Sophia de Mello Breyner e Andresen
Biografia
 

Sophia de Mello Breyner e Andresen nas ceu no Porto, em 1919.
Aos 3 anos, tem o primeiro contacto com a poesia, quando uma criada lhe recita A Nau Catrineta, que aprenderia de cor. Mesmo antes de aprender a ler, o avô ensinou a a recitar Camões e Antero de Quental.
Aos doze anos escreve os primeiros poemas. Entre os 16 e os 23 tem uma fase excepcionalmente fértil na sua produção poética.
Em 1944 publica o primeiro livro, "Poesia", uma edição de autor de 300 exemplares, paga pelo pai, que sairia em Coimbra por diligência de um amigo:
Fernando Vale. Em 1975 seria reeditado pela Ática. Este livro é uma escolha, que integra alguns poemas escritos com 14 anos. É o ínicio de um fulgurante percurso poético e não só. Publicaria também ficção, literatura para crianças e traduziu, nomeadamente, Dante e Shakespeare.
Outras obras que publicou:
1947 "O Dia do Mar". 1950 "Coral". 1954 "No Tempo Dividido". 1956 "O Rapaz de Bronze" (literatura infantil). 1958 "Mar Novo"; "A Menina do Mar" (infantil); "A Fada Oriana" (infantil). Escreve também nesta altura um ensaio sobre Cecília Meireles na "Cidade Nova". 1960 "Noite de Natal" (infantil); "Poesia e Realidade". 1961 "O Cristo Cigano". 1962 "Livro Sexto", distinguido com o Grande Prémio de Poesia da Sociedade Portuguesa de Escritores, em 1964; "Contos Exemplares" (ficção). 1964 "O Cavaleiro da Dinamarca" (infantil). 1967 "Geografia". 1968 "A Floresta" (infantil); "Antologia", cuja 5ª edição (1985) é prefaciada por Eduardo Lourenço. 1970 "Grades". 1972 "Dual". 1975 Publica o ensaio "O Nu na Antiguidade Clássica" integrado em "O Nu e a Arte". Tendo sido também deputada pelo partido Socialista à Assembleia Constituinte, a sua actividade político partidária não foi longa, mas ao longo da sua vida sempre foi uma lutadora empenhada pelas causas da liberdade e justiça. Antes do 25 de Abril pertenceu mesmo à Comissão Nacional de Apoio aos Presos Políticos. 1977 "O Nome das Coisas", distinguido com o prémio Teixeira de Pascoaes. 1978 "O Tesouro" (infantil). 1983 "Navegações", que recebe o Prémio da Crítica do Centro Português da Associação de Críticos Literários. 1984 "Histórias da Terra e do Mar" (ficção). 1985 "A Árvore" (infantil). 1989 "Ilhas", distinguido com os Prémios D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus e Inasset INAPA (1990). 1990 Reúne toda a sua obra em três volumes, "Obra Poética", e é distinguida com o Grande Prémio de Poesia Pen Clube. 1992 é distinguida com o Grande Prémio Calouste Gulbenkian da Literatura para Crianças. 1994 "Musa". Recebe o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Publica "Signo", um livro/disco com poemas lidos por Luís Miguel Sintra. 1995 Placa de Honra do Prémio Petrarca, atribuída em Itália. 1996 Homenageada no Carrefour des Littératures, na IV Primavera Portuguesa de Bordéus e da Aquitânia. 1998 "O Búzio de Cós e Outros Poemas", distinguido com o Prémio da Fundação Luís Miguel Nava. 1999 Prémio Camões.
Sophia de Mello Breyner é um caso ímpar na poesia portuguesa, não só pela difusa sedução dos temas ou pelos rigores de expressão, mas sobretudo por uma rara exigência de essencialidade. A voz de Sophia ergue se com uma pureza inusitada, completamente isenta de biografismo, de expressão retórica, de teatralidade, de pitoresco e de toda aquela imediatez interjectiva, tão frequente na poesia feminina.
A obra de Sophia de Mello Breyner é dominada por um tom poético, feito da interiorização do mundo exterior pela subjectividade lírica, da redundância de certos temas, da imaginação criadora, da transfiguração do real, dum ritmo, de acentos e sonoridades muito característicos, e sobretudo da linguagem mágica própria do canto de Orfeu, mito que domina a sua obra.
Há poucos itinerários poéticos em língua portuguesa tão impregnados de positividade original como o de Sophia.
Nas últimas obras de Sophia, a presença de Pessoa surge também com uma insistência enigmática, como se Sophia sentisse a necessidade de integrar a sua sombra imersa ou a plenitude inversa que ela instalou na consciência poética comtemporânea no seu mundo. É no Livro Sexto que Sophia esboça o primeiro retrato diálogo com Pessoa, sem que a sua escrita, deva a sua música e a sua forma ao invocado "deus de quatro rostos". Mas o grande aprofundamento surge com Dual, que em si podia ser já uma homenagem ao "dividido", e é em Dual que Pessoa como Ricardo Reis é assumido e comungado pela visão de Sophia. Jamais se revisitou, por dentro, a aventura sem fim de Fernando Pessoa, poesia e vida confundidas, como no admirável poema Cíclades.
Foi a experiência da angústia política e social de Portugal, e do mundo ocidental do pós guerra, que a levaram a procurar uma linguagem directa e despojada para exprimir uma gama de múltiplos temas do quotidiano, no rasto da estética neo realista.
Sophia rejeita a fatalidade, a submissão aos desastres, e acredita na força combativa da verdade que deve pertencer à "íntima estrutura do poema".
Defende também a intervenção da poesia, do poeta e do artista, na "formação de uma consciência comum", desde que se mantenha a procura de "rigor, de verdade e de consciência".