Crônicas 3
por José António Baço
(Textos publicados no jornal "A Notícia")

 

100 - Os prazeres da primeira classe

Viajar em primeira classe é outra coisa.
Que o diga o ator Ralph Fiennes, que tem no currículo uns poucos filmes bons e muitos filmes ruins. Parece que o enredo da vida real anda muito apimentado. Imagine o episódio, leitor.
O bonitão estava a viajar da Austrália para a Índia pela companhia australiana Qantas Airways. Foi atendido pela simpática aeromoça Lisa Robertson, um avião no frescor dos seus 38 aninhos.
O leitor mais habituado à classe executiva sabe como é. Champanhe vai, champanhe vem. Uma mordomia aqui, outra ali. O corredor é apertado e, sem querer, um corpo roça o outro. E pronto. O certo é que, para agradecer o tratamento vip, o ator deu-lhe aquilo que, em linguagem de gentlemen, chamamos um “encoxanço” (na área restrita à tripulação).
Nem o ar condicionado do aparelho, sempre no máximo, conseguiu apagar o fogo dos dois. E, para não darem bandeira, acabaram trancados no banheiro do avião para um sexozinho básico a 30 mil pés de altura. Uma aventura.
Isso sim é um serviço de primeira. Aliás, com um atendimento tão personalizado, não admiraria se Ralph Fiennes já estiver inscrito no programa “Frequent Flyer” da companhia.
Mas a Qantas não gostou a sacanagem aérea e demitiu a moçoila. O chato é que Fiennes amarelou e mandou o seu empresário dizer que ele, sim, tinha sido a vítima, porque foi seduzido. E insinuou que a aeromoça era uma predadora sexual. Tsc, tsc, tsc...
Mais classe teve a simpática Lisa, que disse ter sido o melhor sexo da vida dela. E só lamentou que o ator não tivesse usado camisinha. Nem tanto por ela, mas é que Fiennes ia a caminho da Índia para participar numa campanha a favor das vítimas da AIDS.
Imagino o que o leitor está pensado. Quer ficar freguês da companhia aérea, certo? Eu entendo. Aliás, o slogan da empresa é “The Spirit of Australia”. Espírito e corpo, of course.
É como diz o velho deitado: “Sexo bom é o que te leva às alturas”.


99 - As “chávez” do turismo

É um fenômeno recente. Há gente de todo o mundo visitando a terra de Hugo Chávez para fazer o tal “turismo revolucionário”. E não são apenas pessoas comuns, mas também artistas e políticos famosos. Todos de esquerda, claro. O mais irônico: o país recebe centenas de cidadãos americanos que preferem Chávez a Bush.
Qual a diferença para o turista normal? Os caras ficam longe dos pontos turísticos. Nada de praias, ilhas ou matas. O negócio é ir para as favelas ver o trabalho social do governo na área de saúde, educação ou do trabalho, por exemplo.
Ora, o turismo temático também teria enorme potencial no Brasil. Há muito para explorar.
Se não temos um turismo revolucionário, podemos criar o turismo do tráfico. Já imaginaram excursões às favelas do Rio para ver os traficantes de perto? E muitos turistas até poderiam comprar uma drogazinha básica. Os holandeses iam adorar. É claro que haveria uma escolta para proteger os turistas... dos traficantes e dos policiais corruptos.
Outro tema de interesse seriam visitas ao Congresso Nacional. Os turistas veriam in loco as negociações, ou seja, o “toma-lá-dá-cá” da atividade parlamentar. É claro que haveria uma escolta para proteger os turistas. Há sempre o risco de algum sanguessuga ou um mensaleiro lhes bater a carteira.
São Paulo é outra opção. A idéia é criar o turismo das inaugurações da Prefeitura. É claro que haveria uma escolta para proteger os turistas. Para evitar que alguém acabe expulso pelo prefeito Kassab aos pontapés e aos gritos de “vagabundo”.
E que tal visitar alguns programas de notícias no rádio de Santa Catarina para conhecer o que de melhor se faz no “jornalismo”? É claro que haveria uma escolta para proteger os turistas. Para evitar que algum desses “jornalistas” tente vender a própria mãe.
É como diz o velho deitado: “Prefiro o turismo de negócios. É bom para os bordéis”.


98 - A culpa é do orgasmo múltiplo

Você, leitora, acha que os homens pulam a cerca por sacanagem ou mau-caratismo? Errado. Eles fazem isso para repor o equilíbrio na natureza, por causa do orgasmo múltiplo feminino.
Não engoliu a explicação? Ora, para que não me acusem de machismo, vou buscar uma história que vem do princípio dos tempos.
Hera andava furibunda com as puladas de cerca de Zeus. Para se explicar, o manda-chuva do Olimpo usou um argumento que beirava a ciência moderna: o orgasmo múltiplo. Ora, é a prova de que as mulheres têm mais prazer que o homem. Zeus é um sábio. As infidelidades masculinas são, portanto, uma forma de repor a igualdade. Faz sentido, leitora.
Mas as mulheres são estranhas. E Hera não foi na conversa. Depois de muito blablablá no ouvido de Zeus, a solução foi chamar Tirésias, o maior vidente do Olimpo, a única pessoa capaz de esclarecer a pendenga entre o casal celestial.
O que tornava Tirésias uma autoridade no assunto? É que em outros tempos ele teve um entrevero com Afrodite, a deusa da beleza. Qualquer homem sabe que certas coisas não se dizem a uma mulher, ainda mais deusa e poderosa. Mas Tirésias ousou dizer a Afrodite que havia uma deusa mais bela que ela. Pediu, levou.
A boazuda do Olimpo abriu a caixa das maldades e transformou Tirésias numa mulher. E como quem está na chuva é para se molhar, o vidente tirou partido da situação. Era, portanto, o único no Olimpo e arredores que já havia experimentado ser homem e mulher.
Sabe a resposta que Tirésias deu a Hera sobre o prazer?
- Se o prazer do amor se contasse em dez partes, nove iriam para a mulher e apenas uma para o homem.
Pronto. Hera não tinha mais do que reclamar. Só que, mesmo sendo uma deusa, era uma mulher. Insatisfeira com a resposta, por capricho cegou Tirésias. O coitado não tinha mesmo sorte com as mulheres.
É como diz o velho deitado: “Mulheres... Elas não se rendem às evidências”.


97 - Dunga e os borrões de Rorschach

Qual foi a grande atração do jogo Brasil x Portugal na terça-feira? Não tenho a menor dúvida: foi a camisa de Dunga. Onde é que o cara foi arrumar aquela raridade, que mais parecia uma cortina? Qual terá sido o preço? Se custou mais de “déiz real”, Dunga foi enganado pelo camelô.
Não é à toa que o Brasil perdeu o jogo. Um cara vestido daquela forma perde a autoridade moral. Ninguém ia ligar para o que ele dizia. Mas imagino que Dunga estivesse a se achar todo fashion. Um frio dos diabos em Londres – a temperatura perto dos zero graus – e o cara insistia em ficar só de camisa.
O certo é que ele podia contar com o calor da galera, que esteve sempre animada. Pelo barulho, o estádio parecia estar quase totalmente tomado pela torcida brasileira. Aliás, tanta gente a viver no exterior é a prova de que, nos últimos anos, os governos brasileiros criaram um importante produto de exportação: brasileiros e brasileiras.
Fiquei de olho no público. A tal miss desaparecida podia estar interessada no jogo e dar o ar da graça no Emirates Stadium. Já aconteceu com o Miguel Orofino, lembram?
Por falar em imigrantes, a única vez que vi um jogo Brasil x Portugal ao vivo foi em 2002, no Estádio Alvalade, em Lisboa. Filipão era o técnico da Seleção canarinha. Havia tantos brasileiros no estádio que cheguei a pensar no perigo para os clandestinos. Imaginem se a polícia fechasse as portas do estádio:
– Os brasileiros ilegais só saem daqui direto para o aeroporto.
Não haveria aviões suficientes. Há 100 mil brasileiros em Portugal, a maioria em situação ilegal.
Mas voltemos à camisa de Dunga. Pensando bem, talvez ele estivesse tentando hipnotizar os jogadores portugueses com aqueles padrões que mais pareciam os borrões de Rorschach. Não funcionou. Afinal, foram os jogadores brasileiros que acabaram dormindo em campo.
É como diz o velho deitado: “Só de camisa num frio daqueles? Esse Dunga ainda vira Atchim”.


96 - Extreme-jobs, extreme stupidity

Você, workaholic, acha que é importante só porque desperdiça a vidinha a fazer horas extras? Poder tirar o seu burrinho de carga da chuva. Você não passa de um insignificante preguiçoso.
O mundo do trabalho duro agora é dos extreme-workers, uma turba de malucos que assola as empresas do tal primeiro mundo. É o tempo dos extreme-jobs, empregos que obrigam a pessoa a trabalhar 70 horas ou mais por semana. Aliás, não obrigam. É um estilo de vida assumido.
Mas qual é a diferença entre um extreme-worker e um simples workaholic? É que os caras consideram os extreme-jobs uma espécie de esporte radical, cheio de adrenalina, movimento e ação. Parece piada, só que não tem graça.
Ser um extreme-worker está na moda e até tem charme. Tudo bem... dá para entender que haja débeis mentais dispostos a abrir mão de uma vida própria. Difícil de engolir é uma sociedade que glamouriza essa castração existencial. As revistas até fazem matérias a dizer que os tipos são exemplos de sucesso.
O lado bom é que eles ganham muito dinheiro. O lado mau é que nunca têm tempo para gastar. Mas o que pensarão essas criaturas insanas?
– Férias?
– Nem pensar. Os caras ficam em estresse quando não têm de trabalhar.
– Um cineminha?
– Esquece. Um extreme é incapaz de passar uma hora sem atender o celular.
– Uma cervejinha com os amigos?
– Não têm amigos. E falar de futebol e mulheres não interessaria mesmo.
– Um joguinho de futebol?
– Só no videogame do escritório... e na hora do almoço.
– Praia?
– Uma passadinha rápida, sempre a bordo do carrão e sem tirar a gravata.
– Campo?
– Os tipos não conseguem ficar dez minutos longe das cidades.
– Sexo?
– Às vezes lêem uns artigos sobre o tema na internet.
Dizem que isso é ter sucesso. E pensar que a palavra trabalho vem de tripalium, que em latim era um instrumento de tortura.
É como diz o velho deitado: “Haja camisa de força”.


95 - O cocô e os cães obesos

Não pense que eu odeio animais. Eu gosto deles. Aliás, já estive no Congresso Nacional e consegui sair de lá numa boa. Nenhum sanguessuga me hostilizou. E até sou capaz de conversar com espécies mais exóticas, tipo o ACM Neto ou o Clodovil.
Mas tenho uma certa má vontade com os cães que vivem em apartamentos. Há uma razão prática. É que moro numa cidade onde as pessoas caminham olhando para o chão. Se não olham, correm o risco de pisar em coisas viscosas e mal-cheirosas. O cocô de cão é o inimigo público número um de muitas cidades da Europa, seja Lisboa, Berlim ou Paris.
É ridículo, mas as pessoas passeiam com os animais levando um saquinho e uma luva plástica na mão. Se o cãozinho sujar a calçada, diz a lei que os donos devem recolher a porcaria. É o que podemos chamar pôr a mão na massa. Bleargh... é um nojo. Há os que não respeitam a lei e deixam as calçadas parecendo autênticas armadilhas.
Mas agora a atenção com os animais passou dos limites. Nos EUA, a Food and Drug Administration aprovou um remédio para a obesidade canina. Acredite. A saúde dos cães virou um problema de saúde pública num país onde há cada vez mais pessoas sem um plano de assistência médica.
A situação era grave. Pesquisadores descobriram que mais de 5% da população canina dos EUA podem ser classificados como obesos e cerca de 30% estão acima do peso ideal. Pergunto: quem é o desocupado que tem tempo para fazer uma estatística dessas?
O problema é que os cães acabam parecidos com os donos. Se os animais-humanos comem demais e engordam, o mesmo acontece com os animais de estimação. O pior é que cães obesos têm problemas comuns aos seres humanos, como doenças cardiovasculares, diabetes e dificuldades nas articulações.
Enquanto isso, na África as crianças...
É como diz o velho deitado: "Numa sociedade perfeita, os cães não morrem de ataque cardíaco".


94 - Agricurtura também é curtura

O WorldWatch Institute revela que em 2008 metade da população mundial vai estar nas cidades. E o pior: 1,1 bilhão de pessoas em autênticos favelões.
Tenho uma teoria. O ser humano se desominiza quando está longe da ruralidade e da terra. O homem tem uma necessidade atávica de estar em contato com a natureza, mas as grandes urbes impedem essa experiência.
Um dia destes, tive um episódio interessante no trabalho. Era preciso criar um cartaz para uma feira agrícola. O designer, um autêntico city-boy, apresentou a proposta, dizendo que uma imagem de milho era ideal. E mostrou o cartaz. Não entendi.
- Onde está o milho?
- Ora... na fotografia.
- Isso não é milho.
- Claro que é.
- Não. Isso é trigo.
O designer insistiu.
- É milho.
É claro que era trigo. Mas ele não percebia a diferença. Os jovens urbanos nunca vão para o interior e tudo o que conhecem de ruralidade é visto a partir de auto-estradas, com os carros a 120 por hora.
É irônico. Hoje, existe na Europa uma verdadeira praga de devoradores de soja. Tudo o que tiver a ver com soja é posto no alto da cadeia alimentar. Só que a maioria das criaturas nunca viu uma plantação. E nem imagina os banhos de agrotóxicos que as plantinhas tomam. Um dia destes, pedi a uns comedores de tofu que descrevessem a planta.
- Hã... deve ser uma árvore parecida com a seringueira.
- Não sei. Mas vou pesquisar no Google... deixa digitar "soya tree".
Acredite, porque é verdade. Eles pensam que é uma árvore. Aliás, isso faz lembrar um estudo divulgado há algum tempo. Era pedido a um grupo de crianças que desenhasse uma galinha. Um bom número delas tentou desenhar um animal sem penas, sem pés, sem cabeça. E dentro de um saco plástico. É que muitas das crianças só conheciam galinhas que viam nas prateleiras dos supermercados.
É como diz o velho deitado: "Homem do campo é um jogador de futebol?"


93 - Uma crônica muito "supostamente"

Daniela Cicarelli é uma fenômena. Não é que a rapariga conseguiu tirar o YouTube do ar? É certo que a decisão só valeu para o Brasil e durou poucas horinhas. Mas isso prova que a loirinha está podendo. Atenção, eu disse podendo... com "p".
A causa da pendenga? Para quem não viu - se é que alguém no planeta Terra e arredores ainda não viu - é o filme no YouTube em que ela supostamente estaria fazendo sexo numa praia da Espanha. Atenção: eu escrevi "supostamente", que é um sinônimo de "fictício" ou "coisa suposta". É bom tomar cuidado... vai que a moça entra com um processo para me tirar do ar.
O fato é que eu vi o filme. Havia um casal, supostamente Cicarelli e o namorado, que deambulava alegre e descontraído nas águas do Mediterrâneo. Um abraço aqui, um beijo acolá e supostamente alguém afogou o ganso. Mas pude notar que, pelo sorriso estampado na cara da moça, ela estaria supostamente muito feliz. O namorado supostamente tinha uma cara de "foi-bom-pra-ti-também?". É bonito ver. Mas há gente maldosa e logo veio alguém dizer que aquilo supostamente era sexo hardcore em público. Maldade. E eu tenho o filme para comprovar: supostamente são 2,9 MB da mais inocente sacanagem.
Falando sério. A moçoila é uma tolinha. Em tempos de revolução digital, qualquer maluco pode ter uma câmara à mão. Há paparazzi por todos os lados. As fronteiras entre o público e o privado estão indo por água abaixo (nas praias de Cádiz, por exemplo), especialmente quando uma celebridade supostamente faz sexo em público.
Pior é que houve um juiz que foi na conversa da loira. A decisão de tirar o YouTube do ar foi uma afronta à liberdade de expressão. Felizmente reparada logo a seguir. Aliás, nem adianta tirar do ar. Porque nove entre dez barbados, de Vladivostok à Terra do Fogo, têm o filme arquivado no computador.
É como diz o velho deitado: "Pergunta. O que faz mais falta? A Cicarelli ou o YouTube?"


92 - D. Lula 1º, rei do Brasil

Há muita gente a apostar que, mais cedo ou mais tarde, o presidente Lula cai. A febre é tanta que o jornalista Paulo Henrique Amorim, com humor, criou o IVDL – Índice "Vamos Derrubar o Lula", no site "Conversa Afiada".
Derrubar o presidente é um tiro no pé. A sua figura é essencial para manter viva uma certa indústria da comunicação, formada por televisões, rádios, jornais, revistas, bloguistas, analistas e até criadores de hoaxes. Sem Lula essa gente não teria do que falar. Seria a recessão, o desemprego, o caos.
Aliás, passar os 365 dias do ano a falar mal do homem é um exercício de criatividade que merece respeito. A internet, por exemplo, perderia muito da sua graça sem Lula. Fui ao Google fazer uma pesquisa e deu para entender como ele é importante para os que o odeiam. Veja os resultados:
"Lula corrupto": 264 mil resultados.
"Lula ladrão": 231 mil.
"Lula burro": 209 mil.
"Lula incompetente": 98,9 mil.
"Lula analfabeto": 83,7 mil.
"Lula pinguço": 12,7 mil (podemos somar "Lula cachaceiro", com 12,2 mil resultados).
Sem Lula, esse quase um milhão de pessoas ficaria desorientado, sem rumo. Os caras iriam ter depressões e acabavam internados no sistema público de saúde. Mais despesas para o Estado.
Tenho uma sugestão para garantir a ocupação dessa gente: Lula seria entronizado presidente perpétuo, uma espécie de rei do Brasil. E até já teria os sucessores na família. Vejam o que diz o Google:
"Filho de Lula": 1,51 milhão.
A proposta tem as suas contrapartidas. Lula nunca poderia fazer uma faculdade, por causa dos caras que o acusam de ser analfabeto. Não poderia deixar de tomar aquela pinguinha, por causa dos que o acusam de manguaça. E, claro, haveria eleições (que ele ganharia sempre), porque é um período muito divertido por causa das denúncias e outros desatinos.
É como diz o velho deitado: "Ei, ei, ei. Lula para nosso rei".


91 - Vamos ficar todos ricos

Não há coisa mais chata do que as tais resoluções de final de ano. Perdoe, leitor, mas vou cair em tentação, já que esta crônica está a ser publicada no último dia do ano. Eis a minha lista de resoluções:
· Decidi que no meu aniversário de 2007 vou fazer apenas 28 anos de idade. O presidente Lula disse que as pessoas, à medida em que vão ficando maduras, deixam de ser de esquerda. Como não tenciono mudar de idéias, decidi mudar de idade.
· Queria diminuir uns furos no meu cinto, mas tenho ouvido coisas terríveis sobre a anorexia e as modelos esqueléticas. Fiquei alarmado. Magro, nunca mais. Vou iniciar uma terapia preventiva contra a anorexia, com boas massas italianas e vinhos escolhidos a dedo.
· Aliás, os médicos dizem que beber dois copos de vinho tinto por dia faz bem à saúde. Nem precisam tentar me convencer. Estou tão interessado em cuidar de mim que dois copos parecem ser muito pouco. Afinal, prevenir nunca é demais.
· Pretendo criar uma fábrica de cestas básicas no Brasil. O negócio é promissor, ainda mais numa joint venture com o sistema de justiça. Descobri uma coisa fantástica: certos criminosos condenados não vão para a cadeia porque podem trocar a pena pela doação de cestas básicas. É o paraíso do mau-caratismo.
· E só vou de férias para o Brasil no frio, porque é a época certa para lançar um novo projeto. Passei o inverno todo a ler que os ricaços locais promovem "feijoadas beneficentes". Que pobreza. Nem parece coisa de high society. Quando chegar ao patropi, vou lançar as "lagostadas beneficentes" e as "trufalhadas beneficentes". Coisa de Primeiro Mundo.
· E por falar em férias, o pessoal avisa para não viajar de avião para o Brasil. Parece que há atrasos, overbooking e vôos cancelados. Uai, mas já foi diferente? Que eu me lembre, foi sempre assim.
É como diz o velho deitado: "Um salário mínimo de R$ 380,00? Em 2007 vamos todos ficar ricos".


90 - Deus, o Diabo
e o neoliberalismo

Friedrich Hayek já estava lá. Depois foi Milton Friedman. E, há alguns dias, Pinochet se juntou ao grupo. O encontro promete ser literalmente do além. Os caras são capazes de transformar o céu num inferno. E o inferno num lugar tão infernal que nem o Diabo seria capaz de viver lá.
O que há de comum entre eles, além de terem passado desta para melhor? É a perfeita sintonia entre a caneta e a baioneta. Hayek é um dos demiurgos do neoliberalismo. Friedman um dos seus nomes mais proeminentes e também conselheiro de Pinochet. E o general-ditador transformou o Chile no laboratório das teses neoliberais. Os chilenos, claro, foram as desavisadas cobaias.
Para onde eles foram? O andar de cima ou o de baixo? Isso não vai fazer diferença, porque a esta hora os caras já estão a realizar uma megafusão entre o céu e o inferno. Deus e o Diabo serão apenas sócios minoritários da nova holding.
Aliás, dá para imaginar que Deus e o Diabo já foram convencidos a fazer downsizings (demitir pessoal), só contratar trabalhadores sem carteira e acabar com todos os benefícios sociais. A primeira vítima desse neoliberalismo do além será São Pedro, o porteiro do céu. O pobre santo vai ter de trabalhar 24 horas por dia, sem direito a férias, horas-extras ou 13º.
O Diabo vai iniciar o processo de privatização do sistema de aquecimento do inferno. E Deus será obrigado a terceirizar os serviços paradisíacos para equilibrar as contas públicas celestiais.
O próximo passo é a entrada, na Bolsa de Valores do Além, de uma Oferta Pública de Aquisição para a compra do purgatório. Por causa da sua temperatura quase tropical, o local vai ser transformado num resort para os ricos europeus, japoneses e americanos. Terá cercas, muralhas e polícia para impedir a entrada dos pobres do terceiro mundo.
É como diz o velho deitado: "Onde há neoliberais é sempre um inferno".


89 - Lula é um zero à direita

A primeira vez foi em 1989. As esquerdas fecharam com Lula pelo desejo de formar um governo popular, democrático, voltado para os pobres. Collor ganhou as eleições, mas o pessoal não desistiu.
- Nas próximas eleições a gente chega lá, Lula.
Quando chegou 1994, lá estavam as esquerdas novamente com Lula. Mais uma derrota. E o pessoal não baixou os braços.
- Nas próximas eleições a gente chega lá, Lula.
Então, veio 1998. O pessoal da esquerda retemperou as forças para apoiar Lula. FHC se reelegeu, mas ninguém entregou os pontos.
- Nas próximas eleições a gente chega lá, Lula.
Em 2002, finalmente Lula lá. Só que mal chegou ao poder, o homem destrambelhou a governar com um jeitinho neoliberal. Os apoiantes engoliram seco, mas não se rebelaram. Talvez fosse uma estratégia para a consolidação gradual das idéias de esquerda. Melhor não radicalizar para não assustar.
Então, valia a pena esperar mais quatro anos pelo tal governo transformador. Nem mesmo com os escândalos de corrupção as pessoas perderam a fé. Afinal, as eleições de 2006 permitiriam pôr as coisas no lugar. As mudanças viriam num segundo governo.
- Nas próximas eleições a gente chega lá, Lula.
Finalmente as eleições de 2006. Um Lula de cabelos brancos venceu com uma estrondosa vitória sobre o candidato da oposição. Os esquerdistas esfregaram as mãos de contentes. O presidente não precisaria mais se reeleger e teria liberdade para fazer um governo de grandes avanços. Mas Lula nem bem iniciou o segundo mandato e já enfiou o pé na jaca. Virou amigalhaço do Delfim Neto e diz que já não é de esquerda.
E os caras da esquerda, de saco cheio de tantas expectativas frustradas, já não conseguem esconder a decepção:
- Ora, Lula, seu traíra. Vai pentear macaco.
É como diz o velho deitado: "Se é para ser um zero, pelo menos um zero à esquerda".


88 - Lula vai confiscar a sua poupança

O título assustou, leitor? É uma mentira, claro. Mas essa besteira é um hoax (embuste) que circula pela internet. Há sempre uns incautos que acreditam e até passam para a frente. Quer exemplos de hoaxes?
- Depois das eleições, o governo Lula iria aniquilar os direitos dos trabalhadores: seria o fim do FGTS, 13º salário, seguro-desemprego e licença-maternidade. Pô, nem o Idi Amin teria tanta coragem.
- Há poucos dias foram "divulgadas" fotos secretas tiradas por um passageiro nos últimos momentos do vôo da Gol que caiu na região amazônica. Brincadeira de mau gosto, meu.
- No plebiscito sobre as armas, surgiu a notícia: na Europa, a proibição do uso de armas pela população aumentou o crime. Será que ninguém se preocupou em ver as estatísticas, que diziam o contrário?
- Nos Estados Unidos, as escolas estariam a ensinar as crianças com mapas onde a Amazônia é uma "área de preservação internacional". Mas é bom ficar de olho, porque em se tratando de Bush...
- A Coteminas, empresa do vice-presidente José Alencar, ganhou uma licitação para o fornecimento de uniformes para o Exército. Muita gente embarcou, inclusive jornalistas, que publicaram a "denúncia". Um fato que já estava mais do que esclarecido.
- E aquela de que o deputado boliviano Gabriel Camacho, do partido de Evo Morales, é irmão de Marcola, líder do Primeiro Comando da Capital (PCC)? Uma grande conspiração das esquerdas. Que medo!
- Também havia uma sobre um filme no qual Jesus e os apóstolos seriam homossexuais. Houve muitos protestos. Mas você viu o filme?
- A idiotice de que a Nike obrigou o Ronaldo Fenômeno a jogar a final da Copa do Mundo de 1998, que o Brasil perdeu para a França de propósito, por causa de um acordo desonesto qualquer.
É como diz o velho deitado: "Um tolo sempre encontra outro tolo ainda mais tolo. Que acredita nessa pilantragem e repassa os e-mails".


87 - Você votaria nos pedófilos?

É o paradoxo da democracia. O sistema é obrigado a aceitar, no seu interior, as coisas mais insanas. O leitor sabe que existe um partido pedófilo na Holanda? Uma das bandeiras do PNVD, Partido do Amor Fraternal, Liberdade e Diversidade, é diminuir a idade de consentimento para as relações sexuais, que baixaria dos 16 para os 12 anos.
Aliás, tenho uma dúvida inocente. Alguém pode me explicar como é que se estipula as idades para saber se a coisa é pedofilia ou não? Eu, por exemplo, perdi a minha virgindade aos 13 anos e jamais acusaria a minha parceira - uns cinco anos mais velha que eu - de ser pedófila. Nem pensar. A moça ainda acabava pegando prisão perpétua, porque a coisa continuou por uns divertidos meses. Quem nunca comeu mel gosta de se lambuzar.
Mas voltemos aos malucos dos holandeses. O partido queria concorrer nas eleições legislativas da última quarta-feira, mas não conseguiu reunir as 30 assinaturas de apoio necessárias. Para isso tinha de encontrar 30 otários dispostos a assumirem publicamente a simpatia pela pedofilia. Quem arriscaria? É como escrever na testa: "Eu sou pedófilo".
Mas a insanidade não acaba. Outra reivindicação dos malucos é a liberação da zoorastia. Pode? Mas aí até dá para fazer vistas grossas, porque os caras do tal partido só podem ser uns asnos. E asno com asno não deve ser crime. Certo?
O programa de governo dos sujeitos tem outras coisas alucinantes. A televisão estaria liberada para passar pornografia a qualquer hora. E você, leitor, poderia passear peladão da silva na rua sempre que lhe desse na telha. Mas tem uma lei com a qual muito marmanjo vai concordar: o PNVD quer a proibição definitiva do casamento.
É como diz o velho deitado: "É nisso que dá liberar a droga. Os caras fumam a erva toda e começam a alucinar".


86 - O herói que viaja na maionese

- É um pássaro?
- É um avião?
- Não. É o Vejaman.
O Brasil já tem o seu super-herói. O Vejaman, como todos os outros heróis, também tem superpoderes. O Super-homem vem de Krypton, o que o torna invulnerável. O Lanterna Verde tem um anel energético que dá poder infinito. O Demolidor, por ser cego, desenvolveu os outros sentidos. O Vejaman tira a energia da leitura das revistas semanais e tem o poder de espalhar a confusão (e de se autoconfundir).
Ao contrário dos outros heróis, ele não tem uma identidade secreta, até porque não é uma pessoa só. O seu papel pode ser assumido por qualquer um. Para vestir a capa deste herói basta ser mediano, sem imaginação e com total ausência de idéias próprias.
Umas vezes é homem; outras, mulher. Tem o dom da onipresença e pode estar em qualquer lugar. Fique atento. Pode ser aquele jovem caquético. Ou o jornalista "reaça". Até mesmo aquela socialite perua (perdoem o pleonasmo).
O Vejaman também tem um grupo de aliados e inimigos. Sempre que está em apuros, usa a parceria de outros super-heróis, o Tio Sam e a SuperCondoleeza. Do lado dos mauzões estão as pessoas ligadas aos movimentos sociais, que considera os piores criminosos.
O seu poder é tão grande que já ajudou a eleger presidentes. Foi dele o apoio para a eleição de Collor. Mas também está de olho em outros países. Esteve presente nas comemorações da anunciada queda de Hugo Chávez, a que chama "presidente fanfarrão", na Venezuela. O fato de Chávez ter voltado ao poder foi um dos pontos baixos na sua carreira.
O Vejaman também tem pontos fracos. Um deles é a incapacidade de tratar qualquer assunto com profundidade. Se houver uma discussão séria e sem distorções, o herói brasileiro entra em parafuso. Ah... E também não consegue resistir ao cheiro de povo. É como diz o velho deitado: "É um herói que não voa, mas viaja na maionese".


85 - Parecendo que muda, fica tudo na mesma

O pobre homem tinha sido atropelado e ficou duas décadas em coma na cama de um hospital. Acordou ontem, sábado.
- Que aconteceu, doutor?
- Calma. Eu tenho uma boa e uma má notícia. A boa é que saiu do coma, a má é que ficou aqui 20 anos.
- Nossa, então eu perdi metade da minha vida aqui deitado. O mundo deve ter mudado.
- E mudou.
- Quem é o presidente da República?
- Lula.
- Peraê, não pode ser o mesmo. Eu lembro de um sindicalista meio metido a comunista...
- É esse mesmo.
- Então o Brasil é um país socialista?
- Nada disso. O Lula é um político como os outros. Sabe que o poder é como um violino: a gente toma pela esquerda e toca com a direita.
- Mas a esquerda faz oposição ao governo dele...
- Não existe mais esquerda.
- Não acredito.
- Pois é. Depois que o muro caiu, o neoliberalismo venceu. Hoje existe uma coisa chamada pensamento único. Todo mundo pensa o mesmo. Não importam as idéias, só o mercado.
- Difícil entender. Preciso ler algum analista político. Quais são os melhores?
- Acho que o Jabor, o Mainardi...
- Eles são cientistas políticos?
- Não. Um é um ex-cineasta, o outro não sei de onde veio...
- E tem obra no campo da ciência política?
- Que eu saiba não. Mas é perda de tempo estudar. Hoje, os analistas políticos precisam apenas fazer pirotecnia. Um insulto aqui, um grito acolá... é fácil.
- E o Fernando Henrique? Eu lia textos dele na faculdade e até gostava.
- Deixa para lá. Ele também foi presidente e pediu para esquecerem tudo o que tinha escrito.
- Hummm... mesmo assim ele deve ter sido o último presidente de esquerda do Brasil.
- Não. Na verdade, ele até governou em coalização com os pefelentos.
- O pefelentos ainda existem? E ainda há gente que vota neles? Ah... então nem tudo mudou. É como diz o velho deitado: "No Brasil, nem as moscas mudam".


84 - Os deuses devem estar loucos

Estou pensando em virar muçulmano. Não é que tenha me tornado religioso. E menos ainda fundamentalista. Mas acabo de saber umas coisinhas sobre a cultura dos sujeitos que parecem interessantes.
O leitor acha que é só no ocidente que a sacanagem corre solta? Errou. Lá no Irã, por exemplo, existem coisas do arco-da-velha. Para começar, a poligamia (que é sempre um homem e muitas mulheres) ainda faz parte do jogo.
Mas interessante mesmo é uma coisa chamada sighe. Eu explico. Os homens podem fazer contratos de casamento que duram um ano, um mês, uma semana. Ou até por uma simples horinha. Depois é o divórcio.
Imagine a cena. O cara conhece uma mulher e fica logo a imaginar o material que está debaixo daqueles véus todos:
- Hummm, acho que por baixo da burka está uma gostosona. Dá para arriscar um casamento de um mês.
Ou ao contrário:
- Não me parece grande coisa. Melhor não dar mole pro azar e fazer um casamento de apenas uma hora.
É uma espécie de neoliberalização do casamento que, pensando bem, até poderia ser globalizada. Não sei se é possível renovar o tal contrato, mas o fato é que aquilo deve ser o paraíso dos machistas.
Já imaginou como devem ser as iranianas, louquinhas para não perderem um bom casamento? Não reclamam que os maridos passem a vida a ver futebol na televisão. Estão sempre atentas para que não falte aquela cervejinha geladésima. E, certamente, não ficam chateando por causa da barriguinha de cerveja e nem com o hábito masculino de coçar os tomates.
Esses muçulmanos são muito loucos. E não é o pio. Imagine que os teocratas do governo permitem (e até estimulam) que um homem mude de sexo. Para a moral vigente, é preferível ser transexual a ser homossexual. Ou seja, o cara pode virar mulher, mas não pode desmunhecar, porque a homossexualidade é punida com a pena de morte. É como diz o velho deitado: "Casamento é humano, sexo é muçulmano".


83 - Da dactilonomia à anencefalia

De tremendo mau gosto o adesivo que alguns partidários da oposição puseram nos carros: uma mão com quatro dedos e um sinal de proibido. A intenção era atingir Lula, mas acabou estilhaçando para cima de pessoas que viram um desrespeito pelos deficientes físicos.
É claro que as boas piadas são politicamente incorretas. Mas este adesivo não é mau apenas do ponto de vista ético. É que não faz rir. Talvez a única utilidade seja a de servir como atestado de burrice. É como se o dono do carro estivesse a fazer uma confissão ao mundo: "Eu sou um imbecil. O meu cérebro é do tamanho de uma ervilha." Pois bem. Todos ficamos a saber.
De qualquer forma, o fato é que os presidentes mais recentes do Brasil sempre estiveram associados a detalhes físicos na mente do povão. E renderam muitas piadas.
Quem não se lembra do bigodão terceiro-mundão do Sarney? A fachada do homem era uma coisa estranha. Metade da cara era bigode. A outra metade era de pau. Depois, tivemos o nariz do Collor que, segundo diziam os opositores, servia para cheirar muito mais do que os ares de Brasília.
O extravagante topete de Itamar também fez época. Mas o fato é que o homem ficava com ar de cientista maluco. Aliás, tão maluco que acabou por inventar o FHC. Se formos nos ater à coisas físicas, FHC poderia parecer o mais normal de todos. Mas apenas porque o problema não era aparente: faltavam-lhe os tomates. O homem andou a governar por oito anos sempre a defender os interesses dos neoliberais: as elites locais, os manda-chuvas do exterior.
E agora Lula ou Alckmin. Se Lula vencer, continuaremos com um presidente que tem quatro dedos numa das mãos. Mas se for Alckmin, com aquela cara de coroinha entediado, os chargistas vão entrar em colapso. Passar os próximos anos a desenhar chuchus vai ser dureza.
É como diz o velho deitado: "O que é pior? A falta de dedo de um ou a falta do cérebro de outros?"


82 - Escocês legítimo dá dor de cabeça

Se a fama for verdadeira, os escoceses devem ser um dos povos mais estranhos do mundo. Eles têm características muito próprias. Para começar, diz a lenda que são uns beberrões e passam a vida a encher a cara de gim e uísque (que pelo menos não é falsificado no Paraguai). Dizem também que os caras são muito briguentos e saem na porrada por tudo e por nada. A gaita das Highlands, instrumento musical típico do país, é algo que só um maluco bêbado se lembraria de inventar. E, para piorar, os homens têm o peculiar gosto de usar saia, muitas vezes sem cuecas por baixo.
Mas é no esporte que a coisa fica mesmo esquisita, porque há uma mistura de futebol e religião. Só falta os caras usarem turbante.
Há algumas semanas, as autoridades abriram um processo disciplinar contra o goleiro do Celtic de Glasgow, o polonês Artur Boruc. Sabem qual foi o delito? O jogador, que é católico, fez o sinal-da-cruz durante um jogo contra o Glasgow Rangers. Parece que é uma ofensa imperdoável lá por aquelas bandas.
Para quem não está familiarizado com o futebol escocês, o Celtic é time dos católicos e o Rangers dos protestantes. O sinal da cruz feito pelo jogador foi considerado uma provocação que poderia levar à "ruptura da paz". Ou seja, iniciar uma tremenda pancadaria entre as torcidas rivais. Tudo em nome de Deus.
É um campeonato cheio de insanidades. Os caras acham que um inocente gesto religioso é algo ofensivo. Mas, ao que parece, vêem como normal um olho roxo, um dente quebrado ou um nariz desfeito a murro. Ou pior.
Dá o que pensar. Já imaginaram se os Celtic Rangers fossem disputar o Campeonato Brasileiro? Afinal, como todos os jogadores brasileiros fazem o sinal da cruz ao entrarem em campo, o pau ia comer solto mesmo antes de o jogo começar. E já imaginaram uma partida contra uma equipe dos Atletas de Cristo? Era uma nova cruzada.
É como diz o velho deitado: "Eu não misturo religião com futebol. Mas um uísque com guaraná..."


81 - Pessoas de papelão

"Inteligência militar é uma contradição em termos". A frase é do maior de todos os marxistas, o próprio Groucho Marx. Ou seja, onde há militares não pode haver inteligência e onde há inteligência não pode haver militares. É uma opinião dura, porque os milicos são muito imaginativos.
Ora, tente adivinhar qual é a última invenção dos militares dos EUA. Os flat-daddies, pais de papelão. Eu explico. Os filhos dos soldados que estão no Iraque e Afeganistão sentem a falta dos pais. Então, os gênios que organizam a guerra decidiram imprimir fotografias em tamanho real dos soldados, para a família ter em casa.
Li uma reportagem com a mulher de um soldado. Ela adorou a idéia. Diz que leva o maridão de papelão para todos os lados. Na mesa, na hora das refeições. Na sala, na hora de ver televisão. Na cozinha, na hora da papinha do bebê.
Não é de estranhar que ela esteja feliz. O marido de papelão não ronca à noite. Não infesta a casa de chulé quando descalça o coturno. Não fica escarrapachado no sofá à espera que ela busque a cerveja. Mas os milicos deveriam criar um boneco mais sexy, com o corpo à mostra. Para servir de estímulo sexual, caso elas precisem fazer justiça com as próprias mãos.
A idéia parece estranha, mas as pessoas de papelão poderiam ser um sucesso de mercado. Seria a solução para os solitários. O cara comprava uma flat-Gisele Bündchen e tinha sempre companhia para o jantar, para ver a novela e por aí adiante.
Mas a grande inovação ia ser no campo político. Lembram daquele debate da Globo a que o Lula não foi? Ora, bastava a produção do programa comprar um flat-Lula e pôr na cadeira reservada para o presidente-candidato. Isso ia aquecer o debate, porque a Heloísa Helena teria a quem xingar. E no futuro poderiam pôr um insosso flat-Alckmin na cadeira presidencial em Brasília. Ninguém ia notar a diferença.
É como diz o velho deitado: "Flat é chato".


80 - Copa do Mundo das religiões

As religiões são estranhas.
Na Irlanda do Norte, os protestantes não gostam dos católicos e fazem uma guerra civil. Na Dinamarca, um cara desenha charges de Maomé e os muçulmanos desatam aos tiros e bombas. O papa faz uma declaração infeliz na Alemanha e para se vingar alguém acha boa idéia matar uma freira na Somália. O insano George Bush invade o Iraque e o Afeganistão e diz que está a obedecer a uma ordem direta de Deus.
Diga, leitor, se não é dos diabos. Os caras não conseguem se entender.
Deixo aqui uma proposta para levar todos à harmonia: o Campeonato Mundial de Futebol Inter-religiões. Sem falsa modéstia, considero uma idéia divinal. A competição seria exatamente como a Copa do Mundo, realizada a cada quatro anos, com 32 equipes em competição.
O planeta tem um exagero de religiões, o que obrigaria à disputa de eliminatórias. Só poderiam participar os monoteístas, porque não é justo uma equipe ter mais de um deus a dar aquela forcinha. Os ateus, por motivos óbvios, não poderiam disputar o campeonato.
Para evitar a compra de árbitros, eles seriam todos recrutados entre os monges shaolin. Os caras não se interessam por coisas materiais e sabem artes marciais, o que sempre dá muito jeito em caso de agressão ao árbitro.
Os jogos seriam transmitidos pelas rádios e televisões da Igreja do Reino de Deus, com as receitas distribuídas por todos os participantes. É claro que as outras equipes teriam de pagar os 10% do dízimo, mas são ossos do ofício.
É de prever grandes clássicos. Católicos x Protestantes. Mórmons x Islâmicos. Hinduístas x Xintoístas. Ah... e por fim, a grande sacada da competição: o deus da equipe campeã tinha de ser considerado o manda-chuva por quatro anos e todo mundo tinha de respeitar as leis. Sem brigas.
É como diz o velho deitado: "O que muita gente faz em nome de Deus é coisa do capeta".


79 - Uma eleição dos diabos

Pô... até parece que vamos eleger o papa.
Estas devem ser as eleições mais cheias de referências religiosas da história da humanidade. Ou pelo menos aquela em que mais se invocou o nome de personagens da religião.
Fernando Henrique Cardoso diz que Lula é o demônio e precisa ser exorcizado pelo voto. Não é estranho? Todos nos sabíamos que o honorável ex-presidente tinha umas qualidades do outro mundo, como fazer desaparecer o salário do povão. Mas quem adivinharia que também tem talento para exorcista? Te esconjuro, sociólogo.
Aliás, o homem fez essa declaração num evento chamado "Ato por um Brasil Decente", que reuniu tucanos e pefelistas. Uai, não era para ser decente? Então, o que esses caras estavam fazendo lá? O Brasil é mesmo o país da piada pronta.
Mas as referências religiosas não param. Lula disse se sentir como um Cristo, por causa das constantes traições dos aloprados que tem como assessores. Isso explica muita coisa. E a suposta abstinência do presidente fica posta em causa. Todos sabemos que Cristo transformava água em vinho. Imagine uma refeição presidencial. Os caras servem água e ele, com um toque discreto, transforma a coisa num delicioso cabernet sauvignon. A água com gás vira um copo de borbulhante Dom Perignon.
Os episódios de corrupção deixam pelo menos uma certeza: se Lula for crucificado, não faltarão ladrões para as cruzes ao lado. Aliás, vão faltar cruzes.
E até Heloísa Helena, reafirmando a sua condição de cristã, introduziu outros dois personagens ao dizer que o presidente Lula está mais para Pilatos ou Judas. Peraê. Quem cospe no prato que come, exatamente como a senadora fez com o seu antigo partido, também não pode ser considerado um Judas? Eu lavo as mãos.
De uma coisa, pelo menos, todos podemos estar certos: não há anjos na política brasileira.
É como diz o velho deitado: "Os políticos gostam dos eleitores. Como os carrapatos gostam dos cães".


78 - Fundamentalistas do cocô

Diga lá, leitor, se existe coisa mais chata do que as "mãezinhas". Eu explico. Entenda por mãezinhas as tipas que, quando têm filhos, se tornam apenas mães e esquecem que são mulheres. E acabam por se transformar em fundamentalistas do cocô. Nada mais interessa, só os filhos. É a coisa mais anti-sexy que pode acontecer a uma mulher.
O mais dramático é que isso pode durar anos.
Elas são perigosas terroristas antidiálogo e detonam qualquer tipo de conversa. O papo pode começar na guerra do Líbano, na prostituição da Tailândia ou nas eleições do Brasil... mas acaba sempre em crianças e papinhas. É uma obsessão. Quando você menos espera:
- Ah... neeeeem te digo o que o meu pequerrucho fez hoje.
Mas dizem. E são capazes de gastar horas. Aliás, basta que apenas duas delas se juntem para uma simples diarréia da criança virar um problema de segurança nacional.
O mais curioso é que uma "mãezinha" acaba sempre por encontrar outra. O que até torna a coisa democrática. Aliás, na hora de falar de chupetas, fraldas ou mamadeiras, não há mãezinhas ricas nem mãezinhas pobres. Elas ficam todas ao mesmo nível. É a democracia do cocô.
Quem quer saber se uma tipa qualquer sabe como fazer os filhos engolirem o mingau com um sorriso? Ou se o cocozinho do rebento anda esverdeado? E mais: quem se interessa se o pimpolho gosta de dormir ao som de Zezé Di Camargo & Luciano? Ora, as mãezinhas querem e só pensam nisso.
É fácil identificar uma mãezinha. Todas têm fotos dos pimpolhos na tela do computador. Outras penduram desenhos das crianças nas paredes. O ambiente é todo muito arrumadinho. Parecem inocentes criaturas, mas é apenas um disfarce. Porque elas estão sempre de tocaia e atacam de surpresa:
- Vê aqui. São as fotos do aniversário do meu bebê...
É como diz o velho deitado: "Há pessoas que mesmo quando estão sós... estão mal acompanhadas".


77 - O futuro será melhor amanhã

É coisa séria, mas fica bem numa página de humor. Os assessores de George W. Bush querem mudar a imagem do presidente. Ou seja, fazer com que ele pareça um homem de livros.
Bush um intelectual? É mais ou menos como transformar o Maguila numa fada madrinha. O animal Edmundo adquirir a gentileza de um hare krishna. Ou o Alckmin parecer um homem do povo. Ninguém acredita. O certo é que foi divulgada a notícia de que Bush teria lido "O Estrangeiro", do escritor argelino Albert Camus. O fato permite algumas leituras.
A primeira é a de que Bush sabe ler, ao contrário do que muitos acreditam. Afinal, sempre que o homem abre a boca, há o risco de entrar mosca ou sair besteira. Os bushismos já se tornaram clássicos do pensamento mundial.
Uma coincidência. No livro de Camus, o personagem mata uma pessoa sem qualquer razão, apenas porque o sol e o calor o incomodam. Ora, o calor e o sol do Iraque também devem ter derretido os miolos de Bush. É preciso matar inocentes, sem ligar para os motivos.
E agora outro título vem à tona. É "State of Fear" (Estado de Medo), uma obra de ficção científica de Michael Crichton. Dizem que é uma bíblia para Bush. Não é para menos.
A história é baseada na idéia de que o aquecimento global é uma farsa, apenas uma teoria da conspiração. É a trama ideal para o presidente que, como todos sabemos, não acredita no aquecimento global e rejeita o Protocolo de Kyoto.
O homem mais poderoso do mundo acredita num livro de ficção científica e ignora os cientistas. Deu medo. O mundo é mesmo um lugar perigoso.
Ora, os assessores de Bush podiam começar por explicar o significado da palavra "iliteracia". Ou seja, aquilo que no Brasil chamamos "analfabetismo funcional". O sujeito sabe ler e escrever, mas é incapaz de entender o mundo.
É como diz o velho deitado: "O meu bushismo favorito: 'O futuro será melhor amanhã'."


76 - Você é galinha, leitor?

Você é um tremendo galinha, leitor. E não sou em quem diz. É uma revista internacional, que fez uma pesquisa sobre a vida sexual dos homens em todo o mundo. Foram ouvidos 40 mil marmanjos de 42 países. E uma das conclusões é que os homens brasileiros são os mais libertinos do planeta. Motivos? Apenas porque ao longo da vida vão para a cama com 11 mulheres (não todas ao mesmo tempo, claro). E há mais. A pesquisa revela também que dois em dez brasileiros já fizeram sexo a três. Com duas mulheres, espero eu.
Os coreanos são a grande surpresa. Os caras não deixam por menos: são no mínimo quatro taquaradas por semana. Mas ao ler a pesquisa, uma amiga desdenha:
- Se os boatos sobre o tamanhinho do pingolim dos orientais forem verdadeiros, isso não é grande coisa.
Os portugueses é que não merecem confiança. Os gajos são os maiores adeptos mundiais do fuck and run. Ou seja, trepadas de uma só noite. A tipa acorda e o cara já raspou. Mas nem tudo é mau. A maioria dos lusitanos acha que o prazer da mulher deve vir sempre em primeiro lugar.
Aliás, nesse capítulo os italianos parecem estar com a bola toda: 60% garantem que levam a mulher sempre ao orgasmo. Hummm... Pena que não exista uma pesquisa para saber quantas italianas fingem orgasmos.
E quem acha que o rapidinho Speedy Gonzalez é o retrato dos mexicanos, pode tirar o ratinho da chuva. Os muchachos são os caras que mais tempo demoram no rala-e-rola: nada menos do que 23 minutos.
Mas voltemos ao Brasil. Não lhe parece, leitor, que 11 parceiras é um número muito modesto para as potencialidades do País? Ora, tenho a certeza de que você consegue fazer melhor. Então, pegue na agenda e corra para o telefone. Vá à luta, que o domingão promete. Ou prefere ficar como os filipinos, que se masturbam seis vezes por semana?
É como diz o velho deitado: "Sexo sem amor é uma coisa vazia. A melhor das coisas vazias".


75 - O capitalismo e o leite de burra

O capitalismo gosta de você, leitor. É por isso que não pára de criar soluções para tornar a sua vida melhor.
O sujeito não gosta de beber água? Então, vem um fabricante e inventa a água com sabor. Não sei como é no Brasil, mas na Europa há águas para todos os gostos, literalmente: goiaba, laranja, limão, figo, pêssego e tudo o que imaginar. Uma dúvida: se tem sabor, continua a ser água?
E quando parecia que a insanidade tinha atingido o limite, eis que surge a água para emagrecer. Pô, sempre achei que água não fazia emagrecer nem engordar. Mas parece que essa tem umas fibras que ajudam a tirar o apetite. É um sucesso.
Mas os gênios da indústria erraram feio. É uma água que emagrece? Então, por que não usar para fabricar cerveja? Era a invenção do século: cerveja para emagrecer. Eu aderia.
Ainda falando em líquidos, outro produto que está na moda por aqui é o leite de burra. É sério. Parece que os laboratórios da indústria cosmética acabam de descobrir que o tal leite faz maravilhas na pele, como hidratante e não só.
Dizem que o leite de burra é mais barato e por isso os produtos cosméticos são acessíveis ao grande público. Deixo aqui uma promessa: se alguém se lembrar de inventar queijos, doces e iogurtes de leite de burra eu fujo para a Patagônia.
Mas o negócio não deve ter futuro. Afinal, dizem que o burro é um animal em vias de extinção. Ora, quem diz isso não vê o horário político na televisão.
Isso é o capitalismo. Os caras inventam de tudo para levar o nosso dinheiro. O que faz lembrar outra novidade recente: uma carteira com luz. Não entendeu? Sempre que você abrir a carteira, acende uma luz lá dentro, para que possa ver bem.

Como consegui sobreviver até agora sem uma carteira dessas?
É como diz o velho deitado: "Quando era jovem, achava que o dinheiro era a coisa mais importante na vida. Agora, tenho certeza absoluta".


74 - Quem tem Vinícius não precisa de Platão

Esta semana recebi um e-mail de um leitor, dos velhos tempos, a dizer que gostava mais do que eu escrevia antes. Textos analíticos, mais sérios e com um pouco de filosofia, diz ele.
Desculpe, mas acho que os meus textos têm muita filosofia. Afinal, como escreveu o pensador Roberto Gomes, no seu tratado tupiniquim, filosofar é ver um palmo à frente do nariz.
A filosofia dos homens sisudos da academia se esqueceu das coisas simples. Para que serve uma filosofia que não dialoga com o homem da fila do ônibus, o malabarista do sinaleiro ou a prostituta nas esquinas?
E por que nós, brasileiros, temos de ficar papagueando a tradição grega? Ora, Platão era um folgado, que vivia do trabalho escravo e nunca viu um índio carijó na vida.
Hegel considerava os americanos seres inferiores.
Kant era um provinciano e teria uma síncope ao ler uma edição de domingo de A Notícia. Um simples jornal hoje tem mais informação do que ele recebia ao longo de um ano.
Heidegger jamais deve ter ido a um puteiro, tamanho o distanciamento que tem do ser humano real. E era nazista.
A filosofia brasileira é Vinícius de Moraes. Uma filosofia que fala da vida, de amores, de preguiça. Também de política. E só um filósofo brasileiro poderia filosofar em forma de samba. Vinícius foi mais existencialista do que os existencialistas. Mas não se perdeu em vãs metafísicas.
- Você que só ganha pra juntar, o que é que há, diz pra mim, o que é que há? Você vai ver um dia em que fria você vai entrar. Como todos os outros filósofos, procurou o sentido da vida:
- Às vezes, quero crer, mas não consigo. É tudo uma total insensatez. Aí pergunto a Deus: "Escute, amigo, se foi pra desfazer, por que é que fez?"
Uma filosofia brasileira tem de saber rir.
É como diz o velho deitado: "Adoniran, Guarnieri, Plínio, Chico, Tom, Veríssimo, Di, João Pacífico, Catulo, Gonzagão... tantos filósofos".


73 - Masturbação em côncavo e convexo

Não dá para entender o alarido criado por causa daquela senhora que, na novela da Globo, confessou só ter conhecido o orgasmo aos 45 anos. E pela masturbação.
Qual é o problema?
A única coisa que eu poderia questionar, se fosse um desses vigias do gosto dos outros, era a trilha sonora desse primeiro orgasmo. Roberto Carlos? Parece broxante. Mas, afinal, há gosto para tudo.
E quem ia se dar ao trabalho de ligar para a Globo a reclamar? Homens, com certeza. Porque no depoimento a mulher disse que agora se vira sozinha e não precisa mais de qualquer marmanjo. E não há nada mais irritante para os homens do que mulheres auto-suficientes. Ora, a masturbação feminina é apenas uma resposta à incapacidade que muitos homens (em número muito maior do que seria desculpável) têm de fazer uma mulher gemer sem sentir dor.
Não dá para entender esse sentimento medieval de repulsa pela masturbação.
Afinal, há mesmo quem defenda que é o caminho para a paz. Duvida? Então vá à internet e conheça o movimento Masturbate For Peace, que propõe a paz mundial pela masturbação. Os caras defendem o seguinte: ninguém consegue amar os outros se não amar a si mesmo. E que outra maneira melhor de demonstrar esse amor próprio do que a masturbação? É o primeiro passo para a paz. E o slogan até soa bem aos ouvidos:
-      War can wait, masturbate.
Mas os moralistas de plantão iriam ficar mesmo zuretões se soubessem que existe uma modalidade de “diversão” chamada masturbação coletiva.
Para ter uma idéia, a televisão inglesa vai levar ao ar um documentário sobre a tal masturbação coletiva (wank-a-thon). Os fundos obtidos com o filme serão aplicados em programas de educação sexual. Se o leitor estiver interessado em participar, as filmagens acontecem na semana que vem, em Londres. Inscrições abertas.
É como diz o velho deitado: "A vantagem da masturbação é não ter que perguntar: ‘foi bom para você também?"


72 - Altas RPMs, baixo QI

Dizem que todos os homens gostam de carros. Todos? Ou é mentira ou então houve um problema com o meu código genético (algum genzinho bêbado que se perdeu no trânsito), porque eu não ligo a mínima. Para mim, as corridas de Fórmula 1 são uma tremenda chatice e nunca entendi por que chamam aquilo de esporte.
O mais engraçado é que a maioria dos marmanjos associa os carros à masculinidade. O cara põe o traseiro no banco de uma BMW e sente logo que o pingolim ficou uns três centímetros maior. E se for um Fusquinha velho, azar. É o contrário, encolhe.
Ora, se carro fosse mesmo indicativo de virilidade, o Batmóvel (o mais famoso de todos) não teria um lugarzinho para o Robin. É coisa de casalzinho. Aliás, a publicidade é useira e vezeira em abusar dessa mariquice reprimida em muitos homens. Há anúncios, por exemplo, em que o cara está na rua e, entre uma mulher e um carrão, fica a olhar para o automóvel. Ora, meus senhores, nenhum homem que se preze troca uma boazona por um carro.
Quanto mais altas as RPMs, mais baixo o QI. Claro. O mais estranho são as informações - sobre motores, cilindradas e o escambau - que os tipos conseguem armazenar. O leitor sabe que há duas ou três décadas as porcas da roda esquerda rodavam para a direita e as porcas da roda direita rodavam para a esquerda? Céus, como eu consegui sobreviver tantos anos sem saber isso?
E por que, raios, a velocidade tem de estar associada aos homens?
Tenho uma teoria. Deve haver uma relação com a ejaculação precoce. Não sei se é verdade, mas li que houve um momento na história em que a ejaculação precoce era sinônimo de competência no sexo. É que na época nem se cogitava pensar no orgasmo feminino. Quanto mais rápido o cara despachasse a coisa, mais macho era. Talvez esteja aí a origem histórica dessa ligação.
É como diz o velho deitado: "Um cara que mistura 'seios' com 'airbags' não deve entender de mulheres".


71 - O poder da perseguida

A imperatriz chinesa Wu Hu, da Dinastia Tang, era uma mulher muito estranha. Mas esquisito mesmo foi o protocolo de governo que ela inventou. Para mostrarem respeito pela sua nobreza imperial, todos os que exerciam altos cargos, além dos embaixadores de outras nações, deveriam obedecer a um ritual: eram obrigados a dar-lhe umas lambidelas na (digamos assim) perseguida.
Ok... os mais pudicos podem deixar de ler a crónica aqui, porque vamos penetrar nesse tema. O caso de Wu Hu é referenciado nos livros de história. E há pinturas daqueles tempos que confirmam a prática. Mostram a imperatriz com a roupa aberta e homens ajoelhados a beijarem as suas partes mais íntimas.
Já imaginou, leitor, o que acontecia nas grandes solenidades de Estado, com centenas de convidados? Deviam ser autênticos banhos de língua. Lá pelas tantas a imperatriz, com certeza, começava a revirar os olhinhos chineses. Talvez o nome Wu Hu seja onomatopaico, inspirado num momento em que ela, inadvertidamente, deixou escapar um gemido:
-      Wu hu. Wu huuuuuu.
Mas não pense, leitor, que a imperatriz fazia isso para se divertir. Até é provável que tenha unido o útil ao agradável, mas o que importava era demonstrar o seu poder. Aliás, vale lembrar que não são raros, na história da civilização, os momentos em que as mulheres usaram a perseguida como forma de expressão. Duvida?
Há um antigo hábito das mulheres somalis. Quando queriam ofender alguém, mostravam a dita cuja. Heródoto conta que algumas mulheres egípcias que viajavam pelo Nilo mostravam as partes pudentas aos povos ribeirinhos para mostrar desprezo. Mas terrível mesmo era para os gregos antigos. Se vissem, sem querer, a nudez de uma mulher, os caras achavam que iam ter azar para o resto da vida. Eu, hem!
É como diz o velho deitado: “Danado mesmo seria se Wu Hu fosse um imperador”.


70 - Os críticos babam na gravata
 
-       Olha, se não consegues escrever, porque é que não aprendes a fazer crítica?
A pergunta é de Ernest Hemingway, ao narrar uma conversa com um aspirante a escritor, no seu autobiográfico “Paris É uma Festa”. Ele vai mais longe ao sugerir que, se não der certo a criticar livros, o outro poderá tentar a crítica de pintura, teatro, cinema ou balé.
O interessante é que Hemingway não está de sacanagem. O conselho é sério, prático e reflete uma tendência comum ainda hoje: quem sabe fazer faz, quem não sabe vira crítico.
Tenho esta pulguinha atrás da orelha. O que levaria alguém a querer ser crítico? Será que o cara nasce com vocação? Ora, se fosse para existir essa profissão alguém já teria lembrado de criar uma Faculdade para a Formação de Críticos. Ou não?
Um palpite. Todo crítico resulta de uma avaria na personalidade. Vamos tomar como exemplo o inglês John Ruskin (1819-1900), um famoso crítico de arte. O cara tem uma história no mínimo instigante. Dizem que, na noite de núpcias, ficou tão enojado ao ver os pêlos púbicos da noiva que decidiu permanecer casto a vida toda.
Um crítico é assim. Qualquer homem normal, quando vê uma mulher nua, trata logo de se divertir. Já um crítico fica enjoado e começa a fazer comparações com o púbis das estátuas gregas. Dá para pensar. Como reagiria Ruskin à frente do clássico “A Origem do Mundo”, quadro de Gustave Courbet (1819-1877)? Ia espumar, babar na gravata. Para quem nunca viu, a obra mostra o sexo de uma mulher de forma muitíssimo realista.
Ninguém está livre. O próprio Gustave Courbet também teve que encarar os críticos mais empedernidos, como Alexandre Dumas Filho, que o analisou desta maneira singela:
-      De que incrível cópula de uma lesma com um pavão pode ter sido gerada esta coisa a que chamamos Senhor Courbet?”
Tanta delicadeza.
É como diz o velho deitado: “E quem critica os críticos?”
O quadro de Courbet, "A Origem do Mundo" aqui.


69 - Oh, não, mais um texto de futebol

O bom da Copa do Mundo é que todo mundo se diverte.
Ok... quase todo mundo.
Há os intelectuais chatos (passe o pleonasmo) que não podem ver o povão
cair na festa. Torcem o nariz para o futebol e tratam a todos como se fossem um
amontoado de mentecaptos. Querem fazer uma sociologia da alegria e desatam
a falar em alienação, histeria coletiva, manipulação de massas e blá-blá-blá.
Há também os raquíticos da escola, aqueles tipos que viviam com o nariz
enfiado nos livros. O leitor deve ter conhecido uns caras assim. Nunca
deram um chute numa bola. Nunca deram uns amassos nas coleguinhas da turma.
Nunca tomaram um porre porque o time do coração foi campeão. Aliás, nunca nada.
E há aquelas mulheres sem senso de humor que odeiam tudo o que se
relacione ao futebol. É o inferno. Estão sempre a encher os pacová e, na hora do jogo, querem ir ao teatro, ao cinema ou à casa da sogra. Depois ficam espantadas com as estatísticas do divórcio...
O que esses chatos anti-Copa fazem enquanto o mundo inteiro se diverte?
Ficam numa ranzinzice de dar dó. E acham que nós, que estamos mais
interessados nos dribles do Ronaldinho Gaúcho, devemos nos sentir culpados
por tamanha infelicidade. Nem percebem que, de Estocolmo às Ilhas Fiji,
está xtodo mundo a cair na festa. Hummm.... os EUA devem ser uma exceção, porque xeles só gostam de esportes para burróides.
Os dias da Copa do Mundo são como todos os dias deveriam ser. Nenhuma
pessoa normal se importa com os juros ou a inflação. Os médicos têm dias
sossegados, porque ninguém fica doente, a não ser gente com problemas de
coração ou em coma alcoólico. Todo mundo torce pelo mais fraco, desde,
claro, que o mais fraco não seja o nosso adversário. E uma derrota da
Argentina vale mais do que 20 consultas no psicanalista.
É como diz o velho deitado: “É a solução para o desemprego. Ou já viu
alguém ser demitido em dia de jogo do Brasil?”.


68 - Orgasmo, você finge?

Não sei quem foi o filósofo, mas alguém já definiu a mulher como o animal que finge orgasmos. E não é difícil saber a razão do fingimento. É um esquema maquiavélico para pôr o mundo de pernas para o ar. Ou seja, transformar a nossa secular sociedade machista numa sociedade dominada pelas fêmeas.
Sabe qual é a tática, leitor? As mulheres apostam na destruição da auto-estima masculina. E são impiedosas. Não existe coisa mais diabólica do que o fim de uma relação. Porque sempre surge a revelação fatal:
- Eu fingi todos os meus orgasmos.
É só olhar para a história para ver que elas estão a tomar o poder. Primeiro conquistaram o direito ao voto. Depois o direito de estudar. Mais tarde o direito de trabalhar. Não demorou para que chegassem ao direito de vestir calças. Só faltava mesmo o direito ao orgasmo.
O resultado é uma autêntica ditadura do orgasmo feminino. Pobre do sujeito que não conseguir levar a parceira aos píncaros. O coitado vira logo tema de conversa na manicure:
- Aquele ali, minha filha, é varinha que não faz mágica.
Guerra é guerra. Quando os homens começaram a atingir a arte de dar prazer a uma mulher, veio logo o contra-ataque. Uma conspiradora qualquer inventou o último desafio: o orgasmo só é possível quando se conhece o ponto G.
Mas que raio é esse tal ponto G? Você, leitor, já encontrou? Então faça um mapa e ponha à venda nas livrarias. Porque vai ficar rico. Esse ponto G deve ser como político honesto. A gente já ouviu falar que existe, mas nunca viu.
Uma suspeita. Por que será que as mulheres sempre vão acompanhadas ao banheiro? O que elas fazem lá? Aposto que o banheiro feminino é um lugar de reuniões secretas que ensinam a simular o orgasmo. Ou há outra explicação?
Quem não se lembra do filme “When Harry Met Sally”, onde a Meg Ryan, calmamente sentada numa mesa de restaurante, reproduz todos os barulhinhos típicos do “oh, I’m coming... oh, I’m coming”? Arrasadora.
É uma guerra suja e elas não têm pudor em usar chumbo grosso. Gritam, gemem, fazem a casa tremer. E o pior, caro leitor, é que estão em vantagem. Fingir um orgasmo é fácil, difícil é fingir uma ereção.
A estratégia é mesmo detonar a auto-confiança masculina. Fazer com que os homens se sintam incapazes e tomar o poder com o golpe final:
- Eu fingi todos os meus orgasmos.
É como diz o velho deitado: “O lado bom desta guerra é que a gente vai para a cama com o inimigo”.


67 - Enlarge your penis

Há uns espíritos-de-porco que vivem para sabotar as boas idéias. Foi só alguém inventar o e-mail e logo apareceu um boçal com o spam. A gente liga o computador e lá estão aquelas mensagens inoportunas. Uma das mais comuns é a que vem sob o título “enlarge your penis”. Até você, leitora, já deve ter recebido montes delas.
Mas do ponto de vista do marketing, a coisa até faz sentido. Porque estamos a tratar de um fantasma que assombra a cabeça do homem civilizado: o tamanho do “bacamarte”. É que na cabeça masculina a coisa beira a paranóia.
A maluquice é quase a mesma das mulheres. Por mais magra que a tipa esteja, vai sempre achar que está gorda. Também os homens, por mais bem dotados que sejam, estão sempre a achar que não é suficiente.
A cultura machista atribui muita importância ao tamanho. Size matters? Há mulheres que gostam de sacanear e dizem que sim. Mas é puro sadismo, uma forma de tentar inferiorizar os homens. Há uma explicação. É a forma que elas encontram para disfarçar a teoria freudiana da “inveja do pênis”.
Um exemplo. Lembram da Divine Brown, aquela prostituta que foi apanhada com a boca na botija do Hugh Grant? Sabem o que ela disse depois?
- Já vi maiores. Mas também já vi menores. O dele era apenas bonitinho.
Bonitinho? É uma autêntica foiçada na auto-estima de qualquer macho. Nenhum homem quer ter o pênis bonitinho, nem mesmo o Hugh Grant. O ego masculino exige a idéia de algo grandioso, monstruoso, rombudo. Aliás, há uns tipos esquisitos que até põem nomes no “bacamarte”. E é sempre um nome imponente.
- Pitbull.
- Godzilla.
- Tsunami.
Ora, ninguém se atreveria a chamar o próprio pingolim de Clodovil.
Sorte têm os caras endinheirados, porque não precisam recorrer a fórmulas mágicas. O recurso é mais sutil. O cara compra um carrão, tipo um BMW conversível, e o “bacamarte” fica logo maior. É artificial, claro. Mas há poucas mulheres dispostas a reclamar de um sujeito que tem um carro igual ao do Bond, James Bond. Não é verdade, Pierce Brosnan?
Mas há a ironia das ironias. Na verdade, os caras não querem ter grandes “bacamartes” para impressionar as mulheres. O momento mágico, para a maioria, é mostrarem a coisa no vestiário masculino. Acredite, leitora, eles querem impressionar é os outros homens.
É como diz o velho deitado: “Mais vale um pequenino trabalhador do que um gigante adormecido”.


66 - Que venga el toro

O leitor acha que a farra do boi é uma coisa estúpida? É porque ainda não viu nada. Experimente assistir a uma tourada de verdade. Tem muita gente que gosta, como Ernest Hemingway, por exemplo. O escritor achava que um homem a enfrentar um touro é uma prova de coragem extrema, uma arte.
Eu discordo. E acho que há muita mariquice. A começar pela toalete dos toureiros. Afinal, como é que um cara macho veste aquelas roupitchas de libélula?
Faz algum tempo, decidi ir à Praça de Touros, num dia de touradas à espanhola e à portuguesa. A diferença é que os espanhóis toureiam a pé e os portugueses montados a cavalo.
O problema com o estilo espanhol é que os touros ficam burros. Mal entram na arena e investem contra a capa do toureiro. Ah... e a capa nem é vermelha. É uma espécie de rosa-choque que, do meu ponto de vista, põe em xeque a macheza dos caras. E não entendo uma coisa. Os ganadeiros, os criadores de touros para a lide, deviam treinar os bichos para investirem contra o toureiro. Ou não? Aí eles teriam que mostrar que honram as calças de lycra que vestem.
A tourada à portuguesa tem uma coisa diferente: os forcados, que pegam o touro à unha. O problema é que eles são oito caras e só entram na arena depois de o touro estar cansadíssimo e com o lombo todo cheio dos ferros (lanças) espetados pelo toureiro. Aliás, acho que a única coisa que o toureiro faz é estragar o cupim do animal. Deve ficar impróprio para um churrasco.
Dois forcados ocupam posições de destaque. A mais perigosa é exercida pelo chefe, que pega o touro pelos chifres. A função menos nobre é a do rabeador, o sujeito que domina o touro pelo rabo. Ou seja, o sucesso depende de saber o que faz com o rabo. Em resumo, são homens que lidam com chifres e rabos.
Mas se pensa que é coisa de macho pode ir tirando o boizinho da chuva. As roupas estragam tudo. As calças (chamadas calções) são apertadinhas, com uns cintos de pano que mais parecem espartilhos. O mais ridículo é o barrete, um chapeuzinho do tipo saci-pererê.
E o gestual? O pobre touro não deve acreditar em tanta mariquice. O sujeito fica à frente do animal, põe as duas mãozinhas na cintura, bate o pezinho no chão e grita:
- Toiro, toiro, toiro.
O touro fica indiferente. Mas o forcado insiste e volta a bater o pezinho:
- Toiro, toiro, toiro.
E ficam assim por algum tempo. Não é de espantar que os animais não entendam o jogo. Afinal, com essas roupitchas e gestos mariconços, o touro deve entrar numa reflexão filosófica. O que é pior: nascer touro ou nascer veado?
É como diz o velho deitado: “É preciso pegar o toureiro pelos cornos”.