Ingeborg Bachmann
BIOGRAFIA
 

Ingeborg Bachmann nasceu em 1926, em Klagenfurt, uma pequena cidade austríaca localizada na fronteira da Itália e da Jugoslávia, oito anos após a primeira Guerra Mundial.
Porém, quando Bachmann menciona a sua infância, não é esta cidade que surge, mas a região de Obervellach, onde vivia a família do seu pai. Até aos treze anos, Bachmann passou uma infância tranquila, no contacto com a natureza. O campo, o rio e o lago acompanharam toda a sua obra. Alguns personagens femininos das suas obras, como por exemplo, em "Malina" (Malina, 1971), "Tipos de Morte" (Todesarten) e "O Caso Franza" (Der Fall Franza) são originários de Obervellach. "Malina" foi o seu primeiro e único romance, os outros dois fazem parte de um ciclo que, entretanto, não chegou a ser concluído pela autora.
Desde a juventude que Bachmann se opôs aos pensamentos nacionalistas da época. Mais tarde tornou se uma intelectual com intervenção política, contra o armamento nuclear e a guerra no Vietname. O pai, no entanto, integrou grupos nacional socialistas e serviu na primeira e na segunda Guerras Mundiais; era uma presença rara junto da família.
No final da segunda Guerra Mundial, em 1945, Bachmann foi para Viena estudar filosofia e filologia germânicas. Chegou a uma cidade destruída pela guerra, circundada por escombros de edifícios bombardeados, pessoas com frio e fome. Felizmente, a universidade e as mais importantes bibliotecas não tinham sido devastadas, o que contribuiu para que muitos intelectuais regressassem a Viena. Muitos deles encontravam se no famoso bar Raimund, de Hans Weigel, onde passavam a noite discutindo fervorosamente sobre política e literatura. Os intelectuais desta época lutavam contra o conflito nascido do sentimento de culpa por pertencer a um país que contribuiu para a maior catástrofe na história da humanidade e a negação desta culpa, a angústia perante um sentimento cada vez mais arraigado, a debilidade diante do passado assombroso. Este passado assombroso é, nas obras de Bachmann, representado pela figura do pai.
Aqui, o conflito é entre pai e filha, retratado, por exemplo, num trecho do romance "Malina", no capítulo em que a autora descreve um sonho, onde pai e filha estão presos na maior câmara de gás (Gaskammertraum). O início deste capítulo é a cena precursora da literatura após 1945: uma criança da geração dos culpados, Tätergeneration, procura a fuga do mundo do holocausto e é abandonada pelo pai. 
No apartamento do pintor surrealista Edgar Jené, em 1948, Ingeborg Bachmann conheceu o poeta Paul Celan, com quem mais tarde manteve uma extensa e valiosa correspondência. 86 cartas da escritora dedicadas a Celan estão guardadas no arquivo literário alemão de Marbach, as de Celan estão lacradas no arquivo da biblioteca de Viena. Paul Celan, cujos pais foram assassinados num campo de concentração, ele próprio sobreviveu aos tratamentos desumanos num campo de trabalho. Muitas das poesias de Paul Celan foram dedicadas a Ingeborg Bachmann. Ela foi ter com ele a Paris, para tentarem uma vida juntos, mas mais tarde separaram se. Contudo, o encontro com Celan serviu para transformar profundamente os pensamentos e a linguagem da poetisa, onde o acontecimento histórico relacionado ao extermínio dos judeus adquiriu grande importância na sua obra.
Bachmann defendeu a sua tese sobre a filosofia existencial de Martin Heidegger, mas recusou se a escrever uma poesia dedicada aos setenta anos do filósofo, como oposição ao pensamento irracional alemão: Heidegger era simpatizante das ideias nacionalistas.
No início dos anos 50, a escritora voltou se para os pensamentos de Wittgenstein. Escreveu um ensaio sobre a filosofia de Wittgenstein que foi publicado no "Caderno de Frankfurt 1953", um ensaio sobre o romance de Robert Musil, "O Homem sem Virtude" (Der Mann ohne Eigenschaft) na revista Akzente (1954) e outros. Foi um dos primeiros intelectuais a reconhecer o valor da filosofia de Wittgenstein. Mas o verdadeiro sucesso obteve com o Grupo 47, de onde eram integrantes, a também poetisa austríaca Ilse Aichinger, e Paul Celan. Em 1953 foi publicado o seu primeiro livro de poesias, "O Tempo Prorrogado" (Die gestundete Zeit), que a tornou famosa de um dia para o outro. A mestria de fundir factos históricos com experiências empíricas resultou na tónica das suas poesias, unir a condição social e histórica actual à tradição literária.
No outono de 1958 Ingeborg Bachmann conheceu o escritor austríaco Max Frisch, com quem viveu durante cinco anos e que a levou ao abismo sentimental. Após a separação e depois da publicação do livro "Meu Nome é Gantenbein" (Mein Name ist Gantenbein, 1964), onde Max Frisch descarregava livremente todas as frustrações do casal, Bachmann sentiu se aniquilada. Seguiram se estadias em hospitais e manicómios, a entrega ao alcoolismo e à dependência de calmantes. Nesta fase obscura da sua vida, na sua expressão artística, a doença deixou de ser subjectiva e passou a adquirir um âmbito social a metáfora para o insalubre da sociedade na época. Em 1964 recebeu o Prémio Büchner.
Surgiram nesta época de crise os seus mais belos poemas, "A Boémia fica perto do Mar" (Böhm liegt am Meer) e "Praga Jänner 64" (Prag Jänner 64).
Além de poemas, contos, ensaios e romances, Bachmann produziu também novelas para programas de rádio e também um livreto para a ópera de Hans Werner Henzel, "O Príncipe de Homburg" (Der Prinz von Homburg, 1960). As mais conhecidas novelas para rádio são "Uma Loja de Sonhos" (Eine Geschäfte mit Träume, 1952) e "As Cigarras" (Die Zikaden, 1955).
Na madrugada de 26 de Setembro de 1973, Ingeborg Bachmann sofreu um acidente, cujas queimaduras graves lhe provocaram a morte, semanas depois no hospital, no dia 17 de outubro. Os seus amigos surpreenderam se com a gravidade das queimaduras, uma vez que a escritora tinha apenas desmaiado no banheiro com o cigarro aceso e, mesmo inconsciente, teria voltado a si em pouco tempo movida pelas dores da chama ardendo na pele. No entanto, Bachmann não despertou a tempo, estava alcoolizada e sob efeito de calmantes. Foi enterrada em Klagenfurt, perto de Obervellach, onde um campo, um rio e um lago compõem a paisagem.

"Sem que o escritor tenha consciência, os anos da infância são o seu verdadeiro capital… o que vem depois e que até pode ser considerado muito mais interessante, em nada acrescenta, estranhamente, apenas que, anos mais tarde é que se começa a entender o que se viu com o primeiro olhar", citação encontrada no diário de Ingeborg Bachmann, escrito em 23 de março de 1971.