![]() |
|
||||
“O Poeta e a Guerra”
Eu cantei os cânticos da vingança em vermelho rasgada,
E cantei o silêncio do lago de baías arborizadas;
Mas ninguém se juntou a mim,
Íngreme, solitário
Como a cigarra se canta,
Cantei o meu canto para mim.
Os meus passos vão se desvanecendo, extenuados
Na areia do meu esforço.
Os olhos caem me de fadiga,
Estou cansado dos desconsolados vaus,
De atravessar rios, mulheres e ruas.
À beira do abismo, não penso
No escudo e na lança.
Assoprado pelas bétulas,
Ensombrado pelo vento,
Adormeço ao som da harpa
De outros,
Para quem ela escorre alegremente.
Não me mexo,
Porque todos os pensamentos e acções
Turvam a pureza do mundo.
(1916)
(tradução de João Barrento)
oooooooooooooooooooo
“Grito humano”
Nós, os amordaçados, estamos envolvidos
Por demónios, e brutalmente oprimidos.
Maldito seja eu, que tive a minha cruz
Antes do mundo estar banhado em luz.
(1916)
(tradução de João Barrento)ooooooooooooooooooooo
“Sofrimento”
Como estou atrelado
À carroça de carvão da minha dor!
Repelente como uma aranha
Rasteja sobre mim o tempo.
Cai me o cabelo,
Encanece me a cabeça para o campo,
Para lá do qual ceifa
O último segador.
O sono ensombra me os ossos.
Morri no sonho já,
Erva nascia do meu crânio,
De negra terra era a minha cabeça.
(1914)
(tradução de João Barrento)