Estúdio Raposa

Poesia Erótica 28
Kâma-sûtra

 

INDICATIVO

Quando o 25 de Abril derrubou a censura, sugiram no mercado livreiro obras, até aí clandestinas. Uma delas que logo em 1974 viu a luz do dia foi uma edição do Livros do Brasil, onde no posfácio João Palma-Ferreira escrevia as palavras que vamos ouvir no início de um Poesia Erótica dedicado ao Livro dos Livros … do Amor. O Kâma-sûtra.

MÚSICA

O Indostão foi a pátria da arte de amar. Os Kâma-sûtra, de Vatsyayana; os Kâma-Shastra, de Kukkoka; o Panchasakya, de Djyotiricha; o Ratimankari, de Djavadiva; o AnunyaRunya, de Koullia nnoul; o Samayamatrika, de Ksmendra e as Lições de uma Medianeira, de Damadaragaptareli, são obras que reflectem o desenvolvimento dos livros religiosos, os Sutras, os Puranas e os Tantras, após a invenção da escrita sânscrita e que motivam, entre os séculos VIII e XVI, uma verdadeira renascença da poesia hindu.
De todas as obras sobre o amor que o Indostão nos legou, a mais universalmente conhecida é a dos Kâma-sûtra, verdadeiro tratado sobre os homens e as mulheres, seus costumes e vínculos, como sublinhou o primeiro tradutor inglês, no século passado. E na qualidade de manual de erotologia, os Kâma-sutra jamais foram ultrapassados. É esta, aliás, a conclusão a que chegamos quando, por acaso, reunimos na nossa mesa de trabalho algumas versões dos Kâma-sûtra, editadas, por vezes, sem quaisquer escrúpulos ou com simples objectivos comerciais. A grandeza do texto, o preceituário psicologista e o seu invulgar roteiro de conhecimentos e práticas as mais variadas, acabaram por dominar os obscuros tradutores, impondo-se-Ihes com toda a severidade que possuem aquelas obras que quase magicamente penetram na intemporalidade e até na lenda. E hoje, neste caminhar para o fim do século xx, quando os Kâma-sûtra podem circular à luz do dia em Portugal, também o velho texto exerce sobre nós a mesma sedução.

MÚSICA

O capítulo segundo fala do amplexo, do abraço e do beijo. Vamos ouvir a parte que se refere ao beijo.

MÚSICA

Pretendem alguns casuístas que não há ordem nem tempo fixo para o abraço, o beijo e a pressão da ponta dos dedos ou o arranhar das unhas, pois tudo isto, em regra, deve fazer-se antes da relação carnal, ao passo que os golpes e a emissão de sons acompanham geralmente o referido acto.
Na opinião de Vatsyayana, tudo é bom em qualquer momento, dado que no amor não há ordem nem tempo.
Na altura da primeira cópula, deve-se usar moderadamente do beijo e das demais práticas mencionadas, não as prolongando e alternando-as, o que sucederá nas repetições seguintes: a fim de incendiar o amor, e de exercê-Ias ao mesmo tempo.
O beijo aplicar-se-á na testa, nos olhos, na face, na nuca, no peito, nos seios, nos lábios e no interior da boca. Os naturais do país de Lat beijam também no cotovelo, nos braços e no umbigo. Para Vatsy ayana este beijo, além de um excesso, é usança daquele povo que não convém imitar .
Relativamente a uma jovem, usam-se três tipos de beijos:
O beijo nominal. .
O beijo palpitante.
O beijo patético.
Quando uma jovem toca somente a boca do seu par, sem que adiante mais nada, pratica o beijo nominal.
Quando uma jovem, arredando todo o pudor, toca o lábio que lhe prime a boca e, portanto, move o lábio inferior, que não o superior, dá-se o beijo palpitante.
(Quando uma jovem toca o lábio do amado com a língua e, cerrando os olhos, agarra nas mãos dele, executa o beijo patético ..
Outros autores descrevem mais quatro tipos:
O beijo recto.
O beijo inclinado.
O beijo voltado.
O beijo apertado.
Quando os lábios dos dois amantes se põem directamente em contacto uns com os outros, trata-se do beijo recto.
Quando as cabeças dos dois amantes se inclinam sobre a outra e eles se beijam, nesta posição, diz-se que é o beijo inclinado.
Quando um dos dois parceiros volta o rosto do outro, tomando-Ihe a cabeça ou o queixo, que beija, verifica-se o beijo voltado.
Enfim, quando o lábio inferior é pressionado com força, realiza-se o beijo apertado.
Há também uma quinta espécie, chamada o beijo grandemente apertado. Pratica-se tomando o lábio inferior entre dois dedos; então, após tocá-lo com a língua, comprimem-se os lábios fortemente contra ele.
Poderíamos alongar-nos acerca da arte de beijar, dos meios de que se serve, das situações que provoca. Todavia, muitas das suas maneiras apenas são comuns a pessoas de intenso erotismo. Refira-se ainda o beijo do lábio superior pelo homem, quando ela, por seu turno, lhe beija o lábio inferior; o beijo em pleno, de lábios comprimindo fortemente os daquele que não tem bigode; o combate da língua, em que esta toca os dentes, a língua e o palato que se lhe oferecem, e também a pressão dos dentes, dele ou dela, sobre a boca dela ou dele.
Por via de regra, o beijo é de quatro espécies, que são: o moderado, o contraído, o forte e o suave, conforme a parte do corpo sobre que incide.
Quando ela, depois de olhar o rosto do amante adormecido, o beija com intenção ou desejo, diz-se aqui do beijo que incentiva.
Quando ele está alheio, ou amuado, ou absorto nas suas ocupações, e é beijado pela amante, chama-se ao ósculo o beijo que distrai.
Quando o homem, ao chegar tarde a casa, beija a sua bela adormecida, demonstrando assim que a deseja, dá-lhe o beijo que desperta. Em tais circunstâncias, ela poderá fingir que dorme, tanto para o observar como para corresponder segundo a própria vontade.
Quando se beija a imagem de alguém reflectida num espelho ou na água, ou ainda a sombra que se projecta numa parede, trata-se do beijo da declaração.
Quando se beija uma criança que se tem sentada nos joelhos, uma pintura, uma imagem, etc., na presença da pessoa amada. chama-se, neste caso, o beijo de transmissão.
Quando à noite, no teatro ou numa reunião de casta, um homem beija o anelar da mulher que está diante de si, levantada, ou o dedo do pé, se sentada; ou quando ela, afagando o corpo do amante, deita a cabeça nas suas pernas, ao jeito de querer dormir, de modo a inflamá-lo, e lhe beija a perna ou o dedo grande do pé, consuma-se o beijo demonstrativo.
A propósito destas variedades, eis o seguinte versículo:
«Seja o que for que um amante faça ao outro, este deve retribuir, trocando beijo por beijo, carícia por carícia, pancada por pancada.»

MÚSICA

O Poesia Erótica de hoje foi preenchido com um excerto do famoso Kama-sutra. Se o comprar escolha uma edição de confiança. Os exageros chegam ao ponto de editar um Kama-sutra com a s várias posições de cavalgar uma Kavasaky. Sim, uma mota. Há gostos para tudo!

MÚSICA

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