INDICATIVO
								
							Neste programa, poesia de Natália Bonnaud Nunes
							
							MÚSICA
							
							Mais uma autora que chega ao Estúdio Raposa através do Facebook.
							“Foi através da nossa "amizade" no Facebook que conheci o vosso trabalho, que me interessou bastante.” - diz Natália Bonnaud Nunes
							Assim, envia-me oito poemas inéditos, dos quais selecionei cinco, tantos quantos vamos ouvir neste programa.
							Estes poemas serão brevemente publicados no livro “Chaves, fechaduras, sinos e outros simbolos”, na Palimage Editores.
							
							MÚSICA
							
							Atualmente, Natália Bonnaud Nunes está a morar em França, na Bretanha.  Viveu durante alguns anos em Coimbra, onde fez parte da academia. Integrou o grupo de poesia Rascunho e da Oficina da Poesia. Teve um programa na Rádio Universidade. de Coimbra intitulado "O outro lado era aqui", programa consagrado às viagens através da poesia, onde lia poemas com musica de fundo, e onde entrevistava jovens escritores.  
							Natália Bonnaud Nunes tem trabalhos seus publicados em revistas e em colectâneas de poesia, e em 2.000 publicou um livro nas Edições Sagesse, projeto da Palimage Editores, com o titulo Essências, assinado com o pseudónimo Natália Teles Nunes. 
							
							MÚSICA
							
							A Natália Bonnaud Nunes não é pródiga a fornecer dados biográficos, mas como já tenho dito por várias vezes, o trabalho do poeta constitui uma excelente biografia.
							Como também já referi, vamos ouvir cinco poemas de Natália Bonnaud Nunes
							
							MÚSICA
							uma alfândega entre o antes e o depois, 
								submersa e implacável, devastando tudo. 
								antes, o medo do visionário, do simples, do complexo. pressa e fuga para cumprir
								o desejo. depois, esconder 
								cumplicidade, fingir o fingimento
								no mesmo quadrado, com a mesma roupa.
								regressar
								ao antes 
								do antes ao zero significante procurar pistas
								que prevaleçam no equilíbrio. depois
								o medo repleto e retomado
								despertando o físico para expressão 
								agora, aqui, guardando o intermédio secreto
								que a vontade quer prolongado 
								calando a explicação
								do brilho. 
							MÚSICA
							aderir à contenção 
								dos gestos economizando
								palavras de rever.
							num instante, ao fixar-se,
								os olhos faíscam despertando
								aproximações de ontem.
							depois da surdez, novo relance fugidio
								tentando memorizar traços e tiques
								eixo temporal
								associado a outros episódios.
							dentro da avalanche ainda, adivinha-se
								o desejo num flash
								disparado sorrateiro quase
								interrompido pela
								frieza do cenário.
							dois agentes secretos
								sublinhando, ultrapassando
								riscos a suspeitar da multidão que
								em segundos desaparece 
								e logo regressa
								atacante.
							correm ponteiros
								nos pulsos ao ritmo das artérias, 
								consciência ilusão alojada
								na garganta 
								e por todo o corpo
								medo.
							negação definitiva 
								ordem de anteposta
								vez tão derradeira
								e nunca primeira.
							esvoaçam discretos na brancura
								os dedos enquanto a dupla se separa
								de frente procurando melhor
								panorâmica para o sonho.
							mapa colorido súbita-
								mente metamorfose-
								ado de negro e branco 
								para daí
								a pouco se
								encher de vazio
								e máscara. 
							telepatia digital
								para rejubilar o momento 
								desde o nada a dizer
								até às conversas
								desnecessárias no sentido.
							o relógio, o calendário, o telefone
								olhos, ouvidos e boca
								canalizando o toque fatal 
								entre nunca
								e nunca mais.
							transportam universos emoldurados
								na interrogação cósmica 
								onde cabem todas
								as teorias da criação,
								carimbadas de dor
								i-moralidade.
							às vezes, intui-se o engano
								sem saber
							MÚSICA
							soou a telefonia sem lugar
								marcado no corpo como gesto
								melodia ruído orquestra.
							pássaro vento sol multidão
								bilhete de autocarro triste nudez
							na bagagem, cheiros
								comprovando a loucura
								amor ternura ténue fio
								de cabelo.
							abre-se de ferro e mola
								o peito
								sem que a vontade lhe queira chamar
								angústia. uma distância
								mata de punhais renasce
								sorrisos na memória do regresso.
							resposta para esta paisagem
								encontro no dia seguinte
								na euforia de o rever através da noite
								incerta que desconcentra
								o silêncio quartos frios e rostos
								revisitados.
							o astro maior entregue ao cansaço
								num voo majestoso de despedida, turvas
								as águas a arquitectura da decadência.
							qualquer coisa se apaga de retorno 
								involuntário. delirante, a emoção
							entrega-se à figura 
								que parte em movimento feita de fita
								inacabada
								ou não quer partilhar
								a hora.
							reconquista-se espaço 
								enquanto lábios atentos murmuram
								expressões ditas
								de sonho.
							MÚSICA
							(a partir de Luiza Neto Jorge) 
							apoiam-se nessa posição 
								ao fundo 
								bebendo-se sentados 
								como cometas. 
							difícil separação do sol ambulante 
								e erótica. sem esses. beijou 
								nos precipícios moribundo 
								o cronómetro da liberdade. 
							virás então mesmo morto 
								com o amor 
								a afundar-se ao som da cratera 
								cópula chapa de ferro. 
							morro e ressuscito nas esquinas. 
							és pó, farpa de terra sem membros 
								e virei ver-te 
								por entre morfoses metálicas. 
							impacientes seres fomos 
								amigos das pontes na metonímia das margens. 
							os vícios são mansos. 
								tombamos nos pais 
								mortos como gansos e somos 
								sem a família. 
							
							MÚSICA
							repousavam infindáveis olhos 
								de infância, cristais para compor 
								verde. pássaro do mundo fotossensível 
								cujo olhar se metamorfoseia de marés 
								que sentem querendo 
								em tudo o toque experimental 
								para remar no espaço. 
							completa, tudo se abriu na constância 
								do pedido como poro para receber. 
								subiu nos braços da plateia 
								em êxtase, guiada por mãos 
								outras 
								apoiando o corpo. trepava 
								evitando a partida de dentro do corpo assim 
								inteira 
								e completa para tomar a recompensa, 
								convite 
								à crueldade pela mágoa do não ser. 
								a seu favor palpitava 
								de novo por ancas estreitas. 
							ainda cheios, brincam às escondidas 
								junto ao muro num rito 
								vaivém confluindo para dentro. 
								de tudo tremendo, atravessam 
								a perspectiva redonda 
								da terra sob o céu onde mais 
								perto o infinito. 
							vou encontrar-te na escuridão 
								e permaneciam no tempo, no espaço 
								imparciais à física. 
							como numa dança marcial, 
								entrelaçam os membros a partir do núcleo 
								côncavo do tronco, ionizados 
								pela explosão das esferas 
								de prazer. 
							
							MÚSICA
							Neste programa ouvimos poesia de Natália Bonnaud Nunes a quem agradeço a disponibilidade. Até ao próximo programa.
							
							INDICATIVO