Estúdio Raposa

História 92
O Padre e a Inocencia

 

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Vamos ouvir, aqui, uma história de padres. Fui buscá-la ao livro “Antologia de contos populares” de Alexandre Parafita, editado pela Plátano.

MÚSICA

Noutros tempos não havia festa de aldeia que não metesse um longo sermão. E nem qualquer padre servia para essa tarefa, pelo que era preciso ir, às vezes bem longe, saber de um que desse conta do recado. Tanto mais que, quanto mais longo fosse o sermão - achava o povo - mais santificada seria a festa. Por isso, os padres pregavam, pregavam, diziam vezes sem conta as mesmas preces, as mesmas frases ... e os paroquianos, as mais das vezes, não chegavam a entender coisa nenhuma.
Conta-se na aldeia de Possacos, concelho de Valpaços, que um destes padres estava, certo dia, a fazer um sermão na festa de Nossa Senhora das Neves, e que, falando sobre a inocência e os perigos que ela corre, dizia:
- Meus irmãos, olhai que a inocência é cega! Mas dali a nada, voltava a dizer:
- A inocência é cega! A inocência é cega!
Disse-o uma vez, outra vez, outra e outra ... Entretanto os paroquianos, bocejavam uns, outros dormitavam, e pouco ou nada chegavam a ouvir.
Encontravam-se, contudo, entre a assistência duas velhotas cegas, uma das quais se chamava Inocência, e que, cansada de ouvir o padre a repetir sempre o mesmo palavreado, a dada altura levantou-se, e disse:
- Arre, porra! Aqui a Rita, que está ao lado, também é cega, e o raio do padre não fala nela!

MÚSICA

A história que acabámos de ouvir hoje, foi recolhida por Alexandre Parafita e pode ser lida no seu livro, em dois volumes e editado pela Plátano, “Antologia de contos populares”

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