Ester
Ester é esbelta como a palmeira brava,
Os pés de trigo têm o cheiro dos seus lábios,
E os dias de festa que em Judá se celebram.
De noite, o seu coração repousa sobre um salmo,
Os ídolos escutam nas salas do palácio.
O rei sorri se vai ao seu encontro
O olhar de Deus está sempre posto em Ester.
Os judeus jovens fazem canções à irmã,
Gravam-na nas colunas da sua antecâmara.
Else Lasker-Schüller
In Baladas Hebraicas
(Tradução de João Barrento)
Uma canção
Por detrás dos meus olhos há águas
Tenho de as chorar todas.
Tenho sempre um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.
Respirar cores com os ventos
Nos grandes ares.
Oh, como estou triste...
O rosto da lua bem o sabe.
Por isso, à minha volta há muita devoção aveludada
E madrugada a aproximar se.
Quando as minhas asas se quebraram
Contra o teu coração de pedra,
Caíram os melros, como rosas de luto,
Dos altos arbustos azuis.
Todo o chilreio reprimido
Quer jubilar de novo
E eu tenho um desejo de me elevar voando,
E de partir com as aves migratórias.
(1917)
(tradução de João Barrento)
Fim do mundo
Há um chorar no mundo,
Parece que o bom Deus morreu,
E a plúmbea sombra, que cai fundo,
Pesa como mausoléu.
Vem, vamos esconder nos mais...
A vida está em todos os corações
Como em caixões.
Ouve! Vamos beijar nos e esquecer
Há uma saudade que bate à porta do mundo,
E dela acabaremos por morrer.
(1905)
(tradução de João Barrento)
“Paul Zech”
O seu avô era aquele camponês amaldiçoado
Dos contos de fadas de Grimm.
O neto é poeta.
Paul Zech escreve os seus versos a machado.
Podemos agarrá los,
Tão duros são.
O seu verso torna se destino
E povo murmurante.
Deixa que o fumo lhe penetre o coração;
Homem em sombria prece.
Mas os seus olhos de cristal olham
Vezes sem conta para a manhã do mundo.
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"Saul"
Ao Cavaleiro Azul Franz Marc,
príncipe de Caná
O grande rei está de olhos postos em Judá.
Um camelo de pedra sustenta lhe o telhado e há
Gatos, tímidos, esgueirando se entre colunas rachadas.
A noite desce à cova, as tochas não se acenderam,
Os grandes olhos redondos de Saul minguaram.
Sobe o tom das carpideiras, em pranto lavadas.
Mas já a cidade pelos Cananitas foi cercada.
Ele vence a morte, primeiro soldado a forçar a entrada
E há cinco vezes cem mil homens de clavas levantadas.
Baladas Hebraicas
(tradução de João Barrento)
ooooooooooooooooooooo
O MEU POVO
Apodrece o rochedo
De onde provenho
E ao sol entoo os meus cânticos sagrados...
Subitamente, precipito me do caminho
E águas murmuram em mim
Na distância, só, sobre pedras de lamentação,
Em direcção ao mar.
Jorrei me para tão longe
Do mosto mal fermentado
Do meu sangue.
E sempre e ainda o eco
Dentro de mim,
Quando, voltados para Oriente,
Os ossos do rochedo apodrecido,
O meu povo,
Lançam um grito terrível para Deus.
ooooooooooooooooo
JACOB
Jacob era o búfalo do seu rebanho.
Quando os seus cascos batiam no chão,
Toda a terra chispava, abrindo lanho.
Berrando deixou os irmãos malhados.
Correu para a selva, para junto dos rios,
E aí o sangue das feridas foi estancando.
Em febre, caiu prostrado diante do céu,
Cansado daquela dor nos artelhos,
E do seu rosto de boi o sorriso nasceu.
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RUTE
E tu vens procurar me junto às sebes.
Oiço o soluçar dos teus passos
E os meus olhos são pesadas gotas escuras.
Na minha alma nascem as flores doces
Do teu olhar e ele enche me
Quando os meus olhos se exilam para o sono.
Na minha terra,
Junto ao poço, está um anjo:
Canta a canção do meu amor,
Canta a canção de Rute.
oooooooooooooo
Despedida
Mas tu nunca vinhas com a noite
E eu sentada com casaco de estrelas.
Quando batiam à porta
Era o meu próprio coração.
Agora pendurado em todas as ombreiras,
Também na tua porta;
Entre touros rosa de fogo a extinguir se
No castanho da grinalda.
Tingi te o céu cor de amora
Com o sangue do meu coraçção.
Mas tu nunca vinhas com a noite
E eu de pé com sapatos dourados.