Estúdio Raposa

História 137
A Lenda de Mileu

 


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Mais uma lenda recolhida por Fernanda Frazão: a Lenda de Mileu.

MÚSICA

Perto de Estremoz existe uma localidade chamada Veiros que, em tempos medievais, foi bem mais importante do que aquela cidade. Situada num ponto alto, na margem da ribeira de Ana Loura, possuía um forte castelo, cuja primitiva edificação se terá devido aos Romanos. Como muitos outros castelos, foi re-edificado no tempo de D. Dinis e, segundo parece, a sua torre de menagem foi uma das mais altas e fortes do Reino. O sistema fortificado compunha-se principalmente do castelo ou torre albarrã e de sete torres ou cubelos, com quatro portas, ocupando a torre de menagem o centro.
Pois em Veiros existe uma velha ermida medieval, que se crê ter sido construída sobre um templo pagão, anterior à nacionalidade - a ermida de Nossa Senhora de Mileu. Diz a tradição que em tempos imemoriais foi achada sobre um pinheiro uma imagem da Virgem. Nesse local nasceu a ermida que primitivamente foi dedicada a Nossa Senhora do Pinhal, em memória do milagroso achado. Porém, outros factos vieram a alterar a invocação de Nossa Senhora do Pinhal para Santa Maria de Mileu.
Apesar de ter lugar em Cortes e ser bastante importante, a populosa vila nem sempre teve guarnição militar suficiente para a sua localização em fronteira com a terra dos mouros. Conta-se que, um dia, uma poderosa algarada moura de doze mil homens correu sobre a vila, então guarnecida por apenas doze cavaleiros.
Os cristãos, que andavam amanhando os campos em redor do castelo, dando-se conta do número imenso de mouros que cavalgava sobre eles, debandaram em completa desordem para se recolherem nas muralhas de Veiros. Em correria cega de pavor, avançavam em grandes magotes para a única porta do castelo ainda aberta quando, de súbito, foram obrigados a estacar. Em frente uma mulher sereníssima, com uma criança sentada no seu braço esquerdo, sorria aos fugitivos levantando o braço livre como quem manda parar.
Ante o apavorado espanto dos portugueses, bradou-lhes a mulher:
- Atrás, portugueses, atrás! Para cada mil eu! Eu combaterei por vós!
- Cada mil, eu - exclamaram a um tempo os fugitivos atónito-receosos. - Cada mil, eu!
Tão rápida foi esta cena, como rápido o restabelecimento da ordem e da coragem. Com súbito ânimo, voltaram para trás os camponeses e, juntamente com os doze cavaleiros do castelo, desbarataram o poderoso exército mouro. E conta-se que nem um único inimigo ficou vivo sobre o campo.
Estonteados pelo êxito e excitados pelo sangue, entraram os homens em Veiros entoando: - Mil eu, mil eu!
Acreditaram os camponeses que aquela mulher com um menino nos braços era a própria Virgem do Pinhal que acorrera em seu socorro e, a partir de então, à imagem da ermida passaram a chamar Santa Maria de Mileu.

MÚSICA

Ouvimos a “Lenda do Mileu” recolhida por Fernanda Frazão. Até à próxima história.

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