Estúdio Raposa


História nº 113
A Bela-Menina

 


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    Vamos ouvir uma história intitulada “A bela menina”. Fui buscá-la ao livro de Adolfo Coelho “Contos populares portugueses”

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    Era uma vez um homem; vivia numa cidade e trazia navegações no mar, e depois foi ele e deu em decadência por se lhe perderem as navegações. Ele teve o seu pesar e não podia viver com aquela decadência com que vivia no povoado e tinha umas terrinhas na aldeia e disse para a mulher e para as filhas: «Não temos remédio senão irmos para as nossas terrinhas; se vivemos com menos decência que até aqui, somos pregoados dos nossos inimigos.»
    A mulher e uma filha aceitaram, mas as outras duas filhas começaram a chorar muito. E depois foram. A que tinha ido de sua vontade era a mais nova e chamava-se Bela-Menina; cantava muito e era a que cozinhava e ia buscar erva para o gado, de pés descalços; as outras metiam-se no quarto e não faziam senão chorar. Quando o pai ia para alguma parte, as mais velhas sempre lhe pediam que lhes trouxesse alguma coisa e a mais nova não lhe pedia nada. Vai nisto, veio-lhe uma carta de um amigo dizendo que as navegações vinham aí, que tiveram notícia e que fosse vê-Ias.
    O homem caminhou mais um criado a saber das tais navegações; quando saiu, disseram as suas filhas mais velhas que, se as navegações fossem as dele, lhes levasse algumas coisas que lhe declararam. E ele disse à mais nova: «Ora todas me pedem que lhes traga alguma coisa. Só tu não me pedes nada?» «Vou pedir-lhe também uma coisa; onde o meu pai vir o mais belo jardim, traga-me a mais bela flor que lá houver.» O pai foi e chegou a uma cidade e reconheceu que as navegações não eram as dele e foi-se embora com a bolsa vazia. Chegou a um monte e anoiteceu-lhe; ele viu uma luz e dirigiu-se para ela a ver se encontrava quem o acolhesse. Chegou lá e viu uma casa grande e estropeou à porta; mas não lhe falaram; tornou a estropear; não lhe falaram. E disse ao moço: «Vai aí pelo portal de baixo ver se vês alguém.» O moço foi e voltou: «Vejo lá muitas luzes dentro e cavalos a comer e penso para lhe botar; mas não vejo ninguém.»
    Então o homem mandou meter o cavalo na cavalariça e entraram para a cozinha. Acharam lá que comer e, como a fome não era pequena, foram comendo muito. E nisto aí vem por essa casa adiante uma coisa fazendo um grande ruído, assim como umas cadeiras que vinham a rastos pela casa adiante e depois chegou ao pé deles um bicho de rastos e disse-lhes: «Boas-noites.» E eles puseram-se a pé com medo e disseram-lhe: «Nós viemos aqui por não acharmos abrigo nem que comer noutra parte; mas não vimos fazer mal a ninguém.» «Deixai-vos estar e comei.» Demorou-se um pouco o bicho e disse-lhes: «Ora ide-vos deitar que eu também cá vou para o meu curral.» E começou-se a arrastar pela cozinha e foi. Ao outro dia o homem foi ao jardim, que era o mais belo que tinha visto, e disse: «Já que não posso levar nada para as minhas filhas mais velhas, quero ao menos levar a flor para a Bela-Menina ... » Estava a cortar a flor e nisto o bicho salta-lhe: «Ah, ladrão! Depois de eu te acolher em minha casa, tu vens-me colher o meu sustento, que eu não me sustento senão de rosas.» E ele disse: «Eu fiz mal, fiz; mas eu tenho lá uma filha que me pediu que lhe levasse a mais bela flor que eu visse na viagem, e não podendo levar às outras filhas, queria ao menos levar a flor; mas se a queirais ela aí fica.» «Não, levai-a e, se me trouxerdes cá essa filha, ficais ricos.» O homem caminhou e chegou a casa muito apaixonado por não trazer nada às outras filhas e não achar as navegações e pegou na flor e deu-a à Bela-Menina.
    A filha, assim que viu a flor, disse: «Oh, que bela flor! Onde a achou, meu pai?» O pai contou-lhe o que vira e a filha disse: «Ó meu pai, eu quero ir ver.» «Olha que o bicho fala e disse que também te queria ver.» «Pois vamos.» E foram. A filha, assim que viu o tal bicho, disse: «Ó pai, eu quero ficar com este bicho, que ele é muito bonito.» O pai teve a sua pena, mas deixou-a. Passado algum tempo, ela disse: «Ó meu bichinho, tu não me deixas ir ver os meus pais?» E ele disse-lhe: «Não, tu não vais lá por ora; teu pai vem cá.» O pai veio e disse-lhe ao bicho: «Eu queria levar a rapariga.» «Não me leves daqui a rapariga, senão eu morro e tu vai ali àquela porta e abre-a e leva daqui a riqueza que tu quiseres e casa as tuas filhas.» O homem que mais quis?!
    Um dia o bicho disse à Bela-Menina: «A tua irmã mais velha lá vem de se receber; tu queres vê-la?» «Quero.» «Vai ali e abre aquela porta.» Ela foi e viu a irmã com o noivo e os pais. «Agora, deixa-me ir ver o meu cunhado.» «Eu deixava, deixava; mas tu não tornas.»
    «Torno; dá-me só três dias que eu em dia e meio chego lá e torno cá noutro dia e meio.» «Se não vieres nestes três dias, quando voltares achas-me morto.» Ela foi; no fim dos três dias ela veio, mas tardou mais um pouquito que os três dias: ela foi ao jardim e viu-o deitado como morto. Chegou ao pé dele. «Ai meu bichinho!» E começou a chorar. Ele caiu e ela disse: «Coitadinho, está morto; vou dar-lhe um beijinho» e deu-lhe um beijo, mas o bicho fez-se num belo rapaz. Era um príncipe encantado que ali estava e que casou com ela.

    MÚSICA

    Ouvimos uma história, recolhida por Adolfo Coelho e contada no seu livro “Contos populares portugueses”.

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