Estúdio Raposa

História 49
Berliques-berloques

 

INDICATIVO

Esta história tem um nome muito engraçado: berliques-berloques. Vamos ouvi-la e ficamos a saber o que é isto de berliques-berloques. Foi recolhida por Xavier Ataíde de Oliveira.

MÚSICA

Numa terra muito longe havia dois irmãos: um muito rico, o
outro pobre de fazendas e de espírito. O rico matou numa ocasião
dois porcos gordos, e como o pobre nada tinha disse a mulher deste ao
marido: vai a casa de teu irmão e pede-lhe um bocado de carne. Foi e o
rico respondeu:
- Leva esse pedaço, é como se a desse ao diabo.
O pobre percebeu nesta resposta que a carne era para o diabo e
andou em procura do inferno para se desempenhar da missão. Encon-
trou no caminho uma velhinha que perguntou aonde ia.
- Vou ao inferno levar este bocado de carne ao diabo a mandado
do meu irmão.
- Pois vai por este caminho e não venhas de lá sem trazer o anel
que o diabo traz no dedo. - disse a velha.
- Para que me serve o anel?
- Para conseguires o que te apetecer, respondeu a velhinha.
Foi o pobre, chegou ao inferno, e entregou ao diabo o bocado de
carne. Agradeceu o diabo a oferta, e deu-lhe de presente uma caldeirinha assim como um alguidar.
- Para que me serve isto? - perguntou o homem
- Quando quiseres castigar alguém ou queimar alguma coisa basta meter os pés lá dentro. - explicou o diabo
- Eu quero o anel que o diabo tem no dedo, disse o homem.
- Isso é impossível; não to posso dar porque é do meu irmão, que está lá dentro na posse da carne que tu trouxeste.
O homem então meteu os pés na caldeirinha; levantou-se uma
grande ala, que queimou o diabo. Em seguida dirigiu-se para dentro,
onde estava o irmão do diabo. Logo que ali chegou disse ao diabo que
queria o anel.
- Não te dou esse anel, porque é do meu irmão mais velho, que o
traz no dedo, mas dou-te estes berliques-berloques. Quando queiras destruir ou castigar alguém, que esteja longe, basta que digas: berliques-berloques, vão a tal lugar castiguem e destruam tudo.
O homem recebeu a dádiva, mas em seguida meteu os pés na caldei-
rinha; saiu uma ala, que matou o diabo. Logo que viu este diabo morto,
serviu-se dos berliques-berloques que foram matar o diabo mais velho e
trouxeram-lhe o anel que tinha no dedo.
Saiu o homem do inferno, levando consigo a caldeirinha, os
berliques-berloques e o anel. Quando chegou a casa disse para a mulher:
- Mulher, estamos felizes, temos tudo quanto quisermos: isto é
uma mina (e mostrou o anel) e isto livra-nos dos inimigos (apontan-
do para a caldeirinha e para os berloques).
E acompanhou estas palavras das seguintes:
- Anel, pelo poder que tens, forma aqui uma bonita casa, e na sala de jantar põe à mesa as melhores iguarias.
E assim sucedeu. Daí em diante o que fora pobre enriquecia a olhos
vistos.
O irmão rico andava intrigado com os progressos do pobre. Um
dia mandou a mulher a casa do irmão no intuito de apurar como lhe
viera tanta riqueza.
Ora o marido pobre tinha recomendado à sua mulher segredo em
tudo; mas tantas perguntas lhe fez a cunhada, que disse consistir a origem da sua riqueza num anel que seu marido mandara fazer.
Levou a cunhada esta resposta e logo mandou fazer um anel semelhante ao que vira no dedo da cunhada. É claro, este anel não deu resultados alguns.
Então voltou a mulher do irmão rico e disse-lhe que lhe deixasse ver bem o anel para mandar fazer outro igual. A mulher do pobre caiu no laço, e a rica trocou-o pelo seu, entregando à pobre o anel que não tinha valor.
Foi para casa e mostrou o anel ao marido. Este pegou no anel e
disse:
- Pelo poder que tens apresenta-me aqui um palácio melhor do que o do rei, e que toda a gente real se sente à minha mesa, coberta das mais ricas iguarias.
E assim aconteceu. Estavam todos à mesa real ouviram bater à porta
da rua. Foi um criado saber quem batia e veio dizer que o irmão do dono da casa lhe queria falar.
- Hoje não falo com ninguém, respondeu o rico, enfatuado de ter à
sua mesa as pessoas reais.
Ora o irmão pobre, vendo que o rico o não queria receber, zangou-
-se. Veio para casa e disse:
- Berliques-berloques, pelo poder que tens, vão imediatamente a casa de meu irmão, partam e escangalhem tudo, ficando todos deitados no chão, enquanto meu irmão me não restituir o anel.
E assim aconteceu. O rico, vendo que se não podia levantar e que as
pessoas reais se conservavam estendidas por terra, entregou ao irmão o anel.
O rei, convencido, pelo rico, de que fora o irmão deste, o pobre, a
causa de ele cair no chão, quando estava à mesa, mandou imediatamente dois soldados prendê-lo; mas apenas estes chegaram à porta do pobre e este soube a que ali iam, meteu os pés na caldeirinha, e imediatamente foram castigados pelo fogo.
Tornou o rei a mandar mais soldados e lá ficaram queimados. O rei estava já pasmado destes desastres, e conhecendo quanto teria a lucrar com um homem daquela têmpera ao seu serviço, mandou-o chamar ao palácio, prometendo-lhe prémios em vez de castigos.
Foi o irmão pobre à presença do rei, e este propôs-lhe comandar as suas tropas numa guerra contra outro rei, seu vizinho. O pobre aceitou a proposta. Dias depois apresentaram-se às portas da cidade as tropas inimigas no intuito de tomar dela posse, mas o irmão pobre, só e sem mais soldado algum, apresentou-se e disse:
- Berliques e berloques, a eles; caldeirinha, já tudo em deban-
dada.
E enquanto o comandante teve os pés na caldeirinha, foram tão
temíveis as alas de fogo, e foram tão grandes os destroço, causados pelos berliques e berloques, que os soldados inimigos se puseram em debandada.
O rei vitorioso tomou em tanta consideração o seu novo comandante que não mais o deixou sair do palácio, trazendo a mulher para
viver na companhia, como o marido pediu.
O irmão rico ficou sempre ignorado e esquecido.

MÚSICA

Bem, chegámos ao fim da história e, afinal. ficámos sem saber o que eram os berliques-berloques. Então fazemos assim: cada um vai fazer dos berliques-berloques o que quiser. Um pastel de nata ou um... skate!
A história que ouvimos hoje foi recolhida por Xavier Ataíde de Oliveira

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