Estúdio Raposa

História 66
"A Menina e a Velha"

 

INDICATIVO

Vamos hoje ouvir a história da “Menina e da Velha”, recolhida do livro "Contos Populares Portugueses" de autoria de Consiglieri Pedroso, edição Vega.

MÚSICA

Era uma vez uma menina, que estava presa numa torre.
Gostava muito de um príncipe, e ele todas as tardes lhe ia falar.
A menina deitava-lhe os cabelos da torre abaixo, e o príncipe subia por eles a cima e ia falar-lhe.
Um dia andava por ali uma bruxa e viu o príncipe subir.
Que há-de ela fazer?
Ao outro dia foi mais cedo um pouco do que o príncipe costumava ir, fingiu a fala do príncipe e chamou a menina.
Ela deitou os cabelos da torre abaixo e a bruxa subiu. Depois começou a dizer à menina que não gostasse do príncipe, que o deixasse, a dar-lhe maus conselhos, enfim; e assim que viu que eram horas dele chegar, foi-se embora e desceu pelos cabelos outra vez.
A menina, assim que viu o príncipe, contou-lhe tudo quanto a bruxa lhe dissera, e como ela a enganara para subir.
O príncipe, quando soube disto, mandou logo arranjar uma carruagem para fugir com a menina. A menina antes de sair despediu-se de tudo quanto tinha em casa, mas esqueceu-se de se despedir do pau e da vassoura.
Levou um copo com água, um saquinho com pedras, e outro com areia, e depois fugiu.
Daí por um bocado veio outra vez a bruxa e começou a chamar a menina, como na véspera. Responderam-lhe da torre a mesa e as cadeiras
- A menina está doente!
Mas o pau e a vassoura, que tinham ficado zangados por a menina não se ter despedido deles, chegaram à janela e disseram:
- Isso não é verdade, a menina fugiu com o príncipe! A bruxa assim que soube isto, começou a correr para a apanhar.
A menina, que ia desconfiada, deitou a cabeça fora da carruagem, e assim que viu a bruxa, atirou fora a areia que levava consigo no saquinho, e formou-se logo um grande areal.
A bruxa custou-lhe muito a passar, mas sempre passou, e continuou a correr atrás da carruagem. A menina, assim que viu a bruxa quase a apanhá-la, deitou fora as pedras que levava no outro saquinho, e imediatamente se formou um grande muro. A bruxa custou-lhe muito a passar, mas sempre passou, e continuou a correr atrás da carruagem. A menina, assim que viu que a bruxa tinha passado o muro, e que estava quase a apanhá-la, deitou fora a água que levava no copo, e imediatamente se formou um grande rio.
Desta vez a bruxa não pôde passar.
Quando o príncipe chegou às portas da cidade, disse para a menina:
- Agora haveis de aqui ficar em cima desta árvore, enquanto eu vou buscar a minha corte, porque não posso sair as portas da cidade sem ela.
E deu a sua palavra à menina que a vinha buscar.
A menina empoleirou-se na árvore, por cima de uma fonte.
Dai por um bocado veio uma velha buscar água com um cântaro, viu na água a sombra da menina e julgou que era dela. E disse:
- Ai que velha tão bonita, quebra a cantarinha!
Bateu com o cântaro na fonte e quebrou-o. Depois foi-se embora e voltou com outro cântaro. Olhou para a água e vendo a sombra da menina, disse outra vez:
- Ai que velha tão bonita, quebra a cantarinha!
E tornou outra vez a quebrar o cântaro.
Foi-se a velha embora, e à terceira vez trouxe um cântaro de folha. Olhou para a água, e tornando a ver a sombra da menina, disse:
- Ai que velha tão bonita, quebra a cantarinha!
Mas, como o cântaro era de lata, por mais que batesse com ele na fonte, não o podia partir. A velha, já muito zangada, disse:
- Ai que velha é esta tão bonita, que não quebra a cantarinha!
Olhou para cima da árvore, viu a menina e começou a dizer-lhe:
- A menina está ai sozinha! Não quer que a acompanhe?
E subiu para cima da árvore.
Indagou da menina o que estava ali a fazer, e depois disse-lhe:
- Ai que cabelos tão bonitos que a menina tem! Quer que a penteie?
E espetou-lhe um alfinete na cabeça.
A menina transformou-se numa pomba e foi a voar. O príncipe, quando veio, ficou admirado e disse:;
- Que tens, menina, que eras tão bonita e agora estás tão velha?
- Que quereis, respondeu a velha, deixaste-me aqui ao sol e eu envelheci!
O príncipe bem lhe quis parecer que aquela não era a menina que ali tinha deixado, mas, como tinha dado a sua palavra, levou-a para o palácio e casou com ela.
Todos os dias ia ao jardim uma pomba muito linda, e dizia:
- Hortelão, hortelaria! Como passa o rei com sua velha Maria?
Respondia-lhe o hortelão: - Passa bem, passaria!
O hortelão, quando o príncipe veio ao jardim, contou-lhe o que sucedera.
O príncipe disse que, quando a pombinha viesse ao outro dia, lhe armasse um laço de fita. No outro dia tornou a pomba outra vez:
- Hortelão, hortelaria! Como passa o rei com a velha Maria?
O hortelão deitou-lhe o laço de fita, e a pomba respondeu:
- Ah! ah! ah! Laços de fita não são para mim!
Quando o príncipe veio ao outro dia saber o que tinha acontecido, o hortelão contou-lhe o que a pomba dissera.
Então o príncipe disse:
- Deita-lhe amanhã um laço de prata.
A pomba veio outra vez e disse:
- Ah! ab! ah! Laços de prata não são para mim! E fugiu.
O príncipe quando soube disto mandou que no outro dia se deitasse um laço de ouro.
A pombinha nesse dia caiu no laço. O hortelão foi entregá-la ao príncipe.
A velha, assim que viu a pomba, começou a dizer ao príncipe que a matasse. O príncipe não quis, porque já gostava muito da pombinha, e cada dia a estimava mais.
Um dia foi fazer-lhe festas na cabeça e encontrou um alfinete. Tirou-lho, e a pomba imediatamente se transformou na menina. Contou tudo ao príncipe, e ele disse-lhe que casava com ela. Depois perguntou à menina o que queria que ele fizesse da velha.
A menina disse-lhe que a castigasse e que quando ela morresse dos ossos fizesse uma escada para ela subir para a cama, e da pele um tambor.

MÚSICA

Acabámos de ouvir a história da “Menina e da Velha”. Nesta história tive de fazer uma pequena alteração para que os vossos pais deixassem que vocês a ouvissem. O sr. Consiglieri Pedroso também não se importaria. Até à próxima história.

INDICATIVO