José de Matos-Cruz


IMAGINÁRiO259

16 JAN 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

CAPRICHOS







A virtualidade mais imaginária e prodigiosa em quadradinhos assume uma expressão latente e natural com A Princesa Pêssego de Lindsay Cibos e Jared Hodges, sob chancela das Edições Asa. Evocando uma herança lendária na cultura antropomórfica, sobre príncipes com aspecto de sapo ou sedutoras com cauda de sereia, tal recorrência visionária persiste, afinal, numa sugestão mágica e numa recorrência manifesta pela tradição oriental, estilizada sob o signo da mangà, a pretexto das relações entre Amanda, uma menina especial e o seu animal de estimação, um furão fêmea de nome Pêssego. Solitária, sensível, Amanda reage com simplicidade e protecção, perante um ser complexo, caprichoso, potencialmente agressivo, que se considera uma Princesa e vê na mão da amiga um monstro com cinco cabeças... Privilegiando o apelo feminino sobre o público jovem, A Princesa Pêssego evolui num universo de peculiar fascínio, dinâmico e divertido, em que se contrastam as vivências e os valores mutantes entre actualidade e intemporalidade.

 CALENDÁRiO

1912-01JUL2009 - Malden George Sekulovich, aliás Karl Malden: «Sou viciado em trabalho… Gosto de cada filme que fiz, mesmo os ruins, mesmo as séries de televisão, cada peça, porque eu adoro trabalhar. É o que me faz seguir em frente».

17JUL-20SET2009 - No Centro Cultural de Cascais, Fundação D. Luís I apresenta Territórios de Transição - Claudia Fischer, Alberto Picco, Ana Sério, sendo comissário Luís Serpa.

MEMÓRiA

1819-17JAN1890 - João de Lemos: «Entrou na primeira linha dos homens ilustres que figuravam nas letras e no movimento literário haverá trinta anos, deixando um rasto luminoso na sua passagem» (Diário de Notícias - 18JAN1890). IMAG.226

20JAN1920-1993 - Federico Fellini: «Falar de sonhos é falar de cinema, pois o cinema usa a linguagem dos sonhos. Num simples segundo, podem passar anos, e podemos ser levados de um lugar para outro. É uma linguagem feita de imagem. Mesmo no cinema realista, cada objecto e cada luz tem o seu significado, tal como nos sonhos». IMAG.72-213-247

20JAN1940-1995 - Jorge Peixinho: «O objectivo da minha música é a construção e organização de um novo e pessoal mundo sonoro. Explorei profundamente e intensivamente todas as relações entre a harmonia e o timbre, para construir uma espécie de rede muito densa de sons transformados. A característica principal da minha música é uma espécie de atmosfera sonora onírica, na qual surgem pequenas transformações através de artifícios contrapontísticos, filtragens harmónicas e tímbricas... Dou também muita importância à ambiguidade entre a continuidade e a descontinuidade». IMAG.36-40-67-155-175-182-198

1907-20JAN1990 - Barbara Stanwyck: «Ser actor de cinema é uma profissão, não uma carreira, e sempre me senti privilegiada por ser paga pelo que gosto tanto de fazer». IMAG.139-230

1903-21JAN1950 - Eric Arthur Blair, aliás George Orwell: «Desde o primeiro instante que as minhas ambições literárias se misturaram com o sentimento de estar só e de ser subestimado». IMAG.170-205-212-222

MEMÓRiA

1660-1731 - Daniel Defoe: «A alma é colocada no corpo como um diamante em bruto, que tem de ser polido, ou nunca brilhará». IMAG.6

VISTORiA



O Partido procura o poder por amor ao poder. Não estamos interessados no bem-estar alheio; só estamos interessados no poder. Nem na riqueza, nem no luxo, nem em longa vida de prazeres: apenas no poder, poder puro... Somos diferentes de todas as oligarquias do passado, porque sabemos o que estamos a fazer. Todas as outras, até mesmo as que se assemelhavam connosco, eram covardes e hipócritas. Os nazistas alemães e os comunistas russos muito se aproximaram de nós nos métodos, mas nunca tiveram a coragem de reconhecer os próprios motivos. Fingiam, talvez até acreditassem, ter tomado o poder sem querer, e por tempo limitado, e que bastava dobrar a esquina para entrar num paraíso onde os seres humanos seriam iguais e livres. Nós não somos assim. Sabemos que ninguém jamais toma o poder com a intenção de largá-lo. O poder não é um meio, é um fim em si mesmo. Não se estabelece uma ditadura com o fito de salvaguardar uma revolução; faz-se a revolução para estabelecer a ditadura. O objectivo da perseguição é a perseguição. O objectivo da tortura é a tortura. O objectivo do poder é o poder.
George Orwell - 1984 (excerto)

VISTORiA

A Lua de Londres

É noite. O astro saudoso
rompe a custo um plúmbeo céu,
tolda-lhe o rosto formoso
alvacento, húmido véu,
traz perdida a cor de prata,
nas águas não se retrata,
não beija no campo a flor,
não traz cortejo de estrelas,
não fala de amor às belas,
não fala aos homens de amor.

Meiga Lua! Os teus segredos
onde os deixaste ficar?
Deixaste-os nos arvoredos
das praias de além do mar?
Foi na terra tua amada,
nessa terra tão banhada
por teu límpido clarão?
Foi na terra dos verdores,
na pátria dos meus amores,
pátria do meu coração!

Oh! que foi!... Deixaste o brilho
nos montes de Portugal,
lá onde nasce o tomilho,
onde há fontes de cristal;
lá onde viceja a rosa,
onde a leve mariposa
se espaneja à luz do Sol;
lá onde Deus concedera
que em noite de Primavera
se escutasse o rouxinol.

Tu vens, ó Lua, tu deixas
talvez há pouco o país
onde do bosque as madeixas
já têm um flóreo matiz;
amaste do ar a doçura,
do azul e formosura,
das águas o suspirar.
Como hás-de agora entre gelos
dardejar teus raios belos,
fumo e névoa aqui amar?

Quem viu as margens do Lima,
do Mondego os salgueirais;
quem andou por Tejo acima,
por cima dos seus cristais;
quem foi ao meu pátrio Douro
sobre fina areia de ouro
raios de prata esparzir
não pode amar outra terra
nem sob o céu de Inglaterra
doces sorrisos sorrir.

Das cidades a princesa
tens aqui; mas Deus igual
não quis dar-lhe essa lindeza
do teu e meu Portugal.
Aqui, a indústria e as artes;
além, de todas as partes,
a natureza sem véu;
aqui, ouro e pedrarias,
ruas mil, mil arcarias;
além, a terra e o céu!

Vastas serras de tijolo,
estátuas, praças sem fim
retalham, cobrem o solo,
mas não me encantam a mim.
Na minha pátria, uma aldeia,
por noites de lua cheia,
é tão bela e tão feliz!...
Amo as casinhas da serra
coa Lua da minha terra,
nas terras do meu país.

Eu e tu, casta deidade,
padecemos igual dor;
temos a mesma saudade,
sentimos o mesmo amor.
Em Portugal, o teu rosto
de riso e luz é composto;
aqui, triste e sem clarão.
Eu, lá, sinto-me contente;
aqui, lembrança pungente
faz-me negro o coração.

Eia, pois, ó astro amigo,
voltemos aos puros céus.
Leva-me, ó Lua, contigo,
preso num raio dos teus.
Voltemos ambos, voltemos,
que nem eu nem tu podemos
aqui ser quais Deus nos fez;
terás brilho, eu terei vida,
eu já livre e tu despida
das nuvens do céu inglês.

João de Lemos

Os Presuntos e o Quaker

Escrevem-me, de Edimburgo, com a data de 17 de Agosto, que poucos dias antes, aconteceu a seguinte história com um Quaker e jardineiro, um certo William Miller, que vive perto de Holy Rood House, que se acredita ter posses no valor de duas mil libras esterlinas, e cuja casa está bem dotada com presuntos da Vestfália. Três ou quatro gatunos chegaram à casa dele e, vendo tais presuntos, foram possuídos por um forte desejo de apossar-se de alguns. Para tal, a fim de que pudessem lograr o seu objectivo, conseguiram, quando William e a família já estavam na cama, subir ao telhado da casa, amarrar uma corda em volta de um entre eles e baixá-lo pela chaminé.
Este último atou cinco ou seis presuntos à cintura e, colocando outros nos ombros, deu sinal para que o içassem. Mas, quando os outros o puxaram, a corda rompeu-se e ele caiu com estrondo, tão preto quanto um negro da Etiópia, e sentou-se na cadeira de braços ao canto da lareira.
O Quaker, ouvindo barulho, julgou (como era natural) que havia ladrões na casa e deu ordens à empregada, Sara, para que acendesse uma vela, coisa que ela fez. E ela, ao observar o sujeito com presuntos e negro como o inferno sentado na cadeira de braços, saiu a correr, gritando:
– O demónio! O demónio! O demónio!
William, o Quaker, levantando-se da cama e vendo a figura infernal na cadeira e a fazer caretas, deixou cair a vela. Por fim, reunindo a coragem de que dispunha, disse:
– Amigo, quem é você? Pois, pela sua aparência, provém das sombras das profundezas.
O esperto gatuno respondeu:
– Meu nome é Moloch, e venho das regiões infernais, como Embaixador Extraordinário de meu patrão, o alto e poderoso príncipe Belzebu, trazendo estes presuntos para si, William Miller, sabendo que gosta de carne de porco.
O Quaker, tremendo, respondeu:
– Eu ordeno-lhe, em nome do Padre, do Filho e do Espírito Santo, que vá embora! Pois não quero ter ninguém com você em minha casa.
Abriu a porta, e o malandro partiu com seu botim. No entanto, pela manhã, William muito estranhou a falta dos seus presuntos. Não há lugar no  mundo em que se encontrem mais gatunos e carteiristas do que este, e exercem a sua arte nas igrejas e nas ruas tão bem que o regimento de Guardas de Londres, que nós consideramos mestres no ofício, não passam, perto deles, de rematados asnos.
Daniel Defoe

BREVIÁRiO

Dargil edita em CD, sob chancela Dux, Fritz Kreisler (1875-1962) pelo violinista Carlos Damas, com a pianista Anna Tomasik.

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS
Folhetim Aperiódico

UM FAZEDOR DE IDEIAS
IMAGINA A PRÁTICA - 4

 - E vossemecê foi um deles? - inquiriu o sujeito, meio apalermado, de soslaio, pesando entre a desconfiança e a admiração.

- Mais do que isso! Eu investi nela! Tenho capital aqui! - gabou-se Lusitano, para ser ouvido mas sem que os mais ao lado percebessem o que dizia.

A seguir, um inevitável minuto de silêncio, para contemplação e contemporização. Depois, Lusitano enfatuou, insinuando:

- Isto é de todos, para nós, e também muito meu!

 

– Continua  


IMAGINÁRiO258

08 JAN 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

SALVAGUARDA



Um notável domínio gráfico e anatómico, testemunho veterano de talentos celebrados, um aliciante evento centenário em sagração, cujas potencialidades actuais virtualizam uma salvaguarda do futuro, eis valências de cunho artístico e de ênfase social que atribuem especial relevância a Jardim Zoológico - 125 Anos de José Garcês, em lançamento do jornal Público sob chancela das Edições Asa, e tratando Espécies Em Vias de Extinção. Inaugurado em Maio de 1884, com festa para as bandas da Palhavã e a presença da Família Real, o Jardim Zoologico e de Acclimação em Portugal teve como decisivo impulsionador Pedro Van Der Laan e, ao longo de decénios, múltiplas transformações e aperfeiçoamentos popularizaram uma instituição exemplar, tal como se regista em 1888-2009 - Uma História de Vontades. Em nossos dias, o Jardim Zoológico conta com 2000 animais de 360 espécies, algumas a preservar - como o gorila-ocidental-das-terras-baixas, o gorila-da-montanha, o jaguar, o tigre-de-samatra e o tigre-da-sibéria, tratados das vivências em habitat natural, e vitimações por caça ou comércio ilegais, até à conservação e reprodução, sob uma expectativa da biodiversidade do planeta. Um envolvimento memorial, pela ilustração emocionante e deslumbrante de José Garcês - já autor de A História do Jardim Zoológico de Lisboa (1987). IMAG.24-70-78-117-129-149-226-251

MEMÓRiA

1913-04JAN1960 - Albert Camus: «Todos os seres saudáveis tinham, em certas ocasiões, desejado, mais ou menos, a morte das pessoas que amavam.» (O Estrangeiro - excerto)

1830-11JAN1890 - Francisco Palha: «Tinha a graça de Tolentino, mais acerada porventura, mas de uma delicadeza que não feria nem humilhava. A sua lira não era, todavia, formada de uma só corda. Se vibrava na sátira, desferia também por vezes a elegia» (Diário de Notícias - 12JAN1890).

11JAN1890-1954 - Oswald de Andrade: «Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das ideias. A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros. Como falamos. Como somos» (Manifesto da Poesia Pau Brasil - 1924, excerto).

1835-12JAN1890 - Júlio César Machado: «O escritor humorístico, o conversador estimável e atraente, o crítico gracioso, o folhetinista mais original e mais talentoso, herdeiro e substituto brilhante de Lopes de Mendonça...» (Diário de Notícias - 13JAN1890).

CALENDÁRiO

1925-29JUN2009 - Jean-Paul Roux: Historiador francês, investigador da mitologia dos povos turco e mongol, especialista em história comparada das religiões - «Antes de virem para a terra, as almas dos humanos residem no céu, onde estão pousadas nos cimos celestes da árvore cósmica, sob a forma de pequeninos pássaros».

27JUL1940-30JUN2009 - Pina Bausch: Bailarina e coreógrafa alemã - «Nunca gostei de peças que se desenrolam num só nível; o ambiente das minhas está sempre a mudar, com o fim sempre em aberto. Eu também não sei. Há mais perguntas que respostas. Há muitas perguntas» (Público - MAI2008).

02JUL-31OUT2009 - Museu de Arte Contemporânea / Museu do Chiado expõe Arte Moderna Em Portugal - De Amadeo a Paula Rego, sendo curador Pedro Lapa.

ANUÁRiO

620aC-560aC - Esopo: «Os mentirosos apenas conseguem uma coisa: não serem acreditados, mesmo quando dizem a verdade». IMAG.18-139

VISTORiA

O Galo e a Raposa




Fugindo as Galinhas com o seu Galo de uma Raposa, subiram a um pinheiro e, como ali a Raposa não pudesse fazer-lhes mal, decidiu usar de astúcia, e disse ao Galo:
– Bem, podeis descer sem receio, pois agora mesmo foi estabelecida a paz universal entre todas as aves e animais. Portanto, vinde, para podermos festejar este dia.
O Galo percebeu que era mentira. Mas, com dissimulação, respondeu:
– Tais notícias são, por certo, felizes e a contento... Mas, vejo assomar acolá três Cães. Deixemos que se aproximem, para comemorarmos todos juntos.
Porém a Raposa, sem mais delongas, acobardou-se, e disse:
– Temo que ainda não saibam, e me matem.
Então, foi-se embora, e as Galinhas ficaram em segurança
Esopo

ANTIQUÁRiO




11JAN1890 - Crise Anglo-Lusa - «Estava o governo português executando a posse efectiva conhecida por mapa-cor-de-rosa. A Inglaterra, porém, declarando não reconhecer esses direitos, envia-nos a 11 de Janeiro de 1890, um ultimato no qual exigia a retirada imediata das nossas forças de ocupação e reclamava para si a posse daquela região. Portugal, perante a ameaça de uma guerra, donde podiam resultar ainda maiores dissabores, cedeu à imposição. Em 11 de Janeiro de 1890 o governo inglês envia um célebre memorandum ao governo português que não só faz deitar por terra o nosso sonho de constituir a África Meridional Portuguesa (assinalada no Mapa Cor de Rosa, de 1886) como, pela demonstração de incapacidade política de resistir às pretensões da Inglaterra, anuncia o princípio de uma série de acontecimentos que vão ser nefastos para a continuidade do regime monárquico constitucional. Com efeito o Governo de S.M. exige nesse memorandum «que se enviem instruções telegráficas imediatas para que todas e quaisquer forças militares portuguesas actualmente no Chire e nos países dos Mokololos e Machonos se retirem» e ameaça ainda que, se uma resposta satisfatória não for dada pelo governo português nessa mesma tarde, a delegação inglesa em Lisboa, abandonará o nosso País. O rei D. Carlos reúne à pressa o Conselho de Estado e responde de imediato: «Na presença de uma ruptura iminente de relações com a Grã-Bretanha e de todas as consequências que dela poderiam talvez derivar, o Governo de S.M. resolveu ceder às exigências formuladas (...) e vai expedir para o Governo-Geral de Moçambique as ordens exigidas pela Grã-Bretanha». Houve manifestações públicas de grande indignação e Basílio Teles escreveu mesmo que «este dia valeu séculos e anuncia um futuro perturbante», atribuindo a humilhação «à incapacidade e cobardia dos governos do regime». Sucedem-se em Lisboa as demonstrações de revolta pela afronta inglesa e os jornais invectivam o governo do partido Progressista que é obrigado a demitir-se, sendo de imediato substituído por um governo do partido Regenerador. Lança-se uma subscrição nacional para a compra de navios de guerra (que só chegou para a compra do Adamastor), lança-se o boicote aos produtos ingleses e o espírito do momento é passado para a letra e música de A Portuguesa que virá a ser o futuro hino nacional...» (Carlos Leite Ribeiro - História de Portugal)

20AGO1890 - É assinado em Londres o Convénio Luso-Britânico, na sequência do Ultimato de 11 de Janeiro de 1890. As bases da convenção estabelecem a delimitação territorial da possessão oriental portuguesa em África, a Norte do Zambeze.

NOTICIÁRiO

Precedente

Lord Salisbury estabeleceu um mau precedente. Pode, é certo, fazer o que quiser, tratar como entender Portugal, mas assim como tratou Portugal, terá também que tratar as outras potências mais fortes. Obriga-o a isso a honra.
The Daily News - JAN1890

Opções

O Sr. Hibbard, inglês, inspector dos incêndios a engenheiro maquinista da canalização das águas de Coimbra, não querendo naturalizar-se português, deu a sua demissão daqueles cargos.
28JAN1890 - Diário de Notícias

Folheto

Pinheiro Chagas edita em folheto As Negociações Com a Inglaterra (1887-1890) - a partir dos artigos escritos pelo ilustre Conselheiro no Correio da Manhã, de que é director. Uma desenvolvida análise das implicações diplomáticas que deram em resultado o ultimatum de 11 de Janeiro de 1890.
Diário de Notícias - MAI1890


África Portuguesa Oriental e Ocidental Segundo as últimas Convenções

O Tratado Luso-Britânico – Resumo das negociações e seu resultado – O nosso mapa da África – O que ele representa perante o Convénio.
31AGO1890 - Diário de Notícias

A Questão Portuguesa Em Inglaterra

Londres, 7 - O Times, fazendo considerações acerca dos incidentes da actual crise política em Portugal, escreve que se os governantes portugueses não tiveram força para resistir às forças populares, o Convénio com a Inglaterra oferecia-lhes ensejo de porem termo às questões na África Meridional. Acrescenta que os sucessivos adiamentos e a falta de Governo prejudicam gravemente os interesses de Portugal. O primeiro dever de Inglaterra é colocar a salvo os direitos e os interesses dos súbditos britânicos. Se Portugal insistir em rejeitar o Convénio Luso-Britânico, cumpre ao Governo de Londres não permitir que se criem obstáculos aos exploradores e aos comerciantes ingleses que queiram estabelecer-se entre Tete e o Zambeze.
08OUT1890 - Diário de Notícias

BREVIÁRiO

Dom  Quixote edita Leite Derramado de Chico Buarque. IMAG.74-103-166

VISTORiA


Pronominais

¨Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
Oswald de Andrade

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS
Folhetim Aperiódico

UM FAZEDOR DE IDEIAS
IMAGINA A PRÁTICA - 3

 Ora, naquele momento edificante, perante aquele monumento solene, Lusitano estava disposto a fazer história. Dos fracos não reza a escrita. E um casal com ouro de contraste - ele na corrente do relógio suspensa no colete, ela nas arrecadas que lhe realçavam o peito - pareceu-lhe ser um alvo a preceito. Nada melhor do que atacar, apaziguando os brandos costumes:

- Então, o amigo já viu a categoria desta obra? O que há de mais moderno, e de alto gabarito! Só sabe, quem a ajudou a construir!

– Continua  


  

IMAGINÁRiO257

01 JAN 2010 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VII · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

INSURRECTO



Um dos mais perigosos e ousados, entre os pistoleiros do Oeste, Billy the Kid terá nascido em Nova Iorque, no ano de 1860. Até à sua morte com 21 anos, em Forte Sumner (Novo México, 1881), eliminou umas 27 pessoas. Billy usava o nome de William H. Bonney, mas chamar-se-ia Henry McCarty. Em criança, emigrou com os progenitores para o Kansas, onde o pai faleceu. A mãe levou-o, com outro filho, para o Colorado, e aí voltou a casar. A família mudou-se para o Novo México, e o adolescente Billy juntou-se a ladrões e marginais, integrando várias quadrilhas no México do Norte e do Sul. Em Dezembro de 1880, o sheriff Patrick Floyd Garrett capturou-o. Julgado em Mesilla, sob a acusação de homicídio, em Abril de 1881 foi condenado à morte, por enforcamento. Logrando fugir, Billy liquidou dois deputados. Então, Garrett armou-lhe uma emboscada, no rancho de Pete Maxwell, e liquidou-o à lei da bala. Segundo outras versões, Billy the Kid terá escapado, vivendo no México e no Sul dos Estados Unidos. Usaria o nome de Ollie L. Roberts, aliás Brushy Bill, e sobreviveu como artista em espectáculos sobre o Oeste Selvagem, até falecer em Hico (Texas), em 1950.

MEMÓRiA

02JAN1920-1992 - Isaac Asimov: «Se o conhecimento pode criar problemas, não é pela ignorância que conseguimos resolvê-los.»

04JAN1950-2008 - Joan Baptista Humet: Artista principal da nova canção catalã - «A única coisa que pergunto é se, para onde vou, haverá música». IMAG.227

18SET1920-06JAN2000 - Augusto Fraga: Jornalista, crítico e cineasta português; dirigiu a revista Cinéfilo (1938-1939); realizou Sangue Toureiro (1958), O Passarinho da Ribeira (1959) ou Um Dia de Vida (1962). IMAG.178-228

ANUÁRiO

1480-1524 - Joachim Patinir: «Pintor de culto - o inventor da paisagem como género independente, com cores intensas e oníricas e um estilo surpreendente, que combina fantasia, misticismo e realidade» (José Alves).

1810-1841 - Diogo Alves: Natural da Galiza, «...intrigou os cientistas da então Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que resolveram aproveitar o enforcamento deste homicida para tentar perceber a origem da sua pura malvadez. A cabeça de Diogo Alves foi decepada e estudada, mas hoje já não sai de dentro de um recipiente de vidro, onde uma solução aquosa lhe tem perpetuado a imagem de homem com ar tranquilo - bem contrária ao que realmente foi. Os cientistas nunca terão conseguido explicar o que levou o facínora a arranjar uma chave falsa do Aqueduto das Águas Livres, onde se escondia, para assim descansadamente poder assaltar as pessoas que passavam, atirando-as de seguida, sem hesitar, dali abaixo» (Diário de Notícias - 22FEV2005). IMAG.28-108-145-209

1909 - Cardoso & Correia produz Os Crimes de Diogo Alves de Lino Ferreira; com filmagens incompletas, sendo protagonista Carlos Leal.

1910-1996 - Fernando Bento: Ilustrador, figurinista, pintor, autor de banda desenhada - transpôs A Ilha Misteriosa de Jules Verne ou A Ilha do Tesouro de Robert-Louis Stevenson.

1911 - Portugalia Film produz Os Crimes de Diogo Alves de João Tavares; estreado no Salão Trindade, sendo protagonista Alfredo de Sousa.

2005 - Em Passagens. Cem Peças Para o Museu de Medicina, Museu Nacional de Arte Antiga expõe a cabeça de Diogo Alves - um dos últimos condenados à morte em Portugal - decepada e estudada por cientistas, após o enforcamento.

ANTIQUÁRiO

19FEV1841 - No Cais do Tojo, são enforcados Diogo Alves e os seus cúmplices.

COMENTÁRiO

FERNANDO BENTO






Com um historial esparso, mas de notável qualidade, graças a um leque de artistas que, tendo-se afirmado pela época áurea, persistiram em actividade, a banda desenhada portuguesa constitui um fecundo património - ciosamente preservado por coleccionadores, apreciado por leitores nostálgicos e, ao ressurgir em álbum, seduzindo as mais jovens gerações. Um exemplo único, a nível internacional, pelo fascinante grafismo, ágil e harmonioso, inconfundível, Fernando Bento tem justa evocação - através de obras-primas clássicas, oportunamente relançadas. Um universo fabuloso e aliciante, a redescobrir do original preto-e-branco à prancha colorida.

VISTORiA

OS CRIMES DE DIOGO ALVES
E DA SUA QUADRILHA

A Morte do Criado Manuel Alves

Tanto comeu e bebeu o Manuel Alves que teve de ser levado para a cama, pelos seus amigos, por já quasi não ter forças para se suster em pé.
E foi neste estado que Diogo Alves deu cabo do seu cúmplice, fincando-lhe um joelho sobre o estômago e depois de lhe ter passado uma correia em volta do pescoço puxou com força pretendendo asfixiá-lo: foi então que o «Enterrador» vibrou sobre a cabeça do desafortunado Manuel Alves, um tremendo golpe de machado, que logo lhe fez saltar fora os miolos, que foram projectar-se na parede, manchando a roupa. Estava o dr. Andrade vingado da infidelidade do seu servo.
Restava Diogo Alves e o resto da sua quadrilha, mas a justiça não se fez demorar.

Prisão do «Enterrador»

Um facto vinha surpreender desagradavelmente Diogo Alves e mais os seus; era a prisão do «Enterrador» por ter entrado de noite n’uma casa que a polícia cercou, prendendo o gatuno que não pôde, nem teve tempo de fugir. O Martins receando a indiscrição do «Enterrador», escrevia-lhe todos os dias e não cessava de lhe recomendar a máxima prudência e cautela; tal correspondência porém deu nas vistas ao guarda e o juiz desconfiado, apertou com perguntas o meliante no sentido de apurar a sua culpabilidade no crime da Rua das Flores. Caiu o homem em contradições que o juiz aproveitou para lhe dar a conhecer o horror da sua situação, caso não lhe confessasse tudo.
Ficou o criminoso vergado ao peso d’esta ameaça e reconhecendo que o juiz já sabia quais eram os autores da morte da família Mourão decidiu-se a fazer importantes revelações, não sem ter tido primeiro o cuidado d’atenuar as culpas que lhe cabiam. Assim a justiça ficou senhora de todo o segredo de aquele crime e era descoberta a quadrilha, que procedia às ordens de Diogo Alves, o terrível malfeitor. Logo todos os seus membros foram presos, incomunicáveis e enviados para o Governo Civil, excepção feita à Parreirinha que foi para o Aljube.
Estava prestes o epílogo d’aquela tragédia sanguinolenta da Rua das Flores e para muito breve a execução justiceira dos seus autores.
Era afinal a paga d’uma dívida que tão abjectas criaturas haviam contraído com a sociedade.
A morte era n’eles uma letra a pagar... a alguns dias de vista apenas!
História dos Grandes Criminosos (excerto)

CALENDÁRiO

1927-22JUN2009 - Betty Allen: Cantora norte-americana de ópera, professora nas Manhattan School of Music e Harlem School of Arts: «Quando ela estava em palco tudo ganhava vida, e tudo à sua volta esmorecia» (Harold C. Schonberg).

26JUN-06SET2009 - Fundação Calouste Gulbenkian apresenta Henri Fantin-Latour (1836-1904) - exposição organizada em parceria com o Museu Thyssen Bornemisza, sendo comissário Vincent Pomarède, curador do Departamento de Pintura do Museu do Louvre.

BREVIÁRiO


2005 - Na Colecção Palavras Com História, Esfera do Caos edita Os Crimes de Diogo Alves - Biografia Romanceada de Leite Bastos.

INVENTÁRiO

BILLY THE KID
FILMOGRAFIA



No historial de Hollywood, a filmografia western sobre Billy the Kid é ampla e diversificada - nos contornos realistas ou míticos, mas sempre violentos, que famigeraram a existência fulminante de Billy the Kid. Eis as principais obras, e os respectivos protagonistas: John Mack Brown em O Vingador (Billy the Kid/The Highwayman Rides, 1930, King Vidor), Roy Rogers em Billy the Kid Returns (1938, Joseph Kane), Tim Hold em The Law West of Tombstone (1938, Glenn Tryon), Robert Taylor em Billy o Vingador (Billy the Kid, 1941, David Miller), Buster Crabbe em Billy the Kid Trapped (1942, Sam Newfield), Jack Buetel em A Terra dos Homens Perdidos (The Outlaw, 1943, Howard Hughes, Howard Hawks), Robert Armstrong em Voltaram os Malvados (Return of the Badmen, 1948, Ray Enright), Audie Murphy em A Justiça de Billy (The Kid From Texas, 1950, Kurt Neumann), Paul Newman em Vício de Matar (The Left Handed Gun, 1958, Arthur Penn), Chuck Courtney em Billy the Kid Vs. Dracula (1965, William Beaudine), Geoffrey Deuel em Chisum, o Senhor do Oeste (Chisum, 1970, Andrew V. McLaglen), Dean Stockwell em The Last Movie (1971, Dennis Hopper), Michael J. Pollard em Billy the Kid, a História de Um Patife (Dirty Little Billy, 1972, Stan Dragoti), Kris Kristofferson em Duelo na Poeira (Patt Garrett & Billy the Kid, 1973, Sam Peckinpah). Billy the Kid figura ainda em Lucky Luke (1990, Terence Hill), e é referenciado em Os Herdeiros de Billy the Kid (Bad Jim, 1991, Clyde Ware).

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVOS
Folhetim Aperiódico

UM FAZEDOR DE IDEIAS
IMAGINA A PRÁTICA - 2

 Lusitano foi-se então da barraca de comes e bebes onde havia tentado o gancho, e dirigiu-se a um aglomerado de mirones, em busca de clientela. Alguma vítima com dinheiro fresco, limpo, sobretudo entre os tansos potenciais que vieram lá da terra para visitar a tal maravilha do Estado Novo. Ah, sim senhor, que ele também queria ver, mas só dispunha de dinheiro graúdo, e na bilheteira não trocavam, ora não pretendia entrar à borla...

Era preciso arte, para fascinar na manigância. Ao mesmo tempo parecer um badameco, um desinteressado, e por outro lado cativar a atenção, a boa-vontade dos que se dispunham a cooperar. Mas tudo com um ar de naturalidade, sem dar muito nas vistas. Tendo atenção para não levantar suspeitas, nem atrair um qualquer mais comichoso agente da autoridade.

Jacinto Lusitano tinha o talento suficiente para a alcunha de Enguia, justamente conquistada entre os seus pares, embora sempre perseguido por uma má-consciência, para - afinal - não ser ele-próprio o peixe que cai na rede. Aliás, nem sequer sabia nadar - e o Rio Tejo ali mesmo ao lado!

– Continua


  

IMAGINÁRiO256

24 DEZ 2009 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VI · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

AVENTURAS




A inspiração romântica, a expectativa de liberdade, o confronto pelos ideais, os desígnios da aventura - eis temas e rumos sob o signo dos heróis errantes, testemunhas da sua época, no envolvimento entre o passado e o futuro, pelas rotas primordiais da cultura e da civilização. Sendo Corto Maltese um émulo emblemático em banda desenhada, graças ao talento genial de Hugo Pratt, ritualizando imaginários ancestrais e estéticas de vanguarda, tais referências ou sagrações voltam a repercutir-se - com um empenho pessoal e um tributo sugerido - n'As Viagens de Juan Sem Terra por Javier de Isusi como argumentista e ilustrador, distinguido com o Prémio Para o Autor Revelação do blogue La Carcel de Papel. Publicado em Portugal - onde o artista viveu e estudou Arquitectura - sob chancela das Edições Asa, O Cachimbo de Marcos dá início à saga, itinerante e ininterrupta, com a chegada de Vasco ao povoado La Realidad, em busca do seu amigo Juan... Em pleno coração do universo zapatista, Chiapas, ali convergem as sombras da morte e o pulsar da vida, militares e guerrilheiros, tensões indígenas e sonhos virtuais. Heranças, utopias, vencendo o anonimato, transfigurando a memória.

CALENDÁRiO

1924-13JUN2009 - Irisalva Moita: Arqueóloga, historiadora, museóloga, olissipógrafa, membro da Academia Nacional de Belas Artes, responsável por exposições de referência como O Culto de Sto. António, Na Região de Lisboa, Lisboa e o Marquês de Pombal, Lisboa Quinhentista. A Imagem e a Vida Na Cidade e Faianças de Rafael Bordalo Pinheiro.

24JUN-20JUL2009 - Em Moura, Conservatório Regional do Baixo Alentejo expõe Salúquia - A Lenda de Moura Em Banda Desenhada; participação de Eugénio Silva, José Antunes, Artur Correia, José Garcês, Carlos Alberto Santos, Jorge Magalhães, Augusto Trigo, Baptista Mendes, Pedro Massano, Luís Afonso, Catherine Labey, José Ruy, Isabel Lobinho, José Pires, Zé Manel e José Abrantes.

1947-25JUN2009 - Farrah Fawcett: Actriz norte-americana de cinema e televisão - «O primeiro símbolo visual de massas da sexualidade arejada pós-neurótica» (Playboy).

¯1958-25JUN2009 - Michael Jackson: «Tinha tudo: talento, graça, profissionalismo e dedicação… Perdi o meu irmãozinho; parte da minha alma morreu com ele» (Quincy Jones). IMAG.204

MEMÓRiA

1906-22DEZ1989 - Samuel Beckett: «Eu sempre tentei. E sempre falhei. Não interessa. Volto a tentar. Volto a falhar. Mas falharei melhor». IMAG.78-100

25DEZ1899-1957 - Humphrey Bogart: «Tenho o meu nome ligado a mais maus filmes do que qualquer outro actor conhecido na história do cinema». IMAG.35-52-91-114

1861-26DEZ1909 - Frederic Remington: Escultor, ilustrador e pintor americano, especializado em cenas do Oeste selvagem, exploradores da fronteira e peripécias da civilização.

1911-29DEZ1969 - Alves Redol: «Este romance [Gaibéus, 1940] não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem». IMAG.107

ANUÁRiO

1969 - O cartoonista nipónico Fujiko F. Fujio - aliás, Hiroshi Fujimoto - cria Doraemon, um felino robô, azul e branco, oriundo do Século XXII, e que vem à Terra deste tempo para ajudar Nobita Nobi, um adolescente caprichoso e indolente, a resolver os problemas quotidianos e os deveres escolares. Em MAR2008, o Ministro dos Negócios Estrangeiros, Masahiko Komura, nomeou o gato Doraemon embaixador da mangà (banda desenhada) e dos anime (desenhos animados), para «explicar aos estrangeiros o que pensam os japoneses, como vivem e encaram o futuro».

COMENTÁRiO

HUMPHREY BOGART






Entre as luzes e as trevas de Hollywood, cintilou como nenhum outro astro um signo de culto, nas virtualidades do imaginário cinematográfico. Através de personagens em crise, românticas, sob a decepção e a tragédia, dilaceradas entre o bem e o mal - celebrando «o homem que fez do crime a sua profissão, e das mulheres o seu passatempo» - mitificou a  personalidade ambígua e sedutora de um actor cúmplice, cínico e sedutor, referenciado em suas múltiplas facetas de fascínio e carisma pela representação artística.

INVENTÁRiO

AMOR DE PERDIÇÃO - 1979




Terceira adaptação em Portugal, das seis produzidas, sobre o romance mais lido de Camilo. Entre a correspondência literária e cénica, a representação mediática - pela narrativa audiovisual. Em curso, uma série sobre paixões funestas - quanto à impossibilidade física do amor, que se transfigura na libertação além da morte...
Prosseguindo uma série sobre paixões funestas, Manoel de Oliveira apresentou, em 1979, Amor de Perdição - a quinta adaptação profissional do romance de Camilo Castelo Branco. De facto, as fitas portuguesas - de Georges Pallu (1921) e António Lopes Ribeiro (1943), ou Mário Barroso (2008) - foram antecedidas por outras tantas produções brasileiras, ao tempo do mudo: por Francisco Santos (1914) e José Viana (1917). Recorda-se que Oliveira abordou, ainda duas vezes, flagrantes da existência de Camilo - em Francisca (1981) e O Dia do Desespero (1992) - além de uma evocação simbólica em Famalicão (1940).
Segundo Oliveira, «foi a partir de O Passado e o Presente (1971) que pensei em filmar Benilde ou A Virgem Mãe (1974) e, depois, Amor de Perdição. Achei que havia um fio comum tratado em todos esses livros: uma certa impossibilidade de atingir o amor absoluto... Ou, por outras palavras, tal amor seria extra-terreno! A partir dessa ligação, em três histórias completamente diversas, embora todas com situações caprichosas, ao nível social e religioso, chega-se à mesma conclusão, mas por ordens diferentes, com um fundo comum».
Eis a chave para decifrar, no itinerário do prestigiado argumentista / realizador, esta fase - intrigante, mas fascinadora: pois de reacesso a uma actividade regular, sempre polémica em opções / propostas ficcionais / estéticas; e fundamental quanto aos subsequentes pressupostos temáticos / rituais, a explorar de modo tão pujante / virtualizador... Em Amor de Perdição - Memórias de Uma Família, como título integral, o envolvimento literário é, assim, matéria / incidência própria de transfiguração pelo imaginário.
Além da minuciosa fidelidade ao melodrama inspirador, em depurada tradução visual e ilustração cénica, sobressai a metáfora romântica - flutuação de dependências, a opressão das convenções. Em correlação distanciada de transes e tensões, as missivas excitam a afeição insubordinada, para um destino inexorável - pelo transcendente sacrifício, paradoxalmente libertador. Entre a catástrofe e a exaltação, o arrebato e o aniquilamento, os precários protagonistas são, pois, vítimas duma tragédia universalista e intemporal.
Para Oliveira, o que agita Simão e Teresa, frustrados em vida, é a inacessibilidade - que os faz querer mais forte do que nunca, além da morte. A narração faz-se do exterior para o interior, dinamizando o jogo entre as cartas e as vozes. O aparente estatismo é, antes, uma fixação visual - em termos de acção exposta, e não desenvolvida, para que o (ouvido do) espectador possa estar atento... Com orçamento divulgado de vinte mil contos e fotografia de Manuel Costa e Silva, Amor de Perdição teve uma rodagem acidentada - entre Novembro de 1976 e Novembro de 1977 - em Coimbra, Porto e Viseu, na Quinta de São Miguel, além dos estúdios da Tobis Portuguesa; através de três directores de produção - Henrique Espírito Santo pelo IPC, Marcílio Krieger e António Lagrifa.
Manoel de Oliveira concretizou, também, uma versão televisiva com seis capítulos - cuja estreia prévia, em Novembro de 1978 na RTP, suscitou larga controvérsia, sendo antecedida por um introdutório Episódio Zero, de Jaime Campos. Quanto ao filme, foi distinguido com um Prémio Especial do Júri, referenciável à carreira do cineasta, no Festival da Figueira da Foz em 1979, tendo estreado comercialmente em Paris e Nova Iorque; em Lisboa, suscitou a reposição, em sessão da tarde, do «inesquecível Aniki-Bobó» (1942).

BREVIÁRiO

¨Padrões Culturais Editora lança, na Colecção Textos Extraordinários, Os InDiferentes de José de Matos-Cruz; ilustrações por Sílvia Rodrigues.

Glossa edita em CD, L’Arbre de Jessé pelo Ensemble Gilles Binchois, com direcção do tenor Dominique Vellard.

_Câmara Municipal de Moura edita Salúquia - A Lenda de Moura Em Banda Desenhada, álbum colectivo em quadradinhos.

¯Sony Music edita em CD e DVD, Together Through Life de Bob Dylan. IMAG. 13-24-61-85-115-136-151-187-211-227-233

Na Colecção Livros Para Ouvir, 101 Noites edita O Gigante Egoísta e Outros Contos de Oscar Wilde, lido por Rosa Lobato de Faria. IMAG.14-61-204

Universal edita em CD, sob chancela Deutsche Grammophon, Johannes Brahms [1833-1897]: Concertos Op. 77 e 102 por Vadim Repin e Truis Mork, com a Gewandhausorchester de Leipzig, sob a direcção de Riccardo Chailly. IMAG.82-171-193-199

Livros Horizonte edita Almada Dixit de Almada Negreiros (1893-1970); organização e apostilas por João Furtado Coelho. IMAG.84-135-154-173-224

EXTRAORDINÁRiO

OS ALTERNATIVO
Folhetim Aperiódico

UM FAZEDOR DE IDEIAS
IMAGINA A PRÁTICA - 1

 1 de Dezembro de 1940

Aquilo era um grande rombo, para os parcos meios de Jacinto Lusitano. Sendo assim, dobrou meticulosamente a nota de cem escudos, com a insígnia do primeiro rei de Portugal. Pareceu-lhe que Henrique Afonso gemeu, entalado, mas o que verdadeiramente lhe soou, nítido, foi um som metálico da espada a quebrar-se... Não, seria tudo imaginação sua. Tudo não passaria do estalido de papel novinho em folha, o qual manipulava entre os dedos. A nota que simbolizava a formação da nacionalidade - obviamente, uma nota falsa.

Custa muito ganhar a vida. E ele também não tinha, propriamente, muita estaleca para vigarista. Por isso, ser-lhe-ia mesmo difícil passar a nota de vinte escudos, com a esfinge de D. Gusmão IV e dedicada à restauração da independência. Aliás, o negócio estava mau em qualquer aspecto - ali para as bandas de Belém, onde Antero d’Oliveira Saraiva forjara os padrões universais de uma identidade pátria, com a Exposição de Portugal no Mundo.

E, se não conseguia despachar num sítio como aquele, dedicado à utopia e à aparência, como havia Lusitano de se desenrascar numa cidade como o resto de Lisboa, depauperada e deprimente? Algum esquema encontraria - pois na trafulhice, como para qualquer cura, não há maleita sem remédio.

 

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IMAGINÁRiO255

16 DEZ 2009 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org

Versão formatada por Luís Gaspar em www.truca.pt/imaginario.html · Acesso directo em www.imaginarios.org · Ano VI · Semanal · Fundado em 2004

PRONTUÁRiO

(TRANS)VERSÕES



Uma das mais nobres e úteis aspirações desde a Torre de Babel, buscar a expressão em outras línguas alcançou, no Mundo de Papel, uma dimensão límpida e virtual, cuja propriedade subtil é mais ousada e obscura na voz da poesia. Se uma ingrata tradição consumou, também, o anátema de tradutore / traditore, a verdade genuína confirma porém que, algumas vezes, o texto vertido supera em qualidade ou aliciante a escrita original... Tais ousadias e desafios pairam no trabalho fecundo, minucioso, de Francisco José Craveiro de Carvalho em As Árvores Prontas - Uma Antologia, sob chancela de Edições + (&) ´. A partir da inspiração lírica por Andrei Voznesensky, Arnold Wesker, Brian Turner, Carl Sandburg, Emily Dickinson, Fernando Grade e Michael B. Whittaker, eis um manancial complexo, fascinante, singular, cultural, realista, onírico, que se delimitaria entre a arquitectura naturalista e a geometria emocional, através de florações piramidais e memórias diamantinas... Precária filigrana, projecto inconsútil, germinando o limiar dos prodígios em ortografia portuguesa. IMAG.16-117-130-177-190-209-226

CALENDÁRiO

1938-18JUN2009 - António Pedro Ruella Ramos: Director do Diário de Lisboa, entre os fundadores do Expresso: «Marcou o ciclo da história da imprensa em que os vespertinos de Lisboa se destacavam na luta contra a censura e pela democratização da sociedade portuguesa nas décadas de ’60 e ‘70» (Mário Mesquita).

NOTICIÁRiO

Supremo Tribunal - Homicídio - Condenação - Em Setúbal, na noite de 23 de Julho de 1879, pouco depois das nove horas, no Campo de Bonfim e junto a um cruzeiro de pedra que fica próximo à ponte chamada dos Arcos, foi ferido Joaquim Maria Cardeal Rocha, solteiro, professor e morador naquela cidade, de cujo ferimento, como consequência necessária e fatal, resultou a morte do mesmo Rocha. Instaurado o competente processo criminal foram, em presença das provas obtidas pelos inquéritos das testemunhas, pronunciados, sem fiança, como autores deste crime, António José Machado, casado, ali estabelecido com loja de sola e calçado, e seu irmão e caixeiro Carlos Victorino Machado. Do despacho que os pronunciou interpuseram estes agravos de instrumento para a Relação desta cidade, dando como leis ofendidas, entre outras, o artigo 451º do Código Penal; e o artigo 987º da N.R.J, de cujo agravo obteve provimento Victorino Machado, por Acordão de 6 de Dezembro de 1879, e em virtude do qual foi posto em liberdade. Correndo o feito os seus termos com respeito ao pronunciado António José Machado, foi este julgado em audiência geral de 20 de Maio último, sendo afinal condenado na pena de oito anos de prisão maior celular, seguida de doze anos de degredo em África ou na de quinze de trabalhos públicos, em uma das possessões ultramarinas de 1ª classe, visto o júri ter dado por maioria provado o crime de que era acusado.
21DEZ1880 - Diário de Notícias

MEMÓRiA

1901-22DEZ1969 - José Maria dos Reis Pereira, aliás José Régio: «Sim, foi por mim que gritei. / Declamei, / Atirei frases em volta. / Cego de angústia e de revolta.» (Poema do Silêncio). IMAG.74-104-131-169

23DEZ1929-1988 - Chet Baker: «Com seu trompete romântico, foi um dos criadores do west coast jazz, a variante californiana do cool lançado por Miles Davis e Gerry Mulligan, e, como cantor, influenciou a bossa nova» (Helton Ribeiro). IMAG.193

1860-24DEZ1929 - Alice Pestana, de pseudónimo Caiel: Pedagoga, escritora, cronista do Almanach das Senhoras ou do Diário de Notícias sobre educação, feminismo e problemas sociais - presidente da Liga Portuguesa da Paz, casada em 1901 com o professor espanhol Pedro Blanco Suárez.

ANUÁRiO

460 aC-400 aC - Tucídides: «A guerra é um mal, mas a submissão às ordens de outros Estados é pior… A liberdade, se a agarramos com tenacidade, acabará por restaurar as nossas perdas, mas a submissão significará a perda pemanente de tudo aquilo que prezamos… A vós, que vos intitulais homens de paz, digo: Não estais a salvo, a menos que tenhais homens de acção do vosso lado» (História da Guerra do Peloponeso).

c1700-1791 - Giovanni Battista Ferrandini: Compositor italiano aos estilos barroco e clássico, autor da cantata Il Pianto di Maria (1739).

OBSERVATÓRiO






:http://estacaochronographica.blogspot.com/ - Para os que se interessam pelo Tempo, em toda a sua multidisciplinariedade, Estação Chronographica é um apeadeiro onde o Tempo se escreve, diariamente (Fernando Correia de Oliveira). IMAG.136-186-232-240

VISTORiA

O Poderoso Minos




1.4. Minos foi, dentre os homens que conhecemos pela tradição, o que mais cedo adquiriu uma frota e dominou a maior extensão do mar que hoje se chama Helénico; exerceu a hegemonia sobre as ilhas Cícladas e foi quem primeiro instalou a maioria das colónias, depois de expulsar os cários e de entregar a chefia aos seus filhos. E quanto à pirataria, como era natural, ele procurava na medida das suas forças eliminá-la do mar para aumentar os seus lucros.

1.8.2. Depois que Minos constituiu sua frota, a navegação trouxe maior contacto entre os povos - ele expulsou das ilhas os malfeitores, à medida que colonizava a maior parte delas.
Tucídides - História da Guerra do Peloponeso (excerto)











Cântico Negro

¨«Vem por aqui» - dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: «vem por aqui!»
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...

A minha glória é esta:
Criar desumanidade!
Não acompanhar ninguém.
- Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe.

Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...

Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: «vem por aqui!»?

Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...

Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.

Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...

Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tectos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura!
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...

Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém.
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.

Ah, que ninguém me dê piedosas intenções!
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: «vem por aqui»!
A minha vida é um vendaval que se soltou.
É uma onda que se alevantou.
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
- Sei que não vou por aí!
José Régio

BREVIÁRiO

IN-MC/Imprensa Nacional-Casa da Moeda edita Correspondência Com José Régio [1901-1969] de Vitorino Nemésio [1901-1978]. IMAG.74-104-131-167-169

Dargil edita em CD, sob chancela ECM New Series, Ludwig Van Beethoven [1770-1827] - The Piano Sonatas, Vol. VIII pelo pianista András Schiff. IMAG.134-163-202-204-210-228-229-236-237-239

Na colecção Estudos Locais, Câmara Municipal de Montijo edita Santo Isidro de Pegões: Contrastes de Um Património a Preservar de Nuno Teotónio Pereira, Hélder Paiva Coelho, Isabel Costa Lopes e Irene Buarque.

REPOSITÓRiO

POPEYE




Criado em 1929 por Elzie Segar, popular em quadradinhos e na animação, Popeye constituiria um desafio intransponível em imagem real - pela apurada estilização gráfica, distorcida sobre o caricatural, e pela complexidade de significados inerentes. Uma narrativa de leitura aparentemente linear, mas eivada de subentendidos e ritmos interiores - cuja virtualidade havia que preservar, para além de um exacerbado confronto entre bons e maus. A evolução tecnológica permitiu enfim, aliada à convergência de artistas talentosos, superar tais dilemas em 1980, com realização a cargo de Robert Altman. O prestigiado Jules Feiffer concebeu o argumento, despontando Robin Williams como Popeye.
Em foco, um dos fulcros da trágica epopeia do excêntrico marinheiro - sulcando as ondas em busca de seu pai, que o abandonou em criança. A chegada a novo porto leva-o a conhecer a magrizela e caprichosa Olivia, por quem se apaixona e que está para casar, com o sinistro e possante Blutus. Nada que Popeye não resolva entre duas cachimbadas e um trago de espinafres! Ao insólito triângulo junta-se toda uma fauna pitoresca, que povoa a estouvada mundivivência de Popeye. Num sortilégio radical entre o poético e o patético, e para além da alegoria social, a saga de Popeye está pejada de insinuações ao regime democrático, bem revistos pela mordacidade de Altman e Feiffer.



IMAGINÁRiO254

· 08 DEZ 2009 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VI · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

FASCÍNIOS





Um criador incomparável do cinema europeu, Robert Bresson fascinou os cinéfilos com a sua transfiguração vibrante, iluminada sobre as sombras de um imaginário tradicional - à redescoberta de um culto, e em consolidação pelas novas gerações. Tocados pela desolação e pela fatalidade, os filmes de Bresson evoluem como um testemunho poético, perturbante, de sentimentos lacerados e emoções redentoras. Um envolvimento exposto além da história e dos cenários. Um olhar único, insólito, e que nos apela ao mais íntimo e profundo do que somos, em existência e consciência. Tal desvenda uma expressão austera, uma estética deslumbrante. Através de uma representação alegórica, onírica, cujos protagonistas ou antagonistas desempenham, afinal, um destino irreversível no teatro da vida e do mundo.

MEMÓRiA

12DEZ1919-2008 - Joel Serrão: «Não é possível nas Ciências Humanas, e em particular na História, não se ser marxista». IMAG.189

1901-18DEZ1999 - Robert Bresson: «Para estabelecer bem a diferença, sublinhada por Cocteau, entre os filmes correntes e a arte cinematográfica... É pelo cinematógrafo que reviverá a arte que o cinema está a querer matar».

1894-22DEZ1969 - Josef Von Sternberg: «Sombra é mistério e luz é claridade. A sombra oculta, a luz revela. Saber o que revelar e o que ocultar, e em que medida, eis tudo o que concerne à arte».  

ANUÁRiO

1659-1695 - Henry Purcell: Compositor inglês nascido em Londres, autor da ópera Dido e Eneias.

1729-1783 - Antonio Soler: Compositor espanhol nascido em Olot, Catalunha, autor de Quintetos Para Dois Violinos, Viola, Violoncelo, Órgão ou Cravo Obrigado (1776).

1869-1934 - Francisco de Lacerda: Compositor e Chefe de Orquestra, autor da Symphonie Funèbre et Triomphale, fundou a Filarmonia de Lisboa, tendo dirigido cursos na Schola Cantorum de Paris.

1855-1929 - João Franco: «Os republicanos estão precisando de sabre como de pão para a boca» (1908 - Presidente do Conselho, para El-Rei D. Carlos I).

NOTICIÁRiO

Bolsa de Trabalho

Aos domingos, reúne-se no Campo Grande um elevado número de trabalhadores; ali, é o que eles chamam mercado dos trabalhadores, uma espécie de bolsa de trabalho, e ali esperam que os vão contratar, para os diversos serviços do campo.
16JUN1890 - Diário de Notícias

Alugam-se Homens
Numa Feira do Campo Grande

Todas as madrugadas, imigrantes legais e ilegais esperam por um lugar nas obras. Recebem ao dia. Os salários são mínimos.
13 JUN2009 - Expresso

CALENDÁRiO

1921-08MAI2009 - João Amaral Franco: Engenheiro agrónomo, investigador, cientista e professor de Botânica, autor de Nova Flora Em Portugal: «O seu exemplo e a sua obra na produção de revisões e monografias, na publicação de novidades florísticas ou taxonómicas, reflecte o trabalho de uma vida na taxonomia, a sua Flora foi, e é, uma ferramenta de excelência, primando pelo rigor da linguagem pelas extensas descrições» (Miguel Pinto da Silva Menezes de Sequeira/Dalila Espírito Santo).

JUN-05JUL2009 - Em Lisboa, A Arte da Terra expõe Santo António - De Lisboa a Pádua… Um Percurso de Sabedoria, Cultura e Arte. IMAG.112-215-237

1951-17JUN2009: José Calvário: «Um músico de eleição, um grande talento, um grande orquestrador e excelente compositor» (Fernando Tordo).

OBSERVATÓRiO


:http://gagocoutinho.wordpress.com/ - Ilustração da história e da memória aeronáuticas, com registo de imprensa internacional, em homenagem ao pioneiro português Carlos Viegas Gago Coutinho (1869-1959) - 140 anos do seu nascimento, 50 anos do seu falecimento. Organização de Rui Miguel da Costa Pinto. Contacto: pinto.rcosta@gmail.com. IMAG.6-106-215-219

COROLÁRiO

STERNBERG



Um dos mais fascinantes e misteriosos cineastas de todos os tempos, que sublimou o talento de autor europeu com o espectáculo ritualizado em Hollywood, Josef Von Sternberg (1894-1969) foi, no início dos anos ’50, incumbido por Howard Hughes de concretizar duas fitas, a cargo da RKO: Jet Pilot (1950) - apenas lançado entre nós em 1957, como Estradas do Inferno; e Macao (1952) - que nunca estreou comercialmente em Portugal, logo por óbvias razões geopolíticas. Longe iam já as cintilações de um vínculo mítico com Marlene Dietrich, até The Devil Is a Woman (1935); e mesmo a actividade primordial de Sternberg há muito esmorecera, desde Aconteceu em Xangai (1941). Aliás, o realizador austríaco estaria cada vez mais farto com as actuais condições de trabalho e dificuldades de produção - assumida em Macao por Alex Gottlieb, com argumento de Bernard C. Schoenfeld & Stanley Rubin, sobre enredo de Bob Williams. Consagrado como um fenómeno de génio e subversão, desde meados da década de ’20, em plena magia das imagens silenciosas, Sternberg abandonou a carreira pouco depois, sendo o seu título culminante The Saga of Anatahan (1953), a convite da indústria nipónica.

BREVIÁRiO

Costa do Castelo edita em DVD, A Cidade das Mulheres (1979) de Federico Fellini. IMAG.72-213

Andante edita em CD, sob chancela Naїve, Antonio Vivaldi [1678-1741]: Concerti Per Violino, Vol. 3, «Il Ballo» por I Barocchisti, sob a direcção de Diego Fasolis, com o violinista Duilio M. Galfetti. IMAG.169-205-209

Na colecção Estudos Locais, Câmara Municipal de Montijo edita Património Artístico-Cultural do Montijo de Carla Varela Fernandes, Catarina Oliveira, Rosário Salema de Carvalho e Paulo Almeida Fernandes.

Dargil edita em CD, sob chancela Orfeo, I Palpiti d’Amor pela soprano Krassimira Stoyanova, com a Orquestra da Rádio de Munique, sob a direcção de Friedrich Haider.

Assírio & Alvim edita Em Cada Pedra Um Voo Imóvel de Fiama Hasse Pais Brandão (1938-2007); nota explicativa por Gastão Cruz. IMAG.72-98-131-191

Testament edita em CD, Hector Berlioz [1803-1869]: The Trojans por Blanche Thebom, Jon Vickers e Amy Shuard, com a Convent Garden Opera Chorus and Orchestra, sob a direcção de Rafael Kubelik. IMAG.54-78-84

Na Colecção Bd-Cartoons-Ilustração, Assírio & Alvim edita Hermenegildo Sábat - Obras Gráficas.

Warner edita em CD, sob chancela Reprise, Fork In the Road por Neil Young. IMAG.101-157

Assírio & Alvim edita A Narrativa de Arthur Gordon Pym de Nantucket de Edgar Allan Poe (1809-1849); tradução de Jorge Pereirinha Pires. IMAG.66-211-244

Dargil edita em CD, sob chancela Orfeo, Marijana Lipovsek - Recital Salzburgo, com a pianista Elisabeth Leonskaya.

Assírio & Alvim edita O Templo Dourado de Yukio Mishima (1925-1970); tradução de Filipe Jarro. IMAG.223

INVENTÁRiO




Durante uma viagem de comboio, um homem maduro é atraído por uma jovem sentada defronte. Quando ela desembarca, numa estação aparentemente erma, persegue-a através de um bosque, multiplicando-lhe as propostas da sua paixão. Bruscamente, vão ter a um hotel onde se celebra um congresso de feministas. Frustrado sedutor entre centenas de participantes - que, em sucessivas declarações e happenings, denunciam o machismo, a repressão sexual, a escravidão doméstica, a secular hipocrisia da sociedade patriarcal - Marcello transforma-se gradualmente, de espectador irónico e ocasional, em centro das atenções - símbolo de antagonismo e alvo de tal contestação, em agressividade exorcizatória... Pouco a pouco, sob acontecimentos cada vez mais bizarros, tudo resvala para uma íntima dimensão, irrompendo desde a infância pelo itinerário vital, em que redescobre as paixões e os traumas, acabando pelo próprio julgamento do fracasso conjugal. Em tal processo avassalante intrometem-se, progressivamente, as feministas que povoam esse universo de massacre e fantasmagoria...
Cada filme de Federico Fellini (1920-1993) é uma dolorosa experiência de deslumbramento, fruição, reencontro, introspecção, quer pelos temas que o controverso mestre italiano desenvolve, quer pelo fascinante imaginário em que os transfigura: personagens exóticas, barroquismo dos cenários, frenesim de cores, iluminação feérica, sensualidade musical, coreografia extravagante. Suor, gases, maquilhagem, adereços, vestuário de farândola, são algumas componentes desse estranho manancial exposto numa textura plástica movediça e semovente, que evolui do ângulo distorcido à vastidão extasiante, envolvendo pessoas, objectos e situações numa insólita e desajustada representação. Daí aludir-se a surrealismo, delírio, onorismo, fantasia transbordante - conotações que, em A Cidade das Mulheres (1979), reencontram exemplar predisposição. Fellini propõe uma viagem sonambular através da sua obra, tomando por marco 8 ½ (1963), e sendo cúmplice Marcello Mastroianni. Num estranho fenómeno de personificação, recua-se até à magia da infância, tendo por estímulo as experiências sexuais determinantes.

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS
Folhetim Aperiódico

CORNOS DE PALITAR
CARDO E CARQUEJA - 4

  Espantado, Hypolito Gago deu, então, um grito lancinante da sua mais profunda dor. O facínora principal e o seu cúmplice, que por acaso se chamavam Bazilio Martinez e Mário Cardeal, trocaram entre si um gesto sinistro de júbilo e sadismo. Quanto ao escarnecido Tiberio, a esse, iam-se-lhe extinguindo as suas derradeiras forças vitais.

- O estúpido não disse onde tinha mais dinheiro, mas soube denunciar-te... - zombou o Martinez, exibindo a Hypolito uma gazua e um revólver. - Agora, cabe-te dar cabo dele, com um estoiro nos miolos ou um tiro no coração!

Continua


   

IMAGINÁRiO253

· 01 DEZ 2009 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VI · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

AFEIÇÕES



Nas últimas décadas, nenhum fenómeno ocorreu na banda desenhada, em estilo gráfico e expressão narrativa, tão determinante como a influência da mangà - a manifestação nipónica que, após uma massiva incidência além fronteiras, em aliança com outras virtualidades mediáticas, como a animação e os jogos de computador, transfigurou a estratégia ocidental do imaginário em quadradinhos, rendendo os leitores jovens e aliciando o engenho dos criadores. Assim ressalta DramaCon - sob chancela das Edições Asa - envolvendo a saga romântica para adolescentes femininas, com um fascínio clássico de magia e efabulação. Svetlana Chmakova - autora de origem russa, radicada no Canadá - estimula tais motivações através duma trama ágil e desinibida, reflectindo-se em Christie, novel escritora que, ao participar no seu primeiro festival de anime, reinveste as expectativas profissionais, numa triagem quanto aos próprios valores afectivos e artísticos. Mas, é sobretudo a dimensão dinâmica e icónica que traça o sinal dos tempos, eivada pelo que, nos corações e nos olhares, permanece imutável através de gerações.

CALENDÁRiO

1934-22MAI2009 - Yves Duval: Jornalista e conferencista, viajante, argumentista da banda desenhada de expressão franco-belga, colaborador das revistas Tintin e Pilote, trabalhou com ilustradores prestigiados como Jean Graton, Albert Weinberg, Eddy Paape, William Vance, Jean-Claude Servais ou François Craenhals.

28MAI2009 - Costa do Castelo estreia O Último Condenado à Morte de Francisco Manso; com Ivo Canelas e Maria João Bastos. IMAG.150-198

1925-02JUN2009 - Glória de Sant’Anna: Poetisa, professora - «Aquilo a que poderíamos, sem exagero, chamar a sua glória, nada tem de ruidoso… Foi sempre uma personagem de um pudor e retiro exemplares» (Eugénio Lisboa - 1988).

03JUN2009 - A 6ª Edição do Prémio Stuart de Desenho de Imprensa El Corte Inglés / Casa da Imprensa distingue os seguintes trabalhos: Grande Prémio - Categoria Ilustração: Porque nos apaixonamos pelas pessoas erradas de Alex Gozblau (Única / Expresso - 2008); Prémio - Categoria Tira Cómica: Paraísos fiscais de José Bandeira (Diário de Notícias - 2009); Prémio - Cartoon / Caricatura: Personalidades portuguesas do Século XX de Vasco Gargalo (Público - 2008).

1936-04JUN2009 - David Carradine: Actor norte-americano, filho de John Carradine, protagonista da série televisiva Kung Fu (1970) e dos filmes Kill Bill (2003-2004) - «Não preciso de convencer ninguém de que sou perito em artes marciais, mas talvez alguns tenham dúvidas se eu saberei realmente representar, sem ser com uma pronúncia de chinês». IMAG.2-20

04JUN2009 - ZON Lusomundo estreia Star Crossed - Amor Em Jogo de Mark Heller; com Teresa Tavares e Diogo Morgado.

MEMÓRiA

1841-03DEZ1919 - Pierre-Auguste Renoir: «Gosto de quadros que me dão vontade de entrar neles, se forem paisagens, ou que me dão vontade de os acariciar, se forem mulheres.» 

04DEZ1889-1942 - Buck Jones: Actor norte-americano popularizado em filmes sobre o Oeste, autorizou que o seu nome artístico fosse usado, nas histórias em quadradinhos, identificando o herói titular das aventuras que seriam editadas sob chancela Dell Publishing House.

ANUÁRiO

551 aC-479 aC - K'ung Fu-Tzu, aliás Confúcio: «Se o povo for conduzido apenas por meio de leis e decretos impessoais e se apenas for chamado à ordem por meio de punições, ele somente procurará escapar à dor das punições, evitando a transgressão por medo da dor. Mas se o povo for orientado pela virtude e trazido à ordem pelo exemplo e pelos ritos em comum, ele logrará a noção de pertencer a uma colectividade e o sentimento de vergonha quando agir de modo contrário e, assim, comportar-se-á bem de livre e espontânea vontade».

ANTIQUÁRiO

DEZ1969 - É lançada a revista MC - Mundo da Canção, sendo principal mentor Adelino Tavares.

OBSERVATÓRiO




www.colagem.com - O trabalho do artista plástico brasileiro João Colagem, nascido em Goiás a 23JUL1967 e residente em Roterdão, privilegiando a colagem: «O barroco brasileiro casou-se com a sensibilidade holandesa para composição. A obra actual é mais tranquila, porém não menos intensa. O vigor e o comprometimento permanecem... O acesso dá-se cada vez mais através dos olhos» (Gideon Wille - historiador da arte).

TRAJECTÓRiA

BUCK JONES





Extraordinário actor e acrobata, celebrado por Hollywood como uma das estrelas mais populares do lendário universo do western, Buck Jones pertence à rara categoria de vedetas cujo nome artístico designou, também, um virtual herói sempre em aventuras - transpostas mesmo para outros imaginários como os quadradinhos, tão divulgados em Portugal nos anos ’60 e ’70. Em cinema, foi primeiro figurante e duplo por 1917, designadamente de William S. Hart e Tom Mix - de cujo culto seria um herdeiro inigualável, condensando a exuberância do primeiro à sobriedade deste último. Dois anos depois, nos estúdios da Fox, era logo protagonista em fitas movimentadas - a primeira das quais The Last Straw. A partir de 1921, já consagrado, interveio em numerosos filmes e serials, montando o seu magnífico cavalo branco Silver.
Nascido em Vincennes, Indiana, no ano de 1889, de seu verdadeiro nome Charles Frederick Gebhart, foi desde a infância um hábil cavaleiro, tendo crescido num rancho do Oklahoma. Tentou emprego como mecânico de automóveis mas, aos dezassete anos, alistou-se na Cavalaria dos Estados Unidos, participando em missões na fronteira do México, como expedicionário militar, e nas Filipinas. Desmobilizado em 1913, interveio em espectáculos de circo e acrobacia sobre o Oeste selvagem, contratado pelo Miller 101 Ranch Wild West Show e o Riding Brothers Circus. Durante as décadas de ’20 e ’30, em Hollywood, Buck Jones transmitiu ao ecrã toda a sua perícia, com uma média de oito produções por ano, e ultrapassando o recorde de John Mack Brown quanto a westerns de que foi protagonista. Sendo especialmente admirado entre o público jovem, tinha um estilo peculiar para assumir conflitos e peripécias, estando entre os raros astros pioneiros que superaram a transição do sonoro, logrando alguma notoriedade além do western. Neste género privilegiado, tornou-se também o actor que, em serials sonoros, mais vezes desempenhou o papel principal.
Buck Jones era versátil, estilizando os elementos de humor e comédia das suas caracterizações, distinguindo-se ainda por um sofisticado vestuário. Ligado à Universal, por 1935-1937 tentou, mesmo, uma significativa experiência de realizador. Embora conotado com uma produção de Série B, cuidava em especial a preparação e execução, ciente de que era o artista sagrado com o western que mais público atraía por si próprio às salas de cinema. Em 1941, a sua carreira atingira já o clímax, quando a Monogram o contratou para The Rough Riders - com Raymond Hatton e Tim McCoy - uma série devotada aos cowboys destemidos e incansáveis. Em Novembro de 1942, ao participar numa campanha promocional pela América, para a venda de títulos de guerra (war bonds), Buck Jones pereceu tragicamente, após um incêndio que vitimou cerca de quinhentas pessoas, no Coconut Grove, um clube nocturno de Boston. Já a salvo no exterior do edifício, o actor voltou ao interior, tentando resgatar outros convivas surpreendidos pela tragédia. Envolvido pelas chamas e intoxicado pelo fumo, Jones ficou gravemente queimado, acabando por falecer dois dias depois.

NOTICIÁRiO






Recuperado Quadro
de Renoir
Roubado Há 25 Anos

O quadro Rei Édipo [1895], do pintor impressionista francês Pierre-Auguste Renoir, roubado a um particular em Roma, em 1984, foi recuperado pela polícia italiana e pela Interpol na província de Treviso (norte de Itália), na casa de um coleccionador.
04JUN2009 - Diário de Notícias

BREVIÁRiO

Estrela Polar edita A Vida Emocional dos Animais de Marc Bekoff.

Sony edita em CD e DVD, Live in London de Leonard Cohen. IMAG.12-64-123

Na colecção Imaginário, Assírio & Alvim edita A Noite de Iguana e Outras Histórias de Tennessee Williams; tradução de José Agostinho Baptista.

Universal edita em CD, sob chancela DGG, George Friedrich Händel [1685-1759]: Alcina por Joan Sutherland, Franz Wunderlich e Nicola Monti, com a Cappella Coloniensis, sob a direcção de Ferdinand Leitner. IMAG.157-213-224-243

Bertrand Editora lança A Maldição - Duma Key de Stephen King; tradução de Victor Antunes. IMAG.101-217-228

Numérica edita em CD, In Recital pelo violinista Bruno Monteiro com o pianista João Paulo Santos.

Dom Quixote edita Dom Casmurro de Machado de Assis (1839-1908). IMAG.196-229-231

Som Livre edita em CD, Voltei (1960) de Maysa [Matarazzo] (1936-1977).

Edições Asa lança Maigret e o Negociante de Vinhos de Georges Simenon. IMAG.47-241

CAM Jazz/Mbari edita em CD, Domenico Scarlatti [1685-1757]: Sonatas and Improvisations pelo pianista Enrico Pieranunzi. IMAG.64-139

Teorema edita O Olho de Vladimir Nabokov (1899-1977). IMAG.63-223

Dargil edita em CD, sob chancela ECM, Last Night the Moon Came Dropping Its Clothes In the Street de Jon Hassell.

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS
Folhetim Aperiódico

CORNOS DE PALITAR
CARDO E CARQUEJA - 3

O mesmo salteador soltou uma gargalhada lúgubre, deu-lhe o flanco por um toque da rédea, e admoestou com maior severidade:

- Deixa-te disso... Sobe mas é para aqui, que ainda temos algum caminho a percorrer, e acabaram-se as cerimónias!

A este ponto, estava tudo dito. Hypolito, conformado, desocultou os seus sacos, e a modos que os pôs para trás das costas. Pouco depois, a sua única preocupação era aguentar-se o melhor possível na garupa, enquanto seguiam a trote, deixando uma poeira a esvoaçar, como único e temporário sinal de que havia estado gente por aquelas paragens.

Chegaram, por fim, à beira de um terreno ermo, meio escondido de quem passasse pela via, muito próximo ao sítio de Sant’Ana. Um autêntico inferno. Embora já com os pés bem assentes no chão, Hypolito sentiu-se vacilar de horror, ao verificar o que era, realmente, aquilo que lhe tinha parecido um ponto negro, no lençol prateado de um tal fora-de-horas: estava ali a cabeça pendente de Tiberio Gonzaga, todo sepulto até ao nível dos ombros!

 – Continua


   

IMAGINÁRiO252

24 NOV 2009 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VI · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

INSTANTES




Seres híbridos entre as luzes e as trevas, os vampiros têm uma existência eterna pelo menos na mitologia cultural, que os resgatou dos mais remotos pavores e angústias. Mantendo um estigma macabro, sensual, estes humanimais foram estilizados, pelo fascínio que exercem sobre as vítimas. A sua voracidade insaciável do sangue representa um desafio contínuo pela sobrevivência... O qual, perante a gente comum, simbolizaria também um poder subjugado ao desígnio sobrenatural. Eis o fascínio contrastado em Crepúsculo - com edição em DVD, sob chancela ZON Lusomundo - realização de Catherine Harwicke, subjugando a pulsão do pudor e da adolescência, assumida por Kristen Stewart e Robert Pattinson, para além do confronto entre o bem e o mal, ou do estímulo supremo ante a imortalidade. Adaptação da saga fantástica Luz e Escuridão / Twilight por Stephenie Meyer, um fenómeno literário e sociológico, pairam tempos crepusculares, que cumpliciam o declínio da civilização convencional, ante o libertador signo visionário - pontuando um conflito clássico, em que se precipitam os enredos da normalidade, da contaminação, na sua essência extrema e arrebatadora.

ANTIQUÁRiO

30NOV1979 - Pink Floyd editam The Wall, primordial concept album/rock opera da autoria de Roger Waters.

MAI2008 - Cientistas alemães verificam, em análises de ADN, que o crânio de Friedrich Schiller, deposto na sepultura em Waimar,  foi roubado e substituído por outro. Hellmut Seemann - responsável pela Fundação Clássicos, à qual foi confiado o espólio do poeta - esclarece que não serão tomadas iniciativas para procurar os seus restos mortais.

MEMÓRiA

10NOV1759-1805 - Friedrich Schiller: «Queres conhecer-te a ti mesmo, olha como agem os outros: / Queres compreender os outros, olha em teu próprio coração… O que rejeitares do momento, / Eternidade nenhuma o restituirá».

24NOV1909-1994 - Eugene Ionesco: «Um homem com alma não é como os outros homens... Pela minha parte, sempre desconfiei das verdades colectivas».

26NOV1809-1862 - José Estêvão: Eleito deputado em 1836, a sua voz «ecoou imediatamente por todos os ângulos da capital e do país» (Bulhão Pato).

27NOV1939-2008 - Pedro Pinheiro: «Era um exímio encenador, um extraordinário autor, um actor que dominou muito bem as emoções humanas» (Luciano Reis). IMAG.224

CALENDÁRiO

14SET1920-17MAI2009 - Mario Benedetti: Poeta uruguaio - «Restará a memória, restarão os livros, mas, neste momento, memória e livros quase nos parecem somenos. A dor e o desgosto não adormecerão tão cedo» (José Saramago).

1935-21MAI2009 - João Bénard da Costa: Escritor e crítico, actor como Duarte de Almeida, Director da Cinemateca Portuguesa - Museu do Cinema - «Acredito que esta vida não pode acabar aqui: nada faria sentido, para mim, se assim fosse». IMAG.27-190-208-222

22MAI-10JUL2009 - Em Lisboa, Espaço Chiado 8 mostra Pinocchio, exposição de fotografia de Jorge Molder, sendo curador Bruno Marchand. IMAG.165-237

ª01JUN2009 - A capa da revista The New Yorker é da autoria de Jorge Colombo, que concretizou Finger Paiting, a concepção original, num iPhone, com a aplicação Brushes. IMAG.55-105-152-233

02JUN2009 - Em Louvain-la-Neuve, próximo de Bruxelas, é inaugurado o Museu Hergé - aliás, Georges Remi - concebido pelo arquitecto Christian de Portzamparc, e dedicado ao criador de Tintin. IMAG.131-136-210-217-245-250

RELATÓRiO



Artista veterano e prestigiado, José Ruy prossegue uma intensa actividade em prol da banda desenhada, destacando-se a recente apresentação de Mirandês - História de Uma Língua E de Um Povo, com coordenação científica de Amadeu Ferreira. Em comemoração dos vinte e cinco anos da primeira publicação, sobressai ainda o relançamento de Os Lusíadas de Luís de Camões em quadradinhos por José Ruy, do qual já se esgotaram oitenta mil exemplares. Ambas as novidades surgem sob chancela de Âncora Editora, com a notável mais valia de estarem também disponíveis versões em língua mirandesa - respectivamente Mirandés - Stória Dua Lhéngua E Dum Pobo e Ls Lusíadas, com tradução de Francisco Niebro, aliás Amadeu José Ferreira. José Ruy - que, em Mirandês, trabalhou pela primeira vez a cor pelo sistema digital - prepara agora Heróica Defesa da Ponte de Amarante, aquando das Invasões Francesas em 1809, e A Vida de Leonardo Coimbra, sobre o grande filósofo e pedagogo (1883-1936). IMAG.4-16-19-36-61-78-96-117-129-141-149-197-223

VISTORiA


A Dignidade das Mulheres


¨Honrai as mulheres! Elas entrançam e tecem
Rosas sublimes na vida terrena,
Entrançam do amor o venturoso laço
E, através do véu casto das Graças,
Alimentam, vigilantes, o fogo eterno
De sentimentos mais belos, com mão sagrada.


Nos limites eternos da Verdade, o homem
Vagueia sem cessar, na sua rebeldia,
Impelido por pensamentos inquietos,
Precipita-se no oceano da sua fantasia.
Com avidez agarra o longe,
Seu coração jamais conhece a calma,
Incessante, em estrelas distantes,
Busca a imagem do seu sonho.


Mas, com olhares de encanto e fascínio,
As mulheres chamam a si o fugitivo,
Trazendo-o a mais avisados caminhos.
Na mais modesta cabana materna
Foram deixadas, com modos mais brandos,
As filhas fiéis da Natureza piedosa.

Adverso é o esforço do homem,
Com força desmesurada,
Sem paragem nem descanso,
Atravessa o rebelde a sua vida.
Logo destrói tudo o que alcança;
Jamais termina o seu desejo de luta.
Jamais, como cabeça da Hidra,
Eternamente cai e se renova.

Mas, felizes, entre mais calmos rumores,
Irrompem as mulheres, num instante de flores,
Propiciando zelo e cuidadoso amor,
Mais livres, no seu concertado agir,
Mais propensas que o homem à sabedoria
E ao círculo infindável da poesia.

Severo, orgulhoso, autárcico,
O peito frio do homem não conhece
Efusivo coração que a outro se ajuste,
Nem o amor, deleite dos deuses,
Das almas desconhece a permuta,
Às lágrimas não se entrega nunca,
A própria luta pela vida tempera
Com mais rudeza ainda a sua força.

Mas, como que tocada ao de leve pelo Zéfiro,
Célere, a harpa eólica estremece,
Tal é a alma sensível da mulher.
Com angustiada ternura, perante o sofrimento,
O seu seio amoroso vibra, nos seus olhos
Brilham pérolas de orvalho sublime.

Nos reinos do poder masculino,
Vence, por direito, a força,
Pela espada se impõe o cita
E escravo se torna o persa,
Esgrimem-se entre si, em fúria,
Ambições selvagens, rudes,
E a voz rouca de Éris domina,
Quando a Cárite se põe em fuga.

Porém, com modos brandos e persuasivos,
As mulheres conduzem o ceptro dos costumes,
Acalmam a discórdia que, raivosa, se inflama,
Às forças hostis que se odeiam
Ensinam a maneira de ser harmoniosa,
E reúnem o que no eterno se derrama.

Friedrich Schiller



Ay del Sueño

Ay del sueño
si sobrevivo es ya borrándome
ya desconfiado y permante
y tantas veces me hundo y sueño
muslo a tu muslo
boca a tu boca
nunca sabré quién sos

ahora que estoy insomne
como un sagrado
y permanezco
quiero morir de siesta
muslo a tu muslo
boca a tu boca
para saber quién sos

Ay del sueño
con esta poca alma a destajo
soñar a nado tiernamente
así me llamen permanezco
muslo a tu muslo
boca a tu boca
quiero quedarme en vos

Mario Benedetti

BREVIÁRiO

Assírio & Alvim edita Cartoons do Ano 2008 por António, Augusto Cid, Cristina Sampaio, António Jorge Gonçalves e Maia.

Gradiva edita A Direcção-Geral da Saúde - Notas Históricas de Valentino Viegas, João Frada e José Pereira Miguel; edição revista e actualizada por Catarina Sena e Francisco George.

Naxos edita em CD, Luís de Freitas Branco (1890-1955) - Symphony Nº 2 pela RTE National Symphony/Sinfónica Nacional da Radiotelevisão Irlandesa, sob direcção de Álvaro Cassuto; inclui Depois de Uma Leitura de Guerra Junqueiro (Fantasia) e Paraísos Artificiais. IMAG.48-78-111-115-145-168-175-187-239

Editorial Presença lança Honra o Teu Pai de Gay Talese; tradução de Marta Mendonça.

A Esfera dos Livros edita D. Maria I - A Rainha Louca de Luísa V. de Paiva Boléo; prefácio de Maria Helena Carvalho dos Santos.

Ésquilo edita Lusitanos No Tempo de Viriato João Luís Inês Vaz; prefácio de Guilherme d’Oliveira Martins.

Quetzal edita, com Círculo de Leitores, Todos os Contos de Edgar Allan Poe (1809-1849); tradução de J. Teixeira de Aguilar, ilustraçãoes de Joan-Pere Viladecans. IMAG.66-211-244

Universal edita em CD, sob chancela Decca, Claude Debussy [1862-1918]: Prelúdios, D’Un Cahier d’Esquisses, Children’s Corner, Clair de Lune pelo pianista Nelson Freire.


IMAGINÁRiO251

16 NOV 2009 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VI · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

TESTEMUNHO


Numa peculiar fusão entre o talento e a criação, sob o signo do imaginário, o artista de banda desenhada - sendo autor também do argumento, ou responsável apenas pelo grafismo - desenvolve uma complexa e peculiar actividade, em que convergem tendências e inspirações próprias, vivências pessoais, tensões narrativas, factores circunstanciais, opções temáticas ou estilísticas. Através desse amplo e fascinante manancial, até à constituição de um universo em quadradinhos patente e público, sobressai uma carreira sob o signo da experiência e da maturidade - como a que consagra José Garcês, entre os maiores vultos da escola portuguesa, justamente distinguido durante o 19º FIBDA 2008 - Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora. Em destaque, 0 Figura - Homenagem Informal a José Garcês, que decorreu na Galeria Municipal Artur Bual, expondo o apreço e a afeição de muitos que o admiram ou são colegas de profissão. Tal manifesto - representando uma peculiar expressão artística, em pequena tela de 0,18×0,14 cm, iniciada nas primeiras décadas do Século XX, na Europa e conhecida por zero figura - foi, entretanto, editado em livro, um testemunho inestimável entre tantas pranchas e tantos álbuns do nosso reconhecimento por José Garcês. IMAG.24-70-78-117-129-149-226

CALENDÁRiO

1931-12MAI2009 - Roger Planchon: Dramaturgo, encenador, actor e cineasta francês: «Foi ele que me estendeu a mão e me levou pelo teatro, como nunca me aconteceu com mais ninguém» (Patrice Chéreau).

12MAI2009 - Guimarães é designada oficialmente Capital Europeia da Cultura 2012, a par com a cidade eslovena de Maribor, pelos Ministros da Cultura da União Europeia reunidos em Bruxelas.

16MAI-01JUN2009 - Em Lisboa, Museu Nacional do Traje expõe 100 Anos de Moda Com a Barbie; estilistas portugueses - como Ana Salazar, Augustus, Fátima Lopes, Nuno Gama, João Rolo, Dino Alves, Katty Xiomara, José Augusto Tenente, Ana Baldaque, Miguel Vieira, Storytaylors - projectam a colecção de 2059 para a boneca criada por Ruth & Elliot Handler para a Mattel em 1959, e lançada na Feira Anual de Brinquedos em Nova Iorque. IMAG.111

1947-19MAI2009 - Wayne Allwine: Actor americano, cedeu voz a Mickey Mouse entre 1977 e 2009, em filmes, séries televisivas e jogos de vídeo sob chancela das Produções Walt Disney. IMAG.69-70-203

21MAI2009 - Na antiga sede do Banco Nacional Ultramarino, em Lisboa, é inaugurado o MUDE/Museu do Design e da Moda, sob a direcção de Bárbara Coutinho.

MEMÓRiA

1887-17NOV1959 - Heitor Villa Lobos: «Considero minhas obras como cartas que escrevi à posteridade, sem esperar resposta».

1910-18NOV1999 - Paul Bowles: «Não se via como um turista, era um viajante. A diferença tem a ver em parte com o tempo, explicou. Enquanto o turista costuma voltar a correr para casa ao cabo de semanas ou meses, o viajante, que não pertence a um lugar mais que a outro, desloca-se com vagar, durante anos, de uma parte da terra para outra...» (Sob o Céu Que Nos Protege). IMAG.204-247

21NOV1879-1974 - Raul Lino: Arquitecto e ensaísta, artista e pensador - projectou o Pavilhão Português na Exposição Universal de Paris (1900), a Casa dos Patudos (1904), a Casa do Cipreste em Sintra (1912), o Cinema Tivoli (1925) ou o Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português (1940) - «Edifica como se fora para a eternidade; vive como se ora mesmo houvesses de morrer». IMAG.40-169-186

22NOV1869-1951 - André Gide: «Aprendi a agir sem julgar se a acção é boa ou má. / Amar sem me inquietar se é o bem ou se é o mal. / Uma existência patética em vez da tranquilidade. / E a não desejar nenhum repouso sem ser o que chegar com o sono da morte». IMAG.142-182

VISTORiA


A águia entusiasma-se com o seu voo.
O rouxinol embriaga-se com as noites de Verão.
A planície treme de calor.
Que toda a emoção se transforme para ti numa bebedeira.
Se o que comes não te estonteia é porque não tinhas ainda fome suficiente e não devias ter comido.
Cada acção perfeita é sempre acompanhada por uma certa voluptuosidade.
É assim que se reconhece que a devíamos fazer.
Não gosto dos que se acham com mérito por terem trabalhado penosamente.
Porque, se o que fizeram foi penoso, seria por certo melhor que tivessem feito outra coisa.
A sinceridade do meu prazer é o mais importante dos meus guias.
André Gide - Les Nourritures Terrestres (1935, excerto)

COMENTÁRiO



O cinema bélico alcançou em 1969, com Patton de Franklin J. Schaffner, um dos seus expoentes mais empolgantes e anacrónicos. Impressionante pela dimensão espectacular, sagrando a indústria artística de Hollywood. Controverso como biografia do General George S. Patton, considerado um dos génios da II Guerra Mundial.

Os deveres militares, os requisitos da honra, os desígnios estratégicos, os dilemas da glória, contrastam-se na personalidade complexa e arrogante deste herói americano - entre o paraíso da História e o inferno dos seus fantasmas - a que George C. Scott confere um portentoso desempenho, justamente galardoado com o Oscar ao Melhor Actor.

Outros galardões da Academia distinguiram o Melhores Filme, e Argumento (de Francis Ford Coppola e Edmund H. North), Segundo Schaffner, eis «o estudo de uma personagem, não uma tese. A guerra aparece, apenas, como pano de fundo, porque era a profissão desse homem».

NOTICIÁRiO

        

CAMILLE FLAMMARION                                             

O Movimento da Terra

Zenger apresentou uma nova teoria com respeito ao movimento da Terra. A rotação do globo terrestre é devida a uma reacção electro-dinâmica, emanada do Sol.
18NOV1890 - Diário de Notícias

BREVIÁRiO

Dom Quixote edita Poesia Reunida de Maria Teresa Horta; prefácio de Maria João Reynaud. IMAG.100-144

Imprensa Nacional-Casa da Moeda edita Obra Poética de Afonso Duarte (1884-1958); organização de Seabra Pereira. IMAG.188

Relógio D’Água edita O Outro Eu de Daphne du Maurier (1907-1989); tradução de Maria Franco e Cabral do Nascimento.

Universal edita em CD e DVD, Electric Ladyland por The Jimi Hendrix [1942-1970] Experience.

Livros Horizonte edita Eça de Queiroz [1845-1900] - Ramalho Ortigão [1836-1915] de A. Campos Matos. IMAG.14-19-20-32-52-60-90-91-94-101-125-148-165-178-199-203-205-208-214-237

COROLÁRiO








Todo aquele que puder superar as contingências que o rodeiam, nunca perdendo de vista o ideal superior que adoptou ou que o seu génio soube criar, - esse, na verdade, será um homem integral, ou um artista de todos os tempos!
Raul Lino (1957)

ELUCIDÁRiO

Casa de Santa Maria
Raul Lino em Cascais
A história da Casa de Santa Maria iniciou-se em 1902, quando Jorge O’Neill mandou construir ao arquitecto Raul Lino uma casa para habitação da sua filha Maria Thereza. Quinze anos depois, foi adquirida por José Lino Júnior, irmão do arquitecto, que a vendeu nos finais dos anos ’20 do século passado, a Manuel do Espírito Santo Silva. Situada entre o Farol de Santa Marta e a chamada Pedra do Cavalo, foi desenvolvida em ampla fachada face ao mar, e construída em três fases ainda hoje facilmente reconhecíveis: a primeira em 1902, a segunda em 1914 e a terceira em 1918. Sendo um dos primeiros projectos de Raul Lino, esta Casa reflecte uma tendência para a arquitectura tipicamente mediterrânica, valorizando o aspecto solar do revivalismo árabe, com os seus arcos em ferradura e azulejos. www.cm-cascais.pt/Cascais/Cascais/Patrimonio/Museus/casa_de_santa_maria.htm

ANTIQUÁRiO

17MAI2002 - Radiotelevisão Portuguesa/RTP produziu, e emite Raul Lino - Livre Como o Cipreste de Cristina Antunes. Arquitecto, aguarelista, desenhador, decorador, cenógrafo, figurinista, escritor, colaborador de imprensa, Raul Lino (1879-1974) marcou uma presença significativa nas mais diversas áreas artísticas. Concebeu a verdadeira casa portuguesa. A sua vida e obra, formação e viagens.

2009 - Costa do Castelo produz, e João Mário Grilo realiza Cal. O conceito de casa portuguesa como parte de um específico «projecto de felicidade», a que se associa a utilização de cal. A obra do arquitecto Raul Lino (1879-1974), com incidência na relação entre edifício e a natureza, e o modo como se foi moldando uma imagem humana e ideológica de Portugal com o Estado Novo.

EXTRAORDINÁRiO

OS HUMANIMAIS
Folhetim Aperiódico

CORNOS DE PALITAR
CARDO E CARQUEJA - 2

 Porém, era demasiado tarde, pois também os dois desconhecidos já o tinham avistado, e um deles gritou-lhe com ríspida sobranceria:

- Eh!, tu aí, fica mesmo aonde estás!

Hypolito logo estacou, embora tendo ensejo de afastar, em gesto rápido, disfarçado, os seus pertences para trás de uma moita. Depois, ganhou coragem para dar uma atitude de descontracção:

- Vossemecês não são destas bandas, e eu não tenho nada com isso...

Um dos forasteiros aproximou o animal, até este ficar com o focinho junto ao peito do nosso homem. A situação parecia estar para render. Ninguém mais tugia nem mugia e, a continuarem as coisas como tal, em breve a calma natural voltaria a reinar na obscura chinfrineira.

Mantendo os punhos cerrados e uma expectativa hirta, Hypolito acabou por retro-ceder. Aquilo não era modo de agir nem de inibir:

- Pois bem... Sendo assim, já é tempo de me retirar!

Sem qualquer deles se apear, o mais chegado respondeu-lhe então, de modo sereno mas que não admitia contrariedade:

- Não, senhor, tu vens mas é mais nós…

Hypolito Gago sentiu entaramelar-lhe a língua, com uma náusea que lhe subia das próprias vísceras em barafunda. Apesar disso, e dos tratos arrogantes daqueles tipos, voltou a tentar desfeiteá-los:

- Ai, que não estou a gostar da brincadeira... Sigam o vosso caminho, que o destino é livre, mas eu daqui é que não arredo!

 – Continua


    

IMAGINÁRiO250

08 NOV 2009 · Edição Kafre · imaginario@imaginarios.org
· Ano VI · Semanal · Fundado em 2004


PRONTUÁRiO

TRANSIÇÕES



A viagem do Capitão América e de Billy, dois jovens motociclistas, de Los Angeles para a Florida, passando por Nova Orleães - em busca da América real, profunda… Tal aspiração de liberdade traduz a não interferência com os outros, que vão encontrando; e, através dessa aceitação ou não colisão, de interesses ou preconceitos, tornam-se referência das distintas personalidades com que se cruzam ou que, de modo involuntário, acabam por provocar: Jesus, um lacónico hippy em busca das suas raízes; polícias arrogantes e hostis, que legitimam a moral arbitrária das pequenas cidades; prostitutas, em apelo sexual à temporária excitação na droga; ou George Hansen, que protesta sobre «uma terra que já foi boa». Até à matança em fogo e sangue... Testemunho imaginário de uma geração, que marcou a transição das motivações estéticas, ideológicas, logo numa produção conceptual pela indústria de Hollywood, Easy Rider (1969) - realizado por Dennis Hopper e concebido com Peter Fonda, sendo ambos protagonistas - mantém o impacto e a frescura de propostas, como celebração da beat à hip cultura.

MEMÓRiA

12NOV1929-1982 - Grace Kelly: «Ele entregou-se com empenho às artes, à cultura e ao envolvimento social, particularmente através da sua atenção às crianças, aos incapacitados e aos idosos» (Rainier III do Mónaco).

14NOV1839-1871 - Joaquim Guilherme Gomes Coelho, aliás Júlio Diniz: «Loas, hinos encomiásticos, capazes, ainda que em prosa, de atemorizar as modéstias menos esquivas, protestos hiperbólicos de veneração a todo o transe, tudo isso escutava friamente e sem nem sequer experimentar certa agradável e voluptuosa titilação da alma - se me admitem a frase - que em quase todos os filhos de Eva - primeira e mal estreada vítima da lisonja - produzem sempre os panegíricos do merecimento próprio, entoados por bocas alheias» (Uma Família Inglesa). IMAG.9

15NOV1889-1932 - Manuel Maria Filipe Carlos Amélio Luís Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco de Assis Eugénio de Bragança Orléans Saboia e Saxe-Coburgo Gotha, aliás El-Rei D. Manuel II, o Patriota: «Um Homem que viveu intimamente, em perfeita lealdade consigo mesmo, o juramento que prestara ao País de o servir como Monarca Constitucional e na melancolia do exílio, em vez de deixar mirrar a alma na estreiteza corrosiva do ressentimento e da desforra» (Joaquim de Carvalho).

BREVIÁRiO

Orfeu Negro edita O Incrível Rapaz Que Comia Livros de Oliver Jeffers (palavras e desenhos).

VISTORiA


Espécie de Prólogo,
Em Que Se Faz
Uma Apresentação ao Leitor

Um pequeno fraque de pano azul, fabricado nas melhores oficinas de Yorkshire ou do West of England; as calças, curtas e estreitas, dentro das quais as descarnadas tíbias podiam fazer o efeito do êmbolo em corpo de pneumática; as botas esguias e compridas, onde a elegância era sacrificada à solidez; gravata e colete alvíssimos, como os de um lorde do parlamento, e, de inverno, vestidura completa de gutta-percha que, nestas épocas utilitárias e prosaicas, veio substituir as impenetráveis armaduras da Idade Média - tais eram as peças principais do guarda-roupa do honrado negociante. Coroava finalmente tudo isto o chapéu, aquele chapéu de forma invariável, castelo roqueiro inacessível às ondas destruidoras da moda; baluarte inabalável no meio dos ventos encontrados dos humanos caprichos; o chapéu, rujo molde clássico dá a um grupo de ingleses um aspecto que é só deles; o chapéu, expressão simbólica da índole industrial e fabril da famosa ilha, pois desperta lembranças das chaminés que ouriçam o panorama das suas mais manufactureiras cidades. Respirando, havia mais de vinte anos, a atmosfera perfumada do nosso clima meridional, e bebendo, em todo este tempo, da própria fonte o predilecto das mesas britânicas, o genuíno Port wine - esse néctar, cujo aroma, ainda mais que os da nossa atmosfera, é grato a pituitárias inglesas, Mr. Richard Whitestone não conseguira, ou melhor, estas influências, com todos os outros feiticeiros atractivos da nossa terra, ainda não haviam conseguido de Mr. Richard Whitestone dois importantes resultados: - a adopção dos hábitos de vida peninsular, contra os quais antes regia sempre com a inteira inflexibilidade de suas fibras britânicas, e o respeito à gramática portuguesa, que, em todas as quatro partes, maltratava com uma irreverência, com um desplante de bradar aos céus e de desafiar os rigores da férula mais indulgente.

Júlio Diniz
- Uma Família Inglesa
 - Cenas da Vida do Porto
(1868 - excerto)

INVENTÁRiO

VASCO GRANJA



Nos anos ’60 em Portugal, a relação possível entre o jovem leitor e a banda desenhada estabelecia-se através das revistas que a esta eram dedicadas, cumprindo o simples acto de pagamento do preço de capa. O privilégio de evasão pelos quadradinhos consistia, pois, num prazer solitário e com poucas virtualidades.
Até que tudo se alterou, com a chegada de Vasco Granja à fronteira da comunicação. Com o seu estilo directo, amável e caloroso, nas páginas do Tintin. E, pouco a pouco, os meninos e as meninas deste país ficaram também a conhecer, com o Vasco na RTP, o fascínio da própria animação no imaginário.
Pessoalmente, eu tive ainda muito mais sorte. Na transição para a década de ’70, vivia com os meus pais e estudava em Coimbra, onde orientava suplementos/secções juvenis em jornais semanários e diários, com especial destaque para os quadradinhos, vertente sobre a qual fundei também e dirigi o fanzine Copra.
Contactar o Vasco por carta, torná-lo meu habitual colaborador de honra, foram - pois - aspectos inevitáveis. E então, dessa paixão mútua pela banda desenhada, apesar das diferenças de gosto e de olhar, firmou-se uma amizade franca, uma camaradagem que sempre me desvaneceu e nunca esquecerei mesmo.
Por outro lado, nas minhas periódicas deslocações a Lisboa, o Vasco era um contacto indispensável, certo, e várias vezes me acolheu em família, na sua casa da Damaia. Recordo com muita, muita saudade, as conversas que se prolongavam pela noite fora, e conservo todos os comicbooks que me foi oferecendo...
Em termos gerais, Vasco Granja teve uma intervenção fundamental, nas páginas das revistas ou em pequeno ecrã, para a divulgação e o conhecimento, quer da banda desenhada quer do cinema de animação, para várias gerações de jovens, potenciando o culto com as perspectivas crítica, didáctica e cultural.
Desde logo, desvendou que, para além de um produto de consumo ou de entretenimento, existe um fenómeno com expressão artística e criativa. O Vasco revelou e testemunhou os autores, definiu as escolas e as narrativas, sublinhou as técnicas e a estética, historiou os movimentos e as linguagens universais.
Penso que muitos de nós não nos apercebemos, desde logo, do protagonismo assumido por Vasco Granja neste desiderato primordial. E que hoje em dia, quando a respectiva abordagem e compreensão já está devidamente consolidada, tendemos a esquecer ou escamotear a sua ampla intervenção pioneira.
Por isso, é da maior justiça a homenagem pública e inequívoca que, agora, lhe está a ser prestada. Distinguindo Vasco Granja, destacam-se também a cordialidade e a qualidade humanas duma personalidade que, lá fora, forjou amplos laços de consideração e se prestigiou como nosso mediático embaixador.
Foi Vasco Granja que lançou as primeiras pontes para a apresentação de artistas portugueses no estrangeiro. E a ele se deve a clara compreensão da relevância e diversidade da banda desenhada franco-belga; ou da importância natural das escolas leste-europeia e canadiana nas vanguardas da animação.
Tudo isso foi logrado sem preconceitos nem chatezas, com um inimitável estilo lúdico e dinâmico. Certamente, estava muito em causa o próprio temperamento do Vasco, mas acabou por evidenciar-se uma experiência versátil que, pouco a pouco, pareceu tornar-se incómoda para certas pessoas e instituições.
Vasco Granja soube ainda aproveitar a simplicidade de trato e uma aparente inibição, aliadas à tão invulgar presença física, para garantir os traços de uma peculiar convivialidade, sobretudo com os jovens telespectadores que eram, também, os seus eventuais leitores numa eficaz e global identificação.
Esse amplo ritual, pela sua constância, reiteração e continuidade, estimulou aliás alguns curiosos fenómenos de recorrência entre Vasco Granja e certas matrizes da animação e dos quadradinhos, sobre os quais é sintomático continuar a tê-lo como referência, num sugestivo nexo de iniciação e (des)envolvimento.
A ausência de preconceitos académicos, ou de uma ostensiva erudição por parte de Vasco Granja, deriva porventura da sua própria aprendizagem livre, de acordo com os estímulos pessoais de apreço e uma ânsia de conhecimento, aspectos que se enquadrariam privilegiadamente através da formação cineclubista.
O anseio de saber e o estímulo dos contactos que desde cedo foi estabelecendo, a nível internacional, marcaram o itinerário, tal como estabeleceram uma carreira que o Vasco foi trilhando, em contacto com os maiores vultos promotores das artes sétima (no elã da animação) e nona (sobre a figuração narrativa).
Nos rumos e percursos que, periodicamente, se estabelecem ao encontro da banda desenhada, dantes subia-se o Chiado até à Livraria Bertrand, onde havia uma secção especializada com edições portuguesas e estrangeiras, algumas delas muito cobiçadas. E, durante vinte e nove anos, lá esteve o Vasco Granja.
Além da emoção e devoção que motivavam os heróis e as sagas geradas, tradicionalmente, em produção com a chancela de Walt Disney, outras modalidades da animação eram entretanto exploradas. E, ao longo de mais de mil programas, Vasco Granja tornou-as familiares, no então nosso único pequeno ecrã.
Com a devida vénia e o máximo respeito, lembro agora que, nessa altura, o Vasco era (re)conhecido, carinhosamente, como o pai da Pantera Cor-de-Rosa. Espero não ser injusto, ou indiscreto, se estimar as suas afeições de figura pública mais em Georges Remi, aliás Hergé, a cativar entre os 7 e os 77 anos.
Por outro lado, a consciência precoce que tive, ou tivemos, sobre a modernidade primitiva de gente como Norman MacLaren, o Vasco contribuiu para a respectiva certificação, com o melhor que poderia fazer: mostrando as fitas, detalhando-as, explicando como foram feitas e porque eram mesmo assim, diferentes.
Sobre o Vasco Granja, temos a sensação de que tudo é para continuar, por gosto e por gozo. A par com uma interminável herança civilizacional que nos advém de Toda a Memória do Mundo, como sem preconceitos anotou Alain Resnais. O resto é a fraterna solidariedade, que se renova num imenso abraço.
José de Matos-Cruz
- Vasco Granja - Uma Vida...
1000 Imagens (2003)

CALENDÁRiO

1925-04MAI2009 - Vasco Granja: Cineclubista e escritor (Dziga Vertov - 1981), pioneiro e primordial divulgador da banda desenhada e do cinema de animação em Portugal, na televisão (RTP - 1974-1990), em jornais (República), revistas (Tintin, Spirou) e fanzines (Quadradinhos).  

30MAI-14JUN2009 - Em Beja, decorre o 5º Festival de Banda Desenhada, com exposições e actividades na Bedeteca Municipal / Casa da Cultura.