Crônicas VI
por José António Baço
(Email)
(Textos publicados no jornal "A Notícia")

 

147 - OLIMPICAMENTE ESTRANHOS

Agora que os Jogos Olímpicos acabaram, convido o leitor e a leitora a uma reflexão sobre alguns esportes para lá de esquisitos. Mas aviso desde já que não vou falar nem de tiro ao alvo nem de golfe (pretende ser olímpico). No primeiro caso, porque a gente não deve brincar com alguém que pratica um esporte de arma na mão. E no segundo caso também. No ano passado escrevi sobre o golfe e um jogador ameaçou me dar um tiro (é um esporte de gentlemen).
Um dia desses, na hora do café da manhã, a televisão estava a transmitir um jogo de badminton nas Olimpíadas. Gente... a televisão devia ser proibida de passar aquilo tão cedo, porque o jogo é tão chato e soporífero que o sujeito fica logo com vontade de voltar para a caminha.
E fico a perguntar: por que, raios, o badminton é um esporte olímpico? Ah... parece que os critérios usados na escolha das modalidades olímpicas têm a ver com o número de praticantes e, mais recentemente, com o potencial para a televisão, porque um jogo deve dar bons espetáculos televisivos.
No quesito televisão, acho que dançou. Não sei se o leitor já viu alguma transmissão, mas o badminton é um jogo de peteca com raquetes e uma rede no meio. Aliás, o nome do esporte começa por "bad"... está tudo dito. E, claro, faz a televisão perder audiências, porque é impossível ver aquilo sem ter um ataque de tédio e bocejos.
Por outro lado, um dia desses ouvi que é a segunda modalidade mais praticada no mundo. Segunda? Sim. Porque é um esporte muito popular na China. E quando os chineses jogam uma coisa, são logo milhões e o número de praticantes está garantido. Ora, acontece que a China também pratica a pena de morte, mas nem por isso eu vou gostar.

Outras esquisitices

Mas há outras modalidades no rol dos esportes estranhos. Ouvi uma reportagem a informar que o softball teve a sua última participação olímpica, porque a modalidade ia ser excluída. Pô, eu nem sabia que o tal softball tinha sido incluído. O mais inusitado é o fato de ser um jogo só para mulheres. Se houvesse uma modalidade só para homens, ia ser a maior chiadeira. Machistas... e o escambau.
Outra modalidade para lá de esquisita é o hóquei na grama. Para se ter uma noção, a Índia e o Paquistão já foram superpotências da modalidade. Índia? Isso explica muita coisa. Antes a bola era de couro e agora é de plástico. Está na cara que isso foi feito para agradar aos indianos, que não devem gostar de um esporte que se joga com uma bola de couro de boi (um animal sagrado).
E temos ainda o hipismo. Será que podemos considerar aquilo um esporte? Afinal, quem faz todo o esforço físico é o coitado do cavalo, que é obrigado a andar, correr e saltar com um outro animal sentado nas suas costas. E no final o pobre bicho é sacaneado, porque quem recebe a medalha é o animal humano.
Aliás, acho que seria interessante criar os Jogos Estranhos Olímpicos, no qual teríamos estas modalidades e outras como o críquete (imaginem, o Paquistão é a potência mundial), o horseball (uma espécie de basquete a cavalo), o chess-boxing (mistura seis rounds de xadrez e cinco de boxe), o hóquei subaquático (hóquei embaixo dágua), curling (uma espécie de bocha em pista de gelo) ou o futebol com elefantes (quase o esporte nacional da Tailândia).
É como diz o velho deitado: "Ei, não vamos esquecer o nosso punhobol".


146 - O FUTURO NO SEU BUMBUM

Eu, como o leitor e a leitora, sempre acreditei que estudar é essencial para o desenvolvimento do espírito humano. Mas descobri que é uma idéia totalmente errada. Já percorri os caminhos das pós-graduações, das especializações, dos mestrados, dos doutorados... e só agora percebi que tudo foi perda de tempo. Porque há coisas muito mais interessantes, rentáveis e divertidas para se fazer.
É isso aí: decidi ser rumpologista. Ah... o leitor e a leitora nem imaginam o que pode ser essa tal rumpologia. Eu explico. É a habilidade de prever o futuro de uma pessoa olhando para o traseiro dela. Isso mesmo. Essa será a minha próxima especialização: ver o futuro analisando bumbuns. Mas vou logo avisando que a minha linha de pesquisa será equivalente à de um ginecologista: rumpologia só para mulheres.
Já sei. O leitor deve estar desconfiado, porque não acredita que isso exista. Mas existe. E digo mais. Uma das maiores autoridades mundiais em rumpologia é o ator Sylvester Stallone. Foi o que li numa reportagem do jornal espanhol "El Mundo". Segundo o texto, Mr. Rambo Rocky Cobra aprendeu a arte com a própria mãe e agora, já mestre, andou a ensinar a ninguém menos do que Kate Moss.
Ora, assim também eu. Olhando para o traseiro da Kate Moss qualquer pessoa é capaz de dizer que ela tem um futuro brilhante e pode chegar onde quiser.

TRASEIROS E MAMAS

Não sei se o leitor e a leitora sabem, mas sou fanzaço do Homo universalis renascentista. É o sujeito que se interessa por uma cultura holística e está sempre em busca do conhecimento. Foi com esse espírito que realizei uma pesquisa na internet. E descobri que posso alargar o leque de serviços de previsão do futuro a outras áreas da anatomia feminina.
O leitor sabia, por exemplo, que existe uma coisa chamada mamomancia (ou mastomancia)? Pois é. A coisa deve ser mais conhecida no exterior, porque os termos "mammomancy" e "mastomancy" são mais fáceis de encontrar na internet. Mas, como se pode facilmente depreender, estamos a falar de prever o futuro pela leitura dos seios.
Então, leitora, se quiser saber o seu futuro é só mostrar os seios a um profissional. Ou melhor, um "mamomante". Mas faço uma advertência: o uso de silicone pode atrapalhar o resultado das análises. É que as previsões da mamomancia são feitas a partir do tamanho e da forma dos seios.
Aliás, estou a pensar em abrir um consultório em breve. Mas aviso desde já que não atendo políticos, em hipótese alguma. E por duas simples razões. A primeira é que ninguém no mundo entende mais de tetas do que um político brasileiro. A vida dos caras é mamar, mamar e mamar nas tetas dos governos. A segunda é mais prosaica: é que os políticos brasileiros são quase todos uns tremendos bundas-moles e assim não dá para fazer previsões a sério.
É como diz o velho deitado: "Para os políticos há uma outra ciência da adivinhação, a escrotomancia. Acredite, porque também existe".


145 - Para o leitor português, continua a mesma coisa da semana passada. Um banqueiro preso duas vezes pela polícia em menos de 48 horas. E foi solto por um juiz do Supremo Tribunal Federal nas duas vezes. Um acontecimento imoral. Envolve o banqueiro, o banco, um juiz amigo, uma companhia telefónica e dois dos principais partidos  do país.

Um período de nojo

Período de nojo é uma expressão do português de Portugal quase desconhecida no Brasil. Significa um período de luto, de mágoa, de desgosto, de afastamento, de distanciamento, de tristeza. Pois saiba, caro leitor, que estou a iniciar o meu período de nojo em relação à vida no Brasil. Muito a contragosto.
Os acontecimentos destas últimas semanas, com a tal Operação Satiagraha, são um murro no nariz da decência. É chato ver o Brasil perder uma chance histórica de ir em direção ao futuro. Tudo conspira para empurrar o País rumo ao passado, para a vitória da canalhocracia que há séculos vem dando cartas (sempre com ases escondidos na manga). O patropi anda de nojo em nojo. E ficam muitas questões por responder.
- O Brasil é um país cheio de emBrOimação?
- Para ter sucesso é preciso senso de Opportunity?
- Tudo como Dantas no quartel de Abrantes?
- Há quem diga que existe uma Bancada Dantas no Congresso Nacional. Ou será uma bancada D'Antas? Então teríamos uma metade de antas e a outra de picaretas?
- Daniel (o Dantas) é muito mais poderoso que o outro Daniel (o da Bíblia)? Sim, conseguiu sair duas vezes da toca do leão. Ah... e se na Bíblia os leões ficaram com a boca selada, no caso do Brasil o leão não terá ficado ceguinho?
- O nome do presidente do Supremo Tribunal Federal não deveria ser Gilmar Mandas? É o homem mais poderoso do País. Não manda prender, mas manda soltar.
- O Supremo Presidente do Brasil, Gilmar Mandas, parece mandar mais que Lula. Se quiser, o homem decreta o fim da prisão de ventre.
- Gilmar Mandas intencionou tirar o inquérito das mãos do juiz Fausto de Sanctis. Vamos adivinhar: quem seria o próximo juiz? Um Fausto capaz de fazer um pacto com o diabo? Um Fausto de Diabus?
- Se Gilmar Mandas é contra as algemas em ricos, isso significa que o sexo sadomasoquista é crime?
- Tem gente a acusar a Polícia Federal de obstrução. Que nada. Se os caras com culpa no cartório estão todos borrados de medo, o termo obstrução se aplica ao caso?
- O que a sogra do Tarso Genro acha da situação? Hummm... a esta altura nem a sogra acredita no Genro. Você acredita?
- As lulas são octópodes. E quando se está com as calças na mão, oito mãos são muito mais úteis para segurar.
- Portuguesmente falando, "Lula" é um hipocorístico? Ei... eu disse hipocorístico, não confunda com hipócrita..
- É um momento histórico na zootecnia? A tal Operação Satiagraha vai comprovar que os tucanos realmente são aves de rapina?
- Dizem que o período de vida dos tucanos é de 20 anos. Não está na hora de eles entrarem em vias de extinção? O País agradece.
- Lugar de tucano é na gaiola?

É como diz o velho deitado: "Com tantas escutas, será que ninguém ainda ouviu a voz da razão?"


144 - Contextualização para os leitores portugueses: o banqueiro Daniel Dantas foi preso acusado de uma série de crimes, inclusive ser o epicentro do "mensalão". No mesmo dia em que foi preso pela Polícia Federal, o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, mandou soltar o homem. A Polícia Federal reformulou a acusação e prendeu novamente o homem. Mas lá estava de novo o ministro Gilmar Mendes para soltar o ricaço. Enquanto isso, há alguns meses ficou conhecida a história de uma moça que ficou meses e meses na cadeia por ter roubado um xampu num supermercado.

Bate-papo no chilindró

Os dois presos estão na mesma sala à espera de que os delegados cumpram as formalidades das prisões. Um é muito rico e veste um terno azul com gravata vermelha. É o tipo de roupa que dá um ar sóbrio, elegante e confiável. O outro preso é uma mulher de aspecto pobre. Veste uma calça de jeans desbotada, dessas que se compram nas feiras populares, e uma camiseta de marca (falsificada, claro). Ela tenta uma conversa.

- Então, doutor, o que tá pegando?
- Nada.
- Nada? Mas o senhor tá preso...
- É um engano, eu sou inocente e os meus advogados já estão a tratar de tudo.
- Que bom. Eu nem advogado tenho.
- Isso é mau. Eu posso indicar um...
- E como eu ia pagar, doutor? Não tenho dinheiro nem para comer. Pobre não tem desses luxos.
- É verdade. E os advogados que eu conheço são daqueles que cobram muito bem. Aliás, às vezes fico a pensar que muitos deles não deviam ir visitar as cadeias, porque correm o risco de não poderem sair...
- O que o senhor fez, doutor?
- Eu já disse: nada. Há aí uns investigadorezinhos da polícia que me acusam de um monte de mentiras. Formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta, evasão de divisas e uso de informações privilegiadas em operações financeiras, coisas assim
- Pô, doutor, eu nem sei o que isso significa. É mau? É crime?
- É uma perseguição desses polícias de merda. Dizem que estou metido em esquemas milionários. Mas eu saio desta
- Eu também acho que eles estão a exagerar no meu caso, mas não tenho dúvidas de que vou mofar no chilindró.
- Do que eles te acusam?
- De roubar um xampu e um condicionador para os cabelos.
- E você, assim como eu, também é inocente
- Não. Eu tentei levar as coisas do supermercado. Tava sem dinheiro, mas fui apanhada.
- É o importante é não ser apanhado com a boca na botija.
- Mas o senhor está aqui junto comigo, na mesma situação.
- Não vai durar muito. Eu conheço gente importante. Logo, logo um juiz me põe fora a daqui. Aliás, eu conheço os juízes mais juízes do País. Não importa quantas vezes eu vou ser preso, porque é número de vezes que vou ser libertado
- Sério?
- Isto é o Brasil, tudo é possível quando você tem dinheiro e conhece as pessoas certas.
- Beleza. Eu roubei um xampu e vou acabar numa cela fedorenta, enquanto o doutor, que é acusado de desviar milhões, ainda hoje vai estarcomemorando a liberdade num restaurante chique
- Exatamente.
- Bem doutor, é isso que me dá um orgulho danado de ser brasileira.

É como diz o velho deitado: "Lá vem o Brasil descendo a ladeira"


143 - A paulo-coelhização da vida

Se eu quisesse escrever um livro para ganhar dinheiro, não teria dúvidas: seria um livro de auto-ajuda. Por quê? Ora, porque há por aí um monte de gente que baba na gravata e anda louquinha para acreditar em qualquer besteira que se escreva. Há uma espécie de paulo-coelhização da vida.
O que isso significa? Ora, muitas pessoas acreditam que os problemas mais complexos podem ser resolvidos apenas com frases feitas. É só ler esta que roda aí pela internet:
"Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo."
Viu como é fácil? É só desejar. Ok mas faz anos que eu desejo o fim do conflito do Darfur, uma vacina para a Aids, uma melhor distribuição de renda no planeta e, claro, acertar na loteria do Euromilhões. E o que acontece? Nada. Parece que o universo conspira ao contrário. Mas "As decepções, as derrotas, o desânimo são ferramentas que Deus utiliza para mostrar a estrada."
Ah como não percebi isso antes?

BOVINIZAÇÃO

As prateleiras das livrarias estão infestadas dessas inutilidades que são os livros de auto-ajuda. E quanto mais flagelam a inteligência, maiores chances têm de se tornar bost-sellers. A fórmula dos textos é simples, simplória mesmo: é só usar uma linguagem bobinha, otimista e prometer soluções quase mágicas para obter riqueza, saúde, amor, felicidade ou até bom sexo.
"Uma vez feita a escolha, é preciso seguir adiante e confiar no seu próprio coração."
Os livros de auto-ajuda são escritos para os bovinos da classe média-mediana, pessoas aparentemente educadas que na verdade não passam de analfabetos funcionais. Os textos são alienantes e falam de um mundo sem dissenso, sem política e, claro, sem sinal de inteligência. É um mundo de aluados, com mais ou menos dinheiro, para os quais os problemas do mundo se resolvem com pensamento positivo. Se eu desejar muito, eu consigo.
"Escuta o teu coração. Ele conhece todas as coisas. Pois onde ele estiver é onde está o teu tesouro."
O segredo do sucesso desse tipo de obra (e aqui "obra" vem do verbo "obrar") é não exigir muito do leitor. Tudo deve ser feito sem qualquer esforço, a começar pela leitura do livro, que precisa ser rápida, fácil e sem qualquer coisa que cheire a complexidade. O que esses livros pedem? Para ter uma atitude mais positiva em relação à vida. Manter a mente focada apenas nas coisas boas. Enfim, a típica lengalenga para dormitar pangarés.
"Todos os dias Deus nos dá um momento em que é possível mudar tudo que nos deixa infelizes. O instante mágico é o momento em que um sim ou um não pode mudar toda a nossa existência."
É como diz o velho deitado: "A única maneira de ficar rico com os livros de auto-ajuda é escrever um. E acreditar que há tolos suficientes para fazerem dele um bost-seller."

P.S.: As citações deste texto foram tiradas da internet e, ao que parece, são de autoria do escritor Paulo Coelho (já tentei ler o cara, mas não agüentei).


142 - NO PRINCÍPIO ERA A VERBA

Joinville é bom demais? Pode ser bom para muita gente, menos para os publicitários que fazem as campanhas da Prefeitura. É que a Justiça anda se substituindo aos diretores de criação das agências e a determinar o que é um slogan válido ou não. Sem querer questionar as decisões judiciais, acho que há um erro de foco nessa questão.
O caso de Joinville é exemplar. Porque como marketeer não acredito que o slogan "Joinville é bom demais" seja eleitoreiro. E se a intenção de quem aprovou a campanha era essa, deu chabu. Ou alguém imagina que, ao ler ou ouvir a tal frase, a pessoa vai perder a cabeça e correr à procura de uma urna:
- Vou já votar nos candidatos apoiados pelo prefeito.
Claro que não. A publicidade não é assim tão poderosa.
A Justiça precisa calibrar a mira. É importante manter os olhos nos slogans, mas essa é apenas parte (talvez menor) do problema. A coisa vale para todas as instâncias de poder e em todo o País. Não é apenas com a mensagem que devemos estar preocupados, mas principalmente com os meios (e os investimentos nos meios).
Uma recomendação: a Justiça deveria dedicar maior atenção aos "planos de mídia". O que é isso? É o documento que determina os meios (rádio, televisão, imprensa, outdoor etc.) em que a mensagem é veiculada. Um bom "mídia mix" procura o melhor rácio entre o investimento e a eficácia na divulgação da mensagem.
Traduzindo: imagine, por exemplo, uma rádio com baixa audiência, que gera pouquíssimos GRPs (gross rating points - termo original da TV) mas recebe uma fortuna em publicidade. Enquanto isso, outra rádio com maior audiência - portanto capaz de atingir um público mais abrangente - recebe uns caraminguás. Faz sentido? Não. Os GRPs são uma fórmula quase matemática que permite saber se o investimento está a ser bem ou mal feito.. É só verificar.
O importante é a verba. Porque no Brasil muitos homens do poder encontram na publicidade uma forma de autopromoção, mas também de cooptar apoios em certos meios de comunicação mais permeáveis. É um velho hábito tupiniquim, uma sacanagem quase bíblica.

- No princípio era a verba.

Todo mundo sabe que a distribuição das verbas de publicidade muitas vezes é dirigida aos amigalhaços como, por exemplo, os "jornalistas" que lambem as botas do poder sem o menor pudor.
- Aos invertebrados, a verba.
Mas aqueles que jogam o jogo de maneira profissional, muitas vezes ficam a ver navios.
- Os críticos soltam o verbo? Então, não há verba.
Ah o leitor mais atento deve estar a pensar que eu tenho que provar isso. Não tenho. Porque provar é trabalho da Justiça. E a análise do plano de mídia permite responder a muitas perguntas.
- Onde o dinheiro é gasto?
- Qual a relevância do meio de comunicação?
- Quantos GRPs são gerados?
- Por que há publicidade em certos meios e não em outros?
Enfim, muitas coisas.
Afinal, todos sabemos. Poucos conseguem enganar muitos por pouco tempo. Muitos conseguem enganar poucos por pouco tempo. Mas para enganar todos o tempo todo, é preciso investir uma boa verba.
É como diz o velho deitado: "Ficar com a verba é bom demais."


141 - Nós que amávamos os sul-africanos

 Se a insanidade pudesse ser expressa por uma imagem, ela viria da África do Sul num qualquer dia de maio: uma foto mostra homens com porretes, barras de ferro ou facões na mão.  Eles dançam, cantam e parecem estar em delírio enquanto vêem arder a casa de um imigrante. A vítima era talvez um moçambicano, talvez um zimbabuense, mas com certeza alguém que tentou fugir da miséria.
É uma imagem incômoda. Porque os homens que se vêem nesse mórbido alvoroço (provocou a morte de pelo menos 50 pessoas) são os mesmos que, há menos de duas décadas, sofriam os horrores do apartheid. Um tempo em que homens brancos subjugavam homens negros e a cor da pele ditava o lugar de cada um na sociedade. Um tempo próximo demais para ser esquecido.
A recente onda de xenofobia que se espalhou pela África do Sul traz uma trágica ironia. A cor não importa. Esses mesmos homens negros que antes eram violentados pelos brancos, agora matam outros negros não mais negros que eles. E justificam esse irracionalismo com uma “razão”: os estrangeiros lhes roubam o trabalho, num país onde o desemprego ronda os 30%.
Os negros sul-africanos, que nos tempo do apartheid tiveram a solidariedade do mundo, agora olham para os imigrantes e levantam as suas toscas armas de forma ameaçadora. Tão ameaçadora que 13 mil estrangeiros tiveram que sair do país ou buscar refúgio nas igrejas, nos centros sociais e até nas esquadras da polícia.
O que podemos aprender com essa tragédia? Qualquer observador mais atento sabe que essa onda de xenofobia não é apenas uma reação contra a imigração sem controle. Há ali um problema que, mais cedo ou mais tarde, pode chegar a todos nós.
A África do Sul não está imune à situação internacional. Os preços do petróleo continuam a subir. Os alimentos são caros e escassos. A instabilidade econômica aumenta o desemprego. A água vai se tornando um bem insuficiente. E os padrões de vida vão se deteriorando. Tudo isso faz do mundo um lugar muito movediço.
E vale lembrar: perigoso é o homem que já não tem o que perder.


140 - Mostrar o cofrinho está na moda

Diga, leitor e leitora, se há coisa mais asquerosa do que um homem a mostrar o cofrinho? Sim, estou a falar daquela zona do traseiro masculino, o rego, que antigamente a gente só via em homens gordos nas borracharias. Mas hoje andar com o cofrinho à mostra está na moda, pelo menos por aqui na Europa. Como testemunha ocular, posso dar o meu depoimento: há cada cofrinho feio... autênticas visões do capeta.
Não lembro de ver no Brasil, mas por aqui os rapazes usam as calças lá em baixo (às vezes com a cueca para fora, outras não). Além de ser esteticamente horroroso, o fato de usar as calças lá em baixo impossibilita os movimentos. Se o cara precisar fugir de um ladrão está ferrado, porque é impossível correr.
Mas a moda traz algumas ironias. Li em algum lugar que isso de usar as calças baixas e mostrar as cuecas era uma linguagem das cadeias: o sinal usado pelos detentos homossexuais para dizer que estavam disponíveis para o sexo. Ooooops!
O mais divertido é que os jovens ridicularizam a moda de ontem, mas são vítimas da moda de hoje... que amanhã será a moda de ontem. Aliás, fico com a opinião de Oscar Wilde sobre o tema:
- A moda é uma variação tão intolerável do horror que tem de ser mudada de seis em seis meses.

FASHION VICTIM
S

Em tempo de hiperconsumo, os jovens perseguem a moda de forma bovina. Ou será asinina? Não sei como é no Brasil, mas aqui na Europa a coisa é terrível (nuns países mais, noutros menos). Há uma MTVização da vida. Aliás, algumas pessoas têm até um certo orgulho de ser "fashion victims". Um dia desses, li um anúncio com o seguinte título:
- É tão bom ser fashion victim.
Catso... é como se ser vítima de qualquer coisa pudesse ser bom. Parece que a moda transforma o defeito em virtude.
Mas o que realmente causa assombro é uma certa distorção do conceito. Sempre achei que uma pessoa queria estar na moda para ficar bonita. Ou seja, usar coisas da moda para ficar mais elegante e, portanto, mais atraente. Mas hoje em dia a moda muitas vezes estraga o layout das pessoas. Um horror.
Uma coisa difícil de entender, por exemplo, é a forma como os jovens - homens e mulheres - usam o cabelo. Porque os cortes fashion parecem ser feitos a machadada. E mesmo mulheres bonitas aderem a cortes que só servem para deixá-las com um ar molambento. O pior é que pagam verdadeiras fortunas, em estúdios de beleza que cobram os olhos da cara. Os cabeleireiros devem ser cientistas malucos que têm orgasmos a fazer experiências no cabelo dos incautos.
As roupas são outra coisa intrigante. O conceito over, que historicamente caracteriza as peruas, parece ditar a moda para as jovens fashion victims. A forma minimalista do jeans, camiseta e tênis parece uma aberração, uma afronta ao bom gosto dessas moçoilas que, como dizem as más-línguas, só são fieis à moda.
Mas não são apenas os jovens a sofrer com o fenômeno. A última tendência é de morte. Literalmente. A ecologia está na ordem do dia e os enterros verdes são a nova mania. Enterros verdes? Que maluquice é essa? Nos EUA, há pessoas que preferem ser enterradas (depois de mortas, claro) sem o caixão ou então com um caixão biodegradável, fabricado a partir de papel reciclado. Ser amigo do ambiente é "xique até na úrtima morada".
É como diz o velho deitado: "A única coisa que parece nunca entrar na moda é a inteligência".