INDICATIVO
Neste programa, a poesia de Vicente Ferreira da Silva.
MÚSICA
O Vicente Ferreira da Silva nasceu e vive no Porto, há 43 anos.
Tem formação académica em Gestão de Transportes e Estudos Europeus, Relações Internacionais.
Confessa que as suas grandes influências na escrita poética são Sophia de Mello Breyner e Gabriel de Mariz que com os seus livros “Sonhos Breves” e “Capricho de papel” se tornaram nas raízes da sua produção poética.
MÚSICA
Vicente Ferreira da Silva publicou em 2005 um livro de poemas, do qual retirei os que vamos ouvir neste programa, intitulado “Letras, palavras e linhas - Gestos pela indiferença” cujos direitos ofereceu à AMI.
Natural, pois, que o prefácio do livro seja de autoria de Fernando Nobre, onde se pode ler o seguinte:
Quando o Vicente me convidou para escrever o prefácio do seu livro "Letras, palavras e linhas: gestos pela diferença" fiquei indeciso e pensei recusar tão honroso e delicado convite. Não sendo eu poeta, como abordar a poesia de um homem sensível, interessado pelo Mundo e
amante do conteúdo das palavras e da musicalidade e profundidade das linhas transformadas em poemas que nos tocam, nos comovem, nos interpelam? Grande desafio para o qual, confesso, não estou preparado.
Só sei que me surpreendi pela singeleza das palavras que com mestria colocadas constroem verdades que se enraízam em nós, em profundidade. E assim que no seu poema Os Sonhos nos ilumina quando diz que" ... os sonhos são momentos que permitem voar, pois conseguem
libertar os mais ansiados pensamentos. Os sonhos só serão sonhos se assim os quisermos manter". Sonhador que sou, fiquei tocado pelo belo.
MÚSICA
Vamos ouvir cinco poemas, que como já disse, foram retirados do livro “Letras, palavras e linhas - Gestos pela indiferença”, trabalho sobre o qual Vicente Ferreira da Silva diz:
Estes poemas resultam de reflexões sobre os actos humanos e da importância que um gesto de humanidade pode ter na vida quotidiana. Gostaria de, com eles, contribuir para os horizontes de consciência social e para a luta contra a indiferença e a intolerância.
MÚSICA
Por todo o lado
ecoam.
Milhões de vozes!
Uníssonas.
Confusas.
Sentidas.
Presentes,
mas em rumos diferentes
convergidas.
Entre si, destoam.
Umas, falam de dor.
Outras, ferozes,
professam a guerra
com ardor.
No meio de gritos atrozes,
o mundo berra.
Vozes!
Erguem-se,
sonoras,
sem qualquer clamor.
Milhões!
Ouvem-se?
Distinguem-se?
MÚSICA
Pensei,
por momentos,
que os Argonautas
tivessem morrido em vão.
Perguntei,
inúmeras vezes,
Onde está?
Onde está Teseu?
Desejei,
todos os segundos,
que o Velo de Ouro
estivesse aqui, à mão.
Desesperei,
sem motivo
ou qualquer razão.
Aventuras épicas,
lendas e narrativas
misturadas
em realidade.
Vislumbrei
em Teseu
o homem,
nos Argonautas
o espírito humano
e no Velo de Ouro
a possibilidade.
Sosseguei.
Afinal,
escrevemos hoje
a tradição de amanhã.
MÚSICA
Na escuridão,
a humanidade é submersa.
Faz-se a morte,
vende-se a vida.
Gratuitamente!
Habilmente!
E o banho dos inocentes é vermelho.
Nas vigílias praticadas,
os nomes são recordados.
Mas, as luzes estão sepultadas
e até os mártires são utilizados.
E do exemplo, enorme, apenas restou
uma ténue faúlha que se extingue,
no sangue
dos injustiçados sem nome.
Sem castigo,
em nome da justiça e do bem,
pratica-se o crime.
Continuamente!
Impunemente!
MÚSICA
Quem me dera ter
a possibilidade
de percorrer
uma nova oportunidade.
Tentaria
os meus erros não repetir.
Não
para atingir
uma vivência de perfeição,
mas com a intenção
de os assumir.
Quem me dera
proferir
uma afirmação
e ter a coragem
de os reconhecer.
Uma mensagem
elaborar,
na minha vicissitude
me encontrar
e pela sua plenitude
me revestir.
Quem me dera
passar de ente incompleto
a um ser
mais completo.
Não
para me tornar mais,
mas
para ser um entre iguais.
Quem me dera
por
essa redenção,
uma maneira de expiação
atingir.
O espírito sossegar
e a alma aliviar.
a meu todo reunir
e assim
evoluir.
MÚSICA
Vida.
A minha ou a tua?
Espécies.
Milhões,
que coexistem em dois,
na beleza
harmoniosa da natureza.
O Homem.
A face visível
de um apocalipse
lento e sofrível.
Civilizações.
Separadas
por DEUS e religiões.
Ainda hoje!
E no próximo também,
apesar de aparentadas.
Entendimento.
De pontes,
erguidas,
mas que não alcançam as margens.
Sob que fundamento?
Horizontes.
O meu e o teu.
Poderá ser algum dia o nosso?
Angústia.
Por uns provocada,
por outros vivida.
Por muitos sentida,
por ninguém merecida.
MÚSICA
Ouvimos, neste programa, “Lugar aos Outros” 107, poemas de autoria de Vicente Ferreira da Silva, retirados do seu livro “Letras, palavras e linhas - Gestos pela indiferença”, Ao Vicente os meus agradecimentos pela disponibilidade.
INDICATIVO