Estúdio Raposa

História 98
"Joanico parvo"

 

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Vamos ouvir uma história politicamente incorreta. Não sabes o que vem a ser isso de “politicamente incorreta”? Pergunta aos teus pais e vais ver como ele ficam atrapalhados ao responder-te. A história chama-se “Joanico parvo” e é umas das histórias contadas por Xavier Ataíde de Oliveira no seu livro “Contos tradicionais do Algarve.

MÚSICA

Havia em tempo uma mulher que atraiçoava o marido. Fingia-se
sempre doente e triste. Como ela visse que o marido já não saía de noite por causa da sua fingida doença, disse-lhe:
- Talvez se trouxesses para casa um rapaz aparvalhado, as suas
parvoíces me alegrassem e me despertasse a vontade de comer.
O homem no dia seguinte encontrou um rapaz aparvalhado e
perguntou-lhe como se chamava.
- Joanico Parvo, respondeu o garoto. E levou-o para casa.
No dia seguinte saiu o marido. À boca da noite o Joanico viu
entrar em casa um frade e a sua patroa assar um grande pedaço de
presunto, comprar uma boa garrafa de vinho e um pão branco. O
Joanico estava sentado ao fogo da lareira. Quando os dois iam cear,
ouviram-se passadas à porta. Ela escondeu o frade no armário, e guar-
dou num lugar o pão, no outro a garrafa de vinho, e no outro o
presunto assado.
Era efetivamente o marido que voltava para casa por lhe apare-
cer outro negócio naquela terra.
O bom homem sentou-se ao fogo e pôs-se a brincar com o parvo
e a rir com ele.
- Ai, tio Zé, disse o parvo, vocêa tem os dentes mais brancos,
mais brancos, do que o pão que a tia Maria escondeu na gaveta.
A mulher acudiu logo: não faças caso, homem, é um parvo. O
marido riu-se muito. Daí a pouco tornou o parvo:
- Vocêa, tio Zé, está mais vermelho, mais vermelho, do que o
vinho da garrafa que a tia Maria escondeu dentro do cântaro da água.
Novamente a mulher pôs-se a dizer que não desse crédito ao parvo.
Mais tarde tornou o parvo:
- Momecêa, tio Zé, está mais torriscado, do que o naco de pre-
sunto que a tia Maria escondeu no armário pequeno.
A mulher estava já fula, mas fingia-se cheia de paciência e dis-
se ao marido que não desse crédito às tolices do parvo.
Por último pôs-se o parvo a mirar bem o patrão e disse:
- Vocêa, tio Zé, sempre é muito comprido! É ainda mais com-
prido do que o frade que está escondido no armário grande.
Então a mulher pôs-se a ralhar com o parvo e a dizer ao marido
que não acreditasse no garoto.
Passados momentos o marido mandou o parvo que fosse buscar a
garrafa, o pão e a carne, e puseram-se, ambos a cear. Em seguida fechou a porta da rua, foi buscar uma tranca e abriu o armário grande. Lá
encontrou o frade. Mandou-o sair, e deu-lhe um sova mestra.
Nunca mais a mulher se fingiu doente, porque o marido não ces-
sava de tocar-lhe o fogo na região do espinhaço, sempre que ela se
queixava de fastio.

MÚSICA

Esta foi uma história que fui buscar ao llivro de Xavier Ataíde de Oliveira, “Contos tradicionais do Algarve.

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