Estúdio Raposa

História 157
"A rainha orgulhosa"

 



INDICATIVO

Vamos ouvir uma história tradicional. Recolheu-a Consiglieri  Pedroso e foi publicada na sua obra “Contos populares portugueses”

MÚSICA

Havia uma rainha muito orgulhosa, que, voltando-se para  as suas aias, dizia:

—   Haverá cara mais bonita do que a minha?

As aias respondiam-lhe que não; e fazendo a mesma pergunta às criadas, elas diziam o mesmo.

Um dia voltou-se também para o seu camarista e perguntou-lhe:

Haverá cara mais linda do que a minha? O camarista respondeu:

Saiba Vossa Majestade que há.

A rainha ouvindo isto quis saber quem era, e o camarista disse-lhe que era a filha.

A rainha imediatamente mandou aprontar uma carruagem e meter a princesa dentro, ordenando aos criados que a levassem fora da cidade a um campo muito longe e que aí a degolassem e lhe trouxessem a língua.

Partiram os criados conforme a rainha tinha determinado, e quando chegaram ao dito campo voltaram-se para a princesa e disseram:

—   Vossa Alteza não sabe os fins para que aqui a trouxemos,
mas não lhe havemos de fazer mal.

Viram uma cadelinha, mataram-na e cortaram-lhe a língua, dizendo à princesa que era para levar a Sua Majestade, pois lhes tinha ordenado que a degolassem e lhe levassem a língua.

Pediram depois à princesa que se fosse embora para muito longe, e que nunca mais aparecesse na cidade para os não comprometer.

A menina retirou-se e foi caminhando por uma mata fora, até que avistou ao longe um pequeno casal, e aproximando-se não viu senão rastos de porcos e mais nada.

Foi andado, e ao entrar na primeira casa, não viu mais do que uma caixa de pinho muito velha; na segunda viu uma cama com uma enxerga muito velha; e na terceira uma chaminé e uma mesa.

Dirigiu-se à mesa, abriu a gaveta e achou algum comer, que foi pôr ao lume. Pôs a mesa, e quando principiava a comer sentiu entrar um homem.

A menina, muito assustada, foi esconder-se debaixo da mesa, mas o homem viu-a e chamou-a.

Disse-lhe que não tivesse vergonha; depois foram comer juntos, e quando chegou a noite também cearam. No fim da ceia o homem disse à princesa se ela queria ficar por sua mulher ou por sua filha.

A princesa respondeu que queria ficar por sua filha. Então o homem foi-lhe arranjar uma caminha à parte e depois cada um se foi deitar.

Viviam assim ambos muito satisfeitos.

Um dia disse o homem para a menina que fosse por ali dar um passeio para se distrair.

A menina respondeu que o fato que trazia vestido já estava muito velho, mas o homem, abrindo um armário, mostrou-lhe um fato completo à campina. A menina vestiu-se com ele e foi passear.

Quando andava passeando, viu que um cavaleiro se aproximava dela.

A menina imediatamente se escondeu em casa com muito medo. À noite o homem quando voltou, perguntou-lhe se tinha gostado do passeio. A menina disse que sim, mas com um modo muito esquisito.

No dia seguinte tornou o homem a mandá-la passear. A menina foi, tornou a ver o mesmo cavaleiro a dirigir-se para ela, e tornou muito assustada a vir esconder-se em casa.

Quando o homem veio à noite e lhe perguntou se ela tinha gostado do passeio, a menina disse que não, porque tinha visto um homem, que vinha para lhe falar, e então nunca mais queria tornar a sair.

O homem não lhe disse nada.

O cavaleiro era um príncipe, e voltando ao mesmo sítio duas vezes e não tornando a ver a menina, adoeceu de paixão.

Vieram os melhores médicos e declararam qual era a doença do príncipe. A rainha imediatamente mandou publicar um bando, que a aldeã que tinha visto o cavaleiro fosse ao palácio, que havia de ser recompensada e de casar com o príncipe.

A menina, como não saía de casa, não soube nada do bando.

A rainha, vendo que ninguém se apresentava no palácio, mandou um guarda àquele sítio.

O guarda foi e bateu à porta dizendo para a menina que Sua Majestade a mandava chamar ao palácio e que havia de ser muito bem recompensada.

A menina disse para o guarda que no outro dia fosse receber a resposta. Quando à noite veio o homem a menina contou-lhe o que se tinha passado. Ele disse-lhe que quando o guarda fosse saber a resposta lhe dissesse que viesse a rainha a casa dela, porque ela não ia lá.

Veio o guarda ao outro dia saber a resposta, e a menina disse-lhe que se não atrevia a dar-lha. O guarda disse que dissesse ela tudo tal e qual, que ele o diria à rainha.

Então a menina contou-lhe o que o homem lhe tinha respondido. Chegando o guarda ao palácio, também se não atreveu a dar a resposta; mas a rainha obrigou-o.

O guarda então contou tudo o que a menina lhe dissera. A rainha ficou muito encolerizada, mas naquele momento deu ao príncipe uma convulsão muito grande, e a rainha com medo que ele morresse, sempre se resolveu a ir.

Mandou aprontar a carruagem e lá foi ter com a menina, mas quando se ia aproximando da casa, ela tornou-se num rico palácio, o homem que recolhera a menina num imperador muito poderoso, os porcos em duques, a menina numa linda princesa e tudo o mais em riqueza.

A rainha, ao ver tudo isto, ficou atónita e pediu desculpa de ter mandado chamar a menina ao palácio.

Disse à menina que visto o príncipe, seu filho, ter tanta paixão por ela, lhe pedia, se fosse do seu agrado, para se fazer o casamento, senão o príncipe morria, com toda a certeza.

A menina disse que sim, fez-se o casamento com muita pompa, e viveram todos muito felizes.

INDICATIVO

Ouvimos a história da “Rainha orgulhosa”, uma história tradicional portuguesa recolhida por Consiglieri Pedroso.

Até à próxima história.

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