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Fernando Sylvan OBRA |
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Mensagem do Terceiro Mundo
1971 - Ano internacional contra o racismo
Não tenhas medo de confessar que me sugaste o sangue
E esgravataste chagas no meu corpo
E me tiraste o mar do peixe e o sal do mar
E a água pura e a terra boa
E levantaste a cruz contra os meus deuses
E me calaste nas palavras que eu pensava.
Não tenhas medo de confessar que te inventaste mau
Nas torturas em milhões de mim
E que me davas só o chão que recusavas
E o fruto que te amargava
E o trabalho que não querias
E menos de metade do alfabeto.
Não tenhas medo de confessar o esforço
De silenciar os meus batuques
E de apagar as queimadas e as fogueiras
E desvendar os segredos e os mistérios
E destruir todos os meus jogos
E também os cantares dos meus avós.
Não tenhas medo, amigo, que não te odeio.
Foi essa a minha história e a tua história.
E eu sobrevivi
Para construir estradas e cidades a teu lado
E inventar fábricas e Ciência,
Que o mundo não pôde ser feito só por ti.
(in Mensagem do Terceiro Mundo - 1972)
Eu canto e o meu canto se enternece
de ouvir-se no seu eco e ser distante
tal como a estrela-sol quando amanhece
se orgulha de ter luz e ser andante.
Eu canto e o meu canto faz-se prece
e reza-se a si próprio qual amante
que esparge a sua fé como quem tece
os versículos de nova bíblia errante.
Sozinho na paisagem clara e bela
com o manto lustral dos olhos dela
e o que mais inventei e me aqueceu
o canto e a luz e a fé tudo é mais vivo
porque me sinto sempre em mim cativo
do amor que na verdade ela me deu.
O teu sexo fechado
tive de abri-lo com um beijo
como se não estivesse ainda desflorado
(in MULHER ou o livro do teu nome - 1982)