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Maria Ivone Vairinho OBRA |
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Olhos secos de dor
Pequenas coisas, banais
mágoas de orgulho ferido
traição de alguém conhecido
(um amigo nunca trai)
ódios de gente vulgar
fazem meus olhos chorar.
Se não estivessem toldados
por lágrimas sem razão
de auto-comiseração
e para o outro voltados
vendo olhos secos de dor
inundados de pavor
meus olhos feitos nascentes
de caudais desesperados
no mar da dor mergulhados
sentindo o medo pungente
de quem sofre nesta terra
perseguição, fome, guerra
secos de dor ficariam
e nunca mais chorariam.
POEMA PARA
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN
Verticalidade da pedra
Claridade da cal
Aromas, cheiros da casa
Medo de amar
Força do querer
Ternura da intimidade
Luminosidade do mar
Sabor a sal, mediterrâneo
Ninfas, Musas
Deuses adormecidos
Ânfora dos sentidos
Voz forte que desafia
A demagogia
Repõe a verdade
Definição clara
Pura de Liberdade
Na palavra verbo de saber
Diáfana, transparente
Todas as coisas foram encarnadas
E por nós foram tomadas.
(02.07.2004)
SERRA DA ESTRELA
Meu corpo foi talhado em granito
Meus pés plantados em ribeiros
Que me banham o corpo inteiro.
Nos olhos tenho espaço infinito
Que rasga a linha do horizonte
Que se perde no mar, nos montes.
No meu véu branco de esponsais
Brotam zimbro, mimosas, tojais.
No verde selvagem dos pinheirais
Meu manto de rainha foi tecido
Com urzes e rosmaninho entretecido.
.............................................
Sou feita de neve e de granito
Nos olhos tenho espaço infinito
Do verde selvagem dos pinheirais
No ventre fecundo mananciais
De lava ardente e geladas águas
Que jorram cantando pelas fráguas.
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