Estúdio Raposa

Lugar aos Outros 105
Sandra Fonseca

 

INDICATIVO

Uma poetisa brasileira, de seu nome Sandra Fonseca vai, hoje, mostrar-nos o seu trabalho. Do Belo Horizonte para Portugal, Sandra Fonseca.

MÚSICA

Sandra Fonseca, de seu nome completo, Sandra Maria Batista Fonseca é brasileira de Belo Horizonte.
É uma psicóloga apaixonada pela sua profissão ao que junta outra paixão: a escrita.
Há cerca de dois anos começou a mostrar a sua poesia na blogosfera em blogue próprio e noutros, dedicados à literatura. Nesse mundo assina, muitas vezes com o pseudónimo de Isabor Navarro.

MÚSICA

A poesia de Sandra Fonseca tem nuances realistas na sua própria opinião. Valoriza muito o soneto estilo poético que considera como exercício interessante em versos fixos, embora a grande maioria dos seus poemas sejam em versos livres, de grande lirismo e carregados de emoção.

MÚSICA

Sandra Fonseca, já teve trabalhos seus em duas antologias, uma publicada no Brasil, outra em Portugal e ainda numa outra de âmbito digital.
A Sandra tem um sonho: ver em livro os seus poemas com lançamento simultâneo no Brasil e em Portugal.
E enquanto esse sonho não passa à realidade, nós, vamos ouvir cinco dos seus poemas. Com os seguintes títulos:
Solidão das mulheres poetas,
Bebi a lua,
Canto para comover Manuel,
Numa palavra e
Mulher fases

MÚSICA

Eu
Faço versos
Como quem ora,
Desfiando o tempo
Esse infinito terço,
Entre os cinco dedos
Dessa minha mão.
Como essas notas
Que eu ofereço,
Pequenas contas
De uma emoção.
 
Eu
Faço versos
Como quem chora
O pranto eterno
Mãe da noite escura,
Que perde o filho
Quando rompe o dia,
E em desespero
Vê chegar a aurora.
 
Eu
Faço versos
Como quem mora
No leito triste
De uma câmara fria,
Compondo um tecido,
Versos de agonia,
Neste curto espaço
Onde só cabe agora,
O aço,
A lâmina dura
Que em mim demora.
 
Dor que me carrega
Madrugada afora,
Numa viagem cega
Mal que não tem cura...

MÚSICA

Bebi a lua
Entornada em pranto líquido,
Em filetes grossos
De prata.
Lívida era
A minha face,
E o vento acariciava
Os meus cabelos
De repente,
Transformados
Em hastes
Ferindo pontas de dedos.
 
Viajei na madrugada
Libertei fantasmas,
E encontrei
A magia das mandrágoras,
E quando cortei
As dores pela raiz,
Mais alto elas choraram.
 
Jogada em leitos
De rios de quimeras,
Sou afluente de tudo,
E me encontro,
Se devoro as flores
Antes dos frutos,
Se  sou ave,
E aspiro ao pólen,
E sorvo o néctar,
E de gritos
Eu preencho
Os meus ouvidos internos,
E nas línguas de fogo
Do lirismo,
Eu me queimo.

MÚSICA

Se andei tantos caminhos
Paisagens de ti, cismada e triste
E nem sei mais se existe
Ou se inventei.
Eu que fui  aprendiz de poeta e sereia
E o meu leito é feito só das águas
E das areias,
De todos os cantos que guardei.
Se o meu maior desencanto
É perder-me de ti
Quando sequer te encontrei.
 
Se o meu canto não te comove,
E não sei de esquecimento,
E nem do nome eu sei
Para compor o meu lamento,
Se Tristão, Romeu,
Astronauta na lua,
Prometeu.
 
E o meu amor é fundante
Das quimeras todas,
É pedra sobre o corpo
É puro diamante
Cortando vidros e espelhos.
 
Se o meu amor navegante,
É tolice em seu apelo,
Ave sem rumo, rondante,
No círculo do seu desejo,
Na voragem de te amar.
 
E eu sem ti,Manuel,
Sou como flor agonizante
Naufragando em rio
Sem jamais chegar ao mar.

MÚSICA

A alma,
Invisível, se revela,
Quando alinho-a
Paralela,
Aos contornos do sagrado.
Se esvazio-me das dores,
Desamores, querelas.
Se, num breve átimo,
Espasmo de tempo,
Pronuncio leve,
A palavra.
Folha sem destino
Ao vento, primavera.
Primeira estrela sem promessa,
Sem norte,
Na sorte de arriscá-la,
Etérea.
Fugaz como um pensamento,
Sem temor,
Perdê-la!

MÚSICA

Respiro nas interfaces,
Mulher lunar que sou
E de vestir de Vênus assim,
Não me acrescento majestade.
Mais alto
Levanto os ombros,
Empino o meu nariz
E deslizo num chão rude,
A minha saia estampada
De girassóis imaginários.
Entre as ruínas
Construo afetos,
Com ténues raios de sol
Bordo um tecido eterno,
E me perfumo.
Envolvo-me de brisas
Oceânicas,
Faço reverência
A um ser sagrado,
Totem imaginário
De um Deus antepassado.
Tenho intuições
Que vêm em ondas,
Alterno calmarias
E tantos desatinos,
Eu fico tonta.
Sei que toquei o ventre da lua
Em espasmos
De parir um astro,
Desde então fico estranha,
Tenho saudades.
E não durmo.
Sobrevoo as cidades,
Arrasto um manto
Noturno,
De estrelas,
E sem descanso,
Eu sonho...

MÚSICA

Ouvimos no programa de hoje a poesia de Sandra Fonseca, uma psicóloga que ama a sua profissão e a poesia. Obrigado, Sandra. Até ao próximo programa.

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