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Vamos ouvir outra lenda escrita por Fernanda Frazão: “A Lenda dos Távoras”
MÚSICA
Os dois irmãos D. Tedo e D. Rausendo, que segundo a tradição eram descendentes de Ramiro II de Leão, são protagonistas de um ciclo lendário que busca as suas bases na reconquista cristã anterior à formação do reino de Portucale. A História porém não dá crédito à existência destes dois cavaleiros pelos quais frei Bernardo de Brito mostra um especial carinho na sua Monarquia Lusitana.
Em Paredes da Beira possuía o emir de Lamego, em 1037, um castelo bem provido de tudo e repleto de excelentes guerreiros. Bem protegido pelas penedias, o castelo revelava-se inexpugnável num ataque de tipo clássico.
Efectivamente, os dois irmãos estavam cansados de perder homens contra aquelas muralhas e, assim, decidiram tentar a conquista de Paredes pela astúcia.
Sabendo que em manhã de S. João os mouros saíam do castelo para festejar, banhando-se nas águas do Távora, o final do ciclo primaveril, D. Tedo e D. Rausendo cobriram as cotas com vestes mouras e foram emboscar-se com os seus guerreiros nas proximidades do castelo.
Era madrugada quando os mouros começaram a sair alegres e sem preocupações. Atrás das rochas, os cristãos aguardavam que passasse o tempo suficiente para que a distância se alongasse o bastante entre eles e os mouros em festa. Depois entraram pelas portas escancaradas, sem resistência dos poucos muçulmanos que se haviam quedado intramuros.
Alguns, que conseguiram escapar ao morticínio de Paredes, dirigiram-se correndo ao Távora a dar a má nova, alertando desse modo os despreocupados festeiros.
Entretanto, D. Tedo tomou conta do alcácer e distribuiu os seus guerreiros pelos pontos de defesa, enquanto D. Rausendo descia até ao rio com os restantes homens.
Preparados, no rio, os mouros defenderam caro as suas vidas e D. Rausendo teria sido derrotado se o irmão não acorresse rápido ao aperceber-se do que acontecia.
Diz-se que nesse dia as águas do Távora correram vermelhas: D. Tedo a cavalo, no meio do rio, vibrava golpes ferozes no inimigo. Tanto espadeirou que quando conseguiu chegar junto do irmão mais de metade dos mouros jaziam mortos por terra ou boiando nas águas.
O resto da batalha foi fácil, e se algum mouro sobrou para contar aquela carnificina, foi um homem feliz. Por isso, o povo de Paredes da Beira chamou ao local daquela sangrenta luta Vale d'Amil, em memória dos corpos que juncavam o chão e as águas, mouros mortos aos mil.
Diz a tradição que depois desta batalha os dois irmãos adoptaram o apelido Távora, como recordação da vitória alcançada, e tomaram por armas um golfinho sobre as ondas para que sempre se rememorasse D. Tedo espadeirando nas águas sobre o seu ginete de guerra.
MÚSICA
Ouvimos a “Lenda dos Távoras”, um trabalho de Fernanda Frazão incluído na sua obra “Lendas Portuguesas”
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