José de Matos-Cruz


IMAGINÁRiO50
08 SET 2005 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano II · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

BUSCAVIDAS

 

Segundo as convenções romanescas, o imaginário virtual é a preto-e-branco. Entre tais nexos ético e estético, Alberto Breccia proporia - sob chancela das Edições Asa - o seu estilo volúvel, sarcástico, através de Buscavidas. Estórias neutras, enigmáticas mas feéricas - para um ávido coleccionador - assim se perverteu o eterno conflito das luzes contra as trevas: uma ambígua gama gráfica, em que se insinua a híbrida tradição cultural latino-americana. Para tal contribui a inspiração mórbida de Carlos Trillo, quanto às tremendas realidades que se ocultam, para além das mais improváveis aparências, da profunda miséria à prepotência culminante. Um universo sem heróis, uma crise cruel, um purgatório familiar entre desafios e adversidades, um universo ontológico devassado na mais pungente intimidade. Obra madura, narrativa crua, intensa, saga efémera e prodigiosa, eis uma elegia em que Trillo & Breccia aliciam um público adulto, sobretudo propício a emoções fortes.

MEMÓRiA

17JUL1955 - Projecto pessoal de Walt Disney, em Anaheim, Califórnia, é inaugurada a Disneyland, desde então visitada por mais de quinhentos milhões de pessoas. Seguiram-se o DisneyWorld em Orlando, na Florida (1971), o empreendimento turístico de diversão mais concorrido do Mundo; e réplicas em Tóquio (1983), em Paris (1992), e em Hong-Kong (2005).

29JUL1805-1859 - Alexis de Tocqueville: «Aquilo que em todos os tempos ancorou a liberdade no coração de alguns homens foi o seu encanto próprio, independentemente dos seus benefícios, foi o prazer de poder falar, agir, respirar sem constrangimento, sob o único governo de Deus e das leis».

1505-SET1575 - D. Estevão da Gama, filho de Vasco da Gama: «Decada quinta da Asia, &c. em quanto governáram a India Nuno da Cunha, D. Garcia de Noronha, D. Estevão da Gama, Martim Affonso de Sousa» (Lisboa por Pedro Crasbeeck no Colegio de Santo Agostinho - 1614).

08SET1925-1980 - Peter Sellers: «Eu não tenho personalidade própria. Sou um actor de personagens».

11SET1885-1930 - D.H. Lawrence: «Temos de aprender a amar e, para o conseguir, há que sofrer».

13SET1885-1963 - Aquilino Ribeiro: «De pena na mão, procuro ser independente, original, inteiriço como um bárbaro».

1638-14SET1715 - Dom Pierre Pérignon: «A tradição atribui-lhe a elaboração dos primeiros vinhos espumosos fermentados em garrafa» (Enoteca Khantaros).

14SET1905-1983 - Mary Renault: «Política e sexo são apenas uma consequência da nossa natureza essencial».

15SET1765-1805 - Manuel Maria Barbosa du Bocage: «Se me creste, gente ímpia, / Rasga meus versos, crê na eternidade!»

VISTORiA

 

Meu ser evaporei na luta insana
Do tropel de paixões que me arrastava:
Ah! cego eu cria, ah! mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana!

De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não dourava!
Mas eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus, e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus, ó Deus!... quando a morte a luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.

Manuel Maria Barbosa du Bocage - Meu Ser Evaporei na Luta Insana

CALENDÁRiO

29JUL2005 - Uma equipa de astrónomos norte-americanos, financiada pela NASA, confirma a descoberta do décimo planeta do sistema solar, numa misteriosa zona para lá de Neptuno e Plutão, designada Cintura de Kuiper; com o nome provisório 2003-UB 313, foi avistado pela primeira vez em OUT2003, através do Observatório de Monte Palomar, na Califórnia.

REPOSITÓRiO

 

Por brincadeira, o jornalista Fandor publica uma sensacional, mas imaginária entrevista com Fantomas, enigmático marginal cujas proezas emocionam Paris. Aborrecido, o aventureiro sequestra-o, ameaçando com duras represálias, caso não escreva um artigo revelando a verdadeira história. Libertado, Fandor enfrenta as perguntas do Inspector Juve, enquanto o seu editor elabora outra reportagem, também falsa, sendo igualmente raptado. Entretanto, Fantomas decide assumir a identidade de Fandor, graças a uma máscara que inventou, e desacreditá-lo, cometendo diversos crimes que o comprometerão... Eis Fantomas (1964) de André Hunebelle, segundo argumento de Jean Halain & Pierre Foucaud, com um carismático Jean Marais como duplo protagonista. Trata-se de uma transposição sobre o mestre criminal, sagrado pelas novelas clássicas de Pierre Souvestre & Marcel Allain, a partir de 1911. Aliás, o primordial sucesso deriva de Fantomas (1913) - um serial realizado por Louis Feuillade, com René Navarre, que se converteria em culto do Surrealismo, como paradigma do herói destrutivo. Considerado ainda o mais tenebroso cérebro de todos os tempos, amoral e assassino, que inspirou outros famigerados títeres como o italiano Diabolik (de Angela & Luciana Giussani), Fantomas simbolizaria - em termos de pulps - uma extravagante reencarnação das figuras do Marquês de Sade. Em 1936, o mexicano Alfredo Valdés recriou as suas inexoráveis façanhas em quadradinhos. Trinta anos depois, e na sequência do filme de Hunebelle, o seu compatriota Alfredo Cardona Pena lançou - através da Editorial Novaro - novas bandas desenhadas por Rubén Lara Romero, com guiões de Guillermo Mendizabal. Este desistiu em 1969, substituído por Alfredo Gurza. O próprio Cardona Pena entregou a ilustração a uma equipa, na qual se distinguiram José S. Reyna, Fermin Márquez, Agostín Martínez, Luis Carlos Hernández e Jorge Lara. Tal labor chegou até nós - através do Brasil, sob chancela Ebal - na revista Fantomas, a Ameaça Elegante, no início de 1970. Aliás, a expectativa de um público infantil havia retirado muito do carácter perverso, radical a Fantomas - convertido em paladino altruísta, que recorre à mais sofisticada tecnologia científica, apoiado pelo Professor Semo, embora viva rodeado por uma atmosfera passadista e pomposa. Actualizando a acção, em estilo burlesco e artificioso, Hunebelle revitalizou alguns dos primitivos lances em ecrã, sempre com Marais, Louis de Funès e Mylène Demongeot, em Fantomas Passa ao Ataque (1965) e Fantomas Contra a Scotland Yard (1967). Uma trilogia empolgante, irresistível - agora relançada numa caixa em DVD, sob chancela Prisvídeo - reabilitando a misteriosa saga de Fantomas, subjugador e triunfante para além do bem e do mal.

VISTORiA

 

 O declínio do sobrenaturalismo no Ocidente foi obra indirecta dos judeus expulsos e dos da sua progénite. Os títulos que punham aos trabalhos impressos - nada mais que por virtude do contraste que apresentavam em relação às designações de moda, herméticas e estapafurdicamente pedantes: de Amatus Lusitanus, Curationum medicinalium centuriae; de Rodrigo de Castro, De universa mulierum medicina; de Isaque Bem-Solimão, De febris, etc. - revelavam eloquentemente pela precisão nas ideias que foram de sempre apanágio da raça hebraica. Estes títulos é quanto basta para nos dar a conhecer a dose de bom senso que tais homens apagados e nómadas acabaram por imprimir ao curso das ciências e das letras na Europa com manifesto eclipse do misticismo milagreiro. Muitos anos andados ainda Bacon trazia a lume o Lião verde, uma das suas obras postas nos cornos da lua sapiente.

Pelo combate que no campo das ciências aplicadas, em particular, davam à superstição e à medicina sobrenatural - como aposição de relíquias e de ferros santos, intercessão de bem-aventurados, a cada um competindo determinada zona anatómica ou espécie zoológica, assim a Cabeça Santa para a raiva, S. Fiacre para as almorreimas, Santa Luzia e Santa Flamínia, ambas concorrentes, para os achaques dos olhos, Santa Apolónia para a dor de dentes, S. Francisco de Paula a bem da sucessão masculina e ainda contra a estiagem, S. Marino para a sarna, Santa Tecla para as queimaduras, Santa Rita para todos os impossíveis do corpo e da alma, reservando-se Santo Antão o privilégio de guardar os porcos ao chambaril, Santa Marta de esconjurar o pulgão e o filoxera das vinhas, S. Pedro Gonçalves a lagarta das hortas e até S. Paulo Mártir de preservar as searas e favais do granizo e das trovoadas - concitavam contra si todos os agentes de rotina e de conservação. Para o vulgo os físicos hebreus eram hereges e sequazes do Diabo, com o qual tinham pacta. Queimava-se no Entrudo o judeu de estopa e alcatrão, como o judeu de carne e osso na Praça da Lã.

Esta perseguição da Igreja romana contra o judaísmo, equivalente dentro da ideia monoteísta, na esfera das reacções, à da pernada contra o tronco, do verbo contra o logos, de Deus Padre contra Jeová, de Cristo contra Moisés, é um dos casos mais estupendos e absurdos da história.
Aquilino Ribeiro - Portugueses das Sete Partidas (1950)

ANTIQUÁRiO

1925 - Em Itália, Fred Niblo realiza Ben-Hur, estilizando um decorativismo operático, magnificente, sendo protagonista Ramon Novarro. As culminantes cenas do combate marítimo e da corrida de cavalos foram dirigidas por B. Reeves Eason, arrebatando pelos desafios individuais, entre os prodígios de um imaginário puro, esplendoroso, na plenitude do cinema mudo.

BREVIÁRiO

Câmara Municipal de Montijo lança, na Colecção Estudos Locais, Tomás Luís e o Retábulo da Igreja da Misericórdia do Montijo de Vítor Serrão e Filipa Raposo Cordeiro.

Cavalo de Ferro edita O Deserto dos Tártaros de Dino Buzzati; tradução de Margarida Periquito.


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24 AGO 2005 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org

PRONTUÁRiO

 MARVEL 1602

 

Tanto tempo passado desde o crepúsculo de Sandman - uma eternidade de ausências e inquietações, para os fanáticos da obra-prima fantástica - eis que o universo em quadradinhos volta a iluminar-se, com o regresso à arte do mais inspirado criador: Neil Gaiman - desvendando Marvel 1602, com ilustração por Andy Kubert e colorido de Richard Isanove, no âmbito da House of Ideas e em edição sob chancela Devir. À partida, estaria uma estratégia imaginária, similar à desenvolvida pelos DC Comics pela vertente ElseWorlds: especulando as vivências dos heróis clássicos em domínios e períodos diversos dos que lhes são característicos. Em concreto, alguns dos super mais notáveis entre protagonistas e antagonistas à dimensão Marvel - como Nick Fury, Doctor Strange, Peter Parker/Spider-Man, DareDevil, Victor Von Doom, Charles Xavier ou X-Men - transferem-se para Inglaterra do Século XVII, ao tempo da soberana Elizabeth. Uma época de medos e bruxedos, magias e assombrações, perigos e prodígios - tendo outros pólos dramáticos na ambição do rei James da Escócia, nos tormentos da Inquisição em Espanha, nos delírios do ditador de Latveria, na esperança da América e de um Novo Mundo. Entretanto, sob a iminência do Juízo Final, há um tesouro que os Templários resgataram de Jerusalém, a Terra Santa, e um estranho clima avassala o planeta...

CALENDÁRiO

MAI2005 - Sociedade Portuguesa de Autores/SPA comemora 80 Anos de existência; na mensagem do Dia do Autor Português, lida por Raul Solnado, saudou-se «a esperança de que os autores portugueses, em algum tempo, tenham o direito da conquista da sua libertação e portanto, do absoluto poder da nossa inteira criatividade».

JUL2005 - O cientista nipónico Hiromu Maeno atribui o nome Moraes a um planeta menor na constelação de Pégaso, não visível a olho nu, com órbita entre Marte e Júpiter; «uma retribuição» ao nome e à memória do escritor Wenceslau de Moraes (1854 - 1929), que viveu no Japão a partir de 1898 LIMAGINÁRiO5.

JUL-DEZ 2005 - Casa-Museu da Fundação Medeiros e Almeida expõe Tesouros da Intimidade Real; inclui peças em materiais nobres - ouro, prata, pedras preciosas, cristal - das Casas de Portugal, Espanha, França, Inglaterra, Áustria, Hungria, Alemanha e Estados Italianos.

1913-JUL2005 - Claude Simon: «Escrevo para tentar lembrar-me do que se passou durante o instante em que escrevia».

08DEZ1915-03JUL2005 - Alberto Lattuada: «O diabo receia-me, isso é certo: procuro-o e ele evita-me há muitos anos, desde que o Bispo de Milão me ungiu a fonte com os Santos Óleos, na nave central do Duomo».

1926-06JUL2005 - Ed McBain, aliás Salvatore Lombino, aliás Evan Hunter: «Levou a ficção policial a um novo e mais realista domínio, um corte radical com aquele detective educado e aristocrático que trabalha sozinho» (Marilyn Stasio).

1916-09JUL2005 - Ernest Lehman: Argumentista (Intriga Internacional - 1959 de Alfred Hitchcock, Qual Tem Medo de Virginia Wolf? - 1966 de Mike Nichols), realizador de Portnoy’s Complaint (1971); Oscar Honorário em 2001.

19JUL2005 - Casa da Animação e Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia/ICAM prestam homenagem a António Ferreira Gaio, por altura do seu octogésimo aniversário; o nome do director do Cinanima - Festival Internacional de Cinema de Animação de Espinho distinguirá ainda o Prémio António Gaio, a atribuir ao Melhor Filme Nacional.

19JUL2005 - Em Belém, reabre o Planetário Calouste Gulbenkian, passando a integrar a rede de Centros Ciência Viva. Além do Universarium IX fabricado pela Zeiss, tendo em vista um Teatro Sideral, possui novos sistemas de projecção astronómica periférica, com reestruturação do Auditório e da Galeria.

28JUL2005 - Castello Lopes estreia Quarteto Fantástico de Tim Story; com Ioan Gruffudd, Michael Chiklis, Jessica Alba e Chris Evans LIMAGINÁRiO45.

14AGO2005 - Publicações Dom Quixote edita Joaquim de Almeida - 1838-1921 - Um Actor de Montijo de José de Matos-Cruz; lançamento em Montijo - Dia da Cidade.

Câmara Municipal de Moura organiza, através do GIIRP / Sector Gráfico, o 13º Concurso de Bd e Cartoon, aberto a artistas portugueses e estrangeiros, sendo 30SET2005 a data limite para o envio de trabalhos; contacto: Praça Sacadura Cabral - 7860-207 Moura.

REPOSITÓRiO

POLÍCIA MUNDIAL

 Terrorismo, autoridade, idealismo, mexericos, vaidade, política, militares, sexualidade, religião - tudo está em causa e em jogo, com as maiores provocação e irreverência, em Polícia Mundial (2004), que os (ir)responsáveis realizadores Trey Parker & Matt Stone exacerbam, numa sátira radical sobre o confronto entre a visão estratégica dos EUA a nível internacional, e o cego fanatismo dos adversários sem fronteiras da democracia. Após recriarem/demolirem a animação convencional em South Park, série e filme (1999), Trey & Parker subvertem os parâmetros épicos/idealistas de Thunderbirds (Gerry Anderson - 1965-66), virtualizando uma autêntica fantochada épica e caótica. Em cenários de bazar como superprodução à Hollywood, marionetas vistosas, caprichosas, degladiam-se/destroem-se como protagonistas/antagonistas - repartindo-se por Team America, uma exuberante unidade secreta de elite que tudo devasta, da Torre Eiffel em Paris às Piramides do Egipto; pela Fag, uma ideótica federação de vedetas do cinema, pacifistas e contestatárias, entre elas versões de Tim Robbins, Susan Sarandon, Alec Baldwin e Sean Penn; ou por maníacos/enfáticos inimigos públicos, ícones da perfídia universal ou líderes paranóicos, como Kim Jong Ill da Coreia do Norte... Em DVD sob chancela Lusomundo, Team America - Polícia Mundial consagra um insolente delírio animatrónico, grotesco, ceifando o imperialismo ianque pela crise neo-liberal IMAGINÁRiO8.

NOTICIÁRiO

JACK, O ESTRIPADOR
AFINAL ERA MARINHEIRO

Acabou-se o enigma que envolve um dos mais míticos criminosos do Século XIX. Jack, o Estripador, afinal era marinheiro. A revelação foi feita agora em livro. Jack The Ripper: The 21st Century Investigation, da autoria do ex-detective Trevor Marriott, coloca a hipótese de que «o criminoso andava embarcado num navio da marinha mercante» e que praticava a matança mal colocava os pés em terra firme.
10JUL2005 - Notícias Magazine

OS ASSASSINATOS
DE WHITECHAPEL

Um jornal de Londres, o Daily News recebeu um telegrama de New York, que lança alguma luz sobre os antecedentes do misterioso assassino. Há alguns meses houve no Estado do Texas uma série horrível de assassinatos de mulheres. As vítimas eram quase sempre mulheres de cor e eram mutiladas do mesmo modo que em Londres. Esta coincidência faz crer que o assassino será o mesmo. Acresce ainda a apoiar esta hipótese terem cessado os assassinatos em Texas e os sinais do homem, que pretendem ter visto com as mulheres em Londres, indicarem que é estrangeiro e que fala com acentuação americana. A sexta mulher assassinada estava igualmente degolada, o rosto desfigurado com facadas, o ventre aberto, os intestinos amontoados sobre o peito, e o útero extraído. O cadáver foi descoberto por um polícia que, de quinze em quinze minutos, passava pelo local. Parece que o assassino e a vítima esperaram que o polícia passasse, para se colocarem na parte mais escura, indo a mulher enganada, com algum pretexto imoral. O criminoso teve apenas doze minutos para cometer o assassinato e a extracção do útero. O que há de mais extraordinário é que o guarda de um dos armazéns não ouviu nenhum rumor, tendo porém ouvido os passos do polícia quando se aproximava do cadáver. As duas últimas vítimas eram de trinta a quarenta anos, ambas de costumes licenciosos e frequentadoras de tavernas, e ambas eram casadas e estavam separadas dos maridos, como as outras quatro mulheres assassinadas.

Mais um crime, com as atrozes circunstâncias dos crimes de Whitechapel, foi cometido num bairro de Londres próximo daquele. Sir Charles Warren, chefe da Polícia Municipal, mandou fixar um edital em que promete recomendar ao perdão da Rainha todo o cúmplice que não for promotor nem efectivo autor do crime, e que denunciar o verdadeiro culpado. ªOs médicos colocaram no seu lugar os membros da infeliz Mary-Jane Kelly. Parece que nada falta. Com respeito ao culpado, continua a esconder-se no mais impenetrável mistério. Há uma coisa extraordinária, digna de notar-se. O leito estava encharcado em sangue, mas no chão não havia a mínima gota e, no entanto, as entranhas, o fígado, os seios, as orelhas e o nariz foram colocados sobre uma mesa a dois metros da cama. A remoção do cadáver fez-se de um modo horrível. O corpo metido num velho esquife sem pano mortuário e, atrás, numa carruagem, dois policemen levavam os órgãos da infeliz metidos num balde.
07OUT-16NOV1888 - Diário de Notícias

DOCUMENTÁRiO

ALBERTO LATTUADA
NO CINEMA ITALIANO

 Expoente do neo-realismo italiano, Alberto Lattuada (1914-2005) fez estudos de Arquitectura, foi crítico de cinema e ensaísta em diversas revistas antifascistas, contribuindo de modo decisivo, com Luigi Comencini, para a fundação da Cinemateca Italiana em 1940. Como realizador, lançou-se em Giacomo l’Idealista (1942), prosseguindo uma carreira coerente e constante - de que se destacam O Bandido (1946), Sem Piedade (1948), Ana (1951), O Moinho do Pó (1952) e O Capote (1952). Nas décadas seguintes, sobressaem O Emissário da Máfia (1962), O Pecado (1971) ou Uma Nova Forma de Amor (1974), além do épico televisivo Cristovão Colombo (1985). Comentou Callisto Cosulich, «o pessimismo de Lattuada tem um único limite: o da esperança. Para além dele, há apenas a destruição do mundo». Segundo Lattuada, o neo-realismo - como «testemunho mobilizador da sociedade e do povo italiano» - não atingiu os seus objectivos: subsistiram os conflitos, as carências, chegando-se a uma nova utopia da violência. Já a comédia e a sátira - modos directos de ferir e implicar a realidade - continuaram válidas. Porém, «o mundo é lento a mover-se na conquista de liberdades». A hipocrisia, o conformismo, o fanatismo religioso continuaram tópicos actuais. Lattuada considerava o realizador «responsável pela obra acabada». Tendo abordado todos os géneros, em argumentos originais ou adaptações literárias, concluía que «a transposição fiel de um livro para um filme não tem sentido, não é uma obra cinematográfica».


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24 AGO 2005 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org

PRONTUÁRiO

O VOO DO CORVO

 

No panorama da banda desenhada franco-belga, Jean-Pierre Gibrat - formado em artes plásticas e design gráfico - firmou a sua notoriedade durante a década de ’80 do Século XX, com La Parisiènne na revista Pilote. Autor de ilustração minuciosa, deslumbrante, revelado pela Meribérica/Liber com Pinóquia e Maré Baixa, regressa sob O Voo do Corvo - em dois tomos imprescindíveis, após Destino Adiado - com a chancela das Edições Asa. Tudo acontece em plena II Guerra Mundial, durante a expansão germânica e entre a resistência que se organiza. Jeanne é uma bela e ousada jovem, que assim confidencia: «Esta é a minha primeira noite na prisão. E desconfio que não será a última. Se tivesse sido apanhada pelos boches, se calhar já estava morta. Apesar de tudo, foi uma sorte ter sido presa pela polícia francesa. Isso deixa-me uma hipótese... Uma hipótese muito pequena!»

CALENDÁRiO

JUN2005 - A Carta de Achamento do Brasil, enviada a El-Rei D. Manuel I, por Pero Vaz de Caminha, a 1 de Maio de 1500, é inscrita no Registo da Memória do Mundo, tornando-se o primeiro documento português a figurar na lista instituída pela UNESCO em 1992 IMAGINÁRiO33.

JUN2005 - O Teatro Capitólio, no Parque Mayer é seleccionado pelo World Monuments Fund para figurar na lista World Monuments Watch - 100 Most Endangered Sites de 2006, relativa a bens, conjuntos e sítios de valor patrimonial em maior risco do mundo.

27JUN2005 - No Porto, é criada a Associação Guilhermina Suggia, com o objectivo de divulgar as suas vida e obra, honrar-lhe a memória e criar a Casa-Museu Guilhermina Suggia. http://suggia.weblog.com.pt

30JUN2005 - Posto na praça pela Christie’s, o argumento de O Padrinho (1972 - Francis Ford Coppola), anotado por Marlon Brando, é vendido em Nova Iorque por 312.000 dólares, no âmbito do leilão de objectos pessoais do falecido actor, logrando a mais alta soma já paga por um guião cinematográfico.

JUL 2005 - A Câmara Municipal da Golegã propõe-se apresentar, à UNESCO, a Casa-Estúdio Carlos Relvas - construída em 1870, e idealizada para funcionar como atelier fotográfico - para ser reconhecida como Património da Humanidade.

02JUL2005 - Em Vila Nova de Famalicão, é apresentado o Pacto de Gomes Pais e Ramiro Pais, o mais antigo documento escrito em português; um acordo em pele, celebrado entre dois irmãos em meados do Século XII, durante o reinado de D. Afonso Henriques.

CONTRADITÓRiO

 GUILHERMINA SUGGIA
- CONTRIBUTOS

 

Guilhermina Suggia entrou para o Quarteto Moreira de Sá com treze anos, nele se mantendo até aos dezasseis, quando partiu para Leipzig, a fim de estudar com Julius Klengel. Em 1927, casou com o radiologista Carteado Mena. Nessa altura, fixou-se no Porto, onde faleceu em 30 de Julho de 1950. Nunca interrompeu a actividade. Era irmã Virgínia Suggia, três anos mais velha, que suspendeu uma promissora carreira como pianista, após o matrimónio com o livreiro parisiense Leon Pinchon. Guilhermina Suggia deixou o Stradivarius à Royal Academy of Music para a instituição do Prémio Suggia, muito conceituado (entre os galardoados, contam-se Jacqueline du Pré e Raphael Wallfisch); e o Montagnana ao Conservatório do Porto, com idêntico fim. A Câmara Municipal do Porto, de quem dependia nessa altura o Conservatório, não cumpriu as decisões testamentárias, e o galardão foi atribuído cinco vezes; em Londres, foram concedidos cerca de sessenta prémios (Virgílio Marques). IMAGINÁRiO40

MEMÓRiA

29AGO1915-1982 - Ingrid Bergman «é uma actriz extraordinária, e perfeita a trabalhar consigo» (François Truffaut a Alfred Hitchcock).

29AGO1945-1998 - António Assunção: «Um actor precisa de ter, no mínimo, dez anos de carreira para ser mais ou menos bom na sua arte».

1890-1955 - Luís de Freitas Branco: «Eu tenho o maior interesse em provar ao meu país que sou, fundamentalmente, dentro da minha arte, um Português».

TRAJECTÓRiA

LUÍS DE FREITAS BRANCO

 Nasceu em Lisboa, a 12 de Outubro de 1890, sendo irmão de Pedro de Freitas Branco (1896-1963). A partir de 1901, estudou com Augusto Machado, Tomás Borba e Désiré Pâque (1906). Em 1907, compôs a 1ª Sonata Para Violino e Piano. Em 1910, com o tio João de Freitas Branco (1854-1910), foi para Berlim continuar a sua formação com Humperdinck, e depois com Gabriel Grovlez em Paris. De 1911, são o poema sinfónico Vathek e a oratória As Tentações de S. Frei Gil. Em 1911-13, viveu na Madeira. Em 1915, participou no Integralismo Lusitano. Em 1916, assinou o poema sinfónico Viriato, destacando-se ainda as Suites Alentejanas (1919-27). A partir de 1918, colaborou com Vianna da Motta na reforma do Conservatório Nacional, do qual foi Subdirector até 1924. Em 1925-27, foi Director Artístico do Teatro de São Carlos. Em 1929, fundou a revista Arte Musical. Nas décadas de ’30 e ’40, sobressaem Hino à Razão (1934), Madrigais Camonianos (1935-43) e Sonho Oriental (1941). Para cinema, criou as bandas sonoras de Douro, Faina Fluvial (1931) de Manoel de Oliveira, Gado Bravo (1934) e Frei Luís de Sousa (1950) de António Lopes Ribeiro. Em 1948, esteve na criação da Juventude Musical Portuguesa. Em 1950-53, dirigiu a Gazeta Musical. Entre outros, foi professor de Fernando Lopes Graça e de Joly Braga Santos. Faleceu em Lisboa, a 27 de Janeiro de 1955.

BREVIÁRiO

Cinemateca Portuguesa edita João César Monteiro (1939-2003); organização literária de João Nicolau.

Lusomundo edita em DVD, Sorte Nula de Fernando Fragata; com Rui Unas e Isabel Figueira.

Guimarães edita Os Conimbricenses de Pinharanda Gomes; título referido ao conjunto de oito compêndios de Filosofia dos professores do Colégio das Artes de Coimbra, em finais do Século XVI.

FNAC apresenta Carlos Paredes [1925-2004] - Platinum Collection; a integral dos anos de ouro 1967-73, incluindo Movimento Perpétuo, Guitarra Portuguesa e Na Corrente, com os discos clássicos re-masterizados.

Assírio & Alvim edita O Mundo de Ontem - Recordações de Um Europeu de Stefan Zweig (1881-1942); tradução de Gabriela Fragoso.

ANTIQUÁRiO

 

1635 - Em Londres, o coleccionador de gravuras George Wither elabora o Livro de Emblemática, a partir duma série de medalhões emoldurados que adquiriu aos holandeses, e atribuídas a um membro da família de Crispin de Passe. Descontente com os versos que acompanhavam cada ilustração, e incentivado por amigos, Wither redigiu novos comentários poéticos, com realce para o simbolismo do diamante na bigorna, ameaçado pelo martelo: «A verdadeira virtude está sempre pronta a ser posta à prova / Seja qual for o sofrimento que suporta». Actualmente, na Biblioteca Nacional de França - Reserva dos Livros Raros e Preciosos, em Paris.

1895 - Em penúria e solitário, após rotura com o impressionismo e controvérsia com Vincent Van Gogh, Paul Gauguin abandona França e instala-se no Tahiti. Fascinado com a luz, as cores, o exotismo e a graciosidade dos nativos da Polinésia, pinta e escreve, cumprindo o anseio de «viver de êxtase, de calma e de arte».

VISTORiA

 

Agosto, 1910

Aos 23 do mês passado, morreu meu pai amachucado, exausto e pobre. Encontrão dum, repelão de outro, assim foi até à cova. Tinha 67 anos incompletos. Não podia mais. Encontraram-lhe alguns cobres no bolso. Há muitos anos que se arrastava, e só tinha de seu uma alegria e um repouso: os domingos. Aos domingos metia-se no quarto, calçava uns chinelos, e toda a tarde chorava lágrimas sem fim sobre um velho romance de Camilo. Minha mãe pouco mais durou, com um olhar de pasmo. Lá ficou a velha casa abandonada...
Sobe a Lua no céu, e a sombra no monte. Seis árvores, quatro paredes - tudo aqui me enche de saudades. A bica continua a correr, mas outras sedes se apagarão naquela água. Outros virão também sentar-se no banco de pedra... Só me resta a tua mão querida, que a meu lado segura a minha mão. Os mortos chamam por nós cada vez mais alto... Olho para ti e os teus primeiros cabelos brancos fazem-me chorar.
Raul Brandão (1867-1930) - Se Tivesse de Recomeçar a Vida

 EXTRAORDINÁRiO

 O INFANTE PORTUGAL
Folhetim aperiódico

 Capítulo Um -

CONTRA AS FORÇAS DO DEMO - 6

 Rui Ruivo não estava com paciência para mais. Brusco, interrompeu a
comunicação, acabando de levantar-se. Olhou ao espelho, e viu apenas o recorte da sua turva imagem. Estava tão crispado, que era capaz, com uma mera onda de choque, de estilhaçar aquele reflexo obsidiante. Aliás, tinha a certeza que, em cada um dos fragmentos, poderia reconhecer os piores inimigos. E, de todos, o infame Vulcão sobressaía como o mais contumaz!
Entre as lavas e as cinzas em cada confronto que antes travaram, páreos, sempre ele renascera terrível ou volúvel, com a sua formidável magma anímica - impossível de se prever, sendo uma fúria ora lúcida, ora lúdica, para atingir os tão funestos desígnios. Palhaço trágico, contendor grotesco, o Vulcão assumia, pois, uma ameaça incómoda, cuja desfaçatez nunca lhe facultaria um alívio jubiloso...

Continua

 


IMAGINÁRiO47
16 AGO 2005 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
Ano II · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

HULK - BANNER

 

Um cientista genial de cujo íntimo avassala uma aberração humana. Um monstro devastador que traz dentro de si um homem atormentado. Para se libertar, o inexorável Hulk está prestes a sacrificar Banner. Para se redimir, Banner será capaz da imbecilidade ou da própria eliminação. Dilema preventivo? Desafio expiatório? Sob chancela Devir, eis o transe essencial de Hulk / Banner - segundo a concepção de Brian Azarello (o exorbitante argumentista de 100 Bullets), para a vigorosa ilustração de Richard Corben (o artista underground da Heavy Metal), que já haviam produzido juntos Hard Times. Desde a sua criação em 1962 por Stan Lee, como trágico alterego do cientista Bruce Banner, logo Hulk - um misto de Dr. Jekyll & Mister Hyde, pelo défice metafísico de Spider-Man - arrasou em violências e vicissitudes, reconvertendo-se numa assunção como vítima principal. Nunca, porém, o Universo Marvel esteve tão volúvel, vulnerável, como neste paradoxo épico, sob a prepotência bélica, em que pudor virtual e poder extremo se confrontam, até ao apocalipse minimal.

REPOSITÓRiO

ALEXANDRE, O GRANDE

 

Ao longo dos tempos, a narração literária permitiu transfigurar a memória dos povos - dos seus feitos e expectativas, dos seus mitos e transformações - assim resgatada e transmitida como uma autêntica ou excepcional lição de história. Desde primórdios do século passado, o cinema assumiu e projectou tal desafio individual, colectivo - correspondendo com um expressivo testemunho documental, ou transferindo a realidade pelo signo do espectáculo. Para Alexandre o Grande (2004) - lançado em DVD, sob chancela Lusomundo - o realizador Oliver Stone escreveu o argumento com Christopher Kyle e Laeta Kalogridis, fazendo convergir o fresco épico com uma leitura latente sobre o devir contemporâneo. Em causa e sucesso, Alexandre Magno (356aC-323aC) - educado por Aristóteles, rei da Macedónia, o estratega e comandante militar mais prestigiado da Antiguidade, a quem se deve uma tentativa de fusão entre Helenos e Asiáticos que Plutarco referenciou. Complexo senhor da guerra, imperador obsessivo e utópico, inexorável conquistador em cujas vitórias e desaires, sucessos e excessos evolui um desígnio humano, a superar entre o confronto de civilizações e os contrastes culturais, pela volúvel interpretação de Colin Farrell paira uma controvérsia actual sobre a bissexualidade, exacerbando os dilemas da infância pela catarse visionária.

MEMÓRiA

16AGO1815-1888 - São João Bosco, aliás João Belchior Bosco: «Um raio despontará para consolar os tímidos, que sentem o gelo entre os seus ossos. Depois, paz universal».

1865 - Poeta, pintor, professor, matemático e fotógrafo, Lewis Carroll (1832-1898) escreve Alice no País das Maravilhas.

1906-1975 - Josephine Baker: «Cumpre-nos estar acima dos ódios e das paixões, defender a noção do bem e torná-lo triunfante, em toda a parte onde existam feridas a tratar, lágrimas a estancar, sofrimentos a diminuir».

19AGO1915-29JAN1975 - Manuel Guimarães: «Procuro fazer cinema de hoje, com sinceridade e dentro de um custo ridículo que nos permite continuar»

1927-20AGO1995 - Hugo Pratt: «Corto Maltese encerra em si um pouco de todos os homens que encontrei pelo mundo, onde se apercebe, mais ou menos viva, a busca de liberdade».

CALENDÁRiO

02JUN-25SET2005 - No Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, Fundação Calouste Gulbenkian exibe Marcel Broothaers - Texte et Photos / Texto e Fotografias.

01JUL-28AGO2005 - Centro Cultural de Belém/CCB expõe Espelho Meu - Portugal visto pelos fotógrafos da Magnum; olhares registados desde os anos ’50, uma visão co-produzida com Magnum Photos.

04-18JUL2005 - O Festival Internacional de Almada, sendo director Joaquim Benite, homenageia o encenador, cineasta e realizador de televisão Artur Ramos - que, por 1984-87, ali trabalhou com o Grupo de Teatro de Campolide.

TRAJECTÓRiA

JOSEPHINE BAKER

 

Freda Josephine Carson nasceu em St. Louis, Missouri, a 3 de Julho de 1906, dum encontro entre um baterista em espectáculos de vaudeville, Eddie Carson, e duma descendente de escravos e de índios cherokee, Carrie McDonald que, depois, se uniu pelo matrimónio a Arthur Martin, também ele filho escravos. A família, incluindo três meios-irmãos, viveu em Boxcar Town, na pobreza e trabalhando em casa de gente rica. Cantando e dançando nas ruas, aos doze anos Josephine foi viver com um homem de cinquenta; pouco depois, casou com Willie Wells de trinta e, abandonada, com William Baker, de profissão porteiro. Em 1923, deixou o marido e St. Louis, após uma digressão pelos Estados do Sul, com a jazzband Dixie Steppers. Em Nova Iorque, integrou companhias de bailado e atracções exóticas, seguindo em 1925 numa viagem artística à Europa. Radicou-se em Paris, fazendo furor na Revue Nègre, um musical dos Champs Elysées. Desinibida, mise à nu, fascinou com o seu corpo sensual, vibrante, um sorriso rasgado, o cabelo molhado e uns olhos de amêndoa. Em 1926, já nas Folies Bergères, teve um romance com o escritor Georges Simenon. Em 1934, participou no filme ZouZou, ao lado Jean Gabin. Em 1937, consorciou-se com Jean Lion e adquiriu a cidadania francesa. Durante a II Guerra Mundial, foi agente secreto da Resistência, visitou Portugal em missões de espionagem, e participou em espectáculos para os soldados Aliados, no Norte de África e no Médio Oriente; atribuíram-lhe o posto de Tenente e, nos anos ’50, o grau de Cavaleiro da Legião de Honra. Entretanto, realizaria várias viagens e actuações nos Estados Unidos, mas sem sucesso significativo. Em 1947, casou com o pianista Joseph Bouillon, indo viver para o castelo de Milandes; aí recolheu, a partir de 1953, doze crianças abandonadas, de vários países e etnias. Os problemas financeiros levaram-na a aceitar o convite da Princesa do Mónaco, a compatriota Grace Kelly, recolhendo-se em Monte Carlo com a sua tribo Arc-en-Ciel, e voltando aos palcos para angariar fundos. Em 1973, casou com Robert Brady e comemorou cinquenta anos de carreira no Carnegie Hall, Nova Iorque; os aplausos seguiram-se na África do Sul, onde criticou o apartheid, e no London Palladium, Inglaterra. Em 1975, celebrou as bodas de ouro em Paris, participando em noites de gala no Bobino, com reconstituição da sua vida tumultuosa. Em consequência de uma hemorragia cerebral, faleceu a 12 de Abril de 1975, em Paris, tendo um funeral com honras de Estado.

NOTICIÁRiO

JUDIE EM CRISE - A gentil chanteuse Judie vai na decadência. Segunda-feira representou no Palais Royal, de Paris, a comédia Bijou, escrita expressamente para ela, e fez um fiasco deplorável.

20MAR1885 - Diário de Notícias

VISTORiA

O PROFETA SINCERO

 

...E de ti, Roma, que será? Roma ingrata, Roma efeminada, Roma soberba. Tu chegaste a tal ponto que não procuras outra coisa, nem nada mais admiras em teu Soberano senão o luxo, esquecendo que sua glória verdadeira está sobre o monte Gólgota ... Roma! ... Eu irei a ti quatro vezes. Na primeira golpearei as tuas terras e os seus habitantes. Na segunda, levarei a destruição e o extermínio até os teus muros. Não abres ainda os olhos? Virei a terceira vez e derrubarei as defesas e os defensores e ao comando do Pai seguirá o reino do terror, do medo e da desolação. Mas os meus sábios fogem. A minha lei continua sendo pisada. Por isso farei a quarta visita. A guerra, a peste e a fome são flagelos com os quais serão castigadas a soberba e a malícia dos homens.
São João Bosco - Roma Soberba: Os Castigos da Senhora Engalanada

DOCUMENTÁRiO

ALICE NO PAÍS
DAS MARAVILHAS

 Um imaginário prodigioso e suas bizarras personagens, avassalando a quebra das regras convencionais entre a dimensão onírica e o universo real. Numa quente tarde de Verão, a jovem Alice escuta uma lição de história pela irmã mais velha. Sentada na relva fresca e macia, o seu pensamento eleva-se como uma nuvem, até outros reinos fantásticos. De repente, é assustada pelo Coelho Branco, que passa a correr, tirando o relógio da algibeira... Sonho, divagação. Inerente ao desafio lúdico e libertador, que a própria Alice suscita e interpreta, o virtual protagonismo representa um testemunho simbólico, enigmático, sobre a lógica caótica em que se contrastam figuras e relações, como o Jogo das Cartas, ou evoluem situações insólitas, ainda com o Chapeleiro Maluco, o Gato Cheshire ou a Rainha de Copas. Entre iniciação e epílogo, o tempo da aventura significa, ainda, uma expressão catártica sobre a vivência humana, porquanto Alice se debate no domínio da sua própria jornada - entre o momento em que ela porventura adormece, e a possibilidade de acordar a fraterna preceptora, trazendo-a de regresso ao próprio mundo, controlado e conhecido. Em 1951, Walt Disney produziu Alice no País das Fadas [das Maravilhas], longa metragem animada com realização de Clyde Geronimy, Hamilton Luske & Wilfred Jackson, recriando o romanesco de Lewis Carroll, estilizado por sugestões pictóricas e fabulosas de Giorgio di Chirico.

BREVIÁRiO

Inaugurando a colecção Vida e Época, Edições Asa lança (Marguerite) Yourcenar (1903-87) de Georges Rousseau.

Lusomundo distribui em DVD, Alice no País das Maravilhas - Edição Especial (1951) de Walt Disney.

Em Sintra, é editado o Catálogo do Museu Ferreira de Castro; organização de Ricardo António Alves.


IMAGINÁRiO46
08 AGO 2005 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org

PRONTUÁRiO

 

WOLVERINE: ORIGEM

 

Vindo do Canadá, Wolverine - ou Logan, para os amigos - famigerou-se, na América, entre os X-Men liderados pelo professor Charles Xavier. Dispondo de garras retrácteis de adamantium, o metal mais resistente. Evoluindo numa saga volúvel, entre crepúsculos e ressurreições, o primordial desafio é lutar contra o mal, que existe em cada um. Mas, entre a tragédia oculta e a fúria catártica, avassalam os mitos ancestrais, subjugados às utopias de vanguarda. Xavier é o homem superior, ante o humanimal Wolverine - um complexo fenómeno, que alicia o talento dos criadores em quadradinhos... Um dos mais ousados e fascinantes lançamentos sobre a virtualidade dos super-heróis, Wolverine - Origem - por Paul Jenkins, Andy Kubert & Richard Isanove, entre nós sob chancela Devir - volta a pôr à prova a imaginação dos fanáticos, motivando a fascinação e as emoções... Um passado em causa. Um desígnio em curso. Estilhaços de identidade, estilizando a história obscura de três companheiros. Motivados na adversidade. Separados pela catástrofe. E, na selva em que este mundo se tornou, anda à solta um predador inexorável!

REPOSITÓRiO

TODO O DECÁLOGO

 

A monumental publicação de O Decálogo, sob chancela das Edições Asa, culmina com os tomos IX - O Papiro de Kôm-Ombo e X - A Última Surata, ilustrados respectivamente por Michel Faure e Franz Drappier. Foi em 2001, através das Éditions Glénat, que o inspirado escritor Frank Giroud nos propôs uma versão alternativa à designação atribuída aos Dez Mandamentos, transmitidos por Deus a Moisés, no Monte Sinai. Para tanto, convidou nóveis ou notáveis ilustradores - tendo em vista distintas perspectivas, em quadradinhos, para outras tantas propostas criativas. Assim, pretendendo revolucionar os fundamentos da nossa civilização, sagra-se em paralelo uma saga histórica, mística e criminal. Eis os títulos e criadores previamente divulgados: I - O Manuscrito (Joseph Béhé), II - A Fatwa (Giulio De Vita), III - O Meteoro (Jean-François Charles), IV - O Juramento (Tomaz Lavric - TBC), V - A Vingança (Bruno Rocco), VI - A Troca (Alain Mounier), VII - Os Conjurados (Paul Guillon), VIII - Nahik (Lucien Rollin). As propostas derradeiras formam um arco reversível - de 1798, durante a estadia de Napoleão no Nilo, desvendando um estranho culto oriundo do Islão; até 652, aquando das conquistas árabes, ao revelar-se uma compilação de preceitos que o próprio Maomé teria redigido... Noções alternativas, visões prodigiosas.

MEMÓRiA

1629-1695 - Christiaan Huygens: «A matemática é o som».

1890-24JUN1935 - Carlos Gardel: «Cuando voy a mi cotorro y lo veo desarreglado / todo triste abandonado me dan ganas de llorar / y me paso largo rato campaneando tu retrato / pa' poderme consolar».

1881-15AGO1955 - Nascimento Fernandes: «A morte não me assusta. Aproximo-me do fim com uma tranquilidade que é a minha maior força».

1912-15AGO1995 - António Vilar: «O meu actor preferido sou eu. Nunca copiei ninguém».

CALENDÁRiO

 JUN2005 - A tirada de Clark Gable/Rhett para Vivien Leigh/Scarlett, em E Tudo o Vento Levou/Gone With The Wind (1939 - Victor Fleming), «Frankly, my dear, I don’t give a damn», está em primeiro lugar na lista 100 Anos, 100 Frases do American Film Institute, sobre o cinema americano no Século XX.

22JUN2005 - O neurologista António Damásio, especialista de renome mundial em mecanismos do funcionamento do cérebro, é distinguido com o Prémio Príncipe das Astúrias da Investigação Científica e Técnica.

01JUL-31AGO2005 - Câmara Municipal de Montijo apresenta a VIII Edição da Bienal de Artes Plásticas Cidade de Montijo; com Exposição Pintor Nikias Skapinakis na Galeria Municipal, e Pintura Desenho Fotografia Arquitectura Instalação - Homenagem ao Arquitecto Nuno Teotónio Pereira no Espaço Tóbom.

TRAJECTÓRiA

CHRISTIAAN HUYGENS
- O TEMPO E O MUNDO

 

Matemático, físico e astrónomo holandês, natural da Haia, Christiaan Huygens (1629 - 1695) foi o mais prestigiado cientista europeu, na segunda metade do Século XVII. Tendo estudado em Leyden, inventou ou aperfeiçoou os instrumentos de que necessitava, incluindo o polimento e a aferição de lentes: do telescópio, nas suas observações do sistema solar; e para contemplar o nosso mundo, através do microscópio. Uma exacta medição do tempo, como relojoeiro, permitir-lhe-ia observar o céu com rigor. Estudou e desenhou os primeiros mapas de Marte; ao determinar a mais tarde designada Syrtis Major, que reaparecia em cada vinte e quatro horas, deduziu ter representada a duração do dia marciano. Determinou o achatamento de Júpiter. Ao avistar o planeta Saturno, reconheceu a sua forma real e os anéis, tendo descoberto alguns satélites. Huygens foi autor do Tratado da Reflexão e da Refracção da Luz, no qual defendeu a sua natureza ondulatória; segundo este princípio, cada ponto de uma fonte luminosa é o ponto de partida de uma nova onda, e assim indefinidamente. Fundamentou o cálculo de probabilidades. Ao exprimir a teoria da força centrífuga, em movimento circular, Huygens influenciou Sir Isaac Newton (1642 - 1727) na formulação da Lei da Gravidade. Em relojoaria, idealizou o uso de uma mola em espiral para controlar o movimento do volante. A partir de um estudo profundo sobre a teoria do pêndulo, Huygens - que não conhecia os estudos de Galileu Galilei (1564 - 1642) - foi, também, o primeiro a delineá-lo e - construído pelo eminente Salomon Coster (†1659) em Amsterdão, cerca de 1657 - a proceder à sua aplicação, com êxito, ao controlo de um relógio. A construção dos originais relógios de pêndulo útil coube, em Inglaterra, de colaboração com Huygens, ao conceituado Ahasuerus Fromanteel (1638 - 1680), com oficina em Londres. Na Holanda, o simples relógio rectangular de parede, suspenso por dois ilhós, apareceu previamente em cena. Eram os chamados relógios Hague (Haia), e os exemplares primitivos não passavam, normalmente, de peças do tempo, isto é, não tocavam. Curiosamente, e talvez porque Huygens visitava regularmente Paris, relógios muito semelhantes aos Hague apareceram na capital francesa quase ao mesmo tempo que estes surgiram nos Países Baixos.

NOTICIÁRiO

Sonda Europeia Huygens - A preto e branco, a primeira fotografia da superfície de Titã, a maior das luas de Saturno, foi divulgada ontem. «Parece que se vêem canais de drenagem», anunciava, no Centro de Controlo da Agência Espacial Europeia/Esa, o americano Marty Tomaski, da Universidade do Arizona, que trabalha com o aparelho da Sonda Huygens que tirou as fotos.
15JAN2005 - Público

DOCUMENTÁRiO

2005 - Assinalam-se os quinze anos de vida activa do Telescópio Espacial Hubble, que revolucionou a Astronomia. Lançado em 1990, e reparado em órbita um defeito óptico, pela NASA em 1993, o Hubble observou mais de vinte e dois mil objectos - de estrelas a quasares, passando por planetas, galáxias ou nebulosas - fornecendo imagens de extrema beleza e resolução extraordinária, por escaparem à interferência da atmosfera terrestre. Em 2004, o Telescópio Hubble mostrou a galáxia mais longínqua à vista humana e captou a luz mais distante do universo, cuja idade estimou em 13,7 mil milhões de anos.

BREVIÁRiO

Costa do Castelo edita em DVD, Aparelho Voador a Baixa Altitude de Solveig Nordlund; sobre Low Flying Aircraft de J. G. Ballard.

Gradiva edita O Novo Mundo do Sr. Tompkins de George Gamow (1904-68); tradução de Paulo Cartaxana e Sara Torres.

Crystal Dynamics produz Tomb Raider: Legend, o regresso de Lara Croft aos videojogos, após o fracasso da última aventura no território original, The Angel of Darkness. Para uma ressurreição comercial em expectativa, a heroina concebida por Core Design volta a encontrar o seu autor primordial, Toby Gard, que abandonara a saga logo após os sucessos iniciais da arquóloga/justiceira que deu fama à Eidos, antes de se consagrar em quadradinhos e cinema, protagonizada por Angelina Jolie.

Casa das Letras edita Dicionário do Futuro - Tendências, Prognósticos, Profecias de Norbert Borrmann; tradução por Teresa Martinho Toldy e Marian Toldy.

Publicações Dom Quixote edita Portugal Contemporâneo; coordenação de António Costa Pinto.

ANTIQUÁRiO

1805 - Boulton & Watt, da Fundição de Soho em Handsworth, Birmingham, decidem abandonar a manufactura de relógios, cedendo este sector de actividade a John Houghton - que se estabeleceu em Soho Street, e chamou à loja The Soho Clock Factory, aliando à exploração William Frederick Evans, seu genro e sucessor a partir de 1843.

1965 - A propósito do filme 007 - Ordem Para Matar (1963) de Terence Young, sobre o romance From Russia With Love de Ian Fleming, um editorial do Pavda - orgão do Partido Comunista soviético - refere que «James Bond não poderá sobreviver, pois não é mais que um sádico».

EXTRAORDINÁRiO

 O INFANTE PORTUGAL
- Folhetim aperiódico

 Capítulo Um -
CONTRA AS FORÇAS DO DEMO - 5

 

Subrepticiamente, Rui Ruivo optou por fazer-se entendido, propenso e, no entanto, vago:
– Só poderias ter tu... Porque não me deixas em paz?
Em cheio! A resposta vinda do outro lado garantiu ao Infante Portugal, de imediato, pôr-se em guarda quanto às perversas calamidades que estariam para se precipitar:
– Com todos os demónios... Quanta insolência! Hás-de pagar, a ferro e fogo, cada uma dessas tuas palavras frívolas...

Continua


IMAGINÁRiO45
01 AGO 2005 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org

PRONTUÁRiO

 COLHEITA INFERNAL

 

No gótico coração da América, entre paroxismos e assombrações, rasga-se o frágil equilíbrio em que a realidade modela os desígnios humanos, além da sobrevivência ou da ressurreição. Ancestrais fantasmas avassalam os pesadelos de Bruce Wayne, em insone obsessão siderada por uma série ritual de crimes cada vez mais violentos, cujas reminiscências o povoam dos estigmas crípticos, sanguinários, que anos atrás flagelaram Gotham City. É assim que, numa urgência trágica, emergente sobre vítimas virtuais, colhidas na geometria urbana, ante a impotência da polícia, sob o comando de Jim Gordon, em plena Catedral se abrirão as portas satânicas, forçando Batman a protagonizar um trânsito volúvel, pelo qual se corrompe o elo místico sobre uma família em tormento e expiação. Com argumento e ilustração de George Pratt - o celebrado autor de Wolwerine: Netsuke, distinguido com o Prémio Eisner em 2003 - eis Colheita Infernal, entre nós em impecável lançamento sob chancela Devir. Uma alucinação pictórica, estética e visionária, quanto ao paradoxo justiceiro do Cavaleiro das Trevas...

REPOSITÓRiO

 PIPAS DE MASSA
E AS ESTÓRIAS DE MADONNA

 

Era uma vez... uma estrela pop, famosa e extravagante, de nome artístico Madonna - que um dia, neste terceiro milénio, teve a vontade e a inspiração para escrever estórias infantis, mas propícias aos leitores de todas as idades. Estórias tais que, não a envergonhando como mãe, antes pelo contrário, e podendo reabilitar a sua reputação, tivessem em si mesmas uma moral intemporal, aludindo ou recriando as fabulosas peripécias que, tradicionalmente, sublimaram um imaginário de privações e finais felizes. Essa moral resulta em factos numerados durante as aventuras e atribulações de Pipas de Massa - já o quinto volume assinado por Madonna, e editado em Portugal sob chancela das Publicações Dom Quixote. O tal Pipas é um mercador muito rico embora infeliz, nem ele sabia bem porquê - até descobrir, por experiência própria de vicissitudes, vivências partilhadas, que tudo se alcança com altruísmo e generosidade. Sobre tudo, sobressaem as requintadas, prodigiosas ilustrações de Rui Paes, um pintor português residente em Londres. Ilustrando um universo de animais em pose humana e cenários virtuais, eis uma narrativa visionária, que evoca a original vocação - Era uma vez...

CALENDÁRiO

 JUN2005 - Fundada e dinamizada por Geraldes Lino, a Tertúlia Bd de Lisboa comemora vinte anos de convívio e confraternização; todas as noites da primeira terça-feira de cada mês, num restaurante do Parque Mayer.

1949-05JUN2005 - Laurence Harlé: argumentista de Jonathan Catland, «uma voz feminina, sensível e apaixonada, mas também uma exigência de verdade e uma raiva contra a injustiça, o racismo, a exclusão» (Radio France).

07JUN2005 - Prémio Stuart de Desenho de Imprensa atribuído por El Corte Inglés/Casa da Imprensa: Grande Prémio Cartoon/Caricatura - Santanismo-Lopismo de António Antunes no Expresso, Prémio Tira Cómica - Corrente de Ar de Augusto Cid n’O Independente, Prémio Ilustração - Cetáceos dos Açores de Nuno Farinha e Fernando Correia na National Geographic.

1935-10JUN2005 - René Bertholo: «Resolvi falar de mim próprio sem palavras e, no fundo, a minha pintura é isso».

1913-13JUN2005 - Álvaro Cunhal: «Bonito de ver. Manifestações da juventude. Bandeiras vermelhas, faixas coloridas, canções, palavras de ordem, luta, confiança, alegria» (Manuel Tiago - Os Corrécios e Outros Contos)

1923-13JUN2005 - Eugénio de Andrade: «Dei um cravo e dei um lenço, / Só não dei o coração; / Mas se o rapaz mo pedir / - Mãe, dou-lho ou não?» (Canção)

61923-20JUN2005 - Jack Kilby: Cientista e investigador, considerado o pai da microelectrónica, galardoado em 2000 com o Prémio Nobel da Física, pela invenção do microchip em 1958.

29JUN2005 - Na Zona Ribeirinha de Montijo, é inaugurado o Moinho do Cais, recuperado sob os auspícios da Câmara Municipal.

06JUL-31AGO2005 - Biblioteca Pública Orlando Ribeiro (Telheiras) expõe Sonhos de Areia de Alexandra Afonso.

TRAJECTÓRiA

MÁRIO TAVARES CHICÓ

 

Nasceu Mário de Sousa Tavares em Beja, a 18 de Maio de 1905. Na maioridade, escolheu o apelido de Manuel Rodrigues Chicó - que adoptara a sua mãe em menina, e foi também seu protector desde criança. Aluno nos Liceus de Beja e Évora, na Escola Agrícola de Coimbra, nas Faculdades de Direito e de Letras de Lisboa - onde se licenciou em Ciências Históricas e Filosóficas, em 1935. Em 1937-39, frequentou o Instituto de Arte e Arqueologia da Universidade de Paris, sendo discípulo do historiador Henri Focillon. Especializou-se em arte da Idade Média. Em 1940, organizou o Palácio da Mitra e o Museu da Cidade de Lisboa. Em 1942, participou no VI Congresso da Associação Portuguesa Para o Progresso das Ciências, no Porto. Em 1943, foi nomeado Director do Museu de Évora. Em 1945, tornou-se professor efectivo de Estética e História da Arte da Faculdade de Letras de Lisboa. Na sua investigação inventarial, logo em Portugal, recorria com frequência ao desenho e à fotografia. Conferencista, responsável por congressos e exposições, regeu cursos de Arte em universidades europeias e americanas. Aí, na Índia e no Brasil, estudou o património monumental, tendo falecido em 1966. Conservado pelos filhos, Henrique e Sílvia Chicó, o acervo documental de Mário Chicó e Alice Chicó está depositado na Fundação Mário Soares - que apresenta, em www.fmsoares.pt, um dossier sobre o respectivo tratamento e disponibilização em suporte digital.

VISTORiA

Há muitos e muitos anos, havia um Imperador tão apaixonado por roupas novas, que gastava com elas todo o dinheiro que possuía. Pouco se importava com os soldados, com o teatro ou com os passeios pelo bosque, contanto que pudesse vestir seus trajos. Tinha um para cada hora do dia e, em vez de se dizer dele o que se diz de qualquer imperador: «Está reunido com o Conselho», dizia-se sempre a mesma coisa: «O Imperador está a vestir-se».
Na capital em que ele vivia, a existência era muito alegre. Todos os dias vinham multidões de forasteiros para visitá-la e, entre eles, certa ocasião chegaram dois vigaristas. Fingiram-se de tecelões, dizendo-se capazes de fabricar os tecidos mais maravilhosos do mundo.
E não somente as cores e os desenhos eram magníficos, como também os trajos que se faziam com aqueles tecidos possuíam a característica especial de serem invisíveis para qualquer pessoa incapaz de exercer as suas funções e, também, que fosse muito tola e presunçosa.
– Devem ser trajes magníficos – pensou o Imperador. – E, se eu vestisse um deles, poderia descobrir todos aqueles que, no meu reino, carecessem das qualidades necessárias para desempenhar os seus cargos. E também distinguiria os idiotas dos inteligentes.
Hans Christian Andersen - A Nova Roupa do Imperador (excerto)

ANTIQUÁRiO

1978 - Augusto Cabrita dirige e produz, para a Radiotelevisão Portuguesa/RTP, Uma História de Comboios - Uma Viagem de Hans Christian Andersen, sobre duas crianças que percorrem o itinerário seguido pelo poeta e romancista dinamarquês, durante uma visita a Portugal em 1866: Lisboa, Sintra, Setúbal, Palmela, Serra da Arrábida. A casa da Família O’Neill, onde o escritor se hospedou, e que mantém a mesma arquitectura. O comboio é puxado pela locomotiva Dom Luís - a primeira dos Caminhos-de-Ferro Portugueses, construída em Manchester em 1862, e adquirida no ano da estadia de Andersen.

MEMÓRiA

1805-04AGO1875 - Hans Christian Andersen: «Viver não basta… Precisamos de sol, liberdade e de uma pequena flor».

1905-1966 - Mário Tavares Chicó: «Para averiguar até que ponto a vontade artística do povo português teve parte activa na concepção e construção dos nossos monumentos românicos, é preciso destrinçar, das influências que de fora nos vieram, o pouco que verdadeiramente nos pertence».

1909-05AGO1955 - Carmen Miranda: «As bananas são o meu negócio».

REPOSITÓRiO

QUARTETO FANTÁSTICO

 

Uma das mais extravagantes e familiares corporações de super-heróis, Quarteto Fantástico projecta-se dos quadradinhos para o grande ecrã, com realização de Tim Story, reactivando o actual prodígio dos efeitos especiais, numa sagração partilhada entre cinéfilos e fanáticos. Em causa, um grupo de astronautas que, expostos à radiação cósmica durante uma viagem experimental, adquirem extraordinários poderes e passam a combater os mais terríveis adversários. Fantastic Four apareceu em 1961, por Stan Lee & Jack Kirby, logo se prestigiando como um fenómeno no universo tradicional dos Marvel Comics. Em causa, estão Reed Richards/Sr. Fantástico, cujo corpo tem extrema capacidade elástica; sua mulher Susan Storm/Mulher Invisível, um dom físico extensível aos objectos, ou a criar campos magnéticos; o irmão desta Johnny Storm/Tocha Humana que, além de inflamar-se, lança chamas pelos dedos; e o amigo Ben Grimm/Coisa, monstruosamente deformado e com força sobre-humana. Ao longo dos anos, entre mutações sociais e prodigiosas, a partir do Edifício Baxter, o Quarteto Fantástico consolidou uma veterania, até à ressurreição virtual concebida e ilustrada por John Byrne, instituindo como inimigo principal o perverso e trágico Dr. Destino/Victor Von Doom. Em paralelo aos desafios entre o bem e o mal, sobressaem os conflitos psicológicos e os dilemas do sucesso e da democracia.

BREVIÁRiO

 Livros Horizonte reedita A Arquitectura Gótica em Portugal (1953-56) de Mário Tavares Chicó.

Publicações Dom Quixote edita O Soldadinho de Chumbo de Hans Christian Andersen; ilustrações de Teresa Lima, prefácio de José Jorge Letria.


IMAGINÁRiO44
24 JUL 2005 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org

PRONTUÁRiO

ROTINA, ROTURA

 Predispondo-nos para os estímulos tendenciais de um criador meticuloso, Jean-Jacques Beinex, subjugado pelos limites da emoção e da retórica, Betty Blue - 37º e 2 de Manhã (1986) estimula o sortilégio duma atmosfera plástica, em que evolui o signo erótico dos protagonistas, entre a perversidade e a redenção. Eis seres rendidos ao culto do quotidiano e da rotura com todos os destinos, ao deletério da paixão que se dissipa na aventura duma insolidária cumplicidade... Jean-Hughes Anglade e Béatrice Dalle - símbolo sexual, entre Sophia Loren e Brigitte Bardot - ou um homem e uma mulher ainda jovens, fantasmas carnais que, sob a ambígua obsessão de culpa e de inocência, se ocultam no horror das suas próprias sombras.

CALENDÁRiO

JUN2005 - A revista inglesa Empire elege Steven Spielberg o melhor realizador de sempre; em segundo lugar, Alfred Hitchcock e, terceiro, Martin Scorsese.

JUN2005 - Museu Nacional de História Natural comemora o centenário do Museu Bocage - a sua secção de zoologia e antropologia assim chamada em homenagem ao zoólogo José Vicente Barbosa du Bocage, e cujo rico espólio foi significativamente destruído por um incêndio em 1978.

1931-06JUN2005 - Anne Bancroft: Oscar Para a Melhor Actriz por O Milagre de Anne Sullivan (1963 - Arthur Penn), realizadora de Fatso (1980), casada com o cineasta Mel Brooks.

07JUL2005 – Lusomundo estreia A Guerra dos Mundos de Steven Spielberg; com Tom Cruise e  Dakota Fanning.

MEMÓRiA

1802-22MAI1885 - Victor Hugo: «É impossível não o considerar um desses espíritos raros e providenciais que pugnam, na ordem literária, pela redenção de todos...» (Baudelaire)

1919-29JUL1995 - Fernando Curado Ribeiro: «Sou um profissional do espectáculo. Nunca levei muito a sério as cantigas».

BREVIÁRiO

Indícios de Oiro lança, na Colecção Golpe d’Asa, Desde o Mar - Carcavelos Praia e Outros Poemas de Júlio Conrado; com o patrocínio da Câmara Municipal de Cascais.

Sony BMG reedita Jeff Wayne’s Musical Version of The War of the Worlds; o duplo álbum original (1978) e uma edição para coleccionadores con sete discos.

Columbia TriStar edita em DVD, Betty Blue - 37º e 2 de Manhã - Director’s Cut (1986) de Jean-Jacques Beinex.

Prisvídeo edita em DVD, Os Miseráveis (2000) de Josée Dayan; sobre o romance de Victor Hugo.

REPOSITÓRiO

 

O TESOURO

O fascínio da aventura intemporal, o perpétuo combate do bem contra o mal, a projecção da saga heróica num domínio fantástico, eis temas e pretextos que uma notável geração de realizadores americanos - afirmada a partir dos anos ’70 - associaria, através do prodígio das novas técnicas e efeitos, a um culto pelos clássicos do cinema, cujo sortilégio prosseguem segundo as virtualidades latentes do imaginário. O impacto espectacular e a progressiva devoção, que tais filmes têm granjeado, compensam afinal o risco assumido pela indústria da sétima arte. Eis as expectativas de Jerry Bruckeimer ao produzir O Tesouro, com direcção de John Turteltaub e editado em DVD sob chancela Lusomundo. Nicolas Cage protagoniza Benjamin Franklin Gates, suposto herdeiro dos guardiões de um mítico tesouro, oferecido pelos fundadores da nação americana. Tradicionalmente, a sua existência e volúvel localização constituiria um segredo intrínseco, porventura lendário, que Gates tentará desvendar, a partir de sinais dissimulados na própria realidade estadunidense, ocultos mas aparentemente óbvios. A derradeira pista em causa, um mapa que estaria referenciado no verso da Declaração da Independência, leva-o a conhecer Abigail Chase, conservadora dos Arquivos Nacionais, envolvendo-se numa aventura romântica e perigosa. Decifrar enigmas institucionais, enfrentar ambiciosos adversários, escapar à própria vigilância pelo FBI, descobrir e salvaguardar o inestimável legado - assim culmina a trepidante busca de um extraordinário e simbólico espólio, com mais de dois mil, que atravessou continentes até se converter em desígnio primordial.

NOTICIÁRiO

 

 VICTOR HUGO
CARTA A EDUARDO COELHO

 Está pois a pena de morte abolida nesse nobre Portugal, pequeno povo que tem uma grande história! Penhora-me a recordação da honra que me cabe nessa vitória ilustre. Humilde operário do progresso, cada novo passo que ele avança me faz pulsar o coração. Este é sublime. Abolir a morte legal deixando à morte divina todo o seu direito e todo o seu mistério é um progresso augusto entre todos.

Felicito o vosso parlamento, os vossos pensadores, os vossos escritores e os vossos filósofos! Felicito a vossa nação. Portugal dá o exemplo à Europa. Desfrutai de antemão essa imensa glória. A Europa imitará Portugal. Morte à morte! Guerra à guerra! Ódio ao ódio. Viva a vida! A liberdade é uma cidade imensa, da qual todos somos cidadãos. Aperto-vos a mão como o meu compatriota na humanidade.
10JUL1867 - Diário de Notícias

84º ANIVERSÁRIO
DO COLOSSAL ESCRITOR

Façamos a nossa reverente reflexão perante este génio imortal que, com o seu vulto imenso e o seu infinito brilho, domina e assombra este século, do qual ele pôde na palavra homérica contar as paixões, as atribulações e as aspirações, escrevendo nos horizontes humanos o verbo radiante do futuro!

A natureza, cujos mistérios e segredos ele exaltou em estrofes divinas, parece não se atrever com essa estatura gigântea inimitável, e como que lhe concede os foros augustos da imortalidade. Saudemos o omnipotente espírito secular, glória suprema da nossa idade, que há-de transmitir os ecos encantados da sua voz maravilhosa às gerações futuras.

E ofereçamos-lhe, no templo íntimo da nossa admiração sincera, as coroas e os outros triunfais desta verdadeira imortalidade.
26FEV1885 - Diário de Notícias

VISTORiA

CAOS CIVIL

 Com o verbo a patinar nas naves
da cidade estranha
onde fecho o ciclo de oiro para abrir o processo
da espera e da conclusão
demoro o olhar no caos civil.

 Contra os adereços e os tons de festa
explode a ciumeira dos deuses
vencidos em arte e fantasia
por gente apenas vistosa, sem os seus
ncomensuráveis poderes.

 Raios e coriscos são disparados
sobre o caos civil
em vão.
Não há memória de desobediência assim.

Júlio Conrado (Londres, 1966) - Desde o Mar

REPOSITÓRiO

A GUERRA DOS MUNDOS

 Em 1938, Orson Welles (1915-85) interrompia uma transmissão directa da rádio CBS, para anunciar aos trinta e dois milhões de ouvintes: «Os marcianos estão a chegar!» Um meteorito teria caído em Nova Jersey, com misteriosas criaturas, pondo a América em perigo. Na realidade, o pânico abalou os Estados Unidos, gerando cenas de violência e paranóia. Esta farsa genial, montada por Welles aos vinte e três anos, através do Mercury Theatre, tornar-se-ia um fenómeno público de manipulação e comunicação, o que predispôs à sensacional projecção em grande ecrã, com O Mundo a Seus Pés (1941). No cerne de tudo estava um sucesso da literatura de ficção científica, A Guerra dos Mundos (1898), em que o escritor inglês H.G. Wells (1866-1946) imaginava um risco de extinção para a raça humana. Finalmente, o invasor - cujo planeta natal ficara sem recursos naturais - seria exterminado por um germe comum na Terra, mas fatal para os inexoráveis alienígenas.

Através dos tempos, The War of the Worlds inspirou distintos livros e, em 1953, foi alvo duma empolgante adaptação ao cinema, dirigida por Byron Haskin. Em 1955, Classics Illustrated publicou uma primordial versão em quadradinhos. E, após a alusão irónica de Woody Allen em Os Dias da Rádio (1987), ou da sátira radical Marte Ataca! (1996) por Tim Burton, cabe a Steven Spielberg sagrar a mais ambiciosa superprodução, sob o signo de Hollywood. Fanático da obra original desde a adolescência, o realizador de ET - O Extraterrestre (1982) volta a assumir uma saga espectaculosa, pelos dilemas familiares. Na actualidade, Tom Cruise protagoniza o homem comum que, em prol dos seus dois filhos, assume um desafio resgatador, para além do caos e da catástrofe. Pavor, fascínio, devastação, catarse, forjam A Guerra dos Mundos (2005), como matriz visionária sob os prodígios de Spielberg: o medo ante o desconhecido, a superação duma iminência apocalíptica.

ANTIQUÁRiO

1495 - El-Rei D. João II encomenda a Vante Gabriel de Attavante, o mais prestigiado miniaturista de Florença, uma obra em sete volumes com exegese do franciscano Nicolau de Lira, marco da iluminura europeia e expoente artístico do Humanismo. Oferecida ao Duque de Beja e futuro D. Manuel I, à data de sua morte este monarca ofereceu-a ao por ele fundado Mosteiro dos Jerónimos. Conhecida por Bíblia dos Jerónimos, da mesma se apoderou o general Junot em 1808, durante as Invasões Francesas, sendo devolvida a Portugal em 1815, após intensas diligências diplomáticas
IMAGINÁRiO23.

 1755 - Em Genebra, o cabinotier Jean-Marc Vacheron abre uma oficina artesanal, cujo prestígio pela qualidade de manufactura em breve ultrapassará as fronteiras da Suíça. Em 1839, os seus herdeiros associaram-se a François Constantin, comerciante e vendedor que expandiu os mercados europeus, convertendo a Vacheron Constantin numa Maison de sucesso da indústria relojoeira, com produção ininterrupta até aos nossos dias.

1925 - Em Chicago, o tráfico de bebidas rende cerca de dois biliões de dólares. A lei seca, que proibia o consumo de álcool nos EUA, vigorou até 1933.

FNAC prossegue a edição em vídeo de 4 Curtas Portuguesas, com FBF Filmes, projecto apoiado pelo Ministério da Cultura através do ICAM/Instituto do Cinema, Audiovisual e Multimédia; títulos do actual lançamento: Boris e Jeremias (2000) e Que Tenhas Tudo o Que Desejas (2001) de Pedro Caldas, e Por Encanto - Notas de Outono (2001) e A Casa das Histórias


IMAGINÁRiO
Números de 01 a 10
Números de 11 a 20
Números de 21 a 26
Números de 27 a 35
Números de 36 a 43

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