Estúdio Raposa

Lugar aos Outros 103
Carla Ribeiro

 

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Vamos ouvir, neste programa, poesia de Carla Ribeiro

MÚSICA

A Carla, no que respeita à sua biografia deixou-me com meia-dúzia de linhas que pouco passavam do Bilhete de Identidade. Inconformado, numa busca pelos seus espaços na net dei com suficientes palavras para, na sua própria voz, ficarmos a saber um pouco sobre Carla Ribeiro

MÚSICA

Diz, Carla Ribeiro:
Natural de S. Martinho de Mouros, vim ao mundo a 20 de Julho de 1986. Desde sempre tive uma compulsão desenfreada pelos livros, mas comecei a levar a sério as palavras que me nasciam no pensamento quando tinha cerca de 14 anos. Foi a partir daí que comecei a pensar em abrir ao mundo as portas do meu pensamento e a participar em concursos literários. Tenho pelas palavras a paixão compulsiva de quem caminha pelo mundo guiada pela voz da escrita.
Tenho as minhas pequenas manias. Quem me vê passar por aí, encontrar-me-á provavelmente com um caderno nas mãos e certamente que a minha caneta habitual (preta, evidentemente) não andará longe. As ideias surgem quando menos as espero e, como tal, tento não as deixar fugir.

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E continua, Carla Ribeiro:
No aspecto prático da minha vida... Bem, sou estudante de Medicina Veterinária e, depois de cinco anos na UTAD, estou de momento a estagiar numa clínica veterinária em Eibar. O que o futuro me trará depois... não sei. Veremos.

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Presumo que todos os que escrevem tenham leituras que mais os influenciaram. As minhas são as obras de escritores como Edgar Allan Poe, Fernando Pessoa, Florbela Espanca e Antero de Quental, bem como de muitos dos grandes nomes da fantasia actual: Anne Bishop, Georg Martin, Jonathan Stroud e Marion Zimmer Bradley.

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E agora, eu acrescento:
A Carla Ribeiro já foi premiada em vários concursos literários e tem textos publicados em diversas antologias e publicações na internet. Publicou 7 livros com os seguintes títulos: “Estrela sem Norte”, “Alma de Fogo”, “Canto de Eternidade”, “Herdeiros de Arasen, vol. I”, “Herdeiros de Arasen, vol. II” , “O Deus Maldito” e “Alma Abandonada”.
Vamos ouvir 5 poemas de Carla Ribeiro intitulados: Immeritus, Nostalgia, Sanguínea, As mãos que suplicam e Envelhecida

MÚSICA

Não se calou a estrada de mil horas
Que levou os meus passos à traição,
Nem o canto da vil acusação
Que me embalou entre antes e agoras.

Distantes vultos de ausentes outroras
Estilhaçaram a minha tradição,
Enquanto o fogo da ardente paixão
Morria entre silêncios e demoras.

Persiste ainda um olhar de censura
No negro leito de ausente amargura
Que embala o meu sonhar incoerente,

Mas há um rosto cansado e contrito
Que procura nos céus o veredicto
Num desolado grito de inocente!

MÚSICA

Deixei tombar na noite os membros lassos,
Pesados de tanta dor suportar,
E, entre recordações de um outro amar,
Desfaleceu o eco de meus passos.

Prostrada por angústias e cansaços,
Caí para nunca mais me levantar
E, no abismo da esperança sem lugar,
Pintei em sangue o meu cantar de traços.

Dormente embalo sem sombras nem cor,
Afoguei no destino o meu amor
E da paz a breve cintilação,

Para me perder entre horas destroçadas
Que, em meu espírito, embalavam os nadas
Da sempre renascida escuridão.

MÚSICA

O espírito,
O canto que se perde entre o sussurro e a voz,
A noite…

O indeciso embalo dos alvores fulgurantes
Que, dentro do peito, ardem a cor de sangue
E embargam o lamento
Na mordaça do ressentimento que envolve a alma
Com a negrura do seu abraço mortal.

A morte…
Depois da morte, o nada,
O deserto vazio que a distância traçou no horizonte,
Como um demónio prostrado em adoração
À divindade solar…

A chama
Que consome o enredo dos mais ínfimos sentidos
No constante dilacerar dos pensamentos imortais,
O fogo de Prometeu devorando a eternidade,
Estendendo trevas por sobre os lençóis do mundo
Onde se apagam as vozes do absoluto…

A totalidade.

MÚSICA

Estendidas
No fogo que mancha a pele de um fogo nada comum,
Invadindo com a bruma os recessos do silêncio
Sob os amplexos da dominação…

Trémulas borboletas de asas quebradas,
Abandonadas à revolta dos oceanos interiores
Que rasgam o fragor dos pensamentos imortais
Com a fraqueza do sentimento…

Tombadas
Sobre o colo desfalecido do anjo morto
Que rasga o solo com as asas ensanguentadas
Que, profanadas pela poeira dos séculos
E quebradas pela mão de um destino quase fatal,
Perderam, até, a vontade de voar…

MÚSICA

Desceu sobre o meu corpo
O desfalecer dos tempos indecisos
Que me rasgaram a carne nos traços de sangue
Que pintaram os meus séculos.
Hoje, sou só como a miragem mirrada
Que, do outro lado do espelho,
Me fita com o olhar cansado da velhice
E as vermelhas pálpebras da dormência da eternidade.
Espelha-se na palidez da pele exaurida
A tinta de lágrimas que pintou a sombra
A estrada da devastação
E eu sou somente a voz do anjo fugitivo,
Aos céus erguido em espelho de coragem,
Mas secretamente escondido,
Transido ante o pavor da escuridão.

MÚSICA

Ouvimos neste Lugar aos Outros, poemas de Carla Ribeiro, a quem agradeço a disponibilidade para participar neste programa.
E até ao próximo

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