Marina Tsvetaeva
OBRA
 

Silêncio, palmas!

Silêncio, palmas!
Cessa o teu apelo,
Sucesso!
Um só palmo:
Mesa e cotovelo.

Cala te, festa!
Cotação, contém te!
Cotovelo e testa.
Cotovelo e monte.

Juventude rir.
Velhice aquecer.
Que tempo para ser?
Para onde ir?

Mesmo num tugúrio,
Sem uma pessoa:
Torneira murmúrio,
Cadeira ressoa,

Boca recomenda
Mole caramelo
Mais uma comenda
"Pelo amor do Belo".

Se vocês soubessem,
Longe ou perto, gente,
Como esta cabeça
Me deixa doente

Deus numa quadrilha!
A estepe é vala,
Paraíso ilha
Onde não se fala.

Macho animal,
Dono vender!
A Deus é igual
O que me der

(Venham de vez
Dias a juros!)
Pata a mudez
Quatro muros.


A VLADIMIR MAIAKÓVSKI

A cima das cruzes e dos topos,
Arcanjo sólido, passo firme,
Baptizado a fumaça e a fogo
Salve, pelos séculos, Vladímir!

Ele é dois: a lei e a excepção,
Ele é dois: cavalo e cavaleiro.
Toma fôlego, cospe nas mãos:
Resiste, triunfo carreteiro.

Escura altivez, soberba tosca,
Tribuno dos prodígios da praça,
Que trocou pela pedra mais fosca
O diamante lavrado e sem jaça.

Saúdo te, trovão pedregoso!
Boceja, cumprimenta e ligeiro
Toma o timão, rema no teu vôo
Áspero de arcanjo carreteiro.