Estúdio Raposa

Lugar aos Outros 92
Larissa Braga

 


Nota prévia: devido a um lamentável erro o nome da autora não está dito correctamente, na gravação. Do facto peço muita desculpa a Larissa Marques e aos ouvintes.

INDICATIVO

Larissa Marques é a autora brasileira que, com a sua poesia, vai preencher o programa de hoje

MÚSICA

Larissa Pinto Marques Braga, de seu nome completo, sem ter passado pelas escolas é hoje uma mulher das artes aplicando a sua criatividade na escrita e nas artes plásticas. Nasceu em 1974, na cidade de Itumbiara, interior de Goiás, e reside em Sobradinho, Distrito Federal.

MÚSICA

Larissa Marques traz à sua escrita o tom existencialista que a acompanha desde muito jovem. A consternação, o confrontamento, o inconformismo, fazem parte de sua personalidade. A sua voz feminina, de descontentamento, é a marca registrada de seus trabalhos.
Confessa-se aprendiz eterna de Virgínia Woolf, Simone de Beauvouir, Sylvia Plath, Hilda Hilst, Lou Salomé e Anaïs Nin. Com elas entendeu o essencial sobre a sua feminilidade.

MÚSICA

Larissa Marques já escreve há mais de dez anos e expõe a sua obra na internet, em jornais especializados em literatura e revistas voltadas para a arte.
Proprietária da Editora Utopia, tem 3 livros editados: O oco e o homem, Infernos Íntimos e Entre o negro e o nada.
Muito do seu trabalho está disponível em blogues próprios assim como no Recanto das Letras, conhecido espaço literário brasileiro.

MÚSICA

Vamos ouvir, sem interrupção, cinco poemas de Larissa Marques

MÚSICA

Vadio e vago
Canta meu verbo
Arredio de rimas
Preso em versos
Bravo e seguro
No atono tom
Falta-te sonhos
Odeia ilusões

Cândido e vencido
Amarelado e puído
Rasga-se em notas
Oxidadas como a vida
Vê o verso parido
Falho e carcomido
Que desce como baba
Viscosa e mal cheirosa

Tardio e avulso
Solto de impulso
Numa voz que se cala
E num descuido fala
Vá e sê livre
Rompe a dor interna
Instala-se nos cantos escuros
E nas sombras da ignorância.

MÚSICA

Não repare
Não me olhe muito
Pois percebi agora
Que meu olho esquerdo
É enorme
Mais permissivo
Mais revelador
Menos punitivo
Menos constrangedor
Quem me dera tivesse
Dois olhos esquerdos
Para ver apenas um lado
Para perceber melhor os outros
Pois meu olho direito
Só inflama
Só me reprime
Só me engana.

MÚSICAUma vida cinza
Escrita com mãos pálidas
Com unhas carmim
Os olhos apáticos
Poemas traumáticos,
Linfáticos,
Catatônicos...
A miopia desconhece
A vastidão inóspita
De uma vida entre o negro
E o nada.

MÚSICA

cansei de declarar-me
uma romântica incurável
tudo tem remédio
com exceção
dos tédios
e a icterícia hepática
etílica
contraída pelas dores
de dissoluções amorosas

afoguei meus homens
e pude vê-los verdes
em garrafas de sinto
abdiquei-me deles

não uso dos placebos
cafés fortes
banhos gelados
quero acabar
nos vômitos alheios
nos meus parcos seios

não há cura para
egoísmos cínicos.

MÚSICA

somos anas
iscas
faíscas

anas
franciscas
malícias

bem
mal
e fictícias.

MÚSICA

Ouvimos no programa de hoje, poemas de Larissa Marques, escritora e artista plástica brasileira a quem agradeço o ter disponibilizado a sua poesia.

INDICATIVO