Estúdio Raposa

Poesia Erótica 38
Florbela Espanca

 

INDICATIVO

O programa de hoje vai ser preenchido com 5 sonetos de Florbela Espanca.

MÚSICA

Florbela Espanca nasceu no Alentejo, em Vila Viçosa, a 8 de Dezembro de 1894.
Desde o seu nascimento, a infância de Florbela rodeou-se de circunstâncias invulgares. Uma vez casado com Marina Inglesa, em 1887, João Maria Espanca, o pai de Florbela, continua a trabalha como sapateiro e antiquário, tornando-se mais tarde num dos pioneiros do cinematógrafo em Portugal. Ao descobrir que Mariana não pode dar à luz, João Maria consegue convencê-la de uma regra medieval, segundo a qual, quando a mulher não pode ter filhos, o homem está autorizado a cometer adultério, de modo a ter, através de outra mulher os filhos que a esposa não lhe pode dar, filhos esses que depois traria para o lar. Com o consentimento de Marina, em 1894, João Maria procura Antónia Lobo, uma mulher humilde, vistosa e desejada na vila, que trabalhava como criada de servir, raptando-a uma noite para a engravidar e mantendo-a escondida durante toda a gravidez. Finalmente, a 8 de Dezembro, Florbela nasce e é baptizada como Flor Bela Lobo, filha de Antónia e de pai incógnito; a madrinha é Mariana, que depois levará Florbela para casa e a tratará como filha. É a casa de Mariana e João Maria Espanca que a Mãe de Florbela se vai dirigir para a amamentar.

MÚSICA

As atitudes e a obra de Florbela nunca, ou muito raramente, mereceram a simpatia dos seus contemporâneos. O erotismo sem precedentes inerente à sua obra e, acima de tudo, o facto de ter assumido frontalmente dois divórcios e três casamentos, chocaram a sociedade mesquinha, invejosa e intriguista, que não reconhecia qualquer autonomia à mulher. Daí terem acusado a poetisa de mulher sedutora e tentadora; provavelmente, a sua figura esbelta e a roupa moderna, bem como o seu carácter firme e determinado, causaram inveja à sociedade da época, que a considerou um escândalo público, uma mulher adúltera, indigna, e sem escrúpulos, cuja conduta moral foi alvo de dúvidas e críticas. Essa situação agravou-se substancialmente com o facto de ser, oficialmente, filha ilegítima de pai desconhecido e por causa das demais circunstâncias, invulgares para o tempo, que rodearam o seu nascimento. Na opinião de Maria Alexandrina, em As atitudes e a obra de Florbela nunca,

MÚSICA

Florbela era uma jovem mulher muito atraente, o que também terá sido motivo de inveja para muitas das mulheres do seu tempo que, como já se disse não hesitaram em caluniá-la. Nas palavras de Maria Alexandrina, Florbela era esbelta, graciosa, de porte senhoril, fartos cabelos negros, pele fina e transparente, sedosa e bela a que se juntava um culto do traje e um guarda-roupa moderno, com peles e saia-calça (uma novidade francesa da altura) incluídas, totalmente inovador e diferente do que a sociedade portuguesa estava acostumada a ver.
Com a sua capeline e o seu colar de pérolas, uma das suas fotografias mais conhecidas e que oferecera a Guido Battelli, Florbela fixa um tipo social que perdurará no tempo: segundo Agustina Bessa Luís, trata-se da figura da vagabunda letrada.

MÚSICA

Com ou sem escândalo, ou fascinação pelo escândalo; com ou sem histórias de atribulações novelescas ligadas a uma sucessão de três casamentos infelizes, a perdas familiares dolorosas e à incompreensão constante na sua vida, o que fica é a voz poética da "alma gémea" de Fernando Pessoa, autêntica, feminina e pungente:
Eu quero amar,
amar perdidamente!
Amar só por amar: Aqui... além..
Mais Este e Aquele,
o Outro e toda a gente…
Amar! Amar!
E não amar ninguém!

MÚSICA

Vamos ouvir 5 sonetos de Florbela Espanca: Charneca em Flor, Frémito do meu Corpo, Horas Rubras, Os versos que te fiz e Se tu viesses ver-me hoje à tardinha; poemas que vamos ouvir sem interrupção.

MÚSICA

Enche o meu peito, num encanto mago,
O frémito das coisas dolorosas ...
Sob as urzes queimadas nascem rosas ...
Nos meus olhos as lágrimas apago ...

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas
Murmurar-me as palavras misteriosas
Que perturbam meu ser como um afago!

E, nesta febre ansiosa que me invade,
Dispo a minha mortalha, o meu burel,
E já não sou, Amor, Soror Saudade ...

Olhos a arder em êxtases de amor,
Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor

MÚSICA

Frémito do meu corpo a procurar-te,
Febre das minhas mãos na tua pele
Que cheira a âmbar, a baunilha e a mel,
Doido anseio dos meus braços a abraçar-te,

Olhos buscando os teus por toda a parte,
Sede de beijos, amargor de fel,
Estonteante fome, áspera e cruel,
Que nada existe que a mitigue e a farte!

E vejo-te tão longe! Sinto a tua alma
Junto da minha, uma lagoa calma,
A dizer-me, a cantar que me não amas ...

E o meu coração que tu não sentes,
Vai boiando ao acaso das correntes,
Esquife negro sobre um mar de chamas ...

MÚSICA

Horas profundas, lentas e caladas
Feitas de beijos sensuais e ardentes,
De noites de volúpia, noites quentes
Onde há risos de virgens desmaiadas ...

Ouço as olaias rindo desgrenhadas ...
Tombam astros em fogo, astros dementes.
E do luar os beijos languescentes
São pedaços de prata p'las estradas ...

Os meus lábios são brancos como lagos ...
Os meus braços são leves como afagos,
Vestiu-os o luar de sedas puras ...

Sou chama e neve branca misteriosa ...
E sou talvez, na noite voluptuosa,
Ó meu Poeta, o beijo que procuras!

MÚSICA

Deixe dizer-te os lindos versos raros
Que a minha boca tem pra te dizer !
São talhados em mármore de Paros
Cinzelados por mim pra te oferecer.

Tem dolencia de veludo caros,
São como sedas pálidas a arder...
Deixa dizer-te os lindos versos raros
Que foram feitos pra te endoidecer !

Mas, meu Amor, eu não te digo ainda...
Que a boca da mulher é sempre linda
Se dentro guarda um verso que não diz !

Amo-te tanto ! E nunca te beijei...
E nesse beijo, Amor, que eu te não dei
Guardo os versos mais lindos que te fiz.

MÚSICA

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha,
A essa hora dos mágicos cansaços,
Quando a noite de manso se avizinha,
E me prendesses toda nos teus braços ...

Quando me lembra: esse sabor que tinha
A tua boca ... o eco dos teus passos .
O teu riso de fonte ... os teus abraços .
Os teus beijos ... a tua mão na minha .

Se tu viesses quando, linda e louca,
Traça as linhas dulcíssimas dum beijo
E é de seda vermelha e canta e ri

E é como um cravo ao sol a minha boca ..
Quando os olhos se me cerram de desejo .
E os meus braços se estendem para ti. ..

MÚSICA

Dois dedos de conversa

MÚSICA

É verdade!
Há muito que não dedicava algumas palavras aos ouvintes do Estúdio Raposa num momento que dá pelo nome de “Dois dedos de conversa”.
Hoje voltei aos “dois dedos” e, infelizmente, por um motivo muito pouco agradável.
Então aqui vai:
Chegou ao meu conhecimento, há dias, que uma empresa está a comercializar ringtones, isto é, toques de telemóvel, utilizando para o efeito TODOS os programas disponibilizados neste audioblogue. A cobrança do serviço (4 euros por semana) é feita pela Vodafone, TMN e Optimus, pelo que estas empresas são coniventes nesta ação ilegal dado que nunca dei qualquer autorização para que tais trabalhos fossem vendidos fosse de que forma fosse.
Nem tal poderia fazer porque também vítimas deste embuste são, naturalmente, todos os autores que me têm cedido os seus trabalhos graciosamente. Na medida das minhas possibilidades estou a tentar travar esta vigarice assim como a responsabilizar os autores por este roubo de propriedade intelectual.
Daqui aviso (e peço que passem palavra): não adquiram ringtones a uma firma denominada Polytones ou BeMp3, ou, aliás, a qualquer outra.
Pessoa do meu conhecimento que, enganada, subscreveu o serviço, viu, de imediato, ao saldo do seu telemóvel, ser retirado (pela Vodafone) 8 euros e de ringtone...nada!
Cuidado! Trata-se de um embuste!

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