Estúdio Raposa

Lugar aos Outros 99
Leonardo Jorge Pereira

 

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O poeta brasileiro, Leonardo Jorge Pereira, disponibilizou a sua poesia para o programa de hoje.

MÚSICA

O Leonardo Jorge Pereira chegou ao Lugar aos Outros, empurrado por Alen Guimarães, o Poeta do Vento que já teve a sua poesia no programa 85.
Leonardo Jorge Pereira nasceu em Brasília e está, neste momento, em Portugal a fazer o mestrado em Ciências Educacionais na Universidade Técnica de Lisboa.
Tem por ofício a escrita: é redactor publicitário e gestor de marketing.

MÚSICA

A Leonardo Jorge Pereira, a paixão pela escrita que sempre o perseguiu, tornou-se mais exigente nos tempos da universidade, durante a passagem pela Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. "Bons tempos" , diz Leonardo Pereira, “tempos de saraus, luaus e de muita boémia.
Aqui um pequeno parêntesis para assinalar esta palavra, luau, que Leonardo Pereira usa e que eu não conhecia. Procurei no nosso dicionário da Academia das Ciências de Lisboa e...nada. Felizmente o Houaiss mora por cá e lá estava: luau, festa informal que se realiza na praia, com música ao vivo, dança, bebidas, etc.
Pena que não conste no nosso dicionário. Acho a palavra muito interessante. Luau. Vou passar a usá-la. Bem, farras na praia já não estão no meu horizonte, mas nunca se sabe.

MÚSICA

Depois dos luaus, a poesia ficou um pouco adormecida mas a chegada a Lisboa e o respirar da poesia de Fernando Pessoa que se vive na Lisboa mais antiga, trouxe-lhe a inspiração para reunir os seus poemas em livro a que dará o título de” Boemia, Poesia, Mulheres e Fotografias”. cuja edição está a aguardar oportunidade.

MÚSICA
Vou ler, de Leonardo Jorge Pereira, 4 poemas, ouvidos sem interrupção.

MÚSICA

Noite quente, aguardente,
mulheres das quais não lembrarei
pela manhã, nem do nome,
nem da face, nem do gosto.

Pela manhã, em minha boca,
só o gosto amargo da madeira
donde envelheceu a aguardente
que transfigura-me, decrépito!

Depois da boemia, da cachaça, das mulheres
astutas, ordinárias, malditas emboscadas,
depois das tolices que cometi entorpecido.

Restam-me pela manhã somente como álibi,
a pena, a carraspana, a fronte latejante,
e o café amargo, traduzidos em medíocres versos.

MÚSICA

Aparição, palidez, face delicadamente enrubescida,
brandamente magra, extraordinariamente bela.
Uma noite fria, um vinho quente, como
a cor dos teus cabelos, vermelhos!

Vermute, absinto, tonto, desnudo por teu cheiro,
almejo ser percebido, tocado por tua candura imaculada.
Surge como um sol em minha noite insana, insossa, remitente,
surge branda, calmamente como sol de outono, rubra incandescente.

Furor que sangra, flama que escorre por meu peito
como lava, que aflora, que jorra sobre Vulcano,
é teu cio germinando, brotando minha terra.

Teu fogo adormecido veio à tona, palidez tornou-se calor,
vivacidade, onde agora encontro abrigo, esconderijo,
fugindo do mundo que há tempos exaltei.

MÚSICA

Vida: caminho percorrido, tempo restrito,
intervalo único no universo capaz
de eternizar o sonho, a chance
de auferir, abrandar.

Amargas, afetuosas, palavras;
Estações bem-aventuradas;
Fortalecendo dificuldades;
Humanizando saudades.

Volição, destino escorrendo entre dedos;
Benção, equilibrando repentinos danos;
Imprecisão, dúbios estranhos desejos.

Lírios, delírios, devaneios flamam;
Segredos, desabafos declamam;
Vícios, riscos, mistérios clamam.

MÚSICA

Minha preta me ganha,
me olha, me acanha,
me arranha, me assanha.

Teu cheiro que fica;
Teu gosto que dura;
Teu toque que entranha.

Meu vício, meu risco,
minha cura, meu ópio,
me cuida, me acuda.

Beleza crua;
Tua pele nua;
Tua carne dura.

Teu cabelo, um penteado, um cotejo amedrontado.
Tuas pernas, que fujo com receio do vício.
Tua cor, que quero como parte de mim.

MÚSICA

Ouvimos, neste programa, poesia do autor brasileiro, neste momento a estudar em Portugal, Leonardo Jorge Pereira. Obrigado, Leonardo, por ter disponibilizado a sua poesia.

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