Georg Takl
OBRA
 

Lamento

Sono e morte, as sombrias águias
Esvoaçam toda a noite ao redor desta cabeça:
A vaca gelada da eternidade
Engolindo a imagem dourada
Do homem. Em tenebrosos recifes
Despedaça se o corpo purpúreo
E a voz grave lamenta se
Sobre o mar.
Irmã de amotinada melancolia
Olha, um barco angustiado afunda se
Sob estrelas,
Sob o rosto silencioso da noite.

(1914)
(tradução de João Barrento)


No Outono

Junto à cerca, os girassóis e seu brilho,
Doentes sentados ao sol, sem alento.
No campo, as mulheres cantam no trabalho,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.

Os pássaros contam lendas de encantar,
Ouvem-se ao longe os sinos do convento.
Há um violino no pátio a gemer.
E já o vinho escuro vão recolhendo.

Todos parecem felizes, libertos,
E já o vinho escuro vão recolhendo.
Os jazigos dos mortos estão abertos,
Pintados pelo sol que vai entrando.

(tradução de João Barrento)


Melancolia

Sombras azuladas. Oh, olhos de mágoas
Que me olham longamente ao deslizar.
Guitarras nos jardins, a acompanhar
O outono e a dissolver se em escuras águas.
Duras trevas da morte, construídas
Por mãos nínficas, rubros seios sugados
Por lábios podres, e os cabelos molhados
Do jovem nas águas enegrecidas.

(1913)
(tradução de João Barrento)


Rondee

Esgotou se a fonte de oiro dos dias,
Os tons da tarde, azuis e outonais:
Morreram doces flautas pastorais
Os tons azuis da tarde, e outonais
Esgotou se a fonte de oiro dos dias

(1913)
(tradução de João Barrento)


OCIDENTE
(4º versão)
Em honra de Else Lasker Schüller


1.
Lua, como se saísse coisa morta
De azul caverna,
E das flores em botão muitas caem
Sobre o atalho rochoso.
Argêntea, chora coisa doente
Junto ao largo da tarde,
Em negro barco
Amantes se passaram.

Ou são os passos de Élis
Que soam pelo bosque,
O de jacintos,
Perdendo se de novo sobre carvalhos.
Oh, a imagem do rapaz
Moldada por lágrimas de cristal,
Sombras nocturnas.
Relâmpagos rasgados iluminam lhe as fontes,
As sempre frescas,
Quando na colina verdejante
Ressoa a trovoada primaveril.