Aleksandr Púchkin
OBRA
 

Sejas qual fores, ó meu leitor,
Amigo, inimigo, é mister
Amigavelmente dizer
Enfim adeus. Seja o que for
Que buscaste em minhas estrofes
Descuidadas – recordações,
Pausa em teus trabalhos, sinais
De cenas vivas, finos motes,
Ou os erros gramaticais –,
Prouvera que tu, neste livro,
Para um sonho, um divertimento,
Para o coração, desatinos,
Achasses nem que só um fragmento,
E adeus! aqui nos despedimos.

In “O Cavaleiro de Bronze e outros poemas”
(tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)


Na estepe do mundo, triste e infinita,
Brotaram em mistério três nascentes:
A da juventude, célere e rebelde,
Ferve, corre, mareja e cintila.
A de Castália, fonte de inspiração,
Mata a sede ao desterrado na estepe.
A última – a fria, do olvido – mata
Ânsias do coração, mais doce e estremece.

[1827]
(tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)


Exiit qui seminat seminare semen suun.

Ermo semeador da liberdade,
Saí sozinho, antes da estrela;
Com a mão límpida e sem pecado,
Nos sulcos da terra escravizados
Lancei o grão vivificante –
Pena perdida: perdi meu tempo,
Meus bons desígnios e meus cuidados…

Pastai então, povos mansos, pastai!
Não vos acorda o clamor da honra.
Os dons da liberdade a um rebanho
À matança ou tosquia destinado?
Vossa herança é, por todo o sempre,
O jugo de chocalhos e a aguilhada.

(tradução de Nina Guerra e Filipe Guerra)