Estúdio Raposa

Poesia erótica 42
Casimiro de Brito

 

INDICATIVO

De novo, a poesia de Casimiro de Brito a preencher este programa de Poesia Erótica

MÚSICA

É a segunda vez que ouvimos poesia de Casimiro de Brito em “Poesia Erótica”. Da primeira vez, em Abril do ano passado, a seleção apresentada foi da escolha do próprio poeta. Desta vez, de um conjunto de seis das suas obras que teve a amabilidade de me enviar, escolhi cinco poemas de livro “69 poemas de amor”.

MÚSICA

Casimiro de Brito nasceu no Algarve há 71 anos. Prosseguiu os seus estudos em Londres onde viveu até 1968. Depois de alguns anos na Alemanha, acabou por se fixar em Portugal onde, depois de exercer várias profissões, acabou por dedicar todo o seu tempo à literatura.
Tem, publicados mais de 40 livros. Esteve ligado ao movimento “Poesia 61”, um dos mais importantes da poesia portuguesa do sec. XX; participou em inúmeros recitais, festivais de poesia, congressos de escritores, conferências, um pouco por todo o mundo.
Tem a sua obra traduzida para mais de 24 línguas, dedicando-se também á tradução para português, sobretudo do japonês.
Em 2006, foi nomeado Embaixador Mundial da Paz, no âmbito da Embaixada Mundial da Paz, sediada em Genebra.

MÚSICA

Este programa não tem como objetivo fazer uma exaustiva referência à biografia dos autores, mas sim ouvir o seu trabalho. Uma biografia mais completa de Casimiro de Brito pode ser consultada no seu site na internet. Com uma busca no google pelo nome do poeta, chega lá facilmente. Vamos ouvir cinco poemas de Casimiro de Brito, como já disse, retirados do seu livro “69 poemas de amor”

MÚSICA

Deito-me a teu lado. Sou a tua sombra
no lençol. Vou decifrar a luz dos teus olhos,
não me dás tempo. Os teus dedos tocam-me no rosto,
descem à garganta, começam a soletrar
o mapa do meu corpo: um grão sob a axila, uma pálpebra
que cintila, o rubor do mamilo
e já teus dentes se ocupam
do outro. Pressionas músculos e ossos
ao mesmo tempo que toco ao de leve
um seio, um lábio: quero deter-me no joelho
onde leio quedas na neve
e no ballet. Não me dás tempo.
Os corpos rodam, as mãos buscam outra terra,
outras águas. Os seios na virilha,
a barriga no pescoço. Estaremos a caminhar
demasiado depressa? Acaricias onde prometo
uma haste de sol. Uma casa voadora
na margem deste mundo tão previsível.
Erigimos com os nossos corpos
a mais efémera das esculturas. As tuas mãos
convidam-me a voar. Agora sou eu
quem não te dá tempo, escavando e descendo
à fenda silenciosa. Ouço-a. Um canto leve
e depois allegro e depois mais fundo.
Já não sei onde estou, quem sou
sobre as fontes e os rios e os abismos
de ti. Sentas-te, lama delicada, no meu peito
e desces e ajustas os teus ninhos
ao pequeno pássaro que pouco a pouco
se agita. Palpo e bebo e retenho a terra volátil.
a espuma, a vegetação de coxas, nádegas, mamas e águas
flutuantes. Ora subo ao chão ora me enterro
no ar, no lábio onde começa uma árvore
que se eleva até às nuvens. Não me dás tempo,
eu quero a eternidade mas tu não me dás tempo
para te contemplar. Ânfora nua
que bebo por fora e por dentro.
Dou-te a minha vida em troca da tua.

MÚSICA

Acaricio-te a barriga a suave ondulação
do dorso a fina cintura
onde o barro montanhoso das nádegas
nasce. Beijo-te nos vales mais íntimos
e nos rios - és a mãe carnívora
que vai morrer que se vai derramar
na terra toda.

MÚSICA

Como são belos os teus seios! Foram feitos
à medida das minhas mãos. Pousa-os
na minha boca e conta-me
a tua história. Não tens
história? Não tens noite nem vazio nem praia
branca? Fala-me então
do sol, da migração dos pássaros, da mansidão
das estrelas - fala-me de ti antes de possuíres
um nome, uma história. Sim
em qualquer parte
lançaremos os nossos corpos na relva; alfaias
efémeras; armas exíguas
ardidas na guerra. Como são belos
os teus seios! Trémulas
palavras. Deixa que neles eu me queime como quem
se deita num rio. Sinto
a terra mover-se. Iluminas
as águas e as estrelas. O percurso
é longo. O silêncio montanhoso. Debruço-me
na tua solidão.

MÚSICA

Adormecer
assim: inclinado
sobre um rio
em repouso.
A mão esquerda
caída em palma
no crânio; a boca
no ombro no aroma
da pele; o joelho
e a mão direita
na coxa no canteiro ainda
molhado. Acordar assim: ouvir
o breve adágio do corpo amado
a respiração pouco a pouco mais tumultuosa
sob os lençóis subitamente visitados
pelo sol da manhã.

MÚSICA

Virilha contra virilha
reconstruo o meu corpo
colado ao teu. Choro.
Não estás a meu lado.
Virilha contra nádega
asas de salvação efémera
reconstruo o teu corpo
junto ao meu. Choro.
Sem os meus braços
envolvendo-te a cintura,
sem as tuas pernas no meu pescoço,
sem a tua mão moldando-se
ao meu ventre
choro: não estás a meu lado.
Sem a tua boca
no meu peito, a tua língua
no meu sexo, os teus seios
soltos, desenfreados
choro: não estás a meu lado.
Sem as tuas fendas
e lagos sou um pobre animal
desamparado, e choro
sobre o teu ninho nos lençóis
em que não posso derramar
o olhar o sémen as palavras
de quando estás a meu lado.

MÚSICA

Ouvimos no programa de hoje, cinco poemas de Casimiro de Brito retirados do seu livro “69 poemas de amor”.

MÚSICA

Antes de terminar queria renovar um pedido já aqui feito: se conhece textos de poesia erótica que gostaria de ouvir recitados, envie-os para este programa.