Histórias da Publicidade 3  


 A Pescadinha.

Para os publicitários mais novos, é mais que certo que "pescadinha" não lhes diz nada a não ser a de "rabo na boca" que acompanhada de um arrozinho de tomate é um belo petisco. Ou de grelos. Ou de pimentos!
Pois ainda há uns anitos (poucos) "pescadinha" era o nome dado ao filme ou banda magnética de início colado ao fim (cá está o "rabo na boca") e que colocado no projector ou no gravador (no caso do magnético) andavam à volta sempre à mesma velocidade porque as máquinas rodavam síncronas (a 25 imagens por segundo se o filme era para televisão ou a 24 se era para cinema) partindo do mesmo ponto, o chamado "start".
Tudo isto para recordar um truque usado nesse tempo para "ultrapassar" os fregueses que não percebiam nada do assunto (onde é que eu já ouvi isto?) e que resolviam "embirrar" com uma locução, por exemplo
Era costume, para a respectiva apreciação/aprovação, passar se uma vez as tais pescadinhas e depois parar para ouvir o veredicto. "Veredicto" porque estamos a falar de "fregueses", não esqueçam!
Pois no caso dos tais "fregueses" em vez de uma, passavam se as pescadinhas três vezes, sempre com o mesmo som, claro. Terminadas as três passagens ouvia se a voz do Eduardo do outro lado do vidro a perguntar:
"Qual das três preferem?"
Invariavalmente o "freguês" escolhia uma das "versões" e a locução estava "aprovada"!
Para terminar: o Eduardo ( Nacional Filmes ) não era o único participante na conspiração!

Luís Gaspar

ooooooooooooooo

E Deus disse a Noé...

E Deus perguntou a Noé: "Onde está a Arca que te ordenei construires?"
E Noé respondeu ao Senhor: "Na verdade eu contratei três carpinteiros que estão de "baixa". O fornecedor de madeiras tem o stock esgotado nos próximos 12 meses. Que posso eu fazer, oh, Senhor?"
E Deus disse a Noé: "Quero que construas a Arca antes de sete dias e sete noites."
E passaram se sete dias e sete noites e a Arca não foi construída.
E Deus voltou a perguntar a Noé: "Qual foi o problema desta vez?"
E Noé respondeu ao Senhor: "O meu sub empreiteiro foi à falência. O alcatrão que me mandaste pôr por dentro e por fora da Arca ainda não me foi entregue. O canalizador entrou em greve. O meu filho que me ajudava na parte comercial da Arca juntou se a dois amigos e formou um conjunto de rock."
E Deus disse a Noé: "E que é feito do macho e da fêmea de todos os animais que te te ordenei que arranjasses de forma a deixar semente na terra?"
E Noé respondeu: "A Associação Protectora dos Animais prometeu me uma lista mas só chega na próxiama semana."
E Deus acrescentou: "E que se passa com os unicórnios e os bichos de conta?"
E disse Noé a Deus: "Os unicórnios foram descontinuados e os bichos de conta só se vendem às dúzias. Meus Deus, sabeis como é!"
E Deus disse a Noé: "Sabemos, sabemos, Noé. Depois do dilúvio haverá na Terra uma actividade que funcionará à imagem e semelhança da construção da tua Arca. Chamar se á "publicidade".

Luís Gaspar

oooooooooooooooo

Vestido de veludo...

Alguém, não me lembro quem, havia pedido para eu receber o rapaz.
"Chegou há pouco tempo de Inglaterra e quer trabalhar em cinema. Vê lá se lhe arranjas qualquer coisa!"
E ali estava ele, diante de mim, na Panorâmica 35.
Uma imagem inesquecível.
Uma farta cabeleira, redonda, a parecer uma meia bola enfiada na cabeça. Casaco e calças de veludo, muito justos, verde garrafa o casaco, lilás as calças. Estávamos no início da década de setenta. Habituado a visitar Londres, aquele "figura" não me era estranha. Mas em Lisboa, naquela altura ... aquela personagem era "impossível"! Era o tempo em que o cabelo comprido ainda era condenável, coisa de "maricas" e "bitles".
Porém, a confiança e a alegria que o rapaz transmitia (recordo o perfeitamente) fez me dizer lhe o que sempre arengava a quem se me dirigia a dizer que queria trabalhar em filmes de publicidade.
" Muito bem. Chamo lhe, porém, a atenção que trabalhar em cinema de publicidade é uma tarefa muito dura e exigente.Por exemplo, para filmar, alguém tem de carregar com as máquinas às costas!..."
No dia seguinte e sempre, lá estava ele disponível para todas as tarefas. Foi assumindo outras responsabilidades e daí a pouco tempo já conseguia (quase sempre gratuitamente) as autorizações para filmar nos locais mais difíceis ou a obtenção de adereços que podiam ir de mobílias inteiras a pequenos objectos que custavam uma pequena fortuna.
Ainda hoje estou para saber de que "artes" se servia para, com aquele aspecto "ofensivo" para a época, merecer a confiança de toda a gente.
De todas as equipas de produção com que trabalhei a formada por ele e pela Srª. Loudes foi decerto a melhor.
Entretando deixei de o ver quando abandonei a produção e realização de filmes mas fui acompanhando, de longe, o seu percurso. Da produção passou à realização e foram dele grandes sucessos entre os quais, ultimamente, os filmes para a Expo 98.
O Sidónio ( é dele que se trata) deixou nos há poucos dias. Neste exacto momento, na companhia da Srª. Lourdes, do Borges, do Ary, do Gardete e de tantos outros, lá onde os publicitários confraternizam, eles olham para nós, envolvidos nas nossas lutazinhas do dia a dia, certamente com alguma pena...

Luís Gaspar Maio de 1998

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Profissões

A Senhora Professora tinha diante de si um encantador grupo de meninos e meninas que aprendiam as primeiras letras.
Com o objectivo de lhes falar de profissões a Senhora Professora dirigindo se à Carla, perguntou:
"Diz me lá, Carla Sofia, o que faz o teu papá?"
A menina levantou se e com uma pontinha de orgulho na voz disse que o seu pai era doutor.
"E que faz o teu pai, João?"
O João, um pouco envergonhado, disse:
"Senhora Professora, o meu paizinho é...carteiro."
"E o teu, Pedrinho, em que trabalha o teu pai?"
"O meu pai" respondeu o Pedrinho "toca piano numa casa de putas!"
A Senhora Professora mudou rapidamente de assunto e a aula prosseguiu sem mais incidentes.
À noite, preocupada com a resposta do Pedrinho a Senhora Professora passou pela casa do menino e tocou à campaínha. Veio abrir o pai. A Senhora Professora contou lhe o que se passara na aula e não deixou de fazer uma forte censura à forma como o pai do Pedrinho lhe tinha explicado a sua profissão. Ao que o pobre pai respondeu:
"Minha Senhora, sou publicitário! De que outro modo poderia eu explicar a minha profissão a uma criança de seis anos?"

(Autor anónimo)

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Senhor Anunciante,

O Senhor é um anunciante inteligente. Usa a televisão, a imprensa, a rádio, outdoors, para os seus anúncios. Consegue que o seu produto apareça nos filmes de longa metragem. Paga para que o seu "site" na Internet seja visitados por milhares. Chegam a aparecer anúncios seus em obras literárias e em livros escolares. Resumindo, utiliza todos os "media" para promover o seu produto. Por isso é um anunciante inteligente.
Vai por isso utilizar o novo veículo publicitário: A Bíblia!
Exactamente. Apesar de ser recente a utilização da Bíblia como "media" o êxito é enorme. Estando as inserções limitadas ao número de Bíblias distribuídas pelos hotéis de todo o Mundo restam poucas oportunidades. As poucas insersões estão disponíveis aos seguintes preços:

Novo Testamento: 1.000 contos por versículo.
Velho Testamento: 1.500 contos por versículo.
O Velho Testamento tem mais divulgação dado que interessa a Católicos e a Judeus.

Anuncie na Bíblia e terá o seu produto anunciado junto dos hóspedes dos hotéis de todo o Mundo.

Alguns exemplos de anúncios:

Isaías 59.21

"Pela minha parte, diz o Senhor, esta é a minha aliança com eles. Esta é a semana Volvo da família. Traz a Tua e vem conhecer a Nossa
As Minhas palavras que coloquei na tua boca, não cairão da tua boca, nem das bocas dos teus filhos, desde agora e para sempre"

Josué 4

1 "Quando todo o povo acabou de atravessar o Jordão, o Senhor disse a Jusué: 2 Tomai doze homens dentre o povo, um por cada tribo e ordenai lhes: 3 Não há dia sem 24 horas, o seu jornal diário.

Números 21 Tomada de Horna

1 O rei cananeu Arad, que habitava no Negueb, soube que Israel avançava pelo caminho de Atarim. 2 Então Israel fez ao Senhor o seu voto: Valoriza as tuas decisões. Investe na Cimpor.

Levítico 20 Penalidades diversas

1 O Senhor falou a Moisés nestes termos: "Já está à venda em todo o País o livro de estilo do Público.

Génesis 44

18 Então Judá aproximou se de José e disse lhe: "Se vais fazer franchise de uma marca conhecida, fala com um banco conhecido. 19 Fala com o BNU.

Êxodo 27

1 Farás o altar de madeira de acácia com cinco côvados de comprimento e cinco côvados de largura. 2 Depois telefonarás para o 0800 299 299. O Banco Mello tem uma casa às tuas ordens.

Êxodo 29 Holocausto perpétuo

38 Sobre o altar oferecerás o seguinte: dois cordeiros de um ano diariamente e para sempre. 39 Uma forma de trabalhar, um estilo de voar: Continental Airlines.

Os salmos 5

2 Senhor, ouvi as minhas palavras, escutai a minha súplica. 3 Atendei à voz do meu clamor: Telecel onde você estiver está lá, ó meu Rei e meu Deus.

("Apanhado" na Internet e adaptado ao "mercado" português.)

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Não é publicitário ( andou por perto foi "relações públicas" na CP) mas é meu amigo. O António Gouveia escreveu este poema e não se importa que seja "picado" pelos publicitários.
Poderá passar por uma nova forma de "storyboard" para um filme de publicidade ... aos States!


A GAITA DO BILL

Andava tão triste o mundo,
Tão falto de emoção,
Que logo, lá nos States,
Se forjou uma comissão,
Que após estudo profundo
Encontrou a solução:

Como, em competição,
A América está sempre à frente,
E a fama de garanhão
que tem o seu Presidente
Podia ser excelente
Meio de diversão,
Surgiu uma ideia vil:
Fazer da gaita do Bill
Um show de televisão

Vibra o povo entusiasmado
Espantado de arrojos tais
Ganha a Bolsa e o mercado
Esgotam na banca os jornais

Só que a vida é mesmo assim
E onde há lucros, há danos.
Surgem, pois, uns puritanos
Que não vão em tal chinfrim
E exigem, pelo seu lado,
Que saia ou seja capado
Quem tem uma gaita assim

Treme o Bill e a Nação,
Já a banca vai ao fundo'
Perde o dólar cotação,
Reina o pânico no mundo

Ma lá por ser garanhão
O Clinton não é basbaque
E com a rapidez de um traque,
Em lesto jogo de mão,
Monta a sua diversão
Joga a carta do Iraque.

E a América descobre enfim
O jeito que o Bill lhe dá,
Com uma tal alavanca
Que se ergue na Casa Branca
P'ra atingir Bagdad.

(António Gouveia . Abril de 98 .)

oooooooooooooooooo

Podem os cegos ver?

Diz se, às vezes, com um algum cinismo, que não há nada que a publicidade não possa vender.
Pode a publicidade "vender" a vista a um cego?
Não custa tentar, mesmo inconscientemente, como se prova com a história que se segue.
A empresa que explora os aparelhos chamados "Caixas Multibanco" decidiu, e muito bem, instalar alguns para serem utilizados por invisuais. Encarregou a sua agência de publicidade de executar a banda sonora com as instruções "faladas" para aplicar nesses equipamentos.
Trabalho que se revelou difícil e moroso. Foram produzidas várias versões do texto até se conseguir uma clara e eficiente que foi gravada e regravada.
Finalmente o trabalho ficou concluído e uma bela voz feminina leu a versão final. Quando se estava a passar essa gravação para o suporte usado na máquina alguém reparou que a locutora, suave e simpática, dizia a certo momento:
"Agora carregue no botão verde."

História (verdadeira) contada ao Luís Gaspar pelos intervenientes.

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Vendas pelo telefone de Michael Owen

Se você não é diferente da maior parte das pessoas, não gosta de vendas pelo telefone.
Provavelmente você irrita se com o facto de lhe ligarem para casa à hora do jantar. Pergunto me porque o farão sabendo que vão aborrecer a pessoa que os atende predispondo a para não comprar nada.
Mas um amigo meu que já trabalhou numa firma de vendas explicou me:
"E quando é que querias que telefonassem? Às duas da tarde quando não está ninguém em casa?"
Uma boa ideia embora concorde que não seria muito lucrativa.
De qualquer modo como a sua existência é um facto incontroverso nos dias que correm , decidi dedicar ao assunto alguma atenção e se possível divertir me um pouco.
Comecei por os ouvir em silêncio e depois de "despejarem o saco" dizer o mais simpaticamente possível:
"O senhor vai desculpar me, mas importa se de repetir? É que sou um pouco surdo!"
Normalmente à terceira desligam . Às vezes dizem que lhes fiz perder o seu preciosa tempo.
Respondo: "Estamos em pé de igualdade, caro senhor!"
Porém, o truque envelheceu e além disso eu perdia muito tempo.
O meu amigo ex vendedor também me disse que a maior parte das pessoas que vendem pelo telefone não sabem fazer mais nada. Daí o sentir me culpado por fazer os pobres perder tanto tempo. Não muito culpado devo confessar mas desisti deste sistema.
Iniciei um novo esquema. É divertido e constitui um excelente exercício para treinar o raciocínio. Ao atender a chamada de um vendedor saio me com uma conversa "desarmante". Eis um exemplo:
"Boa noite! Sou um vendedor da Telecom e desejaria saber se, de sua casa, fazem chamadas para o estrangeiro?"
"Não."
"E recebem chamadas a pagar no destinatário?"
"Não."
"Então não fazem chamadas para o estrangeiro nem recebem chamadas a pagar por si."
"Sabe, pertenço à Igreja dos B'nai do Sétimo Dia, e esta religião proíbe a utilização do telefone..."
"Mas o senhor está a usar o telefone neste momento!"
"Oh, meu Deus! Veja o que você me obrigou a fazer! Oh, meu Deus! Perdão, meu Deus!"
E desligo na esperança de que o vendedor se tenha divertido.
Outro exemplo:
"Meu caro senhor, sou representante dos Estúdios Fotográficos Fotos de Família, Lda. e desejaria saber se está interessado numa fotografia da sua família."
"Não, obrigado."
"Nem mesmo se lhe disser que seria uma fotografia grátis?
"Não. Sabe, o meu irmão é fotógrafo da National Geografic e faz todas as nossas fotos de família de graça.
" Sim? Então está bem servido." dirá o vendedor com alguma desilusão.
"Claro. Vamos para um campo de papoilas, despimo nos, isto é, ficamos todos nus, e aí ele tira a fotografia. É com ela que fazemos, todos os anos, o nosso cartão de Natal. Constipamo nos mas a foto é de graça!"
Aqui o vendedor desliga.
Outro.
"Então boa noite!"
"Boa noite."
"Meu caro senhor, estou autorizado pela minha Empresa a oferecer lhe, a si e à sua família, umas férias num lugar maravilhoso!..."
"Não estou interessado. Obrigado."
"Mas meu caro senhor, é de graça!"
"Desculpe, mas sabe, o meu tio Horácio Hilton tem hotéis pelo mundo inteiro!"
Ou este:
"Meu caro senhor, quer ganhar bom dinheiro nos tempos livres?"
"Não obrigado. Já sou podre de rico!"
Com estas ideias não quero que os vendedores pensem que não gosto deles e por vingança me ponham na lista "dos tipos a quem se deve telefonar dez vezes por noite". Tenho em grande consideração a maior parte das pessoas que vendem. Muito do que compro compro o a vendedores. Alguns dos meus melhores amigos são vendedores. Até ficaria orgulhoso se uma filha minha casasse com um vendedor.
Um dia destes tive uma experiência com uma vendedora da qual não me vou esquecer facilmente. Fui abordado na rua por uma bela jovem que abrindo a gabardina mostrou o seu corpo nu e perguntou:
"Quer comprar?"
Ao que respondi: "Não, obrigado. Já não uso gabardina!

("Pescado" na Internet e adaptada.)

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Há falta de melhor...outra anedota!

O Director de uma Agência de Publicidade, já muito velho, sentindo que a morte se aproximava chamou para junto do seu leito o Director Criativo, o Director de Contas e o Director Financeiro.
"Quero levar comigo o meu dinheiro. Vou entregar a cada um de vós 100.000 contos que quero que coloquem no meu caixão no dia do meu funeral".
Chegado o dia o Director Criativo aproximou se do caixão, deixou cair lá para dentro um pacote e foi para junto dos outros com ar comprometido.
Depois de uma pausa disse: "Não sou capaz de mentir. Só lá coloquei 80.000 contos. Fiquei com 20.000!".
O Director de Contas também se dirigiu ao caixão e deixou lá um pacote. Ao voltar para junto dos outros disse:
"Eu ainda fiz pior. Só lá deixei 50.000 e fiquei com o resto".
Finalmente o Director Financeiro foi até ao caixão e deitou lá para dentro um envelope. Aos outros disse:
"Não sei como é que vocês podem ser tão desonestos! Em deixei lá os 100.000 contos... em letras!"

(Autor anónimo)

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Uma anedota...

Um engenheiro, um cientista e um publicitário concorreram a um lugar importante numa grande empresa.
O primeiro a ser entrevistado foi o engenheiro a quem perguntaram quanto eram "dois vezes dois". Podendo dar a resposta no dia seguinte o engenheiro passou o tempo fechado na biblioteca a consultar livros e mais livros. No dia seguinte deu a resposta: "Quatro!".
Ao cientista foi feita a mesma pergunta e foi dado o mesmo prazo para a resposta. Também ele passou o tempo disponível a consultar os manuais de várias ciências para responder, no dia seguinte: "Quatro".
Finalmente ao publicitário puseram a mesma questão. Ao contrário dos outros disse que não precisava de tanto tempo para responder. Foi para o telefone e depois de alguns contactos perguntou ao juri:
"Quanto é que querem que seja dois vezes dois?"

("Picada" e adaptada da Internet.)

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Olá ; )

Ainda não é desta que te conto o que ando a fazer. Por várias razões, mas sobretudo para pôr à prova os bufos das fofocas e Cia.
Mas se ainda queres estórias, aqui vai uma. Para não ser o REALIZADOR PRINCIPAL da Telecine a encher te o saite.
Voltando ao tempo em que os animais falavam, até porque as fábulas têm mais piada assim, vou contar te uma de que só conheço a primeira parte em segunda mão. Vou vender o peixe pelo preço a que mo venderam a mim. Acho que ninguém se lembra dela. E também não acho que seja para ficar no rol dos esquecimentos. Pois não, João ?
Era então uma filmagem para uma marca atrevida de sportswear que fez furor no fim dos anos 70, início dos 80, com anúncios, variados, de bikinis e roupa ligeira. Talvez fossem os primeiros filmes a provocar algum alvoroço (teasers, não é como se diz ?), pondo em cena umas raparigas jovens e bonitas e que primavam pela possibilidade de se verem umas coxas nuas, e se entreverem umas curvas de nádegas e uns princípios de seios. Eram filmagens famosas e concorridas.
Esta passou se á noite numa praia da Linha (Carcavelos ?). Ainda não era bem verão e a noite estava escura e fresca. 3 ou 4 meninas em bikini eram aspergidas, diria mesmo encharcadas, à mangueirada, por um senhor de uniforme (bombeiro, marinheiro ?) no meio de um círculo de luz no meio do areal. As meninas riam, excitadíssimas, enquanto se maneavam para se protegerem do jacto de água atrás umas das outras, e porem em evidencia a roupa (?) a publicitar, e com um pouco de boa vontade, as partes dos corpos que as mesmas não cobriam. Isto durou exactamente de 3 para 4 minutos, entre o "acção" e o "corta" da primeira bobine de 120 metros. Quando esta acabou, parou se para mudar o magasin e apagaram se os projectores para poupar.
Minutos depois, com a câmara recarregada, fez se luz de novo para novo take, chamaram se as meninas ao plateau, chamaram se, chamaram se mais uma vez, procuraram se as ditas e nunca mais se viram. Tinham se vestido e basado. Assim. Sem o mínimo boa noite. Não sei se foi exactamente assim mas o resultado foi este: 120 metros impressos para um spot de 30 segundos. Eu sei porque fui eu que o montei (?). É preciso boa vontade para lhe chamar isto, porque não pude senão seleccionar um segundo aqui, dois ali e, quando o cliente lá apareceu para ver a cópia de montagem, viu uns escassos fotogramas e um desesperado, que era eu, a vender lhe uns paralíticos daqui, uns encadeados dali. Umas sobrimpressões, umas passagens do logotipo, muitas, para esticar. E quando digo vender, era mesmo disso que se tratava porque ele não sabia muito bem do que é que eu estava a falar, e eu, se calhar também não. Lembro que nesse tempo em que os animais falavam, ainda não havia telecinemas nem offlines não lineares como há hoje, que se pode, ali, produzir uma maquete caseira do spot para pós produção. Só havia uns bocadinhos de positivo de 35 mm, coladinhos com fita cola uns aos outros, e uma enorme lábia e outro tanto descaramento para convencer o cliente a comprar um filme que só veria quando fosse para o ar. Todo este processo passava pela produção de um interpositivo, do qual se gerava um internegativo que depois ía à truca onde o recém falecido Zé João refilmava conforme a carta de rodagem em que se estabeleciam todos aqueles pára arranca, abranda e volta para trás. Era morose e caro. "Aqui um slow motion que encadeia para o logotipo que desliza esticando da esquerda para a direita sobre o paralítico daquele grande plano do biquini que não viu porque a menina se virou no fotograma a seguir. Mas a gente pára ali e mantém até ao packshot." Ganda lata !
Estava eu nisto quando entrou o João. O cliente, entusiasmado, disse lhe que tinha gostado do que tinha visto, mas sobretudo do que não tinha. Eram os primórdios da publicidade virtual. O João puxou me para fora da sala para eu lhe explicar o filme que ele tinha feito. Quando acabei disse me horrorizado:
"Mas eu só tenho 45 contos para fazer este spot ! Como é que se faz essa pós produção toda ?"
Não me lembro como é que acabou a estória mas deve ter sido em bem pois este foi o primeiro de uma longa série de spots que lá se fizeram para aquela marca. E cada vez mais atrevidos, não só pelo que (entre)mostravam mas também pelas inovações de linguagem publicinematográfica que utilizavam. Já lá vão uns 20 anos.

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...uma anedota.

Já agora uma verdadeira anedota da publicidade:
Um fulano atira se do alto de um arranha céus e à medida que vai caindo, vai ficando careca. A câmara que o acompanhava na queda, pára. Claro que o suicida sai de campo, para baixo e entram uns cabelos valsando, suavemente, em slow motion.

Voz de companhia: "Dercos retarda a queda do cabelo."

B&c ; )

Zé Pedro
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2685 Portela LRS
tel 9446564 móvel 0931 533851

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A importância de se chamar Ernesto!...

Numa Empresa, ao escolher se o respectivo nome procura se, com frequência, que nele esteja já implícita a actividade da Sociedade.
Foi assim com a Panorâmica 35.
Só que o nome inicialmente escolhido não foi este. Os fundadores da Produtora, o Faria de Almeida (cineasta), o Mário Neves (desenho animado), o Fernando Peres (crítico de arte) e o Luís Gaspar (publicitário), queriam que a sua Empresa se chamasse, simplesmente, "PCM" o que correspondia às iniciais de "publicidade e curta metragem".
Nesse tempo, como hoje, era necessário obter o acordo de um Departamento de Estado encarregue destes registos. A resposta veio, negativa, sem qualquer justificação para a recusa.
Insatisfeito com a falta de explicações o Faria de Almeida dirigiu se à dita Repartição para saber o motivo da recusa.
Que não lha podiam dar, foi a resposta.
Mas há outra Firma com este nome ou parecido, teria perguntado.
Não podiam dizer e... pronto! Os tempos eram outros...
Por sorte o Faria de Almeida descobriu entre os funcionários um conhecido seu a quem, particularmente, perguntou o motivo da recusa.
Que iria tentar saber...
Dias depois recebeu um telefonema do amigo dos registos que certamente em voz baixa, comprometida, lhe esplicou:
"A recusa veio da PIDE. Acham que o nome proposto por vocês é muito parecido com PC. Percebes... PC... Partido Comunista!...E parece que vocês têm má fama por aquelas bandas!..."
Tínhamos!...

Luís Gaspar

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olá, : )

Já sabias que isto das estórias é como as cerejas. Estava eu, entre a banda sonora dos desenhos animados japoneses que a minha filha está a ver na TV e o concerto de berbequim (é espantoso como se pode também escrever CONSERTO porque estão certamente a arranjar alguma coisa) com que o vizinho de cima decidiu brindar me, estava portanto a passear pela actualização do teu saite (há que pôr os nomes aos bois) e deparei com aquela reflexão sobre a visita de um estranho (outsider) que não deixaria certamente de se sentir transportado para outro planeta. O português, d'aquém e d'além mar até é escorreito, não há grandes pontapés na gramática. Então o que é que choca ?
Andamos há muito tempo a pensar (falar, trabalhar, comer) em circuito fechado. São sempre as mesmas pessoas mesmo quando mudam as caras e os escalões etários. Correndo o risco de se tornar um newsgroup de luxo.
O apelo á participação podia corresponder também a uma tentativa de tornar a comunicação mais abrangente, mais humanista no sentido de interessar mais pessoas, mesmo para fora do meio (isto sugere ideias de tráficos diversos, mas fica tão bem, neste ou em qualquer outro).
O biscate de sábado de manhã sugeriu me alguns pensamentos. Primeiro, onde é que o vizinho foi arranjar mão de obra especializada a 90 dias da abertura da Expo98 ?
Depois, pensei na Babel em que Lisboa se tornou com a concentração actual de obras ditas faraónicas. Não pude deixar de associar a lembrança da Lisboa pós descobrimentos, como centro (geográfico) comercial do mundo, onde se cruzavam as rotas do comércio das especiarias, do ouro e dos escravos, com a inevitável afluência de mercadores e aventureiros das mais diversas origens.
A seguir lembrei me de me contarem, há dois ou três dias, que os operários africanos de uma obra de reabilitação no centro histórico de Lisboa, almoçam sózinhos, alguns aos pares, porque, oriundos de países diferentes, S.Tomé e Príncipe, Guiné, Zaire, Suriname, não falam línguas compatíveis. O que não é evidente para quem só vê a côr da pele. Pensei depois na quantidade de automóveis fora do prazo de validade que estacionam à volta dos bairros degradados da periferia de Lisboa, numa manifestação evidente de aumento de um certo tipo de consumo.
Um deles enfaixou se me nas traseiras há uns meses por manifesta falta de eficácia dos travões. "Sub empreiteiro da construção civil" reza o cartão de visita que me foi entregue para posteriores contactos e negociações.
Tudo isto para chegar ao spot do Mimo da TMN que encena um emigrante de um país lusófono africano que não identifico, com a cara pintada de preto, por contraste com a máscara branca do Mimo "ocidental", a falar para a "terra". Normal, dirão. Com uma grande faixa de população emigrada a trabalhar, surge um novo "target". Depois das domésticas e dos reformados, das crianças ao sábado de manhã e dos adolescentes e outras camadas emergentes, eis um novo público alvo: o trabalhador emigrante. É normal. Faz parte das regras. Também há dinheiro para gastos nas minorias. Pelo menos até ao dia 22 de Maio de 1998. Também elas têm o direito de ser representadas. Só se impressionam os bem pensantes. Isso tudo são atavismos de esquerda.
Ao fim e ao cabo, como dizia um amigo, internacionalista ferrenho: és meu irmão; até podes ser meu amigo. Nunca serás é meu cunhado. Ou meu genro. E na classificação onde aparecerá? Bem abaixo dos bês e cês, certamente. Pensando bem, uma frase do spot revela tudo: AGORA, QUALQUER UM PODE...a frase é tímida. Falta lhe a conclusão: até um emigrante africano.
Ou mesmo: até um preto. Chegámos ao degrau inferior da escala. Claro que o dinheiro não tem cheiro, nem côr. Mas terá de ser assim ?

PS Ainda a propósito da Expo98 e a maneira de a mencionar oralmente, depois das eispus e das eispôs e outras xpus ou xpós, o pessoal que vive aqui na ZI (zona de intervenção), a suportar as obras há mais de um século, e depois destas semanas sem chuva, diz simplesmente PO'. Esperemos que depois do fim das obras, a 22 de Maio, lhe possamos chamar EX PO'.

Zé Pedro

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