José Luís Garcês
OBRA

Não são estes braços
que me agitam,
nem estes espaços
que me limitam.

São de mar os meus braços
que nas areias
enleiam em ternos abraços
os corpos das sereias.

Os meus espaços
São os do pensamento:
são largos traços
ao sabor do vento.

No meu corpo
navegam navios,
sem forma nem rosto,
em busca de outros rios.

(capítulo “Palavras Tangentes” do livro “Palavras do Silêncio”)


Permaneço!
Entre o real e o imaginário
há a distância
que não esqueço!

Medito!
Não permaneço nem fujo
na certeza porém
que aqui não fico.

Sonho!
Entre o real e o imaginário
há a distância
que transponho.

Permaneço. Medito. Sonho.
Permaneço no sonho.
Medito. Sonho.
Existo!

(capítulo “Palavras Tangentes” do livro “Palavras do Silêncio”)


É nos teus lábios
que começa o verão!

Esse sol abrasador
que me queima o corpo.

Suavemente, abandono-me
nas tuas águas.

Mergulho. Acalmo o corpo.
Descanso nas areias ainda mornas.

Espero outro verão!

(capítulo “Vértice de Água” do livro “Palavras do Silêncio”)


Rumores do silêncio

Pequenos murmúrios
que penetram as palavras
ainda com vestígios de lágrimas.

Já me cansa o silêncio
das folhas brancas com
palavras perfiladas a medo.

Veloz, o pensamento, toma asas
e teima em partir, silencioso,
em busca das fontes.

Espaços de sonhos silenciosos
livres ao suave penetrar
das palavras ainda virgens.

As palavras doridas, sofridas
prenhas de gritos
que teimam em irromper do silêncio.

(capítulo “Rumores do Silêncio” do livro “Palavras do Silêncio”)


Fogo de Inverno

Já vai longo este inverno!
Sinto o corpo gelado
sem respostas.

Onde estás?  porque tardas?
Vem deitar-te suavemente
junto a mim
envolve-me no teu calor
funde o teu corpo ao meu
acende a fogueira:
Arderemos juntos!

(19/12/1990)
(do Livro “Poesia em Construção)


Tempestade

Há ventos revoltos
que me agitam as águas.

Mão firme no leme
enfrento a tormenta.

Há sempre um porto
de águas calmas
onde nas areias quentes
nascem novas fontes.

(11/06/1991)
(do Livro “Poesia em Construção)


Fascinam-me
os teus olhos
quando em pequenos
brilhos
deixam transparecer
todo o fogo
que vai dentro de ti!...

É sob esse brilho,
Feito luz,
Que vou construindo
Pequenos poemas.

(27/01/1994)
(do Livro “Poesia em Construção)


Balbuciamos palavras
sem nexo;

Arrastamos os passos
pela lama;

Esgotamos a vida num
qualquer complexo;

Nem tempo temos para
Acender uma chama!

Morte, quantas formas tens?!

(08/02/1995)
(do Livro “Poesia em Construção)


São poesia
estas estrelas que vejo brilhando
no firmamento escuro?!

E os operários
que vejo na minha frente
o que são?!

Ah poeta
das estrelas e da lua
desce à terra
e veste de operária a tua poesia!

José Luís Garcês
(do Livro “Terra Agreste”)

Não quero intenções piedosas
nem risos de troça,
quero a ignorância
das noites frias
sem luar.

Quero os nadas
e as miragens,
quero os impossíveis
e morrer nos braços
das musas do mar.

Quero-te a ti poesia,
quero os teus braços,
deixa-me amar-te
e possuir-te neste leito
de ternura.

Oh poesia! – vem
fiel companheira
e deixa-me amar-te!

(do Livro “Terra Agreste”)


Poesia!
O sabor das palavras inventadas.

Sabor das palavras arrancadas à alma
a golpe de pena.

Poesia!

Sabor a lágrimas salgadas
a suor e sangue.

Sabor dos muitos, dos poucos e dos nadas.

Poesia!
O sabor das palavras inventadas.

(do Livro “Terra Agreste”)


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