O INFANTE PORTUGAL
Primeira Jornada

 


Lisboa é uma cidade imaginária, intemporal, onde se entrecruzam ou entrechocam
alfacinhas solitários, vadios e boémios, cidadãos ilustres, super-heróis fantásticos,
jornalistas e filósofos, mulheres prodigiosas, infandos malfeitores,
necrófagos e estapafúrdios, intelectuais sórdidos, amorais e puritanos,
políticos ubíquos, virgens fatais, náufragos e forasteiros, angélicos facínoras,
autóctones estrangeirados, emigrados neurasténicos, arrivistas e refractários,
insubmissos conformados, aberrações umbilicais e outras virtuais aparições,
em fantasmagorias e abominações, em artimanhas e manigâncias,
em dissídios e adversidades, em compromissos e rupturas, em perigos e desafios,
em sensos comuns e sentidos proibidos, em memórias efémeras e leviandades consagradas,
amalgamando-se entre ruínas e vielas, rotinas e vivências, equívocos e assombros,
pactos e traições, euforias e nostalgias, artimanhas e maquinações,
tudo num turbilhão precário ou numa monotonia secular.

Sol e lua. E, certa manhã, nos arredores da capital, quando o Infante Portugal
porfiava em mais um descanso do guerreiro,
sob a identidade pública de Rui Ruivo, um impoluto causídico,
após mais uma banal incursão nocturna,
entre insónias e convulsões, entre horrores e irrisões,
eis que tudo recomeça…
Ao receber um telefonema provocador de Vulcão,
o seu mais infame e funesto antagonista.

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