Ingeborg Bachmann
OBRA
 

“A Grande Carga”

Foi embarcada a grande carga do Verão,
pronto a zarpar, no cais, está o barco do sol,
quando a gaivota cai e te grita o sinal.
Foi embarcada a grande carga do Verão.

Pronto a zarpar, no cais, está o barco do sol,
e à proa, sobre os lábios das figuras,
abre se o ominoso riso dos lemures.
Pronto a zarpar, no cais, está o barco do sol.

Quando a gaivota cai e te grita o sinal,
então vem do poente a ordem de afundar;
mas é de olhos na luz que te vais afogar,
quando a gaivota cai e te grita o sinal.

(O Tempo Aprazado)
(tradução de Judite Berkemeier e João Barrento)

ooooooooooooooooooooo

“Ária I”

Para onde quer que nos voltemos na tempestade de rosas,
a noite ilumina se de espinhos, e o trovão
da folhagem, antes tão leve nos arbustos,
segue nos agora de perto.

Onde quer que se apague o incêndio das rosas,
a chuva inunda nos o rio. Oh, noite tão distante!
Mas uma folha que nos encontrou é levada pelas ondas
e segue nos até à foz.

 O Tempo Aprazado
(tradução  de Judite Berkemeier e João Barrento)

ooooooooooooooooooooo

CANÇÕES DE UMA ILHA

Tombam frutos de sombra das paredes,
o luar caia a casa, e o vento
que vem do mar traz cinzas de vulcões extintos.

Dormem as praias
nos abraços de belos rapazes,
a tua carne pensa na minha,
entregava se me já
quando os navios se
soltaram de terra e cruzes
com o nosso fardo mortal
subiram ao mastro.

Agora os patíbulos estão vazios,
eles procuram e não nos encontram.