Estudio Raposa

História 105
As albornocas

 

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Vamos, hoje ouvir uma história tradicional do Algarve, recolhida por Xavier Ataíde de Oliveira. Intitula-se “As albornocas”

MÚSICA

Havia uma mulher muito estúpida. Uma ocasião foi amassar e depois dar fogo ao forno. Quando ia tender lembrou-se que não tinha tendais. Pegou na roca e numa estriga de linho e foi fiar ao pé do forno para tecer o pano dos tendais. Salta do forno grande chama, que lhe lambeu a roca. Deitou o forno abaixo em procura da roca. Em vez desta encontrou uma panela cheia de peças de ouro, que ela supôs ser albornocas, medalhas, de que muita gente usava ao pescoço. Na ocasião em que ela vinha com a panela para casa encontrou um homem com um jumento carregado de loiça.
- Se me quer vender loiça pago-lhe com estas albornocas. Só reservo três: uma para pendurar ao pescoço de meu marido, a outra para mim e a terceira para a minha filha.
O homem da loiça deu toda a carga e até o jumento a troco das albornocas. A mulher foi dependurar nas paredes da casa de fora a loiça toda. Ao meio da tarde chegou o marido e logo a mulher lhe saiu ao encontro, ordenando-lhe que tirasse o chapéu pois tinha a casa armada como se fosse uma igreja. O marido entrou e perguntou-lhe para que era tanta loiça; ela respondeu que tinha enganado o vendedor, dando-lhe uma porção de albornocas por toda a loiça.
Que diabo é isso de albornocas?
- É isto, respondeu ela, mostrando-lhe três.
- Oh mulher! O homem da loiça enganou-te! Isso são moedas de ouro. Vamos em procura dele.
Ela tomou um caminho e o marido outro. Lá adiante pôs-se ela a gritar: anda cá, homem, homem anda cá!
O marido ouviu a voz da mulher e correu a toda a força a estar com ela, supondo que o mariola da loiça a queria matar. Chegou próximo e perguntou-lhe, cansado e coberto de suor: o que é isso, mulher?
- Não vês ... sobre aquele espinho sujou um cão; não sei como ele se não picou.
O homem, desesperado, deu-lhe um grande raspanete.
Tinha ele em Outubro passado dito à mulher que guardasse uma boa caixa de figos para o Maio por ser comprido. Uma ocasião chegou-lhe à porta um homem muito alto.
Apenas ela viu o sujeito, disse-lhe:
- Já sei o que quer! Você é o Maio e quer a caixa dos figos.
- Sou, sou. - disso logo o homem, lambareiro.
E a mulher deu-lhe a cesta de figos. À noite, logo que o marido chegou, disse:
Estamos livres da ceira: já a dei ao dono. - Qual ceira?
- A ceira do Maio. Ele esteve aqui hoje, e dei-lha.
Apanhou, é claro, outra grande descompostura.
Estava-se em Março, mês de muito frio. Um dia fez sol, e a mulher pretendia trazer o sol da rua para dentro de casa por meio de uma joeira. Andava neste trabalho, passou um sujeito.
O que faz, tia Maria? ,
Quero levar o sol para dentro de casa, mas escapa-se-me.
- Eu faço-lhe entrar o sol em casa, se me pagar bem.
- Dou-lhe uma bolsa de dinheiro, que o meu marido tem escondida
para comprar uma junta de bois.
O homem saltou para cima do telhado e tirou as telhas. Logo o sol entrou na casa.
A mulher deu-lhe a bolsa. Quando o marido chegou ficou pasmado, vendo a casa destelhada.
- Para que fizeste isto, mulher?
- Já temos sol em casa de dia. E custou barato: dei-lhe apenas a
tua bolsa de dinheiro.
O homem ficou tão irritado que lhe deu uma tão grande descompostura que ela desmaiou e só acordou dias depois. Tal foi o susto!

MÚSICA

Ouvimos uma história tradicional do Algarve recolhida por Xavier Ataíde de Oliveira. Até à próxima.

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