Estúdio Raposa

História 69
O Coelhinho

 

INDICATIVO

Vamos ouvir uma história intitulada “ O Coelhinho” . Fui buscá-la ao livro de Consiglieri Pedroso, “Contos Populares Portugueses”.
Então vamos ouvir.

MÚSICA

Ia uma vez um homem apregoando: Quem quer cuidados? ..
E quando passou pelo palácio do rei, a princesa chegou à janela e viu flores.
Voltou-se para as aias e disse-lhes que lhas fossem comprar.
As aias compraram as flores que o homem levava e foram pô-las no jardim.
A princesa todos os dias ia ver os seus cuidados.
Andando um dia a passear, viu passar um coelhinho e disse à aia que lho apanhasse. A aia apanhou-o e prendeu-o com uma liga da meia.
Depois continuaram a passear, e enquanto deram uma volta pelo jardim, o coelhinho fugiu com a liga ao pescoço.
Ficou a princesa muito triste. No outro dia à mesma hora foi outra vez passear para o jardim e viu o mesmo coelhinho.
Disse à aia que o apanhasse; ela apanhou-o e prendeu-o com um lenço. Foram depois passear, e enquanto deram uma volta pelo jardim, o coelhinho fugiu com o lenço.
Quando veio a princesa com a aia, e não o viu, ficou muito triste.
No outro dia, à mesma hora, a princesa foi dar o Passeio do costume, e viu outra vez o coelhinho.
Tirou então uma corrente de ouro que trazia com o retrato do rei e disse à aia que prendesse o coelho e I que agora podiam passear descansadas, que ele assim não era capaz de fugir.
Mas o coelho, enquanto elas foram passear; foi-se embora com o cordão de ouro e o retrato. A princesa, quando veio e não o viu, foi para o palácio muito triste e caiu doente de desgosto.
Vieram os médicos e disseram que a doença de Sua Alteza era uma paixão e que lhe dessem passeios e a distraíssem.
Convocou-se muita gente para contar as histórias mais lindas à princesa, mas ela não lhes dava atenção.
Havia duas velhas irmãs, e um dia disse uma para a outra: - Ó mana, estava capaz de ir ao paço com as minhas histórias a ver se distraía a princesa!
A irmã começou a tirar-lhe isso da cabeça, dizendo-lhe que à princesa não lhe faltariam lá histórias mais bonitas que as dela. Mas a velha teimou e· disse:
- Não importa, eu sempre lá vou com as minhas!
E pôs-se a caminho, levando uma broa de milho e umas sardinhas assadas.
Chegando ao fim da estrada, viu um marco de pedra e sentou-se nele a descansar e a comer o pão e as sardinhas.
Nisto viu sair debaixo do marco de pedra, onde estava sentada, um jumento com umas cangalhas de prata e umas mãos a segurá-lo; mas não se via ninguém.
A velha esperou que ele voltasse e, quando o jumento veio, agarrou-se às cangalhas e foi descendo por uma escada até ir dar a um palácio muito rico.
Estava uma mesa posta de tudo o que era bom, e a velha foi por-se a comer.
Quando acabou, começou a reparar e viu muitas mãos a trabalharem, mas não via mais nada, nem pessoa alguma. Via só mãos.
Quando chegou a noite, deitou-se e, pela manhã cedo, viu entrar um coelho do lado do jardim.
O coelho foi-se banhar numa tina e tornou-se num formoso príncipe. Dirigiu-se para o espelho e começou a pentear-se e a dizer:
Ó pente com que me penteio,
Ó fitas primeiramente,
Quem me dera agora ver,
Quem de amores está doente!
Depois banhou-se outra vez na tina, fez-se de novo no coelho e foi-se embora.
A velha almoçou e, quando viu sair o jumento com as cangalhas de prata, agarrou-se a elas e saiu também.
Quando se viu na estrada, foi caminhando até ir ter ao palácio da princesa, e chegando lá disse que a queria ver para lhe contar uma história, que a havia de distrair.
A princesa estava deitada e, quando viu a velha, voltou-se para a parede. A velha não se importou e começou a contar.
A princesa, mal que ouviu falar no coelho, sentou-se logo na cama, pediu um caldo e disse à velha que continuasse.
Acabada a história, disse a princesa à velha que havia de ir com ela para ver o palácio e o coelho.
Começou logo a melhorar; e um dia, que já estava boa, foi com a aia e a velha para o pé do marco, a ver se vinha o jumento das cangalhas de prata. Foram pôr-se no sítio onde a velha tinha estado sentada, e daí a bocado apareceu o jumento.
Agarraram-se a ele e foram descendo, e a princesa muito admirada de ver tanta riqueza e as mãos a trabalhar sem se ver ninguém.
Cada vez mais admirada foi entrando pelo palácio e vendo tudo.
Foram ter a uma casa, e a aia quando ia a entrar deu um grito e voltou para trás.
A princesa perguntou o que era, e a aia disse-lhe que era um homem morto.
A princesa disse-lhe que entrasse, e, como ela não quisesse, porque estava com muito medo, entrou ela. Deitou água no morto e começou a rezar, e de repente o morto ressuscitou e tornou-se num príncipe muito formoso, que era o mesmo que a velha tinha visto fazer-se no coelho.
Imediatamente todas as mãos se tornaram em gente, que era uma corte muito rica, que ali estava encantada.
o príncipe disse então à princesa que muito lhe agradecia o ter-lhe quebrado o encanto. Perguntou-lhe a princesa para que era todo aquele trabalho no seu palácio.
O príncipe respondeu que era para o casamento da princesa de Nápoles.
E ela disse, muito admirada:
- A princesa de Nápoles sou eu!
- Pois estais destinada para mim! - disse o príncipe.
A princesa, muito contente, disse que sim. Depois fez-se o casamento com grande pompa, e ficaram todos no mesmo palácio muito felizes.
A velha ficou sendo muito estimada, mas andava muito triste.
Perguntaram-lhe o que tinha, e ela respondeu que queria ir para a sua casa.
Deram-lhe muitas riquezas e mandaram-na acompanhar por um camarista. A velha foi e, quando chegou a casa, disse:
Minha casa, minha casinha,
Não há casa como a minha,
Vá p'ró diabo a senhora rainha!

MÚSICA
Acabámos de ouvir uma história intitulada “O Coelhinho” e foi recolhida por Consiglieri Pedroso e incluída no seu livro “Contos Populares Portugueses”, editado pela Vega.

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