de popularidade e bizarria entre nuestros hermanos - em A Grande Aventura (2003), sendo protagonistas Benito Pocino e Pepe Viyuela. Tudo remonta a 1958, nas páginas de Pulgarcito, espalhando-se em milhares de peripécias duma sátira devastadora! Autor das histórias e dos desenhos, Francisco Ibañez conjuga uma ironia infantil à mais vetusta tradição. Ora, na vertigem de tão espectacular transposição para o grande ecrã, em imagem real, Ibañez contrapõe - sob chancela das Edições Asa - um regresso alucinante à estilização gráfica, explorando Mortadela e Salamão como Estrelas de Cinema! Enfim, a exaustão de assuntos e de géneros que aliciem o público levou os produtores, coitados, a assumirem uma fita trepidante e inspirada na espionagem, sendo intérpretes os próprios agentes da T.I.A., Mortadela e Salamão... O pior é que os sarilhos principiam logo na rodagem - uma série de circunstâncias irresistíveis, de situações hilariantes, tal como referencia www.mortadeloyfilemon.com

MEMÓRiA

1215?-1277 - Pedro Hispano, aliás João XXI: nascido em Lisboa, e 187º Papa (13SET1276-20MAI1277), «Pedro Julião é sobretudo o autor, admirador de Aristóteles e conhecedor de medicina e teologia, mestre das universidades de Paris e Siena» (Saul Gomes).

1750-27MAI1825 - Antonio Salieri: «Tudo o que ouvirdes, é a mais pura verdade».

14MAR1905-1983 - Raymond Aron: «Se a tolerância nasce da dúvida, que se ensine a duvidar dos modelos e das utopias, a recusar os profetas da salvação, os anunciadores de catástrofes».

01ABR1905-1950 - Emmanuel Mounier: «O cristão só pode abandonar o pobre, o socialista só pode abandonar o proletário, se traírem o seu próprio nome».

1873-26FEV1925 - Louis Feuillade: realizador de Les Vampires (1915), «usa maravilhosamente o fantástico de Méliès e o realismo de Lumière» (Alain Resnais).

1881-10ABR1955 - Pierre Teilhard de Chardin: «O maior sucesso que posso sonhar para a minha vida é ter espalhado uma nova visão do Mundo».

CALENDÁRiO

2005 - Numa escolha das 50 maiores estrelas de cinema, em órbita de Hollywood e do período sonoro, a revista americana Premiere elege como Nº 1, entre homens e mulheres, Cary Grant - «belo, vestido e penteado de forma imaculada, irónico, razoavelmente melancólico».

3FEV-30JUN2005 - Casa Fernando Pessoa expõe Absurdity Is King - Twilight of the Beats de Brian Graham.

30MAR2005 - No Centro Cultural da Malaposta, é inaugurada a VideoDoc - Videoteca do Documentário, patrocinada pela OdivelCultur; um acervo com mais de três mil filmes, disponíveis para visionamento: www.odivelcultur.com

10JUN1915-05ABR2005 - Saul Bellow: «Não fazia ideia que o nosso tempo de vida pudesse ser tão breve».

06ABR-05JUN2005 - Galeria de Exposições Temporárias do Museu Gulbenkian exibe 7000 Anos de Arte Persa. Obras-Primas do Museu do Irão.

09ABR2005 - É inaugurada a Bedeteca de Beja, a par com o I Festival Internacional de Banda Desenhada, sendo responsável Paulo Monteiro, e tendo em vista colmatar uma lacuna sobre os quadradinhos na região Sul.

61920-12ABR2005 - Maurice Hilleman: «O grande vacinólogo, para sempre um dos verdadeiros gigantes da ciência, medicina e saúde do Século XX» (Anthony Fauci).

14ABR2005 - Com um concerto de Lou Reed no Grande Auditório, é inaugurada no Porto a Casa da Música, sendo director artístico o britânico Anthony Whithworth-Jones; autor do projecto, o arquitecto holandês Rem Koolhaas.

14ABR2005 – No Quarteto, Costa do Castelo estreia Antes Que o Tempo Mude (2003) de Luís Fonseca; com Mónica Calle e João Mota.

22ABR-12JUN2005 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta a Exposição Às Vezes Apetece-me Estar Aqui de Manuel Caeiro.

1908-23ABR2005 - Sir John Mills: «Há sempre um grande calor das pessoas em relação a mim, diria mesmo amor, talvez seja pela minha veterania, e odiaria ficar sem isso».

05MAI2005 - Na Galeria Municipal Artur Bual, Câmara Municipal da Amadora inaugura a exposição O Figura - Homenagem Informal a José Ruy, assinalando os seus setenta e cinco anos de idade, e os mais de cinquenta de carreira artística.

15JUL2005 - Termina o prazo para apresentação de candidaturas ao Prémio Nacional de Composição Jorge Peixinho, iniciativa da Câmara Municipal de Montijo; regulamento patente em www.mun-montijo.pt

TRAJECTÓRiA

 

LOUIS FEUILLADE
E O MUNDO FANTÁSTICO

 Um dos mais prolíficos cineastas franceses, Louis Jean Feuillade nasceu em Lunel, Hérault, a 19 de Fevereiro de 1873. Em 1898, mudou-se para Paris, atraído pela actividade de escritor. Foi jornalista sem sucesso, até vender argumentos para filmes à Gaumont. Aí se tornou realizador e, a partir de 1907, director artístico responsável pela produção. Em 1910, lançou-se em fitas de série com Le Film Esthétique e La Vie Telle Qu’Elle Est (1911), sendo as mais populares Fantômas (1913) e Les Vampires (1915), em concorrência com a Pathé. Ao longo de uma versátil carreira, dirigiu mais de setecentos filmes, sobretudo curtas e médias metragens - realistas e fantásticas, da comédia ao drama, ou de ambiência histórica e bíblica. Faleceu em Nice, Côte d’Azur, a 26 de Fevereiro de 1925. Depreciado pela crítica da época, a sua importância artística seria enfim reavaliada pela nouvelle vague.

REPOSITÓRiO

 

OS VAMPIROS
OU AS AVENTURAS EM SÉRIE

Com realização e argumento de Louis Feuillade, nascido da colaboração com Georges Meiers e inspirado em folhetins de sensação, Les Vampires (1915) sagra as proezas delirantes ou fatídicas de uma bizarra quadrilha liderada por Irma Vep (anagrama de vampire), sendo protagonista uma sensual e estilizada Musidora. A acção criminal é intensa, exuberante, através de uma Paris imaginária, cujo quotidiano evolui subjugado em atmosferas líricas, deprimentes ou faustosas, envolvendo personagens tenebrosas em implicações estranhas, ameaçadoras, contrastando o tédio social pela vertigem duma ascensão de classe. Títulos literais dos episódios: 1 - A Cabeça Cortada, 2 - O Anel Que Mata, 3 - O Criptograma Vermelho, 4 - O Espectro, 5 - A Evasão do Morto, 6 - Os Olhos Hipnóticos, 7 - Satanás, 8 - O Mestre Inflamado, 9 - O Homem dos Venenos, 10 - As Núpcias Sangrentas. Obra-prima vanguardista e modelar, incensada pelos surrealistas, suscitaria ainda homenagens virtuais ou expressivas, culminando em Irma Vep (1996) de Olivier Assayas.

 AMADEUS, SALIERI
- O GÉNIO E A MÚSICA

Em 1984, Milos Forman  dirigiu Amadeus - título de um filme que, aleatoriamente, nos reconduz ao estatuto de identidade entre o estigma e a centelha do artista: ama deus - dádiva divina ou obstinação humana. Mas Amadeus é, também, nome de Mozart, protagonista de Forman - ou, talvez, herói maldito de um narrador obcecado e delirante, pela voragem de memórias, a erosão das palavras.

Um envelhecimento que gera um envilecimento. No ódio e na admiração, na cólera e no desejo, no silêncio e na exaltação, na perversão da música e nos desígnios da vingança - eis Antonio Salieri, anjo negro perplexo e servil, ante os caprichos da genialidade. Amadeus constitui um libelo sobre o invejado, sobre o culto pelo absoluto poder, em si mesmo transcendente e sagrado.

Entre Mozart e Salieri, esse absoluto poder atravessa uma época de privilégios, mesquinhos e precários, pelo poder absoluto, soberano e volúvel. As personagens convertem-se em títeres dum confronto paradigmático: Wolfgang A. Mozart grotesco, adolescente e imbecil; um Salieri contido, medíocre e sinistro. Respectivamente, em formidáveis desempenhos de Tom Hulce e F. Murray Abraham.

Não é fortuito como, além da transparência cénica que suporta a obra adaptada de/por Peter Shaffer, o filme de Forman pontua um discurso senil ou delirante de Salieri, cuja envolvência é um covil de loucos e abencerragens. Desta matriz mutante, em extroversão, resultam suprimidas as reais implicações de oculto em que se desencadeou o universo mozartiano (logo, quanto ao nexo maçónico).

Mais que o escrúpulo biográfico, ou uma inserção histórica, foi a patente esquizóide, explorada pela peça teatral de origem, que terá presidido ao projecto de Amadeus: transfigurador e melómano, inquietante e prodigioso. Assim o entendeu a Academia de Hollywood, ao atribuir-lhe sete Óscares - incluindo os Melhores Filme, Realizador, Argumento, Cenografia e Actor (Murray Abraham).

ANTIQUÁRiO

 

1875 - Um jovem perito em som, o americano Alexander Graham Bell apercebe-se de que, num aparelho telegráfico que estava a experimentar, se recolhiam sons provenientes do quarto ao lado, provocados pelo seu ajudante, Thomas Watson. Pouco depois, lograva a emissão de uma frase completa: «Mister Watson, venha cá: preciso de si». A 7 de Março de 1876, Bell registava o seu aparelho, ao qual chamou telefone, e que se tornou a patente mais valiosa alguma vez outorgada, em qualquer país e em toda a História. Em 1895, interessa-se pela aeronáutica; começou por desenhar cometas, e chegou a construir um aerofólio, secção móvel da asa de um avião que controla o balancear da aeronave.

BREVIÁRiO

Sete Caminhos edita Laura Alves - A Rainha do Palco de Luciano Reis.

FNAC prossegue a edição em vídeo de 4 Curtas Portuguesas, com FBF Filmes, projecto apoiado pelo Ministério da Cultura através do ICAM/Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia; títulos do actual lançamento: Boris e Jeremias (2000) e Que Tenhas Tudo o Que Desejas (2001) de Pedro Caldas, e Por Encanto - Notas de Outono (2001) e A Casa das Histórias (2002) de Cármen Castello-Branco.


IMAGINÁRiO
Números de 1 a 10
Números de 11 a 20
Números de 21 a 26
Números de 27 a 35


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