Estúdio Raposa

História 78
A Romãzeira do Macaco

 

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A Romãzeira do Macaco é como se chama a história que vamos ouvir. Fui buscá-la ao livro de Adolfo Coelho, “Contos Populares Portugueses”, editado pela Ulmeiro

MÚSICA

Era uma vez um macaco que estava em cima de uma oliveira a comer uma romã; sucedeu que caiu um grão da romã para a terra em que estava a oliveira e, passado pouco tempo, nasceu uma romãzeira.
Quando o macaco viu a romãzeira nascida, foi-se ter com o dono da oliveira e disse-lhe: «Arranca a tua oliveira para crescer a minha romãzeira.»
Respondeu o homem: «Não estou para isso.»

Foi-se o macaco ter com a justiça e disse-lhe: «Justiça, prende o homem para que arranque a oliveira, para crescer a minha romãzeira.» Responde a justiça: «Não estou para isso.»

Foi-se o macaco ter com o rei e disse-lhe: «Rei, tira o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Responde o rei: «Não estou para isso.»

Foi o macaco ter com a rainha: «Rainha, põe-te mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Respondeu a rainha: «Não estou para isso.»

Foi-se ter com o rato: «Rato, rói as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Responde o rato: «Não estou para isso.»

Foi-se ter com o gato: «Ó gato, come o rato, para ele roer as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Responde o gato: «Não estou para isso.»

Foi-se ter com o cão: «Ó cão, morde o gato, para ele comer o rato, para ele roer as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Responde o cão: «Não estou para isso.»

Foi ao pau e disse-lhe: «Pau, bate no cão, para o cão morder o gato, para ele roer as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Respondeu o cão: «Não estou para isso.»

Foi ter com o lume: «Lume, queima o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele roer as saias da rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»
Disse o lume: «Não estou para isso.»

Foi ter com a água: «Ó água, apaga o lume para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele roer as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.».»
Disse a água: «Não estou para isso.»

Foi ao boi: «Ó boi, bebe a água para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele roer as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira..» «Não estou para isso.»
Foi ao carniceiro: «Carniceiro, mata o boi para ele beber a água, para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele roer as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.» «Não estou para isso.»
Foi ter com a morte: «Ó morte, leva o carniceiro, para ele matar o boi, para ele beber a água, para ela apagar o lume, para ele queimar o pau, para ele bater no cão, para o cão morder o gato, para ele roer as saias à rainha, para ela se pôr de mal com o rei, para ele tirar o poder à justiça, para ela prender o homem, para ele arrancar a oliveira, para crescer a minha romãzeira.»

A morte ia para levar o carniceiro e ele disse-lhe: «Não me leves que eu mato o boi.»
Disse o boi: «Não me mates que eu bebo a água.»
Disse a água: «Não me bebas que eu apago o lume.»
Disse o lume: «Não me apagues que eu queimo o pau.»
Disse o pau: «Não me queimes que eu bato no cão.»
Disse o cão: «Não me batas que eu mordo o gato.»
Disse o gato: «Não me mordas que eu como o rato.»
«Não me comas que eu roo as saias à rainha.»
Disse a rainha: «Não me roas as saias que eu ponho-me de mal com o rei.»
Disse o rei: «Não te ponhas mal comigo que eu tiro o poder à justiça.» Disse a justiça: «Rei, não me tires o poder que eu prendo o homem.» Disse o homem: «Justiça, não me prendas que eu arranco a oliveira.»
E o homem arrancou a oliveira e o macaco ficou com a sua romãzeira.

MÚSICA

E pronto. Chegámos ao fim de mais uma história tradicional portuguesa recolhida por Adolfo Coelho.
Para a semana há mais.

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