Estúdio Raposa

Poesia Erótica 36
5poemas5

 

Este programa foi escrito com a grafia do Novo Acordo Ortográfico.

INDICATIVO

O programa de hoje vai ser preenchido com cinco poemas dos seguintes autores: Affonso Romano de Sant’Anna, Salvador Pliego, Cláudia Marczak, Rosa Lobato Faria e Alexandre O’Neill. O poema de Salvador Pliega que vamos ouvir foi traduzido por Maria José Limeira.

MÚSICA

Antes de ouvirmos os poemas dos autores que acabo de referir, pequenas notas biográficas sobre eles.
Affonso Romano de Sant’Anna, poeta brasileiro, é um caso raro de artista e intelectual que une a palavra à ação. Com uma produção diversificada e consistente, pensa o Brasil e a cultura do seu tempo. Destacado como teórico, como poeta, como cronista, como professor, como administrador cultural e como jornalista.

MÚSICA

Salvador de Pliego, poeta mexicano, nasceu na cidade do México. Fez estudos de Antropologia Social. Iniciou a sua carreira de escritor em 2005 e até agora já publicou várias obras. A sua poesia já chegou a vários países quer porque a eles se tem deslocado para recitar os seus versos quer, noutros casos, graças à rádio.

MÚSICA

Cláudia Marczak, poeta brasileira, é um caso curioso de internet. Se, no Google, fizermos uma busca pelo seu nome, encontramos muitas dezenas de entradas, a maior parte com um seu poema famoso, poema que, aliás, vamos ouvir neste programa, assim como referências à sua obra, mas, e aqui a curiosidade, sem uma linha sobre a sua biografia. Receando que o facto se devesse ao ser nabo nesta matéria, pedi a quem o não é para fazer uma busca como deve ser feita. Nada. Sobre Cláudia Marczak, para além do seu trabalho poético apenas descobrimos esta sua afirmação:
"É meio difícil falar do tipo de poesia que escrevo, pois, pra falar a verdade a poesia apareceu na minha vida muito cedo, quase como uma intuição, uma forma muito pessoal de me expressar." E é tudo!
Desta autora vamos ouvir o seu poemas mais difundido pela net: O sexo é sagrado”

MÚSICA

Vamos depois ouvir a “nossa” Rosa Lobato Faria, poeta, romancista, atriz. O essencial da sua poesia está reunido no volume Poemas Escolhidos e Dispersos, de 1997. Em 1999, na ASA, publica A Gaveta de Baixo, um longo poema inédito acompanhado por aguarelas do Pintor Oliveira Tavares. Daí em diante dedica-se ao romance, escrevendo, em média, um livro por ano. De Rosa Lobato Faria vamos ouvir “Armadilha dos abraços”

MÚSICA

Sobre Alexandre O’Neill, remeto a sua biografia para os “Palavras de Ouro” a ele dedicados. Uma oportunidade para voltar a ouvir este grande poeta. Por hoje, em “Poesia Erótica” vamos ouvir “Sei os teus seios”
Os cinco poemas serão apresentados sem interrupção.

MÚSICA

É tão natural
que eu te possua
é tão natural que tu me tenhas,
que eu não me compreendo
um tempo houvesse
em que eu não te possuísse
ou possa haver um outro
em que eu não te tomaria.
Venhas como venhas,
é tão natural que a vida
em nossos corpos se conflua,
que eu já não me consinto
que de mim tu te abstenhas
ou que meu corpo te recuse
venhas quando venhas.

E de ser tão natural
que eu me extasie
ao contemplar-te,
e de ser tão natural
que eu te possua,
em mim já não há como extasiar-me
tanto a minha forma
se integrou na forma tua.

MÚSICA

Contarei trezentas e vinte vezes trezentos
para beijar-te toda.
Deslizarei do alto até os pés,
dos penhascos às grutas,
de asa em asa, de pluma em pluma,
à tua sombra e em teus odores,
e para além do que me disse a aurora
da qual nunca me acercara.

Começarei do Este para o Oeste,
fixando um ponto à frente.
Contarei, ponto a ponto,
lento e languidamente,
pois há beijos que valem ouro
e serão pousados quietos sobre teu dorso.
Há beijos que são de encanto
e estes os ponho juntinhos,
para que se amontoem
soprando leves sobre teu doce ventre.
Há beijos que se hipnotizam,
rodam tontos e depois caem como flechas,
perdem-se no teu seio e vibram.

Há beijos e muitos beijos.
Hei-de contá-los sem pressa.
E conto-os, conto-os infindáveis,
só para eriçar tua pele e que te agites.

E quando chego a duzentos e trinta,
sem que percebas,
finjo-me de louco para começar de novo
a partir do zero:
trezentos e vinte trezentas vezes.
De Oeste a Este para deter-me
e inundar de beijos esses vazios
que me escaparam de Este a Oeste.

Trezentas vezes para que sonhes.
Trezentas vezes para que vibres.
Trezentas vezes, pra que me beijes também.
De Este a Oeste, envolvendo-te inteira,
para alentar-te, e arrebatar-te,
a fim de que sintas a primavera
que brotará do teu ventre.

MÚSICA

O sexo é sagrado,
como salgadas são as gotas de suor
que brotam dos meus poros
e encharcam nossas peles.
A noite é meu templo
onde me torno uma deusa enlouquecida
sentindo teus pelos sobre a minha pele.
Neste instante já não sou nada,
somente corpo,
boca,
pele,
pêlos,
línguas,
bocas.
E a vida brota da semente,
dos poucos segundos de êxtase.
Tuas mãos como um brinquedo
passeiam pelo meu corpo.
Não revelam segredos
desvendam apenas o pudor do mundo,
descobrem a febre dos animais.
Então nos tornamos um
ao mesmo tempo em que
a escuridão explode em festa.
A noite amanhece sem versos,
com a música do seu hálito ofegante.
O sol brota de dentro de mim.
Breves segundos.
Por alguns instantes dispo-me do sofrimento.
Eu fui feliz.

MÚSICA

E de novo a armadilha dos abraços.
E de novo o enredo das delícias.
O rouco da garganta, os pés descalços
a pele alucinada de carícias.
As preces, os segredos, as risadas
no altar esplendoroso das ofertas.
De novo beijo a beijo as madrugadas
de novo seio a seio as descobertas.
Alcandorada no teu corpo imenso
teço um colar de gritos e silêncios
a ecoar no som dos precipícios.
E tudo o que me dás eu te devolvo.
E fazemos de novo, sempre novo
o amor total dos deuses e dos bichos.

MÚSICA

Sei os teus seios.
Sei-os de cor.
Para a frente, para cima,
Despontam, alegres, os teus seios.
Vitoriosos já,
Mas não ainda triunfais.
Quem comparou os seios que são teus
(Banal imagem) a colinas!
Com donaire avançam os teus seios,
Ó minha embarcação!
Porque não há
Padarias que em vez de pão nos dêem seios
Logo p'la manhã?
Quantas vezes
Interrogastes, ao espelho, os seios?
Tão tolos os teus seios! Toda a noite
Com inveja um do outro, toda a santa
Noite!
Quantos seios ficaram por amar?
Seios pasmados, seios lorpas, seios
Como barrigas de glutões!
Seios decrépitos e no entanto belos

Como o que já viveu e fez viver!
Seios inacessíveis e tão altos
Como um orgulho que há-de rebentar
Em deseperadas, quarentonas lágrimas...
Seios fortes como os da Liberdade
-Delacroix-guiando o Povo.
Seios que vão à escola p'ra de lá saírem
Direitinhos p'ra casa...
Seios que deram o bom leite da vida
A vorazes filhos alheios!
Diz-se rijo dum seio que, vencido,
Acaba por vencer...
O amor excessivo dum poeta:
"E hei-de mandar fazer um almanaque
da pele encadernado do teu seio"
Retirar-me para uns seios que me esperam
Há tantos anos, fielmente, na província!
Arrulho de pequenos seios
No peitoril de uma janela
Aberta sobre a vida.
Botas, botirrafas
Pisando tudo, até os seios
Em que o amor se exalta e robustece!
Seios adivinhados, entrevistos,
Jamais possuídos, sempre desejados!
"Oculta, pois, oculta esses objectos
Altares onde fazem sacrifícios
Quantos os vêem com olhos indiscretos"
Raimundo Lúlio, a mulher casada
Que cortejastes, que perseguistes
Até entrares, a cavalo, p'la igreja
Onde fora rezar,
Mudou-te a vida quando te mostrou
("É isto que amas?")
De repente a podridão do seio.
Raparigas dos limões a oferecerem
Fruta mais atrevida: inesperados seios...
Uma roda de velhos seios despeitados,
Rabujando,
A pretexto de chá...
Engolfo-me num seio até perder
Memória de quem sou...
Quantos seios devorou a guerra, quantos,
Depressa ou devagar, roubou à vida,
À alegria, ao amor e às gulosas
Bocas dos miúdos!

Pouso a cabeça no teu seio
E nenhum desejo me estremece a carne.

Vejo os teus seios, absortos
Sobre um pequeno ser

MÚSICA

Ouvimos, no Poesia Erótica de hoje, cinco poemas dos seguintes autores: Affonso Romano de Sant’Anna, Salvador Pliego, Cláudia Marczak, Rosa Lobato Faria e Alexandre O’Neill. O poema de Salvador Pliega que ouvimos foi traduzido por Maria José Limeira.

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POEMAS
MÚSICA
Ouvimos, no Poesia Erótica de hoje, cinco poemas dos seguintes autores: Affonso Romano de Sant’Anna, Salvador Pliego, Cláudia Marczak, Rosa Lobato Faria e Alexandre O’Neill. O poema de Salvador Pliega que ouvimos foi traduzido por Maria José Limeira.
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