Estúdio Raposa

História 130
O Tacho do Tesouro

 

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Vamos ouvir mais uma lenda contada por Fernanda Frazão “O Tacho e o Tesouro”

MÚSICA

Ainda no início do século XVIII muita gente conhecia as ruínas do que fora um grande palácio, a habitação da heroína desta lenda, Dona Zarolha.
Dona Zarolha não era, evidentemente, o nome da mulher da nossa história, mas alcunha resultante da aventura mirabolante que viveu e pela qual perdeu um olho.
Vivia esta mulher na Mexilhoeira. Uma noite acordou estremunhada e excitada por um sonho que acabara de ter: ia pela estrada que vai dar ao sítio da Rocha, quando em determinado local, ao pé de uma alfarrobeira, viu enterrado um tacho cheio de ouro, guardado por um mouro encantado que daria tão grande tesouro a quem, ao pino da meia-noite, ali fosse e consentisse que lhe desse um beijo.
Decidiu tentar a sorte na noite seguinte e lá foi estrada abaixo, uma estrada larga da largura de um carro, até dar com a alfarrobeira do sonho. E, tal como vislumbrara, achou-a exactamente no tal local. Começou a escavar e encontrou o tacho do ouro. Era tão grande como a largura do caminho, uma vez que ocupava toda a estrada, tocando as asas nos dois valados que a limitavam. Porém, a cobrir o dinheiro que mais se adivinhava do que se via, estava um enormíssimo sapo, muito nojento. A mulher percebeu que teria de beijar o sapo para poder ficar com o tesouro, mas, impreparada psicologicamente para aquele encontro - tinha-se acostumado à ideia de beijar um homem, ainda que mouro - ficou tão horrorizada que voltou para casa cheia de medo e de nojo. O que ela não sabia era que a sua atitude tinha contribuído para redobrar o encanto do mouro, o que acabou por lhe acarretar a ela o resultado de uma pequena vingança, como veremos.
Passados tempos voltou a sonhar exactamente a mesma coisa e por três noites seguidas teve as mesmas visões.
Ao fim do terceiro sonho, decidiu voltar ao sítio da alfarrobeira porque, afinal, era pobre e não podia deixar de aproveitar aquela fortuna. Por outro lado, pensava ela, o diabo não é tão feio como o pintam, beijar o sapo era apenas um instante e pronto. Por tudo isto, lá foi, ao cair da noite, em direcção ao sítio da alfarrobeira, na estrada para a Rocha.
Desenterrou o tacho à meia-noite em ponto, e estendeu a face para receber o beijo do sapo. Imediatamente, mal se tocaram, saltou-lhe um olho da órbita, mas com o outro que lhe restava pôde ver o sapo transformar-se num belo mouro, que, antes de desaparecer, a aconselhou a voltar ali todas as noites, à mesma hora, para levar para casa o tesouro até o esgotar.
E assim, apesar de castigada pela hesitação que tivera da primeira vez, a mulher carregou todo o ouro do tacho, até o esgotar por completo. Ficou riquíssima e gozou o resto da sua longa vida de um respeito ilimitado, que, sem dúvida, provinha mais da sua riqueza do que da sua beleza de zarolha.
A lenda não diz se chegou ou não a casar e a ter filhos, o que não deixa de ser um pouco estranho, já que em casos similares é costume atribuir proles fabulosas aos felizardos que enriquecem deste modo. Por isso, é provável que Dona Zarolha já estivesse a ir para a idade, na época em que tudo isto se passou, e que já não pudesse pensar em verduras. Mas, e isto é facto incontestável, a fama da sua riqueza estendeu-se por todo o reino de Portugal, tendo acontecido chegar à Mexilhoeira gente de povoações longínquas para pedir empréstimos à rica zarolha, que, em boa verdade, nunca os negava.

MÚSICA

Ouvimos uma lenda que recolhi da coleção “Lendas Portuguesas”, um trabalho de Fernanda Frazão.

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