Estúdio Raposa

Poesia Erótica
Luísa Demétrio Raposo

 


INDICATIVO

“O erotismo,
por vezes por capricho humano,
é usado com certeza ornamental...
Mas...
Como de todas as certezas nasce o engano, só a incerteza é puramente natural!
O erotismo dentro, em nós invoca...
Na sua vastíssima boca,
uma expressão única e sexualmente louca...! “
Palavras de Luísa Demétrio Raposo, a autora cuja poesia vamos ouvir neste programa.

MÚSICA

E continua, Luísa Demétrio Raposo:
“Superlativo é o erotismo,
Arte táctil das mãos, tantas e tantas contradições.
Tenso, eruptivo é o meu lado masculino, real em transe germina por perto, ronda-me perto o acerto incerto!
Aurífero furor do meu outro lado felino, relance e aventura, uniforme na minha lucidez mais pura...

Neste mundo somos todos intimamente articulados pelo mesmo, o erotismo...
“É pena que o mundo em absurdas convenções, devassas ilusões, preconceitos estreitos, cultive milhões em falsos defeitos…”

MÚSICA

Luisa Demétrio Raposo, nasceu no dia 10 de Novembro de 1973. Cresceu em pleno Alentejo. Vive na cidade de Portalegre, desde muito cedo se apaixonou pelas letras, escreve poesia, desde os tempos de escola, embora só há poucos anos a começou a partilhar.

Editou o seu primeiro livro este ano em fevereiro, "RESPIRAÇÃO DAS COISAS" , livro de poesia erótica. Partilha com os cibernautas um espaço na internet, o seu blog, Vermelho Canalha, onde publica poemas, cartas e prosas poéticas e eróticas) Luísa Demétrio Raposo, escreve poesia há vários anos, e encontra na escrita a libertação total dos seus sentidos. É no sentir que se deslaçam as palavras, na musicalidade sonora das sílabas, é um prazer imenso que a liberta...

MÚSICA

Vamos ouvir cinco poemas de Luísa Demétrio Raposo: Gula, Confissão da Rosa Genital, Carta Saudade do Pénis Astro, Desejo Esparzo e Elegia Recolhida.

MÚSICA

Gula

Os sentidos, qual é o sentido?
Dois são pendentes , e um sentido...

Estava alto e tenso, o orgão vivo,
O estimulo inflecte nas minhas mãos!...

Havia a boca que o tinha... Devastador...
Todo o organismo, neutro vago tremor !

Em ti há chamas em... Num estrídulo duro.
Sucção da boca, que tem na boca, tem, na língua da boca...

Latente, que bate, na fronte, em frente , tua frente louca!
É na boca, á atraz, é na lingua, é atraz, voz que suspira, rouca...

Torrente impetusoa, incandescente , extrema tensão!...
Na exausta haste erecta... Numa gula fascinação...

MÚSICA

Confissão da Rosa Genital

Dormes meu coração?

O tédio aqui é imenso e nesta hora em pensamentos lentos é no teu pénis que penso...

Sentir-te em...
Pensar nisso faz-me fome, rasga-se o desejo em mim num gomo, amor meu, mas quando é que eu te como!?

Quero-me em ti para me perder aqui!
Frémito calor, ardente de nós os dois;

No antes!... No durante!... E no depois!

Sinto teus lábios em minhas entranhas, perco-me em suplicas estranhas...
As tuas mãos ávidas descobrem meu corpo, a tua lingua quente é uma maliciosa serpente...
Profundo e pérfido, desejo louco num misto prazer nos deixa feliz amor, com tão pouco...

Desejos!... Sabores!... Loucuras!

Num êxtase sinto a tua mão a vergar...
Minha boca quente, ardente, sempre a sugar!...
Gemidos são prazer, na louca vontade em tanto em mim te querer!
Sonhar-te tão dentro,sentinela hirta em cada pancada, a tua, quente e nua ...
Fazer amor contigo, fazer amor com o sentido, vem, vem cá ficar dentro em mim escondido;
A tua boca minha descoberta, o suor em tremor ... e eu toda aberta...


A lembrança do olhar dentro da tua irís a navegar, a navegar... a navegar...
Está na hora do nosso prazer terminar, vem...
Vem cá abraçar e toma-mos juntos um banho quente?

Mas antes faremos amor novamente!...

Beijo

Da tua sempre

Rosa

MÚSICA

Carta saudade do Pénis Astro

Minha amada Rosa antes que a brisa da manhã se rasgue e se levante a noite avanço fechado numa fonte secretamente onde bato no jardim, deste amado (de pesados frutos ).
Assento traqueia-me numa orgia pensar no pensamento;

« No meio dessas tuas trancas levanta-se o meu, pescoço, pastando entre essa boca negra...
As frutas redondas, por força dessa tua doçura interna... nevam letras neste meu rosto, lembrando, pensando, correndo ao som delas...
... fecha... fecha nelas tudo aquilo o que se fecha...
Palma negra onde pousam as águas banha-se nela o leite... e os teus lábios maciços perfumados... Lembrada, lembrando esse teu lenço vivo, aberta!...
... é a loucura correndo com o teu nome... é loucura balouçando entre essas tuas linhas lavradas...
Rósea genital, quadris negros e molhados...
Ah!... ( lembrar)
O alto aberto nos teus corredores vaginais...
A ponta das falangetas treme... é golfada pungente num rasgão vocal;
Ferroada branca... leite desordenado!
Oxigénio sélvatico!... »

De mãos entre a cabeça e a cabeça entre fôlego e a escrita...
Dolorosa esta distância incandescente, parte a minha ressaca silênciosa sobre níveis tão primários , enxuto e raspado desejo-te agora na saudade...

Teu,
Pénis Astro

MÚSICA

Desejo Esparzo

Mesmo sem te conhecer,
Eu te descobri em tudo e no tudo te quis!...
Desejei...
Suspirando numa sensualidade esparsa...
No simples acaso no olhamos,
O beijo propositado,
Onde nos incendiamos...

Recolhe-me nas narinas o teu cheiro...
A tua boca no meu peito...
De ti todo em mim...
Embebe-me completa e indelevelmente ao ponto de contigo me fundir e em ti eu me devasso...

Entusiasmo voraz... num gorjeio, na tua boca fresca onde fomos infinitamente felizes...

O paladar, delicado, é como morder um pessego com os lábios ...

O entusiasmo ardente,
O teu junco flexível,
Haste de feno,
Nas minhas folhas coado,
Num...
Tremente lago debruçado...
A chama esperta,
Extenso caudal, limite em que, ofegante, eu me esparzo...

MÚSICA

Elegia Recolhida

Agitação...
esquecer da agitação
Necessidade insatisfeita?

A luta,
no canal se deita
Numa sesta vertical,
Acre fúria, na horizontal...
Relanceio... (na rota sorvida)
Pastosa, no lamber fundida...

Arde-me o olhar,
do que no teu brilha...
Ri-me na boca,
O riso,
que enche a virilha!

Prazer que apazigua
penhor de uma explosão
Ardencia nua!...
Abjecto determinação...

Beijo-te...
o fruto transporta...
Abraço-te num vórtice
Minaz, de ponta a ponta...
(aponta)

Abre-se lenta...
Como uma boceta,
A vieira secreta...
Capricho começa
Ao ardor, de querer, se continua...
Numa fincada de charrua
Rompe a centelha,
Ardente,
A fornalha vermelha...

Na ânsia,
muda-se a promessa
Fausto,
o balanço tropeça
Jorra no oculto
(Mestiça)

Afoga-se, no vulto...

MÚSICA

Ouvimos no programa de hoje, cinco poemas de Luísa Demétrio Raposo, poemas que fazem parte do seu livro “Respiração das Coisas”. Obrigado pela sua disponibilidade.

INDICATIVO