José de Matos-Cruz


IMAGINÁRiO289

· 01 SET 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

VIAGENS





Resgatar a origem de personalidades celebradas pela história, enquadrar na actualidade as identidades culturais, restituir à dimensão virtual a memória e a herança do passado, eis parâmetros consagrados em Montalegre e o Descobridor da Costa da Califórnia de João Soares Tavares, um lançamento sob chancela da Editora Cidade Berço. Assinalando «o percurso de João Rodrigues Cabrilho desde o nascimento até à morte», Soares Tavares - professor, cineasta e investigador - descreve «os lugares onde nasceu e apresenta uma visão necessariamente abreviada sobre a época em que viveu», tendo sobretudo em consideração os jovens estudantes. O autor aprofundara o tema privilegiado em João Rodrigues Cabrilho - Um Homem de Barroso? (1998), e seguiu o itinerário, documentado e ilustrado, do navegador desde Portugal até à ilha do Pacífico onde faleceu. A partir do homem múltiplo - soldado, explorador mineiro, construtor naval, almirante - ressalta o testemunho humanista de um símbolo nacional/universal que, atravessado o Atlântico, desembarcou em 1542, ao serviço de Espanha, na actual Baía de San Diego.

CALENDÁRiO

01FEV2010 - O Vocabulário Ortográfico do Português/VOP está disponível no Portal da Língua Portuguesa - www.portaldalinguaportuguesa.org - em produção do Instituto de Linguística Teórica e Computacional/ILTEC.

MEMÓRiA

10MAR1920-1959 - Boris Vian: «Gostaria / De vir a ser um grande poeta / E que as pessoas / Me pusessem / Muitos louros na cabeça / Mas aí está / Não tenho / Gosto suficiente pelos livros / E penso demais em viver / E penso demais nas pessoas / Para estar sempre contente / De só escrever vento». IMAG.231-286

1949-01SET2000 - Eduardo Guedes: Realizador português de cinema (Rocinante - 1986, Na Pele do Urso - 1990) e televisão (Facas e Anjos - 2000) - «Deixou uma obra provocantemente diferente» (Jorge Leitão Ramos).

1553-07SET1630 - Miguel Leitão de Andrada - Escritor e jurista, especializado em Direito Canónico, acompanhou El-Rei D. Sebastião na jornada de Alcácer-Quibir (1578), sendo aprisionado e mantido em Fez. De regresso a Portugal, Filipe II ordenou a sua detenção, por apoio ao Prior do Crato. IMAG.149

VISTORiA


Há sol na rua
Gosto do sol mas não gosto da rua
Então fico em casa
À espera que o mundo venha
Com as suas torres douradas
E as suas cascatas brancas
Com suas vozes de lágrimas
E as canções das pessoas que são alegres
Ou são pagas para cantar
E à noite chega um momento
Em que a rua se transforma noutra coisa
E desaparece sob a plumagem
Da noite cheia de talvez
E dos sonhos dos que estão mortos
Então saio para a rua
Ela estende-se até à madrugada
Um fumo espraia-se muito perto
E eu ando no meio da água seca
Da água áspera da noite fresca
O sol voltará em breve

Boris Vian

OBSERVATÓRiO

http://mafalda.dreamers.com/ - El Mundo de Mafalda - Acesso ao universo de Mafalda e seus Amigos, criado em banda desenhada por Joaquin Salvador Lavado, aliás Quino, disponibilizando material sobre «a personagem mais solidária» difícil de obter, ou que pretendamos reviver através da Internet. Inclui Quino, Personagens, Tiras, Galeria, Postais, Frases, Especiais, Livro, Fórum. IMAG.11-58-267

www.quartodejade.com - Quarto de Jade - Site dos artistas gráficos Diniz Conefrey e Maria João Worm, inclui Portofolio, Galeria e Loja. Novidades: bandas desenhadas, ilustrações e sketches de Diniz Conefrey, gravura e ilustrações de Maria João Worm.

VISTORiA

Diálogo Segundo

Dá-se a razão do Mosteiro de Nossa Senhora dos Martyres de Sacavém. E da ponte de pedra que ali havia e poderia haver agora…
Galácio: Pois até aqui viemos andando por todo esse vosso gabado sítio do Convento de Nossa Senhora da Luz, apertemos o passo, que parece vai desamarrando esta barca de Sacavém.
Devoto: Ó da barca!
Galácio: Paciência, que há havemos de esperar que torne.
Devoto: Esta he huma cousa em que eu a perco, haver de estar Lisboa como enfreada com esta barca, tanto contra sua nobreza e commodidade de seus moradores e caminhantes, podendo tão facilmente haver aqui huma ponte de barcas como em Sevilha, a pouco custo ou sem algum.
Galácio: Alguma cousa deve haver nisso de por meio, pois se não faz, sendo notoriamente tão necessária e útil.
Devoto: Nenhuma, que eu saiba, se não se for por se não prejudicar à renda que o Duque de Bragança tem desta barca, que se lhe arrenda em trezentos mil réis cada anno, tendo-a visto muitos que hoje são vivos, andar arrendada em dez ou doze mil réis cada anno, e pagar a três réis cada pessoa a cavalo e agora a vintém, pelo grande descuido dos da Câmara de Lisboa.
Galácio: Não parece deve ser a causa isso que dizeis do Duque, que sendo hum príncipe tão grandioso, não lhe devem de vir em consideração essas pouquidades em respeito do bem commum e grandeza de Lisboa, à qual se lho pedisse lhe largaria muito facilmente esta barca.
Devoto: Se isto não he, menos o deve ser o que dizem, que por causa das náos a que neste rio se dá querena, porque além de que já aqui se lhe não dá, se não da banda d'além; era fácil abrir-se essa ponte, e passada a náo tornar-se a fechar, ou fazer-se onde as náos lhes podessem dar essa querena pera a banda do mar. Nem menos o deve ser a passagem dos barcos, que navegão o rio acima, que podião tirar os mastros e passar; quanto mais, que os deste rio são tão pequenos, que com elles poderião passar por debaixo da mesma ponte; pelo que a razão do Duque, me parece considerável se alguma o causa ou impede, e poderá isso ter remédio muito fácil. Que com esse meio rela que chamão da ágoa, que novamente se impoz para a trazida de ágoa ao rocio, em cada quartilho de vinho, e real em cada arrátel de carne, se poderia satisfazer ao Duque, e fabricar-se aqui huma ponte de barcas.
Galácio: Comtudo, me parece muito custo haver-se de sustentar essa ponte, além do feitio della.
Devoto: Não seria senão muito pouco; porque, que cousa são seis ou sete barcas, que podem durar trinta ou quarenta annos? quanto mais que só as cavalgaduras a três réis bastava bem a esse custo, porque também acudirão os gados a esta passagem.
Galácio: Também haveria difficuldades e brigas sobre essa paga.
Devoto: Se na barca isso não acontece, menos seria na ponte; quanto mais, que se poderia pôr na entrada huma porta, e cessaria esse inconveniente. E eu digo isto em caso que a cidade a não pudesse sustentar de graça, o que fora grande nobreza de Lisboa, a que primeiro se houvera de acodir, que a outras cousas menos necessárias e menos nobres. Pois vemos que quando Lisboa era nada, em comparação do que hoje he, tinha aqui ponte de pedra, segundo agora se parece nos pedaços de piares que della ali vedes, desta banda e da outra.
Galácio: Isso seria há muitos mil annos, em tempo que este rio seria mais estreito, e menos fundo.
Devoto: A largura he a mesma, segundo mostrão os vestígios dos piares que vedes, que chega o rio a elles e não passa; e quanto a profundidade, ainda que seja mais, o que não sabemos, comtudo, bem se pudera refazer de pedra, que no fundo devem estar os alicerces ou bases dos piares; quanto mais, que a arte da architectura com dinheiro muito alcança e pode, pera se fazer de hum só arco: pois dizem, que he infinita esta arte sem termo. E vemos que naquelle tão famoso rio Danúbio, está ainda em pé a ponte que nelle mandou fazer o Imperador Trajano, com quási todos os piares inteiros por cima da ágoa cento e cincoenta pés, os vinte delles, que se parecem, e cada hum de sessenta pés de grossura, e o vão de cada arco de cento e sessenta pés... Por onde digno era da grandeza de Lisboa, haver aqui huma famosa ponte de pedra, ainda que se fintasse para isso todo o reino.
Galácio: Já nos contentáramos com ella de barcas.
Devoto: E eu dessa vos trato. Porém, ao que dissestes de se poder ter alargado este rio, o que aqui não fez, bem sei, que os rios vão comendo e abaixando as terras, e tenho pera mim que esses valles grandes e piquenos e essas várzeas e veigas espaçosas foram causadas das ágoas dos rios e enxurradas deles, e das cheias e chuvas, que vão comendo e levando a terra e descobrindo estas ossadas e penedias que o sol foi criando e coalhando debaixo da terra della mesma... Porém aqui não há esses milhares de annos, que cuidais havia esta ponte: porque no tempo que el-Rei D. Affonso Henriques, primeiro de Portugal, cercou Lisboa e a tomou aos Mouros, estando sobre ella teve aviso como a vinhão socorrer os Mouros da comarca de Alenquer. E sabendo havião de passar por esta ponte de Sacavém, lhes mandou tomar o passo com gente de cavallo (que não podia ser muita), os quaes achando já os Mouros, que quási todos a tinhão passado, tiverão com elles huma muito perigosa e desigual batalha, porque sendo muito poucos e os Mouros muitos, já a não puderam escusar sem se perderem, e delles houverão huma muito sinalada victória neste plano. Onde disseerão depois os Mouros virão huma molher que os cegava, e os desbaratou, que foi a Virgem Nossa Senhora, a cuja honra e por memória desta victória se edificou aquella igreja que ali vedes. A aqual nestes annos reedificou Miguel de Moura, que foi hum dos cinco Governadores que el-Rei Philippe, primeiro deste reino, deixou nelle, fundando ali aquelle mosteiro tão religioso de Capuchinhas. E a esta igreja de Nossa Senhora dos Mártyres, pelos cavalleiros que nella forão sepultados, que aqui nesta batalha peleijando forão mortos. Que naqueles tempos chamavão mártyres a todos que peleijando contra Mouros, erão mortos; como a igreja de Nossa Senhora dos Mártyres de Lisboa, que os Ingrezes fundarão neste cerco… pera enterrarem seus mortos.
Galácio: Por essa conta não serão passados muitos centos de annos, que aqui havia esta ponte, pois esse cerco e a tomada de Lisboa foi no anno de 1147, segundo se vê nos letreiros que estão na Sé de Lisboa e o dizem os Chronistas todos, e o Padre Frei Bernardo de Brito, depois delles; e se essa ponte nesse anno estava inteira que se passava por ella como dessa batalha e passada dos Mouros se collige, e da tradição antiga e memórias, que disso há nesta igreja; e não devendo logo acabar-se, antes durar muitos annos essa ponte depois disso; fica claro, não serem, nem poderem ser passados muitos annos, ou centos de annos que durava essa ponte, e a havia aqui. Donde considero três cousas: primeira, a força do tempo em gastar e consumir tudo, até a memória do que foi. He que até as pedras têem também sua idade, pois vemos acabadas sem memória alguma, nem rasto, tantas cousas e tão grandes, que sabemos houve de edifícios e cidades. E quão depressa se acabou a memória de tudo, e de como a dessa ponte, de que parece não há outra, se não isso que me contais com estes pedaços que della vemos, por culpa de nossos passados ordinária daquelles tempos, sepultarem cousas grandes nas trevas do esquecimento, contentando-se com só a honra presente de as obrar.
Miguel Leitão de Andrada - Miscelânea do Sítio de Nossa Senhora da Luz do Pedrógão Grande: Aparecimento de Sua Imagem, Fundação do Seu Convento e da Sé de Lisboa, Com Muitas Curiosidades e Poesias Diversas (1629)


IMAGINÁRiO288

24 AGO 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano VII · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

MUTAÇÕES



O director de uma clínica psiquiátrica vai ser substituído pelo doutor Anthony Edwardes. Nessa instituição trabalha, também, a doutora Constance Petersen, caracterizada pela sua dedicação exclusiva à profissão, e pelo seu temperamento frio e distante. Quando Edwardes chega, Constance apaixona-se perdidamente por ele. Mas, nada é o que parece: na realidade - a sua estranha atitude assim o fazia intuir - o chamado Edwardes é um doente mental, John Ballantine, que julga ter assassinado o verdadeiro médico. O problema é que não se lembra de nada, nem sequer do seu nome... Transposição do romance The House of Dr. Edwardes de John Palmer e Hilary St. John Sanders, como Francis Beeding, A Casa Encantada/Spellbound (1945) foi o primeiro filme de uma fascinante série de actuações por Ingrid Bergman, sob a direcção de Alfred Hitchcock. A actriz resistiu, sob o pretexto de que a história de amor entre ela e Gregory Peck - que logrou uma interpretação correcta, mas muito contestada pelos críticos - não era credível, sendo convencida pelo produtor David O. Selznick. Este sentia-se perturbado com Salvador Dali - a quem contratou a pedido de Hitchcock, para recriar plasticamente uma famosa sequência onírica - pois considerava-o instável e excêntrico.

 CALENDÁRiO

1919-27JAN2010 - Jerome David Salinger, aliás J.D. Salinger: «Escrevo somente para mim e para meu próprio prazer. Publicar, é uma terrível invasão da minha vida privada».

27JAN-04FEV2010 - No São Jorge, ABC Cine-Clube apresenta Kino - Mostra de Cinema de Expressão Alemã - Alemanha, Áustria, Luxemburgo, Suiça.

¸28JAN2010 - ZON Lusomundo estreia A Bela e o Paparazzo de António-Pedro Vasconcelos; com Soraia Chaves e Marco d’Almeida.
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1932-02FEV2010 - Rosa Lobato de Faria: «A imaginação é magia e é arte / que nos faz inventar, sonhar e viajar. / Com imaginação podemos ir a Marte / ou ao centro da Terra, ou ao fundo do mar» (Imaginação - excerto). IMAG.256

MEMÓRiA

20AGO1890-1937 - Howard Phillips Lovecraft: «Assim que começo a cair no sono experimento um arrepio de medo, e luto instintivamente para manter-me acordado». IMAG.16-85-140

1844-25AGO1900 - Friedrich Wilhelm Nietzsche: «Quem luta com monstros deve velar de modo a que, ao fazê-lo, não se transforme também em monstro. E se tu olhares, durante muito tempo, para um abismo, o abismo também olha para dentro de ti».
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26AGO1880-1918 - Guillaume Apollinaire: «Sem poetas, sem artistas, a humanidade não tardaria a ser dominada pela monotonia da natureza». IMAG.202

26AGO1900-1945 - Mark Sandrich: Cineasta norte-americano, realizador de Chapéu Alto/Top Hat (1935) sob o signo da comédia romântica e musical. IMAG.26-40

26AGO1910-1997 - Madre Teresa de Calcutá: «Na minha própria alma, sinto a terrível dor da Sua perda. Sinto que Deus não me quer...»

1908-27AGO1950 - Cesare Pavese: «Tudo isto é asqueroso. Palavras, não. Um gesto. Não escreverei mais nada» (1950). IMAG. 56-173-233

1913-28AGO1990 - Willy Vandersteen: Artista flamengo da banda desenhada franco-belga, criador de Bob et Bobette/Suske en Wiske (1945) - «O Bruegel dos quadradinhos» (Hergé).

19NOV1920-29AGO1980 - António Martinho do Rosário, aliás Bernardo Santareno: «Tenho 45 anos e estou farto, cansado, já não acredito em nada. Esta será a minha última peça. Estou desesperado e a vida dói-me horrivelmente. Sim, esta representação é, gostaria que fosse, uma despedida. Uma despedida sem amor. Perdi tudo» (Português, Escritor, 45 Anos de Idade - 1974). IMAG.155-169

COROLÁRiO








A emoção mais forte e mais antiga do homem é o medo, e a espécie mais forte e mais antiga de medo é o medo do desconhecido. Poucos psicólogos contestarão estes factos e a sua verdade admitida deve firmar para sempre a autenticidade e dignidade das narrações fantásticas de horror como forma literária.
H.P. Lovecraft - O Horror Sobrenatural Na Literatura (excerto)

QUESTIONÁRiO



François Truffaut: No livro que Eric Rohmer e Claude Chabrol escreveram sobre o senhor, referem que a sua primeira ideia sobre A Casa Encantada era fazer uma fita muito mais bizarra; por exemplo, o director da clínica deveria ter na planta do pé uma tatuagem com a Cruz de Cristo, para pisá-la cada vez que dava um passo; era uma personagem com destacada participação em missas negras, e coisas assim...
Alfred Hitchcock: Aquilo pertencia à novela A Casa do Dr. Edwardes, que era muito melodramática e completamente delirante; contava a história de um louco que se apodera de uma casa de doidos. Na novela, até os enfermeiros estavam insanos, e faziam toda a espécie de maluqueiras. A minha intenção era mais razoável, eu queria apenas rodar o meu primeiro filme sobre psicanálise. Trabalhei com Ben Hecht que, frequentemente, consultava psicanalistas famosos.
Quando chegámos às sequências oníricas, eu quis romper totalmente com a tradição dos sonhos no cinema, que são quase sempre brumosos e confusos, com a tela a tremer... Pedi a David O. Selznick que me facilitasse a colaboração com Salvador Dalí. Selznick aceitou, mas tenho a certeza de que pensou que eu pretendia contar com Dalí pela publicidade que nos iria proporcionar. A única razão, no entanto, era o meu desejo de conseguir sonhos muito visuais, com rasgos crus e claros, precisamente numa imagem mais límpida que a da película. Queria a colaboração de Dali pelo aspecto acre da sua arquitectura - Chirico é muito parecido: longas sombras, o infinito das distâncias, as linhas que convergem na perspectiva, os rostos sem forma...
Claro que Dalí inventou coisas muito estranhas, que não foi possível concretizar: uma estátua que se desagrega, formigas que escapam pelas paredes e trepam pela estátua; e logo vemos Ingrid Bergman coberta de formigas!
Eu estava preocupado, porque a produção não queria assumir determinados custos. Teria gostado de filmar os devaneios de Dalí em exteriores, para que tudo estivesse inundado do sol e se fizesse terrivelmente agudo, mas rejeitaram a ideia, e tive que rodar o sonho num estúdio.
François Truffaut - O Cinema de Alfred Hitchcock

EPISTOLÁRiO

Hollywood, 27 de Agosto de 1970

Aqui, são todos muito prudentes, em especial as majors. A Paramount, por exemplo, é responsável por umas quatro fitas que redundaram em fracasso, e cujo custo total foi na ordem dos cem milhões de dólares. A Fox está quase na mesma situação, e o futuro desta companhia depende de um filme que, por acaso, ainda não vimos: Tora, Tora, Tora - a história de Pearl Harbor, feita metade por americanos e metade por japoneses. Várias fontes garantiram-me que irá custar uns 32 milhões de dólares. A Universal tem um grande sucesso, Aeroporto, sobre o qual consta todo o tipo de receitas optimistas, cerca de trinta milhões de dólares, e apenas da comercialização nos Estados Unidos. Sabe-se ainda de uma grande variedade de filmes que têm logrado enormes lucros, mas que eu considero acidentais. Feitos sobretudo por amadores, e que, segundo parece, são muito populares entre os espectadores jovens. Evidentemente, nem todos esses filmes acidentais têm êxito, sobretudo aqueles que apresentam alguma cena de nu, porque está agora a descobrir-se que os nus não são, por si só, uma garantia de sucesso de bilheteira.
Ora bem, e isto representa o panorama mais agradável que eu posso traçar sobre o que se passa por aqui...
Alfred Hitchcock (excerto)

COMENTÁRiO




A independência é o privilégio dos fortes, da reduzida minoria que tem o ardor de auto-afirmar-se. E aquele que trata de ser independente, sem a isso estar obrigado, mostra não apenas que é forte mas, também, possuidor de uma audácia imensa. Aventura-se num labirinto, multiplica os mil perigos que a vida implica; isola-se e deixa-se arrastar por algum minotauro oculto na caverna de sua consciência. Se tal homem se extinguisse, estaria tão longe da compreensão dos homens que estes nem o sentiriam nem se comoveriam em absoluto. O seu caminho está traçado, não pode voltar atrás, nem sequer lograr a compaixão dos seres humanos.
Friedrich Nietzsche

BREVIÁRiO

Cine Digital edita em DVD, A Casa Encantada/Spellbound (1945) de Alfred Hitchcock; com Ingrid Bergman e Gregory Peck.
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Dom Quixote edita Contos de Miguel Torga (1907-1995).
IMAG.21-142-165-168-217-261

¨Civilização edita Ponto Último e Outros Poemas de John Updike (1932-2009); tradução de Ana Luísa Amaral.
IMAG. 124-157-171-234

Universal edita, sob chancela Decca, Sacrificium por Cecília Bartoli, com Il Giardino Armonico sob a direcção de Giovanni Antonini.

Quimera edita Menina Júlia de August Strindberg (1849-1912); tradução de Augusto Sobral e Maria João Brilhante.

A Esfera dos Livros edita As Avis - As Grandes Rainhas Que Partilharam o Trono de Portugal Na Segunda Dinastia de Joana Bouza Serrano.

Editorial Caminho lança O Livro dos Guerrilheiros, da trilogia De Rios Velhos e Guerrilheiros de José Luandino Vieira.
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Planeta edita Uma Noite Não São Dias de Mário Zambujal.

VISTORiA


O Erro de Desconhecer o Passado

Uma obra não resolve nada, assim como o trabalho de uma geração inteira não resolve nada. Os filhos - o amanhã - recomeçam sempre e ignoram alegremente os pais, o já feito. É mais aceitável o ódio, a revolta contra o passado do que esta beata ignorância. O que havia de bom nas épocas antigas era a sua constituição graças à qual se olhava sempre para o passado. Este, o segredo da sua inesgotável plenitude. Porque a riqueza de uma obra - de uma geração - é sempre determinada pela quantidade de passado que contém.
Cesare Pavese - O Ofício de Viver (excerto)


IMAGINÁRiO287

· 16 AGO 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

CELEBRAÇÃO


Em 2007, comemorando a sexagésima edição do Festival de Cannes, o seu director Gilles Jacob imaginou Chacun Son Cinéma/Cada Um o Seu Cinema, tendo convidado trinta e cinco realizadores de vinte e cinco países de todo o mundo a dirigirem outras tantas curtas metragens de três minutos cada uma. Tema único: o acto de ir ao cinema. De que são feitos os filmes? Emoção individual, capacidade artística, perspectiva pessoal. Manuel de Oliveira concebeu e apresentou Rencontre Unique/Encontro Único, com Michel Piccoli e Duarte de Almeida/João Bénard da Costa, tendo ainda correspondido Theo Angelopoulos, Olivier Assayas, Bille August, Jane Campion, Youssef Chahine, Chen Kaige, Michael Cimino, Ethan et Joel Coen, David Cronenberg, Jean-Pierre et Luc Dardenne, Raymond Depardon, Atom Egoyan, Amos Gitaï, Hou Hsiao Hsien, Alejandro Gonzalez Iñarritu, Aki Kaurismaki, Abbas Kiarostami, Takeshi Kitano, Andreï Konchalovsky, Claude Lelouch, Ken Loach, Nanni Moretti, Roman Polanski, Raoul Ruiz, Walter Salles, Elia Suleiman, Tsai Ming-liang, Gus Van Sant, Lars von Trier, Wim Wenders, Wong Kar-wai e Zhang Yimou. Reflectindo, irradiando Ce Petit Coup au Coeur Quand la Lumière S’Éteint et Que le Film Commence

CALENDÁRiO

1921-21JAN2010 - Jacques Martin: Artista de banda desenhada, criador de Alix (1948) - «O meu gosto pela Antiguidade Clássica vem das leituras de juventude, sobretudo da descoberta de Salammbô de Flaubert, que li aos quinze anos e me deu vontade de explorar esse período histórico». IMAG.30-86-195

1928-24JAN2010 - Pernell Roberts: Cantor e actor norte-americano de teatro, cinema e televisão, protagonista (Adam Cartwright) da série Bonanza (1959-1965); defensor do movimento dos direitos civis, acompanhou Martin Luther King na Marcha sobre o Alabama (1965).

1934-26JAN2010 - Jorge Fontes: Guitarrista - «Praticamente, todos os grandes nomes do fado foram acompanhados por ela, tendo incentivado muitos fadistas a gravar discos» (José Manuel Osório).

27JAN-30JUN2010 - No Estoril, Espaço Memória dos Exílios expõe O Passado Nunca Passa, colecção de postais ilustrados de José Santos Fernandes, que evocam o concelho de Cascais desde o final do Século XIX até à actualidade.

VISTORiA


Filha do povo, escuta o teu amante
e conserva no rosto essa alegria:
ao teu primeiro amor foi meu descante
tão cheio de delírio e harmonia!
Versos não sei fazer a uma duquesa
de sangue azul e cheia de primores.
Eu só quero do povo a singeleza,
Só no povo é que tenho os meus amores.
Pierre-Jean de Béranger - La Fille du Peuple (excerto)


Se vai tentar,
siga em frente.

Senão, nem principie!
Isso pode significar perder namoradas
esposas, família, trabalho... e talvez a cabeça.

Pode significar ficar sem comer por dias,
pode significar congelar num parque,
pode significar cadeia,
pode significar graçolas, desolação...

A desolação é o presente.
O resto é uma prova de sua paciência,
do quanto realmente pretendeu fazer
e fará, apesar do menosprezo,
e será melhor que qualquer coisa que possa imaginar.

Se vai tentar,
vá em frente.
Não há outro sentimento como este,
ficará sozinho com os Deuses
e as noites serão quentes.
Levará a vida com um sorriso perfeito...
É a única coisa que vale a pena.

Charles Bukowski

VISTORiA







Na vida pura e monótona das raparigas, chega uma hora deliciosa em que o sol lhes derrama os seus raios na alma, em que a flor lhes exprime os pensamentos, em que as palpitações do coração transmitem ao cérebro o seu calor fecundo, e dissolvem ideias num desejo vago; hora de inocente melancolia e suaves alegrias!
Não raro, certas acções da vida humana parecem, literalmente falando, inverosímeis, embora verdadeiras. Mas não será porque deixamos de espargir sobre as nossas determinações espontâneas uma espécie de luz psicológica, não explicando as razões misteriosamente concebidas que as tornaram necessárias?
Honoré de Balzac - Eugenie Grandet
(1833 - excertos)




Nesses tempos, meus amigos, o Sol ainda girava em torno da Terra. Ela era moça e formosa e preferida de Deus. Ele ainda se não submetera à imobilidade augusta que lhe impôs mais tarde, entre amuados suspiros da Igreja, mestre Galileu, estendendo um dedo do fundo do seu pomar, rente aos muros do Convento de S. Mateus de Florença. E o Sol, amorosamente, corria em volta da Terra, como o noivo dos Cantares, que, nos lascivos dias da ilusão, sobre o outeiro de mirra, sem descanso e pulando mais levemente que os gamos de Galaad, circundava a Bem-Amada, a cobria com o fulgor dos seus olhos, coroado de sal-gema, a faiscar de fecunda impaciência. Ora desde essa alvorada do dia 28, segundo o cálculo majestático de Usserius, o Sol, muito novo, sem sardas, sem rugas, sem falhas na sua cabeleira flamante, envolvera a terra, durante oito horas, numa contínua e insaciada carícia de calor e de luz. Quando a oitava hora cintilou e fugiu, uma emoção confusa, feita de medo e feita de glória, perpassou por toda a Criação, agitando num frémito as relvas e as frondes, arrepiando o pêlo das feras, empolando o dorso dos montes, apressando o borbulhar das nascentes, arrancando dos pórfiros um brilho mais vivo... Então, numa floresta muito cerrada e muito tenebrosa, certo Ser, desprendendo lentamente a garra do galho de árvore onde se empoleirara toda essa manhã de longos séculos, escorregou pelo tronco comido de hera, pousou as duas patas no solo que o musgo afofava, sobre as duas patas se firmou com esforçada energia, e ficou erecto, e alargou os braços livres, e lançou um passo forte, e sentiu a sua dessemelhança da Animalidade, e concebeu o deslumbrado pensamento do que era, e verdadeiramente foi! Deus, que o amparara, nesse instante o criou. E vivo, da vida superior, descido da inconsciência da árvore, Adão caminhou para o Paraíso.
Eça de Queiroz - Adão e Eva No Paraíso
(1896 - excerto)

NOTICIÁRiO

A Ilustre Casa de Ramires

O correio levou ontem para Paris todos os originais da colaboração para o n.º 10 da Revista Moderna, todo consagrado ao grande escritor Eça de Queiroz, e no qual será dado começo ao novo romance do autor d’Os Maias, romance que tão anunciado tem sido e com tão viva curiosidade é esperado, A Ilustre Casa de Ramires.
11NOV1897 - Diário de Notícias

MEMÓRiA

1845-16AGO1900 - Eça de Queiroz: «O riso é a mais útil forma da crítica, porque é a mais acessível à multidão. O riso dirige-se não ao letrado e ao filósofo, mas à massa, ao imenso público anónimo. É por isso que hoje é tão útil como irreverente rir das ideias do passado: a multidão não se ocupa de ideias, ocupa-se das fórmulas visíveis, convencionais das ideias. Por exemplo: o povo em Portugal, nas províncias, não é católico - é padrista: que sabe ele da moral do cristianismo? da teologia? do ultramontanismo? Sabe do santo de barro que tem em casa, e do cura que está na igreja» (Carta a Joaquim de Araújo - 1878). IMAG.178-199-203-205-214-275

16AGO1920-1994 - Charles Bukowski: «é muito fácil parecer moderno / enquanto se é o maior idiota jamais nascido; / eu sei; eu deitei fora um material horrível / mas não tão horrível como o que leio nas revistas; / eu tenho uma honestidade interior nascida de putas e hospitais / que não me deixará fingir que sou / uma coisa que não sou - / o que seria um duplo fracasso: o fracasso de uma pessoa / na poesia / e o fracasso de uma pessoa / na vida».

1799-18AGO1850 - Honoré de Balzac: «Custa mais ser-se amante que marido, pela simples razão de que é mais difícil ser espirituoso todos os dias do que dizer coisas bonitas uma vez por outra». IMAG.216-227

19AGO1780-1857 - Pierre-Jean de Béranger: «Aquele que tiver tino / escute-me esta lição: / só se livra do destino / na liberal quietação.» (Mes Cheveux - excerto).

20AGO1910-1961 - Eero Saarinen: «A arquitectura é a arte de construir, satisfazendo duas necessidades - primeiro, a necessidade física e, segundo, a necessidade espiritual do ser humano.»

1863-21AGO1940 - Carlos Reis: Pintor da nobreza e da vida popular, de temas históricos e paisagísticos, retratista, discípulo de Silva Porto, Joseph Blanc e Bonnat, fundador da Sociedade Nacional de Belas-Artes, professor na Escola de Belas Artes de Lisboa.

BREVIÁRiO

Midas Filmes edita em DVD, Cada Um o Seu Cinema / Chacun Son Cinéma (2007) por Vários Realizadores; inclui Rencontre Unique / Encontro Único de Manoel de Oliveira.











Apenas Livros edita Cinema Português - Fitas Sem Falas 2 por José de Matos-Cruz.

Editorial Caminho lança Teatro Moderno de Lisboa (1961-1965) - Um Marco Na História do Teatro Português de Tito Lívio, com a colaboração de Cármen Dolores.
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· 08 AGO 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

POVOS



Nórdicos, aguerridos, por cá deram à costa em saque, secando as raízes e excitando as mulheres. Os seus pequenos homens domésticos conviviam ainda com os animais, aqueles eram deuses crestados e de cabelos solares.
Mágicos, místicos, trouxeram do Sul a sensual dolência - numa essência pelas emoções, alcovas ocultas, o fanatismo aflorando a alma, o crescente em sortilégio. Poetas, aqui estiveram a inspirar a existência.
Foi a melancolia, o sonho, a humildade humana, o fausto de outros reinos que lhes trouxe o fascínio do Oriente, o apelo de conquista, a expectativa a transcender. Dali viria o destino e a fartura, o olhar e a redenção.
Debruçaram-se então a Ocidente, para o mar. Era altura do futuro, a impaciência da identidade, o excesso de retemperar e de retribuir. Marcaram os seus próprios sinais: pelo ouro, pela carne, pelo mundo, pela alma.
- Utopia, expansão. Como partimos em martírio, onde chegámos a descobrir, o que decidimos, quando nos dissipámos. Portugal são oito letras de mistério, em cada ponta da rosa-dos-ventos...

CALENDÁRiO

1928-14JAN2010 - Dennis Stock: Fotógrafo de Hollywood, lenda da agência Magnum - «Sempre fotografei apenas para mim mesmo, e aquilo que me interessava, por isso o meu trabalho é feliz».

1937-17JAN2010 - Erich Segal: Argumentista, dramaturgo, romancista, autor de Love Story / Uma História de Amor (1970) - «Amar é jamais ter de pedir perdão».

1925-18JAN2010 - Ursula Vian-Kübler: Actriz, bailarina da Ópera de Zurique, com Maurice Béjart e dos Ballets de Paris com Roland Petit, casada com Boris Vian, organizou os Festivais anuais de música na cidade de Eus.

1929-22JAN2010 - Jean Simmons: «Uma linda mulher, uma grande actriz e uma verdadeira senhora» (Gregory Peck). IMAG.79

1927-19JAN2010 - Duarte Infante: Sócio Fundador do Cineclube de Faro - «Foi um homem muito ligado às letras e à cultura, um exemplo de quem aprecia saber, de quem aprecia instruir-se e tem curiosidade pelo conhecimento» (Anabela Moutinho).

MEMÓRiA

13AGO1890-1973 - Carlos Tavares de Andrade Afonso dos Santos, aliás Carlos Selvagem: Militar, jornalista, historiador, ficcionista, dramaturgo distinguido com o Prémio Gil Vicente.

ANTIQUÁRiO

09AGO1930 - Inspirada na actriz Clara Bow e na cantora Helen Kane, símbolo erótico e irreverente, e concebida por Grim Natwick e Max Fleisher, Betty Boop é revelada em Dizzy Dishes, animação da série Talkartoon sob chancela Paramount Pictures - ícone da mulher independente, caprichosa, «de boquinha vermelha de bâton, em forma de beicinho… usando vestidos curtos e por vezes transparentes» (Paula Brito).

14AGO1890 - Em Lisboa, é inaugurado o Colyseu dos Recreios, eregido de raiz na Rua das Portas de Santo Antão, tendo o contributo de artistas estrangeiros e inovador na introdução da arquitectura do ferro em Portugal. O traço da obra coube aos engenheiros Goulard, Pai & Filho, e a Manuel Garcia Junior, tendo concebido a fachada Cesare Ianz.

COMENTÁRiO

Betty Boop

A primeira sex symbol de desenhos animados escandalizou a América na década da Grande Depressão (1930). Morena de olhos verdes e vestido apertado foi desenhada por Grim Natwick há 80 anos. Hoje está de novo na moda.
Hugo Coelho
13OUT2009 - Diário de Notícias

PARLATÓRiO

Na história da animação americana, Betty Boop, dos irmãos Max, Dave & Joe Fleisher, constitui um caso raro. Logo durante a época áurea, surgiu uma adaptação em quadrinhos. A partir de 1933, tornou-se alvo de censura, forçando os produtores a atenuar a sua fantasia e a prescindir da famosa mini-saia, que se converteria em moda até aos nossos dias. Espanta-nos que, então, se considerasse algo nocivo aquela figura sexy, em que foi pioneira e, durante muito tempo, exemplar único.
Adhemar Carvalhaes
(a Álvaro Corte Real e José de Matos-Cruz)
11SET1971 - Diário de Coimbra - Juvenil. IMAG.273

INVENTÁRiO




Em Abril de 1998, a produção portuguesa para televisão, no domínio aventuresco, venceu inusitados desafios com Major Alvega de Henrique Oliveira. Uma série de imagem real/virtual, produzida por Miragem (13 episódios com 25 minutos cada) para a RTP; e inspirada na saga em quadradinhos Major Alvega, publicada (1960-1987) na revista Falcão Juvenil. Após indicação da Censura, a paternidade portuguesa do herói fora-lhe atribuída pelo editor Mário do Rosário, segundo sugestão do tradutor Anthimio de Azevedo. No original Battler Britton - Fighting-Ace of Land, Sea and Air, sob chancela Fleetway, apareceu (1956-1963) em The Sun Weekly, por Thriller Pictures Library e Air Ace Picture Library.
Distintos ilustradores dedicaram o seu labor anónimo a Battler Britton - Geoff Campion, Eric Bradbury, Colin Marritt, Nevio Zeccara, Ian Kennedy, Hugo Pratt, Carlos Freixas, José Ortiz, Guido Buzzelli, Giorgio Trevisan, Graham Cotton, Alberto Breccia ou George Stokes. Acção, humor e faz de conta, entre figuras carismáticas ou caricaturais, distinguem - sob o signo do audiovisual - uma recriação nostálgica, com interacção nas franjas do imaginário bedéfilo/cinéfilo (participa Indiana Jones, ou Rick Blaine de Casablanca), cuja ambientação foi animada por computação gráfica. As missões estendem-se de Londres a Berlim, de Roma a Paris, do Cairo a Dusseldorf, de Casablanca a Lisboa, de Veneza à Noruega.
Assim, durante a II Guerra Mundial, e a partir de Agosto de 1940, o Major Jaime Eduardo de Cook e Alvega - um ás piloto luso-britânico da Royal Air Force/RAF, filho de mãe inglesa e de pai ribatejano - celebrou-se aos comandos do seu Spitfire Mark IX, ou em proezas de espionagem. Para fúria do tremendo Koronel Von Block, chefe da Divisão Negra das SS; e espanto afectuoso da sua ajudante-de-campo, a bela e loira Fraulein Schmmidt. Antigo estudante em Coimbra, e feroz combatente pela liberdade, o Major Alvega cruzou-se com Rommel, Goering, Hitler ou Mussolini, e contribuiu, decisivamente, para os Aliados desbaratarem a ameaça nazi, em missões ousadas a partir dos céus de Inglaterra...

Um dos atributos mais aliciantes de Major Alvega consiste num protagonismo emulativo, desacomplexado e cúmplice por Ricardo Carriço. As personagens de Fraulein Schmidt e do Koronel Von Block são inéditas, com desempenho de Rosa Bella e António Cordeiro - co-argumentista com Henrique Oliveira. A Miragem tem estúdios no antigo Cine-Teatro da Senhora da Hora, em Matosinhos. O projecto remonta a Setembro de 1992, logo se procedendo - uma vez obtido o acordo da RTP - ao início da produção. À filmagem com os actores (Março de 1993), seguiram-se dois anos de pós-produção, até que os progressos da tecnologia informática, em processos de digitalização, permitissem uma eficaz montagem criativa.
Os cenários foram todos desenhados, por meios electrónicos, com direcção de animação por Rui Taborda. Cada episódio envolveu um tratamento de 200 a 300 planos, com uma subsequente sincronização do som à imagem. Em distribuição internacional, Major Alvega foi rebaptizado Ace London, e seleccionado - em Setembro de 1998 - para o galardão Emmy internacional/juvenil. Em Outubro de 1999, recebeu o galardão CinemaniMenção, durante o festival CinemAnimação na Amadora. Em Outubro de 1998, iniciara-se a produção de uma segunda série de 13 episódios (com 25 minutos cada), colaborando Rui Taborda & José Luís Leitão nas histórias, em que sobressai o toque de Produções Fictícias.

Concluída em finais de 1999, a emissão da sequela iniciou-se em Janeiro de 2000. Entretanto, Major Alvega - aliás, Ace London - foi vendido para França, Canadá, México, Venezuela, Líbano ou Japão. Entre nós, um culto rejuvenescido tem já expressão e notoriedade pela Internet. Graças ao equipamento informático de última geração, tornaram-se mais nítidas e definidas as atmosferas virtuais, em realce, cor, textura e consistência. Paulo Sousa incumbiu-se do detalhe e recorte das personagens. Os desenhos pertencem a Pedro Saraiva, sendo a modulação dimensionada - por José Luís Leitão e António José Gonçalves - em 2-D para os adereços estáticos, e em 3-D para os objectos em movimento.
Através de um entretenimento intrinsecamente mais irónico, foi também ampliada a carga de sugestões míticas e artificiosas, com incidências geopolíticas. As proezas do Major Alvega estendem-se, pois, de Moscovo a Nova Iorque, da Grécia ao Tibete. Assim, os admiradores de Tintin ou de James Bond 007 sentir-se-ão identificados. E há uma nova personagem fixa - Miss Makelove, a secretária de Churchilll, pelos encantos de Cristina Homem de Mello. Sempre com narração de Fernando Pessa, a participação artística de Canto e Castro, Margarida Reis, Varela Silva, Carlos Daniel e José Wallenstein, é alargada a Ruy de Carvalho, Adelaide João, Mário Moutinho ou Alexandre Falcão.

BREVIÁRiO

BdMania edita Battler Britton/Major Alvega, clássico em quadradinhos por Garth Ennis & Colin Wilson. IMAG.65

CNM edita em CD, sob chancela SDG, Johannes Brahms [1833-1897]: Sinfonia Nº 3 e Obras Corais (Op. 41, 17, 82, 89, 113) pela Orchestre Révolutionnaire et Romantique e The Monteverdi Choir, sob a direcção de John Eliot Gardiner.
IMAG.82-171-193-199-256

Sextante edita Contrato Sentimental de Lídia Jorge. IMAG.16-144-187

EXTRAORDINÁRiO

OS SOBRENATURAIS
Folhetim Aperiódico

SAI DO ARMÁRIO, MEU AMOR,
E DEIXA-ME ENTRAR NA NOITE - 1

 7 de Abril de 1944

Aquele riso cristalino não existe neste mundo. Parecia uma fonte a cantar, como se fosse uma donzela de coração aberto. Ela não provinha -  formando-se ali, gerada no escuro, radiosa e fascinante. Os pezinhos tão delicados só seriam capazes de tocar em nenúfares. Mal cabia em todo o olhar de Amadeu Miraldes. Mas o miúdo enternecido materializava-a, então, nos jardins suspensos do seu sono profundo.

Até que, volúvel, lhe chega a realidade. Assustado, Amadeu tudo faz para manter as pálpebras cerradas, furtando-se ao pesadelo. Nada sabe da felicidade - mas, com ingénuo instinto, fica alheado numa placenta nostálgica, saboreando a imponderabilidade dos ainda não nascidos. Como se intuísse o medo e o martírio. É uma pedrada na essência, contra o charco da existência.

Amadeu limitava-se a coabitar o limite precipitado da sua integridade. Entre o desejo prodigioso e a ameaça propícia. Depois, paciência, tinha um destino a cumprir, mais umas horas a gastar naquele tremendo enredo de família, amigos, conhecidos, outra gente, feras e monstros.

 – Continua  -


  

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· 01 AGO 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

REVELAÇÕES



As impressões e as referências que, dos últimos decénios, perduram entre nós, sugerem uma realidade complexa e fascinante. Além das adversidades, das aspirações, individuais ou colectivas, nunca antes o princípio e o propósito, o tudo e o resto, o evidente e o invisível, estiveram assim favorecidos ou interligados. Uma herança paradoxal, um tendência redentora, cuja representação alicia Maria João Medeiros através do fenómeno exploratório e dos seus conceituados intérpretes, distinguindo ou contrastando Astrólogos, Cartomantes e Quiromantes - Um Século a Adivinhar o Futuro em Portugal, em lançamento Guerra & Paz na colecção Mundo Perfeito. A matéria-prima de tais enredos apelativos remete-nos então, e como sempre, para as circunstâncias que os prenunciam, para as consequências que lhe estão subjacentes…. Trânsitos de uma identidade, vestígios de uma comunidade - em tópicos fundamentais, alusivos, por parâmetros evolutivos, estruturais - susceptíveis de descerrar um desígnio essencial, prospectivo e transfigurador.

CALENDÁRiO

1930-JAN2010 - Pierre Couperie: Especialista em quadradinhos, escritor, bibliófilo e editor, organizador de certames e exposições históricas (Bande Dessinée et Figuration Narrative - 1967), co-autor da primeira Encyclopédie de la Bande Dessinée a nível mundial.

07JAN2010 - Bosque Secreto estreia A Rua (2008) de José Filipe Costa; com Ana Brandão e Sérgio Praia.

1931-09JAN2010 - Acúrcio Freire Alves Castela, aliás Acúrcio - atleta original do Ferroviário de Lourenço Marques, e guarda-redes do Futebol Clube do Porto desde a época de 1955/1956, foi ainda internacional pela selecção portuguesa em futebol e em hóquei em patins.

04ABR1920-11JAN2010 - Éric Rohmer: «Não devo o meu sucesso, como cineasta, aos subsídios do Estado, mas a um público fiel, que acredita nos meus filmes, e que me apoia» (2001). IMAG.51-238-270

12MAI2010 - Durante a visita do Papa Bento XVI a Portugal, a propósito das cerimónias em Fátima, Manoel de Oliveira discursa num encontro do Sumo Pontífice com 1.400 personalidades nacionais do mundo da cultura - criadores, pensadores, artistas, académicos e cientistas - no Centro Cultural de Belém/CCB.

MEMÓRiA

05AGO1820-1833 - Emilia das Neves: «O maior vulto dramático que existiu no teatro português» (Luciano Reis).

12MAI1820-13AGO1910 - Florence Nightingale: «É necessária uma certa dose de estupidez para se fazer um bom soldado».

1884-14AGO1960 - Jaime Cortesão: «Visto em substância própria e histórica, o Porto é romântico, franciscano e democrático. No cais, nas arcarias e ruelas da Ribeira e Miragaia, ou nas ásperas congostas que trepam até à Sé e à Cordoaria, respira-se e palpa-se Idade Média».

ANUÁRiO

1870 - Este ano, partem para o Brasil 15.038 portugueses. IMAG.156

61813-1890 - Alphonse Faure: Geólogo, membro correspondente do Institut de France desde 1879, professor da Academia de Genebra, investigou a constituição geológica dos Alpes.

VISTORiA

Individualidade e Colectividade

Uma antiquada concepção, cuja carreira não terminou de todo em Portugal, faz constituir a história na evocação dos homens e dos eventos singulares, faustosa galeria de retratos e painéis de batalhas, a que se acrescenta quando muito o quadro das instituições. Dir-se-ia desta sorte que os factos de ocupação do solo e agrupamento da população, as variações do regime económico, a elaboração de um espírito colectivo, os movimentos e transformações da massa, isto é, os factos propriamente sociais não têm importância na vida da sociedade. Longe de nós negar a parte da criação individual na história. Mas todas as nações, antes de atingirem a sua definição política suprema, atravessam um demorado período de formação, onde ocultam quase exclusivamente esses factos gerais.
A consciência de uma solidariedade e de um ideal colectivo, o sentimento e a ideia de uma pátria elaboram-se lentamente através desses movimentos de grupos e das lutas entre eles suscitadas. E por via de regra os grandes homens são tanto mais representativos quanto melhor encarnam e orientam as aspirações colectivas.
Jaime Cortesão
História do Regime Republicano em Portugal (excerto)

INVENTÁRiO

TERRITÓRIO DE PASSAGEM

ORIGENS

Surgindo, rodava o globo iniciático. Moviam-se as vagas, formaram-se as terras. Brotou lava incandescente. Cinzas e brumas. Rochas, plantas. Seres desentranhados. Membros, músculos. Em primeiros movimentos. Convulsões, vibrações. De animais para humanos. Predadores, vítimas. Corpos, almas. Depois, a separação das águas. Fixação dos continentes. Formações tribais. Povos sedentários. Turbas nómadas. As vivências primordiais. Sangue, em sagração. Ícones. Lendas. Em busca de horizontes. A sede de conquista... Uma faixa litoral. Primitiva, imutável. Precária, eterna. Porto de abordagem. Cálice germinal. Um caminho predestinado. Gentes, sinais. Alguns aqui permaneceram, em viagens etéreas. Outros prosseguiram, ficando em memórias. Além do tempo. Assim deixaram sombras furtivas, mesclando-se no espírito dos lugares. Vultos foram destacados. Fez-se história. Reis, hierarquias. Fortificações. Dilataram-se fronteiras. Heróis, inimigos. A consciência pátria. Signos, santuários. Templos, mitos. Relíquias, talismãs. Os símbolos soberanos. Honrarias, privilégios. E toda a população. Miséria, subsistência. Desgraças. Conflitos. Saques. Flagelos. Calamidades. Desassossego, serenidade. E a resistência virtual. Rostos, rastos. Desaires, profecias. Entre as trevas, augúrios gravados nas pedras. Feros, os lusíadas. Bússola, rosa-dos-ventos. Partir, zarpar. Vertigem, a pulsão de oceanos. Monstros, tempestades. Escorbuto, calmaria. À descoberta, arribar. Especiarias, tráficos. Mais delírios, domínios. Faróis. Aparições. Utopias. Auge e hausto. Crenças, fogueiras. Dogmas. Labaredas, martírios. Sortilégios do império. Expedições vãs, em alheias areias. Declínios, tormentos. Névoas, encobertos. Orfandades. N’uma manhã. Outra vez, nação. Independente. E a solidão. Crepúsculo, lagares de morte. Dúvidas, dádivas. Inconstância. Em transe. Despojos do esplendor. Invasões em riste. Reacções. Persistência. Rivalidade, idealismo. Irmãos contra irmãos. Exílios, reconciliação. Estrépito nas colónias. Crises, rotinas. Daninhos, degredos. E o resto, mundo arcaico. Castiço. Conventos esvaídos. Tentação, perdição. Finanças a pique. A fome exposta. Ritual dos suicídios. A pasmaceira capital. Ilusão, erosão. Em ruínas. Tédios, letargia. Entre fantasmas. Sempre, girando o pêndulo místico.

PRESENTE

Sob obscuras fatalidades. Triste fado. Nuvens funestas. Mortes em família. Regime republicano. Em fervor laico. Nichos secretos. Rictos e razias. Prosas e paradigmas. Poetas e visionários. Bravura, nas trincheiras. Velhice amortalhada. A dor, a culpa. Altares de fé, romagens. Penitências. Peregrinos. Migrações interiores. Fraca indústria e bancarrota. Penúrias. Conspirações. N’um estado novo. Reviralho. Tudo em ordem. Censura. Imprensa à lupa. Revista em palco. Cine comédia. Ecos de guerra. Neutral’idade. Autoridade. Integridade. Privações. Os excluídos. Sarilhos e virtudes. Placidez rural. Vadios e andarilhos. Xadrez burguês. Enredos sociais. Vedetas da rádio, corações destroçados. Tradição à risca. Pobretes mas alegretes. Angústias, derivas. Agonia ultramarina. A salto, ai! que saudades. Sob um retorno amargo. Mais do mesmo. Renúncias, fracturas. Juventude inquieta. Demolição. Haja revolução. A liberdade à rua. E euforia. Contestação. Outras vontades. Democracia. Reformas. Outras verdades, outras vaidades. Novelas colaterais, telenovelos. Em contrição. Cívicos conluios, cínicos costumes. Modas. Poses emblemáticas. Elites. Escaparates. Recatos marginais. Créditos, descréditos. Tecnologias. Mentes formatadas. Rumos, por labirintos. Motivação, conformismo. Ciclos, círculos. Tudo se transforma. Alternativas... E agora? Olhares que alcançam para além da realidade.

MENSAGEM

Matriz irradiante. Vanguarda, ancestralidade. Sol e noite. Fluidos. Sussurros. Energias. Feitos. Efeitos. Inscrições. Números. Momentos. Efemérides. Marcas, tópicos. Nomes, pseudónimos. Analogias, citações. Itinerários, narrativas. Fragmentos, estilhaços. (Ex)tensões de um mosaico a decifrar. Os sonhos. Oráculos. Alquimia. Magia. Culto e oculto. Enigmas. Mistérios. Arquétipos. O sobrenatural. A transcendência. Vitalismo, esoterismo. Leituras. Percepções, sensorialidade. Dons, artifícios. Cálculos. Horóscopos. Vaticínios. Adivinhos. Videntes, mediúnicos. Emissários da esperança. Paranormais. Intermediários. Seus retratos (im)perfeitos. Curiosidades, outros talentos. Bizarrias. Excentricidades. Fascínio e influência. O que sabem, como se insinuam. Os corações simples. Como se inserem. Expectativas. Nas antecâmaras do poder. Como interferem... E eles quem são, pessoas (in)comuns? Personagens fantasistas? Eis um projecto editorial, em causa e salvaguarda. Reconstituir a intimidade dos imaginautas. Traçar-lhes fisionomias. Intuir as suas vozes. Desvendar biografias. Verter carreiras. Reflectir meandros. Revelar testemunhos. Um mapa constelado de premonições, faculdades, incertezas, segredos, presságios, fatalidades, superstições, vicissitudes, suposições, auspícios. Desafios supremos. Ler nas estrelas. O anseio dos astros. Reinventar o futuro.
José de Matos-Cruz (Posfácio)
Astrólogos, Cartomantes e Quiromantes
de Maria João Medeiros

PARLATÓRiO

A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!
Florence Nightingale

BREVIÁRiO

Afrontamento edita, com Niepoort, RubyDum e TawnyDee Em Niepoortland de Regina Pessoa. IMAG.138

Dom Quixote edita Mil Grous de Yasunari Kawabata (1899-1972); tradução de Mário Dias Correia.

Universal edita em CD, sob chancela Decca, [Wolfgang Amadeus] Mozart [1756-1791], [Franz Peter] Schubert [1797-1828], [Ludwig van] Beethoven [1770-1827], [Richard] Wagner [1813-1883] por Jonas Kaufmann, com a Mahler Chamber Orchestra, sob a direcção de Claudio Abbado.

A Esfera dos Livros edita D. Maria I - A Rainha Louca de Luísa Paiva Boléo.

Glossa edita em CD, Franz Joseph Haydn [1732-1809]: As 7 Últimas Palavras de Cristo na Cruz pela Orquestra do Século XVIII, sob a direcção de Frans Brüggen.
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· 24 JUL 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

CONFLITOS




Entre todos, Roman Polanski continua a ser um realizador bizarro e surpreendente - aspectos que, aplicando-se às características de cada obra, ou à sua ampla diversidade internacional, se ligam também a um versátil talento, à marca do criador maldito, apesar dos desníveis no seu itinerário biofilmográfico. Razões de escândalo levaram-no a abandonar os EUA em 1977, vindo a concretizar Tess (1979) em Inglaterra, sob a virginal tentação de Nastassja Kinski. Após longo interregno, rodou Piratas (1986) a partir da Tunísia, um fiasco comercial em superprodução. Polanski passou a viver em Paris - onde dirigiu Frenético (1988) - e Ibiza, com a mulher / intérprete favorita, Emmanuelle Seigner, e a filha Morgane. Entretanto, Polanski consumou A Noite da Vingança (1995) - um título que se repercute, com perturbante simbolismo, sobre A Nona Porta (1999), parcialmente rodado em Portugal. Qual fenómeno esotérico, e protagonizado por um impressionante Johnny Depp - com Seigner, que também interviera em Lua de Mel, Lua de Fel (1993) - está em causa a demonologia, que o cineasta ritualizara em A Semente do Diabo (1968), com implicações trágicas.

 MEMÓRiA

28ABR1910-1975 - Francisco Keil do Amaral: Responsável pela criação e renovação de parques e jardins, em especial em Monsanto e no Campo Grande, tendo pugnado por «uma arquitectura progressiva e moderna, embora guardando das tradições a justa medida».

1925-24JUL1980 - Peter Sellers: «O que vejo ao espelho é alguém que nunca cresceu, um sentimental que oscila entre cumes grandiosos e sombrias profundezas».
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26JUL1890-1976 - Dórdio Gomes: «A serenidade e a cordura perderam-se para sempre, sucedendo-lhes uma caligrafia áspera, bárbara, com certos plebeísmos de forma e de desenho. O arabesco e a cor dominaram, e o cubismo exerceu nele a sua perturbante fascinação, embora nunca fosse um cultor convicto dessa corrente da arte moderna» (Manuel Mendes - 1958).

27JUL1910-2007 - Louis Poirier, aliás Julien Gracq: «A chamada imortalidade é a quieta existência, numa biblioteca, da obra - objecto, por vezes, de ocasionais iluminações, devidas a modas e humores do tempo».IMAG.176

1685-28JUL1750 - Johann Sebastian Bach: «Quando os anjos estão em festa, entoam as sinfonias de Mozart; mas quando estão reunidos em família, extasiam-se com a música de Bach» (Karl Barth). IMAG.267-268-269-280

1853-29JUL1890 - Van Gogh: «Não posso evitar o facto de que os meus quadros não sejam vendáveis. Mas virá o tempo em que as pessoas verão que eles valem mais que o preço da tinta». IMAG.32-48

1885-30JUL1950 - Guilhermina Suggia: «É quase impossível encontrar algo de novo a dizer sobre a arte de Madame Suggia, mas todas as suas aparições são um fresco deleite» (The Sunday Times, 1920). IMAG.40-48-103-106-133-166-204

CALENDÁRiO

1926-29DEZ2009 - David Levine: Artista gráfico e caricaturista norte-americano - «A sátira política salvou esta nação de ir para o inferno» (2008) - «O maior ilustrador da segunda metade do Século XX» (Jules Feiffer).

1931-03JAN2010 - Gilbert Gascard, aliás Tibet: Artista da banda desenhada franco-belga, autor de Chick Bill (1953) ou Ric Hochet (1958) - a partir de 1992, director artístico das Éditions du Lombard.

07JAN2010 - Bando à Parte estreia, sob o título Sobre Água, as curtas metragens Corrente (2008) de Rodrigo Areias, Arca d’Água (2009) de André Gil Mata, Crime / Abismo Azul / Remorso Físico (2009) de Edgar Pêra e Ciel Étaint! (2009) de François-Jacques Ossang.

08JAN-07FEV2010 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Sexpressions, exposição de fotografia de Pedro Palma vs. Clara Pinto Correia.

OBSERVATÓRiO




http://hardline-approach.blogspot.com/ http://chinesemasterspy.blogspot.com/http://ro-relvas.blogspot.com/http://stores.lulu.com/relvas – FERNANDO RELVAS - O universo gráfico, de expressão criativa, histórica, e em acesso editorial, de Fernando Relvas, ilustrador português e artista de banda desenhada, actualmente na Croácia. Um autor inquieto e intenso, em pesquisa e investigação, quer pelo rigor estilizado, quer pelo espírito de aventura e demanda de imaginários outros. IMAG.4

COMENTÁRiO


Em plena viragem de milénio, a fusão de imaginários - entre a tradição épica e a interacção futurista - culminou com Dungeons & Dragons - Masmorras e Dragões (2000), um filme realizado pelo nóvel Courtney Solomon, a partir do clássico role-playing game concebido por Gary Gygax, em 1974. Entretanto, o culto expandiu-se através de três gerações, até atingir cerca de vinte e cinco milhões de fanáticos. Assim também, a eterna luta das forças do Bem contra as hostes do Mal adquiriu uma prodigiosa versatilidade, em prol da aventura fantástica. Eis uma era medieval, uma terra recôndita. O Império de Izmer está à beira do caos, com a loucura do assassinato de seu monarca, por Profion, um bruxo poderoso e arrogante, que ambiciona ocupar ele-próprio o trono. Nada se oporá aos desígnios de Profion, ninguém ousará enfrentá-lo - a não ser Savina, a jovem mas voluntariosa soberana por herança. Perante tais assomo e coragem, não se exaltarão grandes heróis para defender o reino. Apenas dois mancebos larápios. Graças ao auxílio relutante de Elwood, um anão de barba ruiva, ou da impressionante Norda, Ridley e Snails partem, com a maga Marina, em busca do bastão que controla o sortilégio dos Dragões Vermelhos, a única arma capaz de salvar a princesa... Ao celebrar-se o vigésimo quinto aniversário do role-playing game, os meses precedentes e subsequentes à estreia de Masmorras e Dragões - que rendeu quinze milhões de dólares, em oito semanas - foram intensos para a editora oficial Wizards of the Coast. Sob chancela Kenzer & Company, assinala-se ainda In The Shadow of Dragons: The Last of My Father por Jay Donovan, Tyler Walpole & Hung Mac, uma alternativa Dungeons & Dragons em quadradinhos. IMAG.246

BREVIÁRiO

Valentim de Carvalho Multimédia edita DVD, Roman Polanski: Procurado e Desejado de Marina Zenovich. IMAG.145-195

¨Editorial Presença lança Obra Poética - Volume I de Florbela Espanca (1894-1930); introdução e organização de José Carlos Seabra Pereira. IMAG.17-80-151-243

EMI-Valentim de Carvalho edita em CD, sob chancela EMI Classics, Serguei Prokofiev [1891-1953]: Piano Concertos 2 & 3 por Evgeny Kissin com a Philharmonia Orchestra, sob a direcção de Vladimir Ashkenazy. IMAG.117

Câmara Municipal de Arronches edita O Crime de Arronches com argumento e ilustração de Eugénio Silva; sobre o romance homónimo (1924) de Henrique Lopes de Mendonça. IMAG.256

Círculo de Leitores edita, com Temas e Debates, Com [Albert] Camus [1913-1960] - Como Aprender a Resistir de Jean Daniel. IMAG.258

Universal edita em CD, sob chancela Archiv, Antonio Vivaldi (1678-1741) por Magdalena Kozená, com a Venice Baroque Orchestra sob a direcção de Andrea Marcon.
IMAG.169-205-209-254-265

ANTIQUÁRiO

24JUL1580 - No Castelo de Santarém, D. António o Prior do Crato (1531-1595) - filho do Infante D. Luís, neto de D. Manuel I - é aclamado, pelo povo, Rei de Portugal. A 25AGO, D. António I o Independentista foi derrotado na Batalha de Alcântara, pelo exército de Filipe II de Espanha, comandado pelo Duque de Alba, passando a dirigir o País a partir da Ilha Terceira, no Arquipélago dos Açores, até ao exílio em 1583.







27JUL1940 - Primeira aparição oficial de Bugs Bunny - segundo o historiador Joe Adamson, no filme A Wild Hare realizado por Tex Avery - com o seu afamado nome e exclamando «What's up, Doc?», na voz iniciática de Mel Blanc.

26SET2009 - Roman Polanski é detido no aeroporto de Zurique, cumprindo-se um mandado de prisão expedido pelas autoridades norte-americanas em 1978. Actualmente com 76 anos, é acusado de ter feito sexo, em 1977, com uma menina de treze anos na mansão do actor Jack Nicholson. À época, confessou-se culpado, sendo detido por seis meses. Em 1978, fugiu e não voltou aos EUA, nem mesmo para receber o Oscar por O Pianista (2002). Polanski deslocara-se à Suíça para receber o Olho de Ouro, distinção com que foi distinguido pelo Festival de Cinema de Zurique.

ANUÁRiO

480cC-406aC - Eurípedes: «O homem poderoso, que junta a eloquência à audácia, torna-se num cidadão perigoso, quando lhe falta bom senso».









VISTORiA

Portanto, hipocritamente os velhos invocam a morte,
e criticam a velhice e a longa duração da vida:
quando a morte se aproxima, ninguém quer
morrer, a velhice não pesa mais.
Eurípedes - Alceste (excerto)

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS
Folhetim Aperiódico

E TAMBÉM ANDAR À MÚSICA
ASSIM COMO NOS FILMES - 6

 E quando as trombetas lhe soassem, em distante sortilégio, Roldão imaginava com desvelo, então exceder-se-ia no ballet mais fantástico.

- O menino acha-se bem? - quis saber Ercília Salazar, a governanta de Santa Comba Dão. Figurante nos primórdios do cinema nosso, com ela partilhava Roldão, há muitos anos, aquele terceiro andar discreto mas luxuoso, na Rua de Rufino Picão e Chagas, quase ao virar para o Largo de Camões.

- Tirando o incómodo de umas aftas, nada mais me apoquenta... - sossegou-a o patrão, estendido no canapé, a desfolhar o Diário de Notícias.

E, numa cumplicidade complacente, Roldão ajeitou o robe de seda, antes que ficasse enfolado pelos vincos.

- As anginas no Inverno, e agora as aftas… O menino é assim, não tem cuidado nenhum… - insinuou, intencional, a caprichosa Ercília. Era uma fera sonsa e enjaulada pelo coração despedaçado.

- Ora, eu já sei que tu me queres bem, e tratas de mim… Arranjas-me aí uma poção, que ainda me pões aos pinotes, a declamar o Hino Nacional! – gracejou-lhe, pois, Roldão, na sua mais fatal inocência.

– Continua  


  

IMAGINÁRiO283

16 JUL 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO



Filho de espanhóis emigrados para o México, via França, Sergio Aragonés é um dos maiores ilustradores / humoristas de inspiração latina e expressão universal. As suas histórias curtas, além do privilégio gráfico, estilizam um imaginário amplo, alusivo, intemporal, satirizando factos, heróis, mitos, valores que, tendo-se consagrado num envolvimento circunstancial, ou alegórico, caracterizam também uma actualidade marcada pelos contrastes culturais. Prestigiado colaborador da revista Mad, Aragonés confessou-se admirador, na infância, de Buster Keaton ou de Charles Chaplin; «mais tarde, na escola preparatória, já vendia esporadicamente alguns cartoons da minha autoria e tentava encontrar um estilo próprio. Tinha começado a copiar Vip (Virgil Patch), quando entrei para o clube da escola de cinema. Víamos muitos filmes italianos, russos e franceses, que eram o que estava na moda no início dos anos 50. Um deles, um filme francês de 1944 chamado Les Enfants du Paradis, com Jean-Louis Barrault a fazer de mimo, foi o meu primeiro encontro com uma forma de arte que, juntamente com a minha paixão pelos filmes mudos de animação e os cartoons sem palavras, cimentou a direcção na minha carreira. Desde então, tenho-me dedicado a desenhar pantomima».

CALENDÁRiO

02MAR1919-17DEZ2009 - Phylis Lee Isley, aliás Jennifer Jones: Actriz do cinema norte-americano, distinguida com um Oscar por A Canção de Bernadette (1943) - «Se tivesse de escolher uma característica que pudesse orientar-nos ao longo da vida, seria o sentido de humor».

1919-09DEZ2009 - Eugene Klass, aliás Gene Barry: Actor norte-americano de cinema, teatro e televisão: «Uma das minhas primeiras aspirações foi representar, e nunca considerei ter outra profissão».

12DEZ2009-MAR2010 - Centro de Memória de Vila do Conde/Casa Museu José Régio expõe Manoel de Oliveira, José Régio - Releituras e Fantasmas. IMAG. 256-276-277

1915-13DEZ2009 - Paul Samuelson: Economista, autor de Fundamentos da Análise Económica (1947) - «A bela adormecida da política económica estava à espera do alegre beijo de novos paradigmas, novos assalariados e novos problemas».

15DEZ2009-31JAN2010 - Em Cascais, Casa de Santa Maria apresenta Aguarelas, exposição de pintura de Isabel de Goes.

1946-17DEZ2009 - Dan O’Bannon: Argumentista e realizador do cinema americano - «Os filmes de terror são uma matéria frágil e, uma vez visto o original, deixam de assustar» (2007). IMAG.15

21DEZ2009-31JAN2010 - No Campus da Asprela, Universidade Católica Portuguesa/Centro Regional do Porto expõe Os Frutos da Terra em Alberto Sampaio.

JAN2010 - Maria João Seixas assume funções como Directora da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema, mantendo-se Pedro Mexia no cargo de Sub-Director. IMAG.221-252

MEMÓRiA

1723-17JUL1790 - Adam Smith: Economista e filósofo escocês, fundador da moderna teoria económica, autor de Uma Investigação Sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações - «Assim, o mercador ou comerciante, movido apenas pelo próprio interesse egoísta, é levado por uma mão invisível a promover algo que nunca fez parte do seu interesse: o bem-estar da sociedade».

1571-18JUL1610 - Michelangelo Merisi, aliás Caravaggio: «Não sou um pintor audacioso, como costumam chamar-me, mas sim um pintor audaz, isto é: que sabe pintar bem e imitar bem as coisas naturais».

23JUL1920-1999 - Amália Rodrigues: «Por mim, não me levantava do meu cadeirão. Não passei pela vida, a vida é que passou por mim». IMAG.228-231-239-245-270

ANUÁRiO

55-120 - Publius, ou Caius, Cornelius Tacitus, aliás Tácito: «Os homens retribuem mais depressa um prejuízo do que um benefício, porque a gratidão é um peso e a vingança um prazer».

OBSERVATÓRiO

http://joaocamaral.blogspot.com - Blog do autor de banda desenhada e ilustrador João Amaral - Inclui esboços, experiências a preto e branco, lances do processo criativo, páginas inéditas e publicações recentes. IMAG.7-149-155-204

VISTORiA

O homem, que apenas pode subsistir em sociedade, foi adequado pela natureza à situação para a qual foi criado...
A sociedade, entretanto, não pode subsistir entre os que estão sempre prontos a ferir-se e ofender mutuamente. No momento em que tem início a ofensa, no momento em que se instalam ressentimento e animosidade mútuos, rompem-se todos os elos da sociedade…
Não pode haver nenhum motivo apropriado para ferir o nosso semelhante, nenhum incitamento para fazer o mal a outrem…
Em toda a parte do universo, observamos os meios ajustados com o melhor artifício para os fins que devem produzir…
Quando os princípios naturais nos levam a promover tais fins, que uma refinada e esclarecida razão nos teria recomendado, temos a forte tendência de imputar a essa razão, como causa eficiente desses princípios, os sentimentos e acções pelos quais promovemos aqueles fins, e de imaginar que se trate da sabedoria do homem, quando na realidade se trata da sabedoria de Deus…
Portanto, uma vez claramente designados os princípios reguladores da natureza humana, as regras que os mesmos prescrevem devem ser consideradas como mandamentos e leis da Divindade, promulgadas pelos vice-reis que Ele instalou dentro de nós…
Donde, dizem, frequentemente o homem aprovar o carácter coercivo das leis da justiça, incluindo-se a pena capital para os que as violam. O perturbador da paz pública é assim afastado do mundo, e o seu destino aterrorizará outros, impedindo-os de seguirem o seu exemplo.
Adam Smith
Teoria dos Sentimentos Morais
(excerto)

BREVIÁRiO

Difel edita A Obsessão do Fogo por Umberto Eco e Jean-Claude Carrière, sendo moderador Jean-Philippe de Tonnac. IMAG.22-40-58-176-263

EMI Classics edita em CD, Karlheinz Stockhausen (1928-2007) por Markus Stockhausen, Peter Eötvös e Tristan Fry. IMAG.67-173

PARLATÓRiO






Uma vez num barco, em Vila Franca, à noite cantei aquela música do Fado Cravo, e as pessoas ajoelharam-se aos meus pés. Ajoelharam-se, porquê? Porque senti uma emoção muito grande... Nem sei como chamar a isto. Talvez eu não seja criadora, mas quando canto estou a inventar. E, para inventar, preciso de música. O fado quando comecei era amarrado como se tivesse uma só divisão e a minha maneira de cantar deu-lhe mais duas casas. Porque nada dentro daquela divisão me deixava fugir. A minha voz queria fugir dali, mas batia na porta. Tive que cantar à minha maneira.
Amália Rodrigues

COMENTÁRiO



François Truffaut: Estamos em 1950, e o senhor encontra-se numa situação pouco brilhante, como em 1933, depois de realizar Valsas de Viena, e antes da recuperação com O Homem Que Sabia Demasiado. Com Sob o Signo do Capricórnio e Pavor Nos Bastidores, teve dois fracassos consecutivos e, como sempre, a sua recuperação profissional será espectacular, com O Desconhecido do Norte-Expresso.
Alfred Hitchcock: Voltamos à filosofia do run for cover. Não foi um filme que me propusessem, Strangers On a Train, eu próprio escolhi a novela original. Era um óptimo material para mim.
Truffaut: Eu li essa novela, acho-a boa, mas provavelmente muito difícil de adaptar.
Hitchcock: De facto, assim é, e coloca-me claramente uma outra questão: nunca trabalhei bem, quando colaborei com outro escritor especializado, tal como eu, no mistério, no thriller ou no suspense.
Truffaut: Neste caso, tratava-se de Raymond Chandler.
Hitchcock: Sim, e as coisas não correram bem, entre nós. Eu sentava-me ao lado dele, procurando uma ideia, e propunha-lhe: «Porque não fazer isto desta maneira?». Ele respondia-me: «Bom, se o senhor já tem uma solução para tudo, para que precisa de mim?». O trabalho que ele fez não era bom, e eu contratei Czenzi Ormonde, uma ajudante de Ben Hecht. Quando terminei a planificação, o responsável da Warner foi à procura de alguém que elaborasse os diálogos, mas muito poucos escritores queriam trabalhar o tema. Absolutamente ninguém achava tratar-se de um bom material. IMAG.188-191-238-271
François Truffaut
O Cinema de Alfred Hitchcock

PLENÁRiO




Algures no futuro, para corresponder a um apelo, o supercargueiro Nostromo interrompe a rota de regresso à Terra. Em planeta das proximidades, encontram-se um sepulcral veículo interestelar, um estranho piloto fossilizado e uma câmara com ovos bizarros. Assim, Alien, o 8º Passageiro (1978) de Ridley Scott reunia pela primeira vez - sobre um argumento virtual de Dan O’Bannon - humanos e uma raça feroz, sagrando uma nova dimensão do fantástico, logo convertida em saga de culto.

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS
Folhetim Aperiódico

E TAMBÉM ANDAR À MÚSICA
ASSIM COMO NOS FILMES - 5


 Possuía nele uma espécie de frenesim inebriante. Brindava à jiga-joga efeminada em que se exibia ao público, qual eufemismo efémero. Tudo o comovia até às lágrimas ou gargalhadas. Extrovertia, entre-aspas ásperas. Em euforia...

Contudo, quando estava só, introduzia-se até ao âmago de uma vela apagada. Tal era a sua alma.

Roldão sabia – o que nos salva deste mundo, é a bondade ou a beleza. Portanto, tendo realizado em vida metade de cada uma, pelo menos havia grandes hipóteses de entrar, gracioso, no reino dos céus.  

– Continua  


  

IMAGINÁRiO282
· 08 JUL 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

INSTANTÂNEOS



Em Janeiro de 1970, nas páginas do Chicago Tribune, aparecia Friday Foster - com argumento de Lawrence e grafismo de Jorge Logarón. Uma esbelta jovem afro-americana, que cresceu em Harlem, Nova Iorque, Friday é modelo de alta-costura, movendo-se num universo sofisticado e cosmopolita, com tendência para aventuras românticas, relações sofisticadas e, por vezes, peripécias excitantes! Entre viagens, desfilando nas passerelles, em questão com uma colega caprichosa, posando para revistas, seduzida por algum admirador, ou pondo em causa as exigências do seu agente artístico, eis o símbolo da mulher desinibida mas de coração vulnerável... Em 1975, Arthur Marks dirigiu A Viúva Negra - com Pam Grier interpretando Friday Foster, convertida em fotógrafa que trabalha para uma revista de sensação. Assim, acaba por envolver-se numa conspiração para, no Dia de São Valentim, reactivar o trágico massacre - que, desta vez, terá como vítimas alguns destacados líderes do poder negro americano. Aliando-se a um senador e a um milionário que representam, em Washington, a linha mais influente da sua origem racial, Friday acaba por neutralizar uma conspiração política, conotada com um grupúsculo de criminosos oportunistas. Uma temática de contraste radical, quanto à inspiração em quadradinhos.

CALENDÁRiO

09-30DEZ2009- No Centro Cultural de Belém/CCB, está patente a exposição itinerante Franz Joseph Haydn [1732-1809]on Tour, organizada pela Comissão austríaca Para as Comemorações do Bicentenário do compositor e pelo Festival Haydn de Eisenstadt. IMAG.40-219-228-240-269-271-272-273-275-276  

MEMÓRiA

08JUL1840-1917 - Manuel de Arriaga: Escritor, poeta, orador, primeiro Presidente da República (1911) - «…Fenómenos psíquicos com os quais se gera o pensamento, a ideia, a palavra, a Ciência, a Arte e a Inteligência… são potenciais prodigiosos com os quais, servindo a causa do Verdadeiro, do Belo, do Bom e do Justo, agitamos o Universo nas suas entranhas; fazemos o submisso instrumento das nossas aspirações ao Ideal Supremo, a harmonia consciente das almas e das coisas!» (Harmonias Sociais - 1907). IMAG.214

1913-09JUL1980 - Vinicius de Moraes: «Tudo de amor que existe em mim foi dado / Tudo que fala em mim de amor foi dito / Do nada em mim o amor fez o infinito / Que por muito tornou-me escravizado». IMAG.248

10JUL1910-1988 - Henrique Alves Costa - Crítico de cinema, fundador do Cine-Clube do Porto (1945): «A sua grande paixão pelo cinema fez dele, desde muito cedo, um dos nossos mais assíduos, atentos e argutos críticos e, também, um pertinaz descobridor de algumas particularidades da pequena mas curiosa história do cinema português» (Manoel de Oliveira - 1998). IMAG.201

13JUL100 aC-44 aC - Júlio César: «Não há glória maior que perdoar a quem me atacou, e premiar a quem me serviu».IMAG.199

15JUL1930-2004 - Jacques Derrida: «O direito não é justiça. O direito é o elemento do cálculo, é justo que haja um direito, mas a justiça é incalculável, ela exige que se calcule o incalculável; e as experiências aporéticas são experiências tão improváveis quanto necessárias da justiça, isto é, momentos em que a decisão entre o justo e o injusto nunca é garantida por uma regra» (Força de Lei). IMAG.14

VISTORiA


Garota de Ipanema


Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina, que vem e que passa
Num doce balanço a caminho do mar

Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que já vi passar

Ai! Como estou tão sozinho
Ai! Como tudo é tão triste
Ai! A beleza que existe
A beleza que não é só minha
E também passa sozinha

Ai! Se ela soubesse que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor

Só por causa do amor
Vinicius de Moraes

VISTORiA



A exemplo do lavrador que nas tardes melancolicas do outomno, antes que chegue o inverno, recolhe os fructos das suas pequenas herdades, nós, n'este periodo calmoso da existencia em que entrámos, e primeiro que a morte nos venha trazer, com a paz da sepultura, a melhor compensação dos nossos longos soffrimentos, deliberámos recolher e seleccionar as poesias que escrevemos no longo periodo de trinta e dois annos, que decorre desde 1867 até hoje e que, com rarissimas excepções, devidas quasi sempre a inconfidencias e curiosidades d'amigos, são todas ainda hoje ineditas. Reunimol-as em quatro volumes, o primeiro dos quaes, o dos Cantos, é o que damos hoje á publicidade. O segundo com o nome de Irradiações, é dividido em quatro livros--Devaneios--Imagens d'um mundo extincto--Nas Alturas--No Lar.O terceiro contém poesias dispersas, ensaios e fragmentos. O quarto, um poema heroico glorificando os triumphos da Humanidade no concerto do Universo, e onde, sob uma fórma dramatica, reatámos as tradições gloriosas de Portugal no periodo de Renascença á futura solução do problema humano, sob um novo ideal de justiça. Foi este poema, a que démos o titulo de Synthese Suprema, escripto nos tres ultimos annos que se seguiram ao nosso affastamento da politica militante, quando abandonámos de todo o parlamento, onde a nossa voz ficou por completo isolada e perdida... Compozémol-o ante a ameaça constante da morte que as nossas doenças, então aggravadas, nos punham todos os dias diante dos olhos, sem esperanças de o levarmos ao seu termo; e foi feito a pedaços nas poucas horas d'ocio que nos restavam dos nossos deveres profissionaes. A poesia aos nossos olhos nunca foi um mero recreio de espirito. Como todas as bellas artes, tende a exercer uma funcção social, hoje tanto mais necessaria quanto é frouxa, ou quasi nulla, a que a Religião, e a moral d'ella nascida, exerceram outr'ora nas multidões incultas, que á falta d'um ideal filho dos tempos, que as ajude na solução dos seus tenebrosos e multiplos problemas: ou se tornam indifferentes ou scepticas e vivem como espiritos revoltados contra todo o existente!...
Manuel de Arriaga
Introdução (1899 - excerto)

PARLATÓRiO

Sermões

A escolha é obra da graça, como diz o Apóstolo: «No tempo presente subsiste um resto, por causa da escolha da graça». E acrescenta: «Se isto foi pela graça, não foi pelas obras; de outra sorte, a graça já não seria graça».
Ouve-me, ó ingrato, ouve-me! «Não fostes vós que me escolhestes, mas eu que vos escolhi». Não tens razão para dizer: fui escolhido porque já acreditava. Se acreditavas nele, já o tinhas escolhido. Mas ouve: «Não fostes vós que me escolhestes». Não tens razão para dizer: antes de acreditar, já realizava boas acções, e por isso fui escolhido.
Se o Apóstolo diz: «O que não procede da fé é pecado», que obras boas podem existir anteriores à fé? Ao ouvir dizer: «Não fostes vós que me escolhestes», que devemos pensar? Que éramos maus e fomos escolhidos para nos tornarmos bons, pela graça de quem nos escolheu. A graça não teria razão de ser, se os méritos a precedessem. Mas a graça é graça. Não encontrou méritos, foi a causa dos méritos. Vede, caríssimos, como o Senhor não escolhe os bons, mas escolhe para fazer bons.
«Eu vos escolhi e vos constituí para que vades e produzais frutos, e o vosso fruto permaneça.
Santo Agostinho
Comentários ao Evangelho de São João

ANUÁRiO

354-430 - Santo Agostinho: «A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação ensina-nos a não aceitar as coisas como estão; a coragem, esclarece-nos sobre o modo de as mudar». IMAG.19-34-116-227

1700-1751 - João Rodrigues Esteves: «...Foi mandado pelo senhor El Rey D. João 5º estudar a Roma, foi mestre do real Seminário da Muzica de Lxa alem de varias que compos forao 2 Te Deus para se cantarem nas reaes presenças, em dia de S. Silvestre sendo hum dos ditos Te Deus a quatro coros, faleceo no século de 700» (José Mazza - Dicionário Biografico de Musicos Portugueses - Século XVIII).

1690 – Considerado, em França, o inventor da máquina a vapor, Dénis Papin (1647-1712) publica Novo Método Para Obter, Com Pouca Despesa, Consideráveis Forças Motoras.

BREVIÁRiO

JBJ edita em CD, sob chancela Biscoito Fino, Tom [Jobim] Canta Vinicius [de Moraes].

Casa das Letras edita Citações e Pensamentos de Friedrich Nietzshe (1844-1900); organização de Paulo Neves da Silva. IMAG.37-69-228

Edições Asa lança Sonho Sem Fim de Pedro Couceiro, Hugo Jesus e Rui Ricardo.

Relógio d’Água edita O Túnel de Ernesto Sabato; tradução de Francisco Vale.

VGM edita em CD, sob chancela FugaLibera, Olivier Messiaen [1908-1992]: Quetuor Pour la Fin du Temps  pelo Het Colectieff, sob a direcção de Ivo Venkov. IMAG.213-228-235

ZON Lusomundo edita em DVD, Quem Afinal É Jason Pollock?/Who In The #$&% Is Jackson Pollock? de Harry Moses; com Teri Horton e Tod M. Volpe. IMAG.109-225

¨Contraponto edita À Beira do Abismo de Raymond Chandler (1888-1959); tradução de Carlo Magalhães. LIMAG.86-190-216-220-236

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS
Folhetim Aperiódico

E TAMBÉM ANDAR À MÚSICA
ASSIM COMO NOS FILMES - 4

 Ora, uns trastes tristes, os invejosos. Incapazes de ondular, com garbo, a espinha dorsal. Mesmo fora do palco, de cabeça no ar, Roldão soube sempre arquear o dorso, quando era preciso. E era elegante, moderno. Trajado pelo rigor da vida, nunca haviam de lhe chegar a roupa ao pelo.

Gerado por um impulso melodioso, entre o silêncio e a inércia, Roldão irradiou como fragrância reflexa, ungido pela tensão divina, além de pai e mãe.

Eis como os biógrafos tratariam a criatura virtual, exposta apenas em meia dúzia de páginas. Qual coreografia grotesca, sobre o resto de um livro em branco pairaria o homem real, a sombra rítmica da sua incoerência inata.

– Continua  


  

IMAGINÁRiO281
· 01 JUL 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

EXÍLIOS


A acidentada rodagem de Macao (1952), por Josef Von Sternberg, principiou em Setembro de 1950, mas só viria a público longos meses após a conclusão. Vários foram os motivos de tal atraso, que se prenderiam à obscura história dum projecto que, liminarmente, pretenderia celebrar a reunião de duas vedetas carismáticas - Jane Russell e Robert Mitchum, após Redenção (1951 - John Farrow). Porém, logo no começo das filmagens, os conflitos estalaram. Recordaria Russell que, tendo Sternberg proibido a comida no set, Mitchum apareceu no dia seguinte com um cesto de piquenique... Por outro lado, Howard Hughes - que propôs a produção, a cargo da RKO - não gostou de uma sequência de acção num iate, e incumbiu Nicholas Ray - um dos «seis palhaços» nomeados para a supervisão de Macao, como lhes chamou Sternberg nas memórias Fun in a Chinese Laundry - de voltar a dirigi-la. Então casado com Gloria Grahame, uma das actrizes no elenco, Ray refez outras cenas do início e todo o epílogo, que escreveu com Mitchum. Nessa altura, já Sternberg se tinha afastado definitivamente, e veio a renegar o seu último filme em Hollywood. No entanto, os nomes dos outros «não figuram no genérico» e, por direito inerente, Macao é-lhe atribuído - como matriz de fronteira entre o olhar clássico, quanto às virtualidades do film noir, e a versão moderna que Ray vinha a representar. Assim, acabando por converter-se em obra de produtor - tendo Hughes vacilado numa estratégia de difusão - e seria um exercício estulto averiguar o que pertence a cada um dos notáveis realizadores.

MEMÓRiA

03JUL1850-1907 - Alfredo Keil: «Era fina e requintada a sua natureza artística, excepcionalmente vibrante e entusiasta, notamos também que a sua obra creadora se ressentia da dispersão do seu talento e do seu instinto predominante de diletantismo. Poderia ter sido um grande músico ou um paisagista, se se tivesse clausurado em uma d´essas duas artes, para as quais tinha igualmente uma incontestável e espontanea vocação. Mas isso não se coadunava com o feitio caprichoso do seu talento artístico, e não estava na sua mão resistir ás seducções que alternadamente exerciam no seu espírito todas as manifestações do bello. Assim depois de ter feito D. Branca, a Irene e a Serrana, depois de ter assignado os numerosos quadros que pintava tão prodigamente, Keil quis também ser poeta e para isso rimou as páginas de Tojos e Rosmaninhos» (Illustração Portuguesa - 22JUN1908). IMAG.87-161

1921-04JUL2000 - Manuel Queiroz: «Constantino Esteves assumiu e defendeu sempre essa opção por um cinema comercial, frisando mesmo que O Miúdo da Bica [1963] havia salvo o produtor, Manuel Queiroz, da falência que o desaire financeiro dum projecto mais intelectual (o filme Pássaro de Asas Cortadas [1963], de Artur Ramos) lhe ia provocando» (Alcides Murtinheira). IMAG.107-228

07JUL1860-1911 - Gustav Mahler: «Os meus pais davam-se como o fogo e a água. Ele era um teimoso, ela a própria candura. Sem essa aliança, nem eu, nem a minha Terceira [sinfonia] existiríamos. Quando penso nisso, experimento sempre uma estranha sensação». IMAG.208-224-237

1859-07JUL1930 - Arthur Conan Doyle: Criador de Sherlock Holmes, autor de História do Espiritismo - «O mundo está cheio de coisas óbvias, mas em que ninguém - mesmo por um momento - logra reparar» IMAG.17-66-71-116-128-140-184-227

CALENDÁRiO

11DEZ2009-09JAN2010 - Casa da Cultura/Casa Barbot, em Vila Nova de Gaia, apresenta Luz, Olhar, Gesto,  exposição de pintura por Manuel Malheiro.

16DEZ2009-14FEV2010 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Desenho a Preto e Branco e a Cores / Antologia Gráfica (1958-2009) de Nikias Skapinakis. IMAG.42-46

18DEZ2009-28FEV2010 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta [Pablo] Picasso [1881-1973] y los Libros, exposição da Colecção Bancaja. IMAG.14-118-186-224

OBSERVATÓRiO

http://www.jorgecolombo.com/nrr09/index.htm - JORGE COLOMBO - O ilustrador e designer português apresenta os cenários digitais para o bailado Nutcracker: Rated R, estreado Off Broadway em 17DEZ2009, que criou com recurso ao seu iPhone. O espectáculo original surgiu em 2006, sendo autores David F. Slone e a coreógrafa Angela Harriell.

COMENTÁRiO



Insuperável, o estilo visual de Josef Von Sternberg (1894-1969) persiste em Macao (1952), pela vertigem dum elã captado pelos movimentos de câmara, sobretudo quanto ao bulício das ruas reconstituído em estúdio; na sua famosa composição geométrica, patente pela essencial arquitectura cénica sobre os interiores do casino; ou numa peculiar disposição dramática entre os homens e as mulheres, como títeres reactivos ou símbolos sensuais. Em tal nexo, Robert Mitchum emerge perturbador, sob a intriga criminal, e o fulgor de Jane Russel incendeia um contexto exótico, pelo Extremo Oriente - enquadrado em imagens de arquivo, relativas à realidade exterior... Vindos de Hong-Kong, chegam a Macau: Lawrence Trumble, um detective nova-iorquino disfarçado de caixeiro-viajante; Julie Benson, uma atraente aventureira e cantora de nightclub; e Nick Cochran, um americano que não pode regressar à pátria, por acusação de tiroteio. Trumble tem como alvo Vincent Halloran - influente proprietário das casas-de-jogo que Sebastian, um oficial da polícia portuguesa protege - acabando perseguido por cúmplices da sua vítima... Embora com distintas implicações, a memória do cinema regista, em tal temática, Labaredas (1942 - Jean Delannoy) ou, de recorte nacional, Operação Estupefacientes (1966 - Miguel Spiguel). Todavia, Macao é um único testemunho artístico, simbolizando o cinismo humano no exílio do paraíso. IMAG.254

TRAJECTÓRiA

MANUEL QUEIROZ

Produtor e realizador do cinema português, Manuel Ribeiro Nunes de Queiroz nasceu em Lisboa, a 22 de Julho de 1921, em Lisboa; faleceu na Amadora, em 2000. Começou por trabalhar em escritórios comerciais, até que o interesse pelo cinema o levou a ingressar na Lisboa Filme. A partir de 1956, dirigiu a produção de diversas longas metragens. Em 1962, fundou a Cinedex, através da qual executou várias comédias populares, sendo às vezes responsável pela decoração. Em 1965, radicou-se em Angola e, durante dez anos, foi subdirector do ABC - Diário de Luanda, administrador da Rádio Comercial de Angola e chefe de publicidade da União Comercial de Automóveis. De regresso a Portugal, dedicou-se a produções fílmicas e televisivas de ficção, ou documentais com um cariz político, através da cooperativa de audiovisuais Forum (1978) e da editora videográfica Imaginação.

BREVIÁRiO

Costa do Castelo edita em DVD, Robert Mitchum (1917-1997) - Edição Especial; inclui Raquel, a Escrava Branca / Rachel and the Stranger (1948 - Norman Foster), Céu Vermelho / Blood On the Moon (1948 - Robert Wise), Quando as Viúvas Querem Casar / Holiday Affair (1949 - Don Hartman) e Macau / Macao (1952 - Josef Von Sternberg). IMAG.86-141

N’As Aventuras de Blake e Mortimer, segundo Edgar P. Jacobs, Edições Asa lança A Maldição dos Trinta Denários por Jean Van Hamme, René Sterne e Chantal De Spiegeleer. IMAG.10-66-119-218-245

Dom Quixote edita Breakfast at Tiffany’s - Boneca de Luxo de Truman Capote (1924-1984); tradução de Manuel Cintra. IMAG.60-64-84-172-210-230

Popstock edita em CD, sob chancela Luaka Bop, Seis Poemas de Susana Baca.

Relógio d’Água edita Crime e Castigo de Fiodor Dostoievski (1821-1881); tradução de António Pescada. IMAG.220

Oficina do Livro edita Raul Solnado - A Vida Não Se Perdeu de Leonor Xavier. IMAG.49-107-264

ANTIQUÁRiO

01JUL2004 - Kafre publica o IMAGINÁRiO1, ainda apenas em versão newsletter.



07JUL1950 - Doze dias após o início da Guerra da Coreia, o Director do FBI/Federal Bureau of Investigation,  John Edgar Hoover (1895-1972), envia a Sidney Souers, Conselheiro para a Segurança Nacional do Presidente dos Estados Unidos, Harry Truman, um ofício confidencial, em que solicita autorização para a detenção de «todos os indivíduos potencialmente perigosos», a fim de «proteger os EUA contra a traição, a espionagem e a sabotagem», apelando ainda à suspensão do habeas corpus em casos de «ameaça de invasão» ou «ataque às tropas dos EUA em território legalmente ocupado», de modo a «tornar efectivas as prisões». Hoover esclarece dispor de uma lista com cerca de doze mil nomes de pessoas «desleais», «97% das quais cidadãos americanos», mas não há certezas de que Truman chegasse a ponderar tais planos de índole policial, militar e política, ao declarar o Estado de Emergência em DEZ1950.

PARLATÓRiO

Gustav Mahler

É inútil sobrecarregar as sinfonias mahlerianas, tornando-as mais expressivas artificialmente. Mahler foi objectivo, sendo lendárias a sua precisão e a sua preocupação maníaca com os detalhes. Para se obter expressão, basta tocar o que está na partitura.
David Zinman

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS
- Folhetim Aperiódico

E TAMBÉM ANDAR À MÚSICA
ASSIM COMO NOS FILMES - 3

 Tendo-se cultivado em França e em Itália, onde marginou o escol da sua arte, Roldão aprimorou-se no regresso ao país natal, exacerbando um estilo próprio, inspirado nas tradições folclóricas. Nutria horror ao amadorismo, mas estimulava os autodidactas, logrando para os mais favoritos, ou fanáticos, algumas bolsas surripiadas por debaixo das secretárias ministeriais.

Afinal, Roldão Terujo guindara-se a orgulho do Estado Novo, e não lhe ficava mal proclamar o talento, a fome de sucesso, mesmo numa altura em que era um luxo ter uma côdea de pão para roer. Mesmo até se os seus pares o desprezassem por se tornar - como quem diz, entre dentes- «cão a lamber a mão ao dono». Cinicamente, talvez amasse Sabrina com aquele fervor platónico, porque já não poderia ter com ela um pas-de-deux…

 – Continua   


IMAGINÁRiO280

· 24 JUN 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

EXEMPLOS



Vidas que encerram um lugar na história, obras que determinam a memória dos seus criadores. Entre as figuras que simbolizaram o Século XX português, sobressai Agostinho Fernandes - Um Industrial Inovador, Um Coleccionador de Arte, Um Homem de Cultura - em fotobiografia coordenada por José da Cruz Santos, com direcção gráfica de Armando Alves, e relançada sob chancela da Portugália Editora. Responsável por um império conserveiro em redor de Algarve Exportador, mecenas, humanista, editor da revista Contemporânea, fundador da Portugália Editora, tendo financiado a Cinelândia, parceiro na organização do Museu de José Malhoa - eis apenas alguns marcos e traços da intervenção ampla e fecunda de Agostinho Fernandes (1886-1972), a que estão indissociavelmente ligados o espírito empreendedor, a forte personalidade, a atenção frontal, o carácter determinado, a vontade laboriosa, o interesse visionário, o influente motivador, o lúcido inconformista… Alguém que reflectiu, com a ironia de uma meditação retrospectiva: «Quem lutou para lutar, deve lutar… ate morrer!»

MEMÓRiA

1885-02MAR1930 - David Herbert Lawrence, aliás D.H. Lawrence: «Come e embriaga-te com Baco, ou mastiga pão seco como Jesus, mas não fiques sentado sem um dos deuses». IMAG.50-58

24JUN1360-1431 - D. Nun’Álvares Pereira, o Santo Condestável: «Aqui jaz o famoso Nuno, o Condestável, fundador da Casa de Bragança, excelente general, beato monge, que durante a sua vida na terra tão ardentemente desejou o Reino dos Céus depois da morte, e mereceu a eterna companhia dos Santos. As suas honras terrenas foram incontáveis, mas voltou-lhes as costas. Foi um grande Príncipe, mas fez-se humilde monge. Fundou, construiu e dedicou esta igreja onde descansa o seu corpo» (Epitáfio). IMAG.205

1882-27JUN1970 - Pierre Mac Orlan: «A natureza e os livros pertencem aos olhos de quem os vê».

29JUN1900-1944 - Antoine de Saint-Exupéry: «Eis o meu segredo. Ele é muito simples: somente vemos bem com o coração. O essencial é invisível aos olhos» (O Principezinho). IMAG.88-243

1922-29JUN2000 - Vittorio Gassman: «O homem dos nossos dias atravessa uma das suas piores crises, uma espécie de crepúsculo do humanismo».

CALENDÁRiO

1918-27NOV2009 - Jacques Baratier: Realizador, argumentista e actor do cinema francês, Prémio do Júri por Goha le Simple no Festival de Cannes em 1957 - «Desperdicei muitas oportunidades, tinha a atitude de um filho rebelde… Sacrificava o produtor ou o filme - em ambos os casos, as coisas nunca resultavam».

27NOV2009-17JAN2010 - Palácio Galveias expõe João Abel Manta - «Uma pintura que tenho vindo a realizar nestes últimos 20 anos e que só aos 60 me foi possível iniciar quando me libertei, sem rancor, da arquitectura, artes gráficas, ilustração, decoração urbana e outras coisas». IMAG.172-193-195-224

02DEZ2009-31JAN2010 - Em Lisboa, Cordoaria Nacional expõe, na Galeria Torreão Nascente, Conhecido Desconhecido - Exposição Fotográfica do autor cubano Alberto Korda (1928-2001), sobre o período de 1956-1968.

11JUN1919-03DEZ2009 - Richard Todd: Actor irlandês da televisão e do cinema britânicos, herói da II Guerra Mundial, a quem o escritor Ian Fleming pretendia para encarnar o seu 007 James Bond em grande ecrã, tendo trabalhado com Alfred Hitchcock, Otto Preminger ou King Vidor.

03DEZ2009 - VC Multimédia estreia Uma Aventura Na Casa Assombrada de Carlos Coelho da Silva; com Francisco Areosa e Sara Salgado. IMAG.60-94-226

OBSERVATÓRiO

www.tchaikovsky-research.net - A existência e a carreira de Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840-1893), «o mais popular compositor da Rússia», incluindo Fórum, Pessoas, Locais, Cronologia, Links, Catálogo, Biografia, Notícias e Eventos, Estudos e uma base informativa sobre edições, gravações e outras referências. IMAG.235-261-273

www.chicodeassispoesia.blogspot.com - CHICO DE ASSIS - POESIAS - Direccionando «um local reservado para uma das mais belas das sete artes, onde a linguagem humana é expressada com maestria, seja em versos ou prosas», uma das presenças mais recentes é o poeta brasileiro, de origem alagoana, Ricardo Cabús, com Cacos Inconexos.

VISTORiA











Nun’Álvares

Que aureola te cerca?
É a espada que, volteando,
Faz que o ar alto perca
Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,
Faz esse halo no céu?
É Excalibur, a ungida,
Que o Rei Arthur te deu.

Sperança consummada,
S. Portugal em ser,
Ergue a luz da tua espada
Para a estrada se ver!

Fernando Pessoa








As irmãs não se entregavam a grandes conversas. Agatha, loura, baixa e decidida, revoltava-se contra a atmosfera doméstica, contra a doutrina da outra face. Sobrevivia só no mundo, e estava a ponto de conquistar a sua independência. Insistia no valor dos juízos mundanos, das aparências, das maneiras, da situação social, coisas que Miriam desdenhava.

D.H. Lawrence
Filhos e Amantes (1913 - excerto)

As pessoas crescidas gostam de números. Quando lhes falam de um novo amigo, jamais querem saber o essencial. Nunca indagam: «Como é a sua voz? Quais são os seus jogos preferidos? Faz colecção de borboletas?» Perguntam: «Que idade tem? Quantos irmãos tem? Quanto pesa? Quanto ganha o seu pai?» Só então é que elas julgam conhecê-lo. Se disserem às pessoas crescidas: «Vi uma linda casa, feita de tijolos vermelhos, com gerânios nas janelas e pombas no telhado», elas não conseguem imaginar a casa. É preciso dizer-lhes: «Vi uma casa que custa tanto…». Então, exclamam: «Como deve ser bonita!»

Saint-Exupéry
O Principezinho (1943 - excerto)

BREVIÁRiO

Frenesi edita Pornografia e Obscenidade de D.H. Lawrence (1885-1930); tradução de Aníbal Fernandes.

VGM edita em CD, sob chancela Alpha, Johann Sebastian Bach [1685-1750]: Missae Breves pelo Pygmalion, sob direcção de Raphaёl Pichon. IMAG.32-58-163-198-203-212-216-220-240-267-268-269

Calendário edita O Amanhã Perfeito de Beatriz Pacheco Pereira. IMAG.3-23-63-148-221

Na colecção Autores Portugueses, Edições Asa lança Asteroid Fighters - O Início de Rui Lacas. IMAG.127-192

ANUÁRiO

360 aC-295 aC - Euclides: «Quando uma linha recta, caindo sobre outra linha recta, fizer com esta dois ângulos iguais, um de uma, e outro de outra parte, cada um destes ângulos iguais se chama ângulo recto; e a linha incidente diz-se perpendicular à outra linha, sobre a qual cai.»

60-140 - Decimus Junius Juvenalis, aliás Juvenal: «É tão indulgente o homem para consigo mesmo, que nunca julga ter-se aproveitado bastante da liberdade de se portar mal. Nenhum culpado pode ser absolvido pelo tribunal da própria consciência… Se a prudência te acompanha, nenhum poder celestial te desamparará».

COROLÁRiO



Definições

I. Ponto é o, que não tem partes, ou o, que não tem grandeza alguma.
II. Linha é o, que tem comprimento sem largura.
III. As extremidades da linha são pontos.
IV. Linha recta é aquella, que está posta egualmente entre as suas extremidades.
V. Superfície é o, que tem comprimento e largura.
VI. As extremidades da superfície são linhas.
VII. Superfície plana é aquella, sobre a qual assenta toda uma linha recta entre dous pontos quaesquer, que estiverem na mesma superfície.
VIII. Angulo plano é a inclinação reciproca de duas linhas, que se tocam em uma superfície plana, sem estarem em direitura uma com a outra.
IX. Angulo plano rectilineo é a inclinação reciproca de duas linhas rectas, que se encontram, e não estão em direitura uma com outra.
Euclides
Lei I - Dos Elementos 
(Elementos de Euclides - Imprensa da Universidade de Coimbra - 1855)


A vingança é sempre o prazer
de um espírito mesquinho,
de um espírito amedrontado e avaro.
Podes ter a certeza disso agora mesmo:
ninguém se deleita tanto
com a vingança
como a mulher.

Juvenal

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS
Folhetim Aperiódico

E TAMBÉM ANDAR À MÚSICA
ASSIM COMO NOS FILMES - 2

 Primeiro, murchou-lhe a língua e, depois, sentiu todo o corpo a perder o alento. Em circunstâncias normais, pareceria uma desgraça, pois era o seu instrumento profissional, a sua máquina de fascinação.

Bem no fundo da forma física, Roldão não tinha estômago para tanto veneno. Estava, aliás, para além dos compromissos. Quando os membros começaram a emperrar, ainda deduziu, romântico, que chegara à idade do reumatismo.

Preparava-se, pois, para dar descanso aos músculos, e desfrutar a dança dos admiradores em sua volta. Até que logo lhe chegaram os sintomas funestos, e a angústia travou-lhe os próprios rodopios do coração…

– Continua