Estúdio Raposa

Poesia Erótica 34
E.M. de Melo e Castro

 

INDICATIVO

Poemas eróticos, pornô, caralhamas, conemas, de engate, execráveis, maneiristas, neobarrocos, subprodutos, desaforismos, escatológicos ou do esgoto, seguidos dos mui inducativos textículos de R’manceu = zero, tudo para gáudio geral.
Palavras de E.M. de Melo e Castro no seu livro “Sim...Sim!”

MÚSICA

As palavras de E.M. de Melo e Castro que acabámos de ler surgem por debaixo do título do livro de poemas “Sim...sim!” do qual retirei os poemas que vamos ouvir neste programa.

MÚSICA

E.M. de Melo e Castro nasceu na Covilhã em 1932. Formou-se em Bradford (Inglaterra), em Engenharia Têxtil (no ano de 1956). Trabalhou como técnico de produção em fábricas têxteis e como professor dos ensinos tecnológico e superior. Concluiu doutoramento em Letras, na Universidade de São Paulo, em 1998.
Poeta, crítico e ensaísta, é teórico e praticante do experimentalismo poético e também um dos seus principais difusores em Portugal, tendo incentivado a publicação dessa poesia em órgãos como o Jornal do Fundão. Foi um dos organizadores do segundo caderno de Poesia Experimental e de outras obras, como Hidra e Operação I. É também considerado introdutor da poesia concreta em Portugal (com o livro “Ideogramas”) e pioneiro da videopoesia (com Roda Lume).
Professor convidado na área de Estudos Comparados de Literatura e Língua Portuguesa da Universidade de São Paulo até 2001, com tese de doutorado em Literatura Africana, é autor de inúmeros livros, dentre os quais: Finitos mais Finitos, Literatura Portuguesa de Invenção, Visão Visual, O Fim Visual do Século XX, O Próprio Poético, Poética dos Meios e Arte High Tech, Dialéctica das Vanguardas, Algorritmos, Trans(a)parências, de entre outros.

MÚSICA

e de repente a língua se liberta do peso que se teve.
água corre na água.
o corpo livre
e abrem- se os seIltidos
no orgasmo da luz
ver e não ver
ouvir e não ouvir
tocar e não tocar
cheirar e não cheirar
sabor e não sabor
tudo é saber
da mesma forma o peso
do não peso
o dar do receber
a posse do poder
como se de repente
as mãos o peito
os pés as pernas
fossem sexos unidos
ou os sextos sentidos
somados divididos
no momento de vir.

MÚSICA

mais difícil é falo
que falá-lo
mais difícil é língua
do que lua
mais difícil é dado
do que dá-lo
mais difícil vestida
do que nua
mais fácil é o aço
do que achá-la
mais fácil é dizê-la
que contê-la
mais fácil é mordê-la
que comê-la
mais fácil é aberta
do que certa
nem difícil nem fácil
nem aço nem licor
nem dito nem contacto
nem memória de cor
só mordido só tido
só moldado só duro
só molhada de escuro
só louca de sentido
fácil de falá-lo
difícil de contê-lo
o melhor é calá-lo
o melhor é fodê-lo

MÚSICA

mamilos ilhas
do mar elástico
flores
na pele do peito
negro loiro
perfume volume
clítoris
da face do êxtase
vento oscilando
cúpula no mastro
glande
rubra de neve
na pele do deserto
areia movediça
cetim
de dedos cactus
fundo e claro
obscuro fluxo
canto
do olho aberto
figura esguia
peixe na água
lava
por fenda fina
a saliva sabe
do sol o toque
beijo
eixo na boca
vôo no ritmo
das asas duplas
cópula
única é a ave
volume ocupando
espaço da mão
flecha
redonda logo
olhos abertos
na cor da noite
voláteis
cristais de luz
na onda anda
um outro lugar
vulva
volume vago
o ambíguo dizer
pedra de toque
pénis
no calor dos olhos
carícia outra
leve fluir
língua
toque ácido
total orgasmo
nulo de nada
luz
sobre a iluminação

MÚSICA

o poeta é a merda do universo: possui todas as características do dejecto.
Concentra em si a digestão do gesto; a genofagia do êxtase; a plasto_contracção do fluído; a cagoécia espan_torreica do astro; a feno_inflação do susto;
a culo_táctica alviltrante do entre; a conges_tomatia da fúria; a subru_ptura do esfincter;
a tirano contúcia do tesão; a espro_tuberância dos dedos; a ultra_fragância cliotoriana da nuvem; a proto_putática do cio; a venusiana contursão do ingesto; o factócio odor da pituito_gonoraica alga; a fundibular arrogância do ronco;
a inco_butência lacunar do humor; a factoécia consistência da cístole; o infrutífero agosto do genefágio; o estro da alti_contur_bância da bacia;a penis implacência da pes_nínsula;
a fictofinura insinular da inflo_strutura; o oginato fulgor do anão anal; a para_pirotécnica do sobre; a ficta inflogestão do gestual subje_ctinvo; o adjecto fragor do estrondo; a fúricaarragância do cilindro; a exalo ternura da ubstância mole; o facto falância mulhada; o duro durão do melotão; a igno rrância das bactárias; a ultra pante_rroico fulminância; a coiso coisíssima nenhuma.

MÚSICA

A poesia é um gozo
um uso sabido
do erro errado

A poesia é um gozo
e se o não é
a culpa é do vizinho do lado

A poesia é um gozo
de palavras paralelas
daquelas
que não há

A poesia é um gozo
como um osso encravado

A poesia é um gozo
o leitor
deve sentir-se gozado

MÚSICA

Ouvimos neste Poesia Erótica 34, a poesia de E. M. de Melo e Castro

INDICATIVO