INDICATIVO
João Baptista Coelho é o autor que vou divulgar no programa de hoje.
MÚSICA
Muito raramente refiro a idade dos autores lidos no Lugar aos Outros. Fujo, porém, à regra no caso do João Baptista Coelho por uma circunstância feliz: o João nasceu no dia 29 de Abril de 1927, repito, 1927 e acaba de ganhar um honroso prémio (entre muitos outros que fazem parte do seu currículo): O Primeiro prémio de Poesia do Primeiro Concurso “Conto e Poesia” organizado pela CGTP Intersindical.
MÚSICA
João Baptista Coelho, nasceu em Lisboa e começou a trabalhar com 9 anos de idade como era vulgar nos idos anos 30. Mais tarde, tendo tirado o então chamado Curso Comercial e frequentado o Instituto Comercial de Lisboa, iniciou uma carreira de Técnico de Contas que só foi interrompido em 1984 por motivo de doença, doença que, aliás, o levou à reforma antecipada. A partir de então, dedicou-se à escrita, prosa e poesia, tendo já publicado 7 livros, inumeráveis artigos e poemas publicados em diversos jornais e outras publicações, em Portugal e no Brasil. É detentor, hoje, de 1.062 distinções conquistadas em concursos literários (das quais 254 são primeiros prémios) e, a convite do Ministério da Cultura, foi um dos representantes de Portugal no 11º Encontro de Poetas Luso-Espanhol, realizado no Algarve em 1997.
MÚSICA
Em 2001 o município de Ansião atribuiu-lhe o 'Prémio Políbio Gomes dos Santos"; em 2005 foi-lhe conferido o 'Prémio Universitária Editora" pela empresa editorial do mesmo nome e em 2004,o município de Cascais, concedeu-lhe a ''Medalha Municipal de Mérito Cultural”. Tem o seu nome referenciado no Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, volume V organizado pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas, sob o pseudónimo de "João Apóstolo” que adoptou quando começou a escrever.
Resumindo, não tardará que o João Baptista Coelho esteja a ser lido no “Palavras de Ouro”, mas enquanto esse programa não chega, vamos ouvir 3 dos seus poemas, apresentados sem interrupção e intitulados, “Amar”, “Eu, árvore” e “Poema Universal”.
MÚSICA
Amar, nada mais é do que a magia
do darmos, de nós próprios, tudo e nada.
Do ter, a todo o tempo e em cada dia,
um Deus que vai connosco pela estrada.
Amar, não é quimera ou fantasia.
Amar, é ter a alma semeada.
É vê-la germinar; ser Poesia;
ser trigo; ser centeio; ser cevada.
É ter e partilhar com outro ser
o pão, a fome, a dor ou o prazer,
a cada instante eterno ou passageiro.
Amar, é esse impulso de espontâneo
do dar e receber em simultâneo
o Sol, a Vida, Deus; o mundo inteiro.
MÚSICA
Nasci no chão moreno dum país,
na hora em que a manhã era alvorada.
Aos poucos fui crescendo, e fui raiz,
e tronco na planura da chapada.
Na árvore que fui e em que me fiz,
fui flor, e fui rebento, e fui ramada;
e fruta que afundou sua matriz
na vida, onde fui Tudo; onde fui Nada.
Fui verde como a esperança deste mundo;
Fui sombra neste chão onde me afundo;
Fui lenha que acendeu muita fogueira.
E, agora, ao arrebol da tarde finda,
no ciclo terminal falta-me, ainda,
ser folha que apodrece na poeira ...
MÚSICA
Disseram-me que a Vida era um poema;
que a Terra era um jardim, sempre florido;
que o Homem era a obra mais suprema
dum Deus que, ao universo, deu sentido.
Disseram -me que a paz é nossa Lei;
que, aos homens, a Verdade era o seu pão;
e eu, menino ingénuo, acreditei,
vivendo oitenta anos na ilusão.
Agora, já distante o meu Outono,
e olhando o meu caminho vagabundo,
a noite vem pintar-me no meu sono
o quanto há de Mentira neste mundo.
Falaram-me do Homem, todo amor,
e raro lhe encontrei o verso e a rima;
Falaram -me da Terra, como flor,
e eu lembro aquela, imensa, ... a de Hiroshima.
Falaram -me do pão que é a Verdade
nas nunca o vi crescer perante a Vida;
Falaram -me de paz na sociedade
e sempre a vi, na Terra, adormecida.
Falaram-me em sementes e fartura;
em sonhos que, amanhã, serão reais;
e vi-os definhar sem ter frescura,
sem chão onde encontrassem o seu cais ...
Falaram-me, também, em Liberdade
que o mundo considera uma riqueza;
que muitos trocariam, de vontade,
por uma sopa quente em sua mesa.
Escutei-lhes as promessas de abastança
e o voto de mais Luz e mais comida;
e vejo, a cada passo, uma criança,
faminta, ... mendigando, ... a mão estendida.
Ouvi-lhes exaltar o pão-trabalho
a par da segurança no emprego;
mas vi um povo triste, já grisalho,
em busca de salário e de sossego.
E nesta caminhada ao mais-além,
ao ver o erro imenso em que vivi,
abalo e deixo ao mundo o meu desdém
por quanta falsidade guarda, em si.
Mas parto com um grito de protesto,
na busca de outro rumo do destino:
"Num mundo-presunção, tão desonesto,
não voltam a mentir ao eu-menino!"
MÚSICA
Ouvimos, no programa de hoje uma pequena biografia e três poemas de João Baptista Coelho, um poeta com a bela idade de 81 anos e que acaba de alcançar o 1º Prémio Poesia no 1º Concurso “Conto e Poesia” organizado pela CGTP Intersindical.
Parabéns, João Baptista Coelho e obrigado por ter disponibilizado o seu trabalho para este podcast.
Até ao próximo programa.
MÚSICA
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