Estúdio Raposa

Poesia Erótica 48
Natália Bonnaud Nunes

 

INDICATIVO

Neste programa, poesia de Natália Bonnaud Nunes

MÚSICA

Mais uma autora que chega ao Estúdio Raposa através do Facebook.
“Foi através da nossa "amizade" no Facebook que conheci o vosso trabalho, que me interessou bastante.” - diz Natália Bonnaud Nunes
Assim, envia-me oito poemas inéditos, dos quais selecionei cinco, tantos quantos vamos ouvir neste programa.
Estes poemas serão brevemente publicados no livro “Chaves, fechaduras, sinos e outros simbolos”, na Palimage Editores.

MÚSICA

Atualmente, Natália Bonnaud Nunes está a morar em França, na Bretanha. Viveu durante alguns anos em Coimbra, onde fez parte da academia. Integrou o grupo de poesia Rascunho e da Oficina da Poesia. Teve um programa na Rádio Universidade. de Coimbra intitulado "O outro lado era aqui", programa consagrado às viagens através da poesia, onde lia poemas com musica de fundo, e onde entrevistava jovens escritores.  
Natália Bonnaud Nunes tem trabalhos seus publicados em revistas e em colectâneas de poesia, e em 2.000 publicou um livro nas Edições Sagesse, projeto da Palimage Editores, com o titulo Essências, assinado com o pseudónimo Natália Teles Nunes.

MÚSICA

A Natália Bonnaud Nunes não é pródiga a fornecer dados biográficos, mas como já tenho dito por várias vezes, o trabalho do poeta constitui uma excelente biografia.
Como também já referi, vamos ouvir cinco poemas de Natália Bonnaud Nunes

MÚSICA

uma alfândega entre o antes e o depois,
submersa e implacável, devastando tudo.
antes, o medo do visionário, do simples, do complexo. pressa e fuga para cumprir
o desejo. depois, esconder
cumplicidade, fingir o fingimento
no mesmo quadrado, com a mesma roupa.
regressar
ao antes
do antes ao zero significante procurar pistas
que prevaleçam no equilíbrio. depois
o medo repleto e retomado
despertando o físico para expressão
agora, aqui, guardando o intermédio secreto
que a vontade quer prolongado
calando a explicação
do brilho.

MÚSICA

aderir à contenção
dos gestos economizando
palavras de rever.

num instante, ao fixar-se,
os olhos faíscam despertando
aproximações de ontem.

depois da surdez, novo relance fugidio
tentando memorizar traços e tiques
eixo temporal
associado a outros episódios.

dentro da avalanche ainda, adivinha-se
o desejo num flash
disparado sorrateiro quase
interrompido pela
frieza do cenário.

dois agentes secretos
sublinhando, ultrapassando
riscos a suspeitar da multidão que
em segundos desaparece
e logo regressa
atacante.

correm ponteiros
nos pulsos ao ritmo das artérias,
consciência ilusão alojada
na garganta
e por todo o corpo
medo.

negação definitiva
ordem de anteposta
vez tão derradeira
e nunca primeira.

esvoaçam discretos na brancura
os dedos enquanto a dupla se separa
de frente procurando melhor
panorâmica para o sonho.

mapa colorido súbita-
mente metamorfose-
ado de negro e branco
para daí
a pouco se
encher de vazio
e máscara.

telepatia digital
para rejubilar o momento
desde o nada a dizer
até às conversas
desnecessárias no sentido.

o relógio, o calendário, o telefone
olhos, ouvidos e boca
canalizando o toque fatal
entre nunca
e nunca mais.

transportam universos emoldurados
na interrogação cósmica
onde cabem todas
as teorias da criação,
carimbadas de dor
i-moralidade.

às vezes, intui-se o engano
sem saber

MÚSICA

soou a telefonia sem lugar
marcado no corpo como gesto
melodia ruído orquestra.

pássaro vento sol multidão
bilhete de autocarro triste nudez

na bagagem, cheiros
comprovando a loucura
amor ternura ténue fio
de cabelo.

abre-se de ferro e mola
o peito
sem que a vontade lhe queira chamar
angústia. uma distância
mata de punhais renasce
sorrisos na memória do regresso.

resposta para esta paisagem
encontro no dia seguinte
na euforia de o rever através da noite
incerta que desconcentra
o silêncio quartos frios e rostos
revisitados.

o astro maior entregue ao cansaço
num voo majestoso de despedida, turvas
as águas a arquitectura da decadência.

qualquer coisa se apaga de retorno
involuntário. delirante, a emoção

entrega-se à figura
que parte em movimento feita de fita
inacabada
ou não quer partilhar
a hora.

reconquista-se espaço
enquanto lábios atentos murmuram
expressões ditas
de sonho.

MÚSICA

(a partir de Luiza Neto Jorge)

apoiam-se nessa posição
ao fundo
bebendo-se sentados
como cometas.

difícil separação do sol ambulante
e erótica. sem esses. beijou
nos precipícios moribundo
o cronómetro da liberdade.

virás então mesmo morto
com o amor
a afundar-se ao som da cratera
cópula chapa de ferro.

morro e ressuscito nas esquinas.

és pó, farpa de terra sem membros
e virei ver-te
por entre morfoses metálicas.

impacientes seres fomos
amigos das pontes na metonímia das margens.

os vícios são mansos.
tombamos nos pais
mortos como gansos e somos
sem a família.

MÚSICA

repousavam infindáveis olhos
de infância, cristais para compor
verde. pássaro do mundo fotossensível
cujo olhar se metamorfoseia de marés
que sentem querendo
em tudo o toque experimental
para remar no espaço.

completa, tudo se abriu na constância
do pedido como poro para receber.
subiu nos braços da plateia
em êxtase, guiada por mãos
outras
apoiando o corpo. trepava
evitando a partida de dentro do corpo assim
inteira
e completa para tomar a recompensa,
convite
à crueldade pela mágoa do não ser.
a seu favor palpitava
de novo por ancas estreitas.

ainda cheios, brincam às escondidas
junto ao muro num rito
vaivém confluindo para dentro.
de tudo tremendo, atravessam
a perspectiva redonda
da terra sob o céu onde mais
perto o infinito.

vou encontrar-te na escuridão
e permaneciam no tempo, no espaço
imparciais à física.

como numa dança marcial,
entrelaçam os membros a partir do núcleo
côncavo do tronco, ionizados
pela explosão das esferas
de prazer.

MÚSICA

Neste programa ouvimos poesia de Natália Bonnaud Nunes a quem agradeço a disponibilidade. Até ao próximo programa.

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