Estúdio Raposa

História nº 115
"Os dois soldados"

 


  • INDICATIVO

    Vamos ouvir a história dos “Dois soldados”, história que fui buscar ao livro de Ataíde de Oliveira, “Contos tradicionais do Algarve”. Então vamos a ela.

    MÚSICA

    Havia dois rapazes, que eram muito amigos. Um era um ano mais velho do que o outro, de modo que, quando o mais novo sentou praça, já o mais velho tinha um ano de serviço militar. Eram muito bem comportados e andavam sempre juntos. Saiu o mais velho da praça, e voltou passados três meses a visitar o amigo. Era dia em que este estava de serviço ao quartel.
    O soldado pediu ao seu capitão dispensa do serviço, e logo que este soube que era para acompanhar o seu velho amigo e patrício, dispensou-o do serviço, mas não o dispensou de recolher a certas horas.
    Foram os dois amigos passear e entraram numa casa de comidas e bebidas. Conversaram, conversaram, até que foram avisados pelo dono da casa de que eram horas de fechar o estabelecimento.
    - Pois, que horas são?
    - Meia-noite. - disse o homem.
    Ficou o soldado muito aflito: era a primeira vez que apanhava um castigo. Saiu da casa e o seu amigo ficou.
    Próximo do quartel viu ele um sujeito montado num cavalo e notou que o cavalo trazia as patas enroladas em trapos. Espreitou.
    O sujeito aproximou-se de uma casa alta, de cuja janela desceram pequenos fardos muito pesados, e no fim uma senhora que desceu por uma escada de corda. Em seguida montou-se com o sujeito no cavalo, e este partiu a grande trote. O soldado trazia consigo a baioneta e foi seguindo o cavalo. A curta distância parou o cavalo, e o cavaleiro disse imperiosamente à senhora que se apeasse. Ela apeou-se.
    Faça o acto de contrição porque vai morrer, disse ele.
    - Eu não fiz mal nenhum, porque razão me quer matar? - disse ela.
    - Pois supunha que eu casasse com você? Eu só queria o seu dinheiro; agora estou governado, mas é preciso que morra aqui.
    E, dizendo estas palavras, avançou para a senhora. A este tempo estava próximo o soldado, que arrancou a sua baioneta e matou o indivíduo, que era um terrível ladrão.
    Em seguida o soldado montou no cavalo a senhora e as malas e foi levar tudo à casa da desditosa. Esta deu ao soldado um lenço de peças em ouro e pediu-lhe que todos os dias às onze horas lhe passasse debaixo da casa. Ora a menina era filha de um mercador muito rico.
    Dirigiu-se o soldado para o quartel ao romper da manhã e logo foi avisado pela sentinela de que o capitão estava muito zangado por ele faltar à hora do recolher.
    Apresentou-se o soldado ao capitão e tais foram as desculpas e tão bom era o seu comportamento que não foi castigado.
    No dia seguinte, pelas onze horas, passou o soldado defronte da janela do mercador e a filha deste atirou-lhe outra bolsa de dinheiro, que ele apanhou. Repetiu-se isto mais vezes até que o soldado entendeu que fazia um pecado em receber aquele dinheiro. Dirigiu-se a uma igreja e encontrou um cardeal a quem pediu que o ouvisse de confissão e nesta contou tudo. O cardeal aconselhou-o a que apanhasse o dinheiro, visto que a senhora lho dava. No outro dia, passou o soldado defronte da loja do mercador, viu lá o cardeal, que o chamou. Estiveram conversando por algum tempo, o suficiente para o soldado ficar sabendo que o cardeal era irmão do mercador e portanto tio da senhora, que ele salvara da morte.
    Logo que foram horas de jantar foi o soldado convidado a jantar, convite que aceitou.
    No fim do jantar disse o cardeal para o irmão: se tua filha fosse salva por um homem, o que farias a esse homem?
    O mercador respondeu: se esse homem fosse solteiro, dava-lhe a minha filha.
    Então o cardeal pediu ao irmão que desse a sua filha em casamento ao soldado. Deram-se todas as explicações que o caso exigia e o nosso soldado casou com a filha do mercador.

    INDICATIVO

    Acabamos de ouvir uma história tradicional portuguesa que retirei do livro de Ataíde de
    Oliveira
    I
    NDICATIVO