Estúdio Raposa

História 65
"A Madrasta"

 


INDICATIVO

Vamos ouvir uma história chamada “ A Madrasta” e podem encontrá-la no livro de Consiglieri Pedroso “Contos Populares Portugueses”, editado pela Vega.

MÚSICA

Era uma vez um homem viúvo, que tinha um filho e uma filha.
A menina andava na escola, e a professora andava-lhe sempre a dizer que dissesse ao pai para casar com ela.
A professora tinha três filhas: uma era torta, outra era coxa e a outra era cega.
A menina todos os dias ia para casa e dizia:
- Case, meu pai, com a professora, que ela dá-me bolinhos de mel.
O pai respondia-lhe:
- Ela dá-te bolinhos de mel, depois dá-tos de fel!
E o pai comprou um chapéu, trouxe-o para casa e disse para a filha:
- Quando este chapéu se estragar, é que eu caso com a tua mestra. E pendurou-o num prego.
A menina foi à professora e contou-lhe o que o pai lhe dissera.
E ela disse-lhe:
- Pois bem, hás-de trazer-me cá o chapéu.
A menina, um dia que o pai tinha saído, levou-lho, e a mestra meteu-o num forno e cortou-o todo; depois, a menina tornou a pô-Io no seu lugar.
O pai uma vez pôs o chapéu e estragou-se-lhe logo. Disse ele para a filha:
- Agora é que eu caso com a tua professora, que se estragou o meu chapéu.
Mas ainda comprou umas botas e disse:
- Quando estas botas se estragarem, é que eu caso.
A menina foi outra vez dizer à professora, e ela pediu-lhe as botas e meteu-as no forno. O pai um dia foi calçá-las e estragou-as.
Chamou a filha e disse-lhe:
- Agora é que eu não tenho mais remédio: caso com a tua professora, que se romperam as botas.
Fez-se o casamento, mas apenas se viu casada, logo a professora começou a tratar mal a menina e a fazê-la trabalhar muito.
As filhas da professora, essas, não faziam nada.
Um dia o pai comprou cinco réis de pinhões e disse: - Meus filhos, venham comigo.
E foi para floresta.
Mas o filho e a filha iam comendo os pinhões e deixando cair as cascas no caminho. Entraram na floresta, e chegando ao pé de uma árvore, disse o pai:
- Fiquem aqui, meus filhos. Fica aqui esta cabacinha. Enquanto ela bater, é que eu estou na floresta. Quando ela deixar de bater, é que eu não estou e que os venho buscar.
E foi-se embora.
Os dois ficaram sós, e a cabaça, como lhe dava o vento, estava sempre a bater. Eles olhavam para a cabaça, e o irmão não fazia senão dizer:
- Ó mana, o nosso pai já não pode estar aqui!
A menina respondeu-lhe:
- Mas a cabaça ainda está a bater!
- É porque lhe dá o vento, disse o irmão.
Resolveram-se, afinal, a sair da floresta, porque já era quase noite e foram seguindo as cascas dos pinhões, que tinham vindo a deixar pelo caminho. Enquanto as viram, foram bem; depois as cascas faltaram, e eles perderam-se.
Ao anoitecer encontraram uma velhinha, que lhes disse: - Ó meninos, que fazeis aqui?
Eles responderam:
- Estamos aqui, porque o nosso pai nos trouxe para a floresta, e deixou-nos ficar sós; disse-nos que, enquanto uma cabaça batesse, é que ele estava na floresta, e que quando ela deixasse de bater, é que já não estava, e nos vinha buscar. Mas a cabaça batia por causa do vento, e ele foi-se embora.
A velhinha era uma fada, e disse-lhes: - Ora venham comigo, meus meninos.
Ao menino pô-lo a trabalhar numa casa de lavoura, e à menina, levou-a para casa.
Deu-lhe uma bacia e um raminho de flores, e disse para ela:
- Olhe, a menina ponha-se aqui a esta janela, e com este raminho de flores e com esta bacia, diga: Raminho de intingil, isto já são horas do meu amorzinho vir!
A menina assim fez.
Todos os dias se punha à janela, com o ramo e a bacia, e dizia:
- Raminho de intingil, isto já são horas do meu amorzinho vir!
Imediatamente aparecia um passarinho, e deixava-lhe muito dinheiro.
Depois ia-se embora outra vez. A menina, com este dinheiro, comprou muita coisa, e já tinha muitas jóias e estava muito bem vestida.
A fada dizia-lhe sempre que, quando se visse em alguma aflição, que chamasse por ela.
Uma vez, estava a menina muito bem vestida à janela.
E quem havia de passar? Uma das filhas da professora - a torta. Olhando para a janela, viu a menina e foi dizer à mãe como ela estava bem vestida.
A professora, muito admirada, perguntou:
- Então ela tinha ficado na floresta e os bichos não a comeram?!
A filha respondeu:
- Eu não sei, ela lá estava à janela e muito bem vestida!
Daí a dias foi a coxa, e ao tempo que ela ia a passar, viu a menina muito bem vestida à janela com o ramo de flores e a bacia, e ouvi-lhe dizer: «Raminho de intingil, isto já são horas do meu amorzinho vir!», e depois viu vir o passarinho e deixar-lhe muito dinheiro.
A coxa veio para casa, e a mãe perguntou-lhe:
- Então viste alguma coisa?
A filha respondeu:
- Vi-a à janela, muito bem vestida, mas não vi mais nada!
E ela não disse que tinha visto o passarinho vir e trazer-lhe muito dinheiro. A professora, então mandou a cega. Ela foi, ouviu a menina dizer: «Raminho de intingil, isto já são horas do meu amorzinho vir», mas veio para casa e não disse nada.
A torta disse, então:
- Pois agora vou lá outra vez, e hei-de ver alguma coisa! E levou um lenço cheio de vidros, sem dizer nada.
Chegou lá, escondeu-se, e ouviu a menina dizer as palavras do costume e vir o passarinho. Assim que o viu, a torta deitou-lhe o lenço de vidros.
O passarinho ficou todo cortado e caiu dentro da bacia, a escorrer em sangue. A menina não viu quem tinha sido, mas, muito triste, chamou pela fada. A fada veio e disse-lhe:
- Ah, se me chamasses mais cedo, dava-lhe vida; agora não posso, que ele está morto.
A menina chorou muito pelo passarinho.
Um dia estava ela à janela, e passou um príncipe. O príncipe, mal a viu, disse:
- Oh! Que linda menina!
Entrou e perguntou à menina se queria casar com ele. A menina disse-lhe que não dizia nada, sem falar com a fada. Chamou por ela e contou-lhe o que o príncipe lhe tinha dito. A fada disse que sim, que podia casar. Casaram e foram muito felizes sempre.

MÚSICA

Acabámos de ouvir “A Madrasta” uma história popular portuguesa do livro de Consiglieri Pedroso, editado pela Vega
Para a semana vamos ouvir outra história. Valeu?

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