Estúdio Raposa

Palavras de Ouro 141
Olavo Bilac

 

INDICATIVO

Sendo este um programa de divulgação de autores em língua portuguesa, confesso que não apresento, com a frequência desejável, autores de outras pátrias que não a portuguesa. Hoje, neste programa, um remendo nesta falta, com a poesia de um grande poeta brasileiro: Olavo Bilac.

MÚSICA

Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, nasceu no Rio de Janeiro e faleceu nessa mesma cidade em 28 de dezembro de 1918. Foi jornalista e poeta.
Filho de Brás Martins dos Guimarães Bilac e de Delfina Belmira dos Guimarães Bilac, após o término da educação liceal, iniciou o curso de Medicina na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, que não chegou a concluir. Tentou, então, a Faculdade de Direito de São Paulo que também não terminou.
Com 19 anos publicou o seu primeiro poema na imprensa, na “Gazeta de Notícias” (jornal carioca) facto que representava toda a glória possível para um candidato a poeta. Era o soneto “A sesta de Nero”, que foi incluído mais tarde no seu primeiro livro “Poesias”, editado 4 anos depois.

MÚSICA

Olavo Bilac escreveu em quase todas as revistas e jornais importantes do seu tempo e, em 1907, foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros”. Participante activo e requisitado da vida brasileira (e em particular da carioca), Bilac defendia fervorosamente a abolição da escravatura e os ideais republicanos. Jornalista de oposição ao governo de Floriano Peixoto, foi perseguido e chegou a ser preso. Bilac viveu de perto a fundação da Academia Brasileira de Letras (em 1896) de que foi membro fundador, as campanhas cívicas pela instrução e pelo serviço militar obrigatório (iniciadas em 1915) e a fundação da Liga de Defesa Nacional (em 1916), campanhas estas que o levaram a percorrer o Brasil em defesa e propagação dessas ideias.
Ao morrer, em 1918, o seu enterro foi acompanhado por uma enorme multidão.
As homenagens póstumas que lhe prestaram, a sua constante evocação em eventos cívicos e a sua presença na produção cultural mais contemporânea sublinham a importância de Bilac para a compreensão da cultura brasileira.

MÚSICA

Olavo Bilac foi uma das mais ricas personalidades da fascinante “belle époque” brasileira.
Foi poeta boémio, jornalista polémico, cronista, redactor de anúncios e autor de versos satíricos. Bateu-se em duelos, foi abolicionista, republicano e antiflorianista. Autor marcado pelo extremo rigor na linguagem e na forma, os seus sonetos são compostos em versos decassílabos perfeitos.
Os temas mais constantes são a beleza feminina e os momentos épicos da história brasileira.
A imagem que se criou dele oscila entre o perfil académico fiel à estética parnasiana e a aura de poeta popular cantado nas ruas e declamado nos salões.

MÚSICA

Vamos ouvir cinco poemas de Olavo Bilac. Começo por "A Boneca"

MÚSICA

Deixando a bola e a peteca
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.

Dizia a primeira: "É minha!"
— "É minha!" a outra gritava;
E nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.

Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.

Tanto puxaram por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.

E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando à bola e à peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca...

MÚSICA

Não és bom, nem és mau: és triste e humano...
Vives ansiando, em maldições e preces,
Como se, a arder, no coração tivesses
O tumulto e o clamor de um largo oceano.

Pobre, no bem como no mal, padeces;
E, rolando num vórtice vesano,
Oscilas entre a crença e o desengano,
Entre esperanças e desinteresses.

Capaz de horrores e de ações sublimes,
Não ficas das virtudes satisfeito,
Nem te arrependes, infeliz, dos crimes:

E, no perpétuo ideal que te devora,
Residem juntamente no teu peito
Um demônio que ruge e um deus que chora.

MÚSICA

Tens, às vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.

Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bárbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:

E em nostalgias e paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.

MÚSICA

Maldito invento dum baronete
Que dos cruzados neto não é.
É mais terrível que o voltarete,
Que a vermelhinha, que o lasquinet.

Dá mais partido para o banqueiro
Do que a roleta, que o dá copioso,
Haver não pode, no mundo inteiro,
Jogo mais certo, mais engenhoso.

Praga maldita, praga danada,
Maior que todas as pragas do Egito.
Que esta cidade traz devastada,
Triste e delgada, como um palito.

Pobre cidade, pacata outrora
Que só jogava o burro, a bisca,
E mais a víspora; hoje a devora
A jogatina, que tudo arrisca.

Joga o velho, joga o moço,
Joga o menino, a menina,
Joga a parda do caroço,
Joga a dama papa-fina,
Joga o Saco-do-Alferes
E o fidalgo Botafogo,
Jogam homens e mulheres,
Todos jogam; tudo é jogo!

Joga-se à luz meridiana,
À do gás e da candeia,
Joga-se toda a semana
Sem receio da cadeia.
Joga-se tudo bem descarado,
Roleta, solo, truco, manilha,
Marimbo, pocker, roleta, dado,
E o sete-e-meio e a rapa-pilha.

Porém dos jogos, mil e quinhentos,
Que nos assolam com seus caprichos,
Figura impávida, aos quatro ventos,
O pavoroso jogo dos bichos.

Se tem virtudes, altas e belas,
Dizer bem pode muitos magnatas,
Alvins, Ribeiros e Cabanelas,
E outros ilustres bicharocratas.

Em balde a nossa fina polícia,
Que tem às vezes um bom capricho,
Emprega força, tino e malícia
Não lhe é possível "matar o bicho".

MÚSICA

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....

MÚSICA

Ouvimos no programa de hoje uma nota biográfica e cinco poemas do poeta brasileiro Olavo Bilac.

Dois dedos de conversa

INDICATIVO

Não há dúvida que o Estúdio Raposa precisa de ir à bruxa. Já agora, conhece alguma de reconhecida competência, de resultados garantidos? Mas, falando a sério. Depois de todo o conteúdo deste audioblogue estar a ser usado para vender ringtones (toques de telemóvel) de forma abusiva que configura uma vigarice, o Estúdio Raposa serviu de poiso a hackers, em bom português, piratas informáticos, o que levou o servidor onde o blogue está alojado, a Acenet, empresa americana, a retirar o Estúdio Raposa da net. Este facto está a acontecer na quarta-feira dia 20 e, se está a ouvir este programa, significa que o problema está resolvido e que a Patrícia Furtado, mais uma vez, deu cabo das arremetidas dos inimigos.
Quando aos ringtones, estarei brevemente, a receber a opinião de um advogado especialista nestes assuntos. Logo que tenha mais informações, delas, darei, aqui, conta. Entretanto peço-lhe que não compre estes sons seja onde for. Já há mais outro site metido no negócio ilegal, também de origem chinesa, com o apoio da Vodafone, TMN e Optimus, empresas que se encarregam de cobrar este fraudulento serviço a quem cai na ratoeira.
E quanto à bruxa, não vale a pena pensar mais no assunto!
Até ao próximo programa

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