Estúdio Raposa

História 75
A Filha do Alfaiate

 

INDICATIVO

A Filha do Alfaiate é o nome da história que vamos ouvir. Aqui vai ela.

MÚSICA

Havia em tempos antigos um príncipe muito estimado pelas suas excelentes qualidades: falava com toda a gente e era por todos respeitado. Seu pai era um rei adiantado em anos e também muito querido.
Teve o príncipe de ir a uma guerra, e todos sentiam que ele se fosse expor a combates, sendo tão criança, apenas contava dezasseis anos. Não havia remédio, pois que o rei era velho. Cada um fez suas promessas pelas venturas do príncipe e as que mais deram nas vistas foram as feitas por três filhas do alfaiate do paço. A mais velha prometeu fazer um fato ao príncipe que coubesse dentro da casca de uma laranja; a do meio prometeu fazer outro fato que coubesse dentro de uma noz; e a última prometeu tirar três pingas de sangue do príncipe sem que este sentisse.
Saiu o príncipe numa nau, e atrás a filha mais nova do alfaiate, sem que o príncipe o soubesse. O primeiro combate deu-se em Lôr. Aí assentou o príncipe a sua barraca de campanha, e em frente mandou a filha do alfaiate armar a sua. O príncipe não a conhecia e namorou-se dela, tendo dela uma filha, à qual foi posto o nome de Lôr, sem que o príncipe de tal soubesse. Vencido o combate, dirigiu-se o príncipe a outra cidade, chamada Sôr, onde também levantou a sua barraca. Em frente levantou a filha do alfaiate também a sua; e de tal modo se disfarçou, que o príncipe a namorou, supondo outra. Conservou-se ali outro ano, e desta segunda namorada teve o príncipe outra filha, que sua mãe baptizou com nome de SÔr. Saiu-se o príncipe vencedor e partiu para outra cidade chamada Cristaromana, e aí sucedeu-lhe como das duas vezes, namorando-se de outra jovem e tendo desta uma filha, baptizada com o nome de Cristaromana.
O príncipe, como das duas vezes, ficou igualmente vitorioso nestes combates, e o inimigo foi forçado a fazer pazes, com as condições que o príncipe quis.

Saindo vencedor em todos os combates, o príncipe tratou de voltar ao seu país. A filha do alfaiate trouxe consigo a última filhinha e passando pelas outras cidades trouxe também as outras duas filhas, que ali deixara a criar.
Havia cinco anos que o príncipe deixara o palácio do seu pai e por isso eram grandes os festejos que se preparavam à sua chegada. Afilha do alfaiate que saíra sem que ninguém desse pela sua falta, chegou primeiro do que o príncipe.
Dias depois chegou o príncipe e toda a gente o foi esperar com muitas músicas e muita alegria, dirigindo-se ele, acompanhado do velho rei, seu pai, e dos fidalgos da corte, a casa do alfaiate para receber os presentes, que as filhas do mesmo alfaiate tinham prometido. Todos sabiam que as duas filhas mais velhas eram de uma grande habilidade, mas esperavam ver como a mais nova se saíra.
A mais velha apresentou efectivamente dentro da casca de uma laranja um fato completo de príncipe, de uma fazenda tão fina e tão bem trabalhada que a toda a gente causou admiração; e a filha do meio foi ainda mais longe, pois que, dentro de uma casca de noz, apresentou um fato completo de príncipe, mais fino e melhor trabalhado do que o de sua irmã.
O príncipe confessou-se muito agradecido ao receber as duas prendas.
Apareceu a filha mais nova, e então o príncipe censurou-lhe o exagero da sua promessa, pois que nas suas mãos nunca podia existir a faculdade de lhe tirar três pingos de sangue do seu corpo sem ele sentir. Então a jovem, muito corada e envergonhada, chamou em alta voz:
- Lôr! Sôr! Cristaromana!
Apareceram saindo do próximo quarto, três formosas meninas, que eram três verdadeiros retratos do príncipe. Todos ficaram admirados de tamanha semelhança. Então disse a filha mais nova do alfaiate:
- A primeira pinga do vosso sangue, meu príncipe, tirei-a do vosso corpo em Lôr, a segunda em Sôr e a terceira em Cristaromana. Lembrai-vos?
O príncipe confessou ser verdade. Então o velho rei, que estava presente, disse:
- Príncipe, são essas crianças vossas filhas perante a natureza, mas perante a lei somente depois do vosso casamento.
O príncipe compreendeu o sentido das palavras de seu pai, e casou no dia seguinte com a mãe das suas filhas. Houve grandes festas.

MÚSICA

Acabámos de ouvir uma história recolhida por Consiglieri Pedroso, intitulada “A Filha do Alfaiate”.
Até à próxima história, e muitas prendas no Natal.

INDICATIVO